Por Gratidão... Se Morre



Por Gratidão… Se Morre

 

Hoje um estimado amigo da universidade postou-me mensagem curiosa: Uma imagem do mundo suportando a dor de nossas crenças, que, como o frio aço de qualquer navalha, lhe abriam estimas ao longo de sua crosta. Tão logo percebi, dispus-me firmemente a pensar a mensagem daquela efígie formidável; O motivo pelo qual aquele senhor havia-me postado uma mensagem trazendo, como intrigante conteúdo, aquela estranha imagem.

E a fim de melhor pensar, procurei reflexão mais ampla. Não pensei o conteúdo; não fiz-me ver a religião como a causa das feridas do mundo. É claro que só de religião não se faz homem. Também faz parte deste a ciência dos dias promissores, que, na medida em que descobre o mundo afogado em sangue próprio, parece ainda querer aquela boa eternidade com que se sonha na madrugada só de cada dia. E a NASA, enfim, pede socorro: Aos confins de nosso sistema, lá vai mais um objeto do delírio humano. Missão? Desvelar o ainda não visto. É pouco. Carece de informar, por tantas minúcias, de onde surgiu aquela humanidade em forma de sonda.

Alguém pensou serem amistosos os que com ela depararem-se? Talvez ali caso outro onde a ciência novamente progrediu através da estupidez. Sim. Que a humanidade não pode esperar. E o homem tem pressa de vida. O saber e a certeza da verdade andam sempre tão remotos… que a ação insanamente imprópria se viu, na urgência, coberta de alguma forma de prudência sã.

No discurso da sagrada fé, há mais aberrações lógicas que ilibadas maravilhas divinas e eternas. Segundo Nietzsche, a invenção do outro fez deste, pecado. E ninguém indagou ao mundo se a cruz banhada de sangue gentil não lhe causaria aquela velha forma de dor: Viram o orbe como sujo palco da divina tragédia. E depois das audíveis chibatadas no corpo tênue de um grande homem comum, também o mundo recebeu seu padecer: No solo, o sulco recebe o madeiro, enquanto a Terra, talvez por efeito de sua tortura, empenha-se à compreensão de sua própria culpa. Fantástico é o castigo; e mais sublime é o silêncio do mundo...

Filosofia, onde estava tua razão quando pensou este orbe a seu modo? Chamou de centro aquilo que ainda não encontrou seu eixo. O primeiro Wittgenstein, antes de ter para si o lúgubre conforto dos mármores, asseverava, audaciosamente, os limites do mundo na possível combinação dos vocábulos. Como se fossem leis naturais a gramática, e que corra por conta da fala a possibilidade do mundo. Tinha razão Mathias Aires, quando pensou no homem presença maior da vaidade que da razão.

Investigando a origem das coisas, chegou o filósofo a ter dúvida das formas reais, entendendo por verdadeira a idéia universal da coisa. O solipsismo parece retirar do mundo seus homens, reduzindo exaustivamente o primeiro a meras representações mentais do segundo. Que humilhação! Depois de tanta expiação, pior é ser chamado de mentira. E não bastasse o ódio latente que o homem traz de si, a humanidade negou o mundo quando aprendeu a, enfim, pensar! E com este indistinto paradoxo a existência deste mudo mundo se logo inebria.

Mas também a filosofia tem seus limites no homem… e, em algum momento deste ridículo discurso, a mesma tenta sua redenção ao colocar em dúvida não mais o mundo ele próprio, mas o mundo enquanto percepção, isto é, enquanto representação. Desta debilidade comum a todos nem mesmo a ciência, adornada por uma idéia de rigor advindo de excelentes métodos de investigação, paira sobre os erros… fazendo ver sempre como belo e autárquico aquele filho alejado com o qual sempre interpretamos o mundo, dir-nos-ia Heidegger.

A fé está longe de ser a salvação deste lugar a que chamei berço da humanidade. E a crença é não outra coisa que o pueriu sorriso no semblante de uma alma prematura. A filosofia parece desistir das respostas à indagação de nossa origem, e se faz cética ao conforto de não mais ter que pensar e supor esta formidável gênese. Depender da ciência, mundo… tu te terás no abandono. Pois ao contrário de nós, cujo tempo inibe-nos a fuga, o filho do porvir será “TER S4’ano”. E levo agora a pensar: Como se sentiria a humanidade, o homem último a deixá-lo em sua odisséia pelo espaço?

A morte parece furtar-nos mesmo naquilo que não se mostra vivo. E o fim deste mundo, o abandono deste berço... a humanidade leva na memória, talvez. Orbe, perdoe-nos! Que nossa triste humanidade é um limite que nos compele a salvar apenas a nós mesmos. Mas, creio, lhe traremos flores daqui há alguns bilhões de anos. E sacralizaremos aquelas mesmas crenças por sobre o vasto inane de vossa tácita tumba... se morte sua, enfim, surgir-nos como exclamação de seu valor. Quem te mandou querer-te mártir? Vai, mundo defunto. E descanse logo a tua tenra paz...

 

Autor: David Guarniery

Idade: 24 anos

Início: 01:00

Término: 01:38

Tempo Gasto: 38 minutos

Dia: Domingo

Data: 20 de Dezembro de 2009

Classificação: Crônica Lírica

Obra: 001

In Memoriam:

*Ozanam Medeiros Moreira

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Brasil/ Paraná/ Cambé

 


Autor: David Guarniery


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