Acorrentado



      Eu não sou má mãe, não sou. Deus é testemunha de como me sacrifico pelo meu filho. Eu só fiz isso pra salvar a vida dele. Se eu não fizesse isso ele morria, ele morria!

      Meu filho tá doente. Começou a usar essa porcaria de droga, e não consegue mais largar. Ele precisa de ajuda!

      Meu menino foi preso duas vezes, que vergonha meu Deus! Foi preso porque roubou trabalhador, pra comprar essas porcarias. Não foi isso que eu ensinei pra ele, não foi. Nas duas vezes que ele foi preso, eu fui lá na cadeia e conversei com o delegado, pra tirar meu menino de lá. Eu já dei várias surras nele, já dei. Dei sermão pra ele largar essas drogas, dei conselho, mas não resolveu. Ele saia de casa mesmo com eu brigando, e ia buscar mais desse lixo com os traficantes daqui.

      Ele tá com divida de droga, que ele pegou pra vender e usou. Como ele não pagou, os traficantes falaram que iam matar ele. Meu filho só tem treze anos. Que mãe cria filho pra morrer com treze anos? Mãe carrega filho na barriga, sofre as dores do parto, dá peito, cuida, é pra ver ele crescer, virar homem feito, honesto. Pra arranjar uma mulher boa e nos dar netos, não pra morrer com treze anos.  

      Tratamento em clinica eu não consegui pra ele, porque não tinha vaga. Fui de um canto a outro e nada. Eu não podia deixar o meu menino morrer, não podia. Foi quando eu tive a idéia: Deixar ele acorrentado no concreto, pra não sair de casa. Só assim ele não usaria mais essas porcarias e estaria protegido.

      Eu não tinha dinheiro nem pra corrente, cadeado, pra nada. Fui na loja de Seu Manoel chorando, pedindo pelo amor de Deus ajuda pra uma mãe desesperada. Ele teve pena de mim e me vendeu o material pra pagar depois, parcelado. Ai eu arrumei a obra.

      Fui eu mesma que concretei o ferro no chão, e passei a corrente que amarrei em sua canela. Só deixei tamanho pra ele andar dentro de casa. Ir no fogão pegar comida, ir no banheiro, beber água. Com a corrente ele só não ia pra fora. É assim que tenho salvo o meu menino, é assim.

      Foi só com ele amarrado, que pude sair pra trabalhar com o coração tranqüilo, porque sabia que quando eu chegasse em casa a noite, meu filho estaria me esperando, não estendido morto no meio da rua.

      Agora deu de aparecer jornalista, policia e não sei mais quem aqui na minha porta. Um monte de gente pra falar comigo. Dizem que eu tô errada, que não se faz isso com ninguém, muito menos com um filho. Que eu to ferindo um tal de “direitos humanos dele”.

      Eu não sou má mãe, não sou!

      Eu só quero salvar o meu menino.


Autor: Ana Kátia De Souza Pessoa


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