Ah, Litoral!



Daqui a pouco poderei dizer que sou um homem realizado. Me lembro como se fosse ontem; fui para o litoral refrescar a cabeça, aproveitar os meus dias de folga e nada melhor do que curtir uma praia, ouvir o som do mar, fazer aquela caminhada pela areia quente..., me desligar da correria cotidiana. Realmente amo isso! Tanto é que comprei um apartamento por lá, assim poderia ficar mais à vontade.
Foi em um sábado à noite, estava calor e o clima pedia um passeio a beira mar. O vento acariciava o meu rosto e jogava de um lado a outro o meu cabelo; podia ouvir o barulho das ondas e, solitário, desfrutava da beleza. Me sentei em um banco e, ao longe, avistava apenas os pontos brilhantes de luz no infinito do mar. Refletia as estrelas. Fechei os meus olhos e comecei a me concentrar naquele momento, de repente ouvi alguns risos. Olhei ao redor e pude ver, a uns vinte metros de mim, cinco garotas que pareciam estar num papo interessante; desviei o olhar e voltei a me concentrar na calma da noite, foi em vao. Pude ouvir novamente, mas agora estava mais alto a ponto de atrapalhar a minha inspiraçao. Quanto abri os meus olhos e virei para ve-las percebi que estavam a comentar da jovem do outro lado da rua que, a proposito, parecia enxugar as lágrimas sentindo-se humilhada. Me levantei e, confesso, fiquei sem direçao. Tive vontade de ir ate la e dizer para pararem mas nao tinha nem logica eu fazer isso. Qual era o motivo daquelas moças estarem caçoando da pobre? Ela nao era feia, nao estava mal vestida... Entao, por quê? Pensei, pensei e resolvi ir ate la tentar tira-la dali. Seria meio estranho, afinal, nao nos conheciamos mas era necessario.
Nao sabia como chegar. Suas lagrimas me comoviam. Fingi estar correndo e de proposito esbarrei nela. Pedi inumeras desculpas - ainda me candidato para ser ator - e com cara de super preocupado fiz realmente que nao tinha sido minha culpa. Ao me ver daquele jeito acabou sorrindo e com uma meia voz me disse: "tudo bem!". Meu plano estava dando certo, mas, como tira-la dali? Me fiz de simpatico e perguntei seu nome, Carolina, me disse; seus olhos brilhavam. As lagrimas ja haviam cessado e agora um sorriso se estendia. Ela precisava ir, senti um aperto, queria continuar ali, me fazia bem. Exclamei que estava indo para o mesmo caminho e ofereci minha companhia. Sorrindo ela aceitou.
...
- Você mora aqui há muito tempo, Carol? ... Ops, posso te chamar assim, né?!
- Rs... Pode!... Bom, faz cinco semanas que me mudei. Moro em uma republica. Mesmo com um pouco de medo tenho tentado crescer profissionalmente aqui.
- Medo?! Rs... Por que medo?!
- Sou do interior; na verdade sou de uma familia simples e nunca tinha saido pra longe. Sempre motivo de chacota porque todas as meninas eram bem sucedidas e apenas eu morava em casebre, entao, tinha medo de cidade grande. De acabar acontecendo o que aconteceu hoje.
...
Ela abaixou a cabeça e entao entendi que se referia àquelas garotas. Ficamos em silencio por alguns instantes ate que o celular dela tocou. Percebi que nosso tempo juntos estava acabando. Como havia passado rapido! Antes de nos separarmos lhe pedi o numero do telefone e cheguei a marcar um "encontro" para o proximo sábado; ela apenas me disse que depois responderia.
Ah! Eu me senta um bobo. Como consegui chegar a tal ponto... É, eu sou ninja! rs
Cheguei em casa - apos horas de caminhada! Nao tinha percebido que andamos tanto! - Meu pensamento se voltava naqueles instantes. O sorriso, o olhar... Huuuum, voce acredita em amor à primeira vista? ... Nao, nao... nao acredito que isso possa ter acontecido comigo. Valha-me, Deus!
Bendita semana que nao passa!... - a proposito, eu confiava que ela aceitaria o meu convite - Era terça-feira, vinte e tres horas e trinta e dois minutos, resolvi ligar.
...
- Alô?!
- Olá! - respondi - Éh, éh ... Carolina?!
- Sim, sim... e você, quem é?
- Kauan... Liguei apenas para saber sua resposta.
... Ela ficou em silêncio.
- Carol?! - prossegui - você ainda está ai?
...
Desligou sem me dar a resposta. Fiquei indignado! Será que era tao dificil dizer sim ou nao?!
...
Sexta-feira à noite, ela ainda nao tinha me dado a resposta. Comecei a pensar que estivesse com medo de mim. Meu celular tocou, estava tao chateado que nem me interessei em ver quem é. Saí, fui caminhar pela praia, esfriar a cabeça. Era o melhor a ser feito. Voltei duas horas depois, cansado, suado e louco pra tomar um banho. Antes de cumprir meu desejo fui ver quem tinha ligado. Era ela. Havia deixado mensagem:
"Eu aceito! Amanha, no lugar combinado!"
Hô, hô, hô... a tigresa cedeu! Rs
Dormi feliz!
...
Eu a aguardava ansioso. As horas nao passavam, até que de repente a avistei de longe. Te contar! Antes nao tivesse ido. Como ela estava feia! Saia rodada com botinas e meia rosa com bolinhas verdes. Era muita coragem. Tive vontade de sair de fininho e dizer que houve um imprevisto, mas era tarde.
...
- Ei Kauan. Desculpe o atraso... Nao achava as minhas meias!
Segurei pra nao rir.
- Sem problemas, moça. Sente-se!
...
Parecia brincadeira, mas era real. Ela me olhava atentamente, prestava atençao em cada palavra que eu dizia. Começou a me contar de sua infancia, tudo que ja passou e de seus planos para o futuro. Era uma jovem batalhadora. Foi interessante a nossa conversa. Nem importava mais com os "detalhes" que a compunham. Me senti bem, mais uma vez.
Nos despedimos e voltei contente pra casa. Tinha a plena certeza que estava começando a gostar dela. Será?!
Como tudo o que é bom dura pouco, era hora de voltar à rotina na estressante cidade natal. Deixei pra trás o mar, calma e, por fim, Carolina. Espero revê-la novamente, algum dia.
Aqui estou de volta ao trabalho. Nao consegua parar de pensar naquela moça. A cada dia me certificava que estava realmente gostando dela. Mas, eu nao entendo! Nos vimos tao poucas vezes para ja gostar assim.
Quinta-feira, dezessete, algo me fazia ligar pra Carol. Nem tinha assunto, mas era necessario ouvir sua voz.
...
- Boa noite. Desculpe te incomodar, mas hoje senti vontade de te ligar, ouvir sua voz. Vejo que voce nao esta ai, nao é mesmo?!, mas valeu a intençao. Espero te ver novamente.
...
Deixei recado na secretaria. Ela nao estava em casa ou nao quis atender... Ah, como esta sendo dificil!
O tempo passava e eu sem noticias da minha pequena. Engraçado como eu a podia sentir ser minha. Era bom isso! A cada dia meu coraçao se acelerava, nao via ahora de ter algum feriado e vê-la, falar-lhe de meus sentimentos...
...
Carnaval! Descanço! Praia! CAROLINA!!!! Nao me continha de felicidade. Tinha me decidido: "Irei contar-lhe tudo o que sinto". Fiquei horas e horas no mesmo banquinho onde a vi pela primeira vez na esperança de que pudesse passar por ali, mas, nada. Pensei em ligar, me faltou coragem! Ja fazia três dias que esta ali e nada. Tive medo de nao vê-la. Respirei fundo e disquei o numero. Meu coraçao acelerou, deu um frio na barriga, as maos gelaram... A cada toque eu engolia em seco.
...
- Alô?!
- Boa tarde. Com quem falo?!
- Sou eu Kauan, a Carol.
- Poxa, quanto tempo! Queria muito te ver. Teria como voce me encontrar?!
- Claro, onde?!
- No mesmo local da ultima vez. E, por que você nao retornou as minhas ligaçoes?!
- Pessoalmente te respondo a todas as perguntas.
...
Ela estava séria. Parecia mudada. O que será que tinha acontecido?!?!
...
- Olá rapaz. Tudo bem?!
- Sim, e você?!
- Levando. Faz muito tempo que está aqui?
- Três dias. Éh, éh... Por que você sumiu? Nao me retornava as ligaçoes...
- Prefiro nao falar sobre isso agora. Teria algo importante a me falar? Ja que marcou esse encontro...
...
Confesso que voltei magoado. Nao consegui dizer nada sobre os meus sentimentos. Ela estava fria, parecia nao estar gostando da minha presença. Marcamos de nos ver sábado, uma despedida. Ah, despedida daquilo que nao houve! Fiquei confuso, a única coisa que tinha certeza é que a cada dia eu gostava mais. Ahhh, estou apaixonado! Tinha vontade de ligar, mas, sei lá! Eu queria chegar e dizer tudo mas nao tinha coragem, ainda mais depois daquela recaçao dela. Nao me aguentei e acabei ligando. Foi incrivel como sua atitude se tornou totalmente diferente.
Pronto, agora que fiquei confuso mesmo!!!
Carolina, Carolina, por que brincas assim comigo? Nao sei por que, mas esse sabado me dava um bom pressentimento. Passe tempo, passe!
...
" Chamada perdida: Carol!"
...
Rapaz como o mundo da voltas. A tigresa esta virando gatinha. Mas nao posso negar que ela conseguiu me domar primeiro. Bem que dizem que as mulheres têm o seu instinto. A proposito, amanha é o dia. Espero nao me decepcionar.
...
-Boa noite, senhorita!
- Como vai, cavalheiro?
- Óh, vejo que esta de bom humor hoje.
- Sempre estou! É que às vezes penso demais e nao me permito desfrutar do momento.
"Confesso que nao entendi muito bem o que ela quis dizer mas, tudo bem.!
- Pois bem, Kauan, vamos?! Nao quero perder o filme.
...
Naquele instante a levei ao cinema, mas, ei!, nao se preocupe, vimos o filme como pessoas civilizadas; mesmo porque eu estava muito sem graça ao lado dela. Me sentia acanhado, suava frio, mas era boa a sensaçao. Seu perfume exalava as ruas durante nossa caminhada, viemos conversando pelo caminho. Ela sorria e cada vez que olhava em meus olhos meus coracaçao disparava. Era quase vinte e três horas, me havia dito que nao queria chegar tarde em casa; em outras palavras, o nosso tempo era pouco. Quis fechar o passeio com chave de ouro e, mesmo que nao acontecesse nada pelo menos veria o seu sorriso pela ultima vez.
Sem que percebesse a levei no lugar onde nos vimos pela primeira vez. Parecia tudo combinado, havia um grupo de pessoas tocando ao ritmo classico, digamos, estava romantico demais! Chegamos à beira mar e ao longe, em silencio, observavamos as estrelas que cortavam o ceu; as aguas do oceano pareciam cantar e por algum tempo apreciamos esse momento. Uma brisa fria veio sobre nós, ela fechou os olhos e sorriu abrindo os braços, senti que deveria abraça-la e, chegando por trás, ao seu ouvido sussurrei...
...
- Desculpe, mas há tempos que só penso em você!
...
Sorrindo ela cruzou os meus braçoes sobre seu corpo e respirando fundo começou a me dizer...
...
- Desde o primeiro dia surgiu em mim um sentimento, tive medo de nao ser real e por isso usei taticas para comprovar o seu amor. Pensei em fugir de voce mas meu coraçao nao me permitiu, entao decidi me entregar.
...
E, virando-se, ela me beijou.
...
A partir daí começou a nossa historia e a cada dia fui descobrindo que aquela mocinha simples do interior é a mulher da minha vida!
Autor: Bárbara Kelly De Oliveira Pessoa


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