Honestamente... Uma Mentira



Honestamente… Uma Mentira

 

Hoje inicio este pedido honestidade, que somente assim reconheceremo-nos. Há algum tempo percebo que o homem tomou por hábito a pobre educação da mentira – e isto nunca foi novidade – exceto até ontem, quando, conversando acerca das coisas humanas, cumpriu-se ali uma mentira de quem me ouvia, outra de quem não queira confessar desejo ao corpo da outra e, por fim, uma terceira mentira. A primeira, negava o desinteresse já corroborado pela face; o segunda ensaiava uma fidelidade de corpo e não de mente: Alguém dentre nós pensou a traição. Tivemos uma terceira e muito breve. Esta última por nada. E quem mentiu? Eu.

Ali contemplei o nascimento da coisa improfícua. Por nada uma mentira. E tamanho foi-me o nada enquanto causa, que sequer satisfação gerou-me o ato insano de trapacear o espírito. Não sei por quê menti. Mas tão ciente na inutilidade da mentira fiquei, que ainda agora busco uma justificação: Para tudo há um motivo, um fim para o qual aquilo que surge possa, enfim, cobiçar. Tudo no homem tende a um fim… então, como pode uma mentira caminhar sem rumo e tropeçar em minha mente, por horas, ante o marasmo de toda aquela estranha discussão.

O dia amanheceu e, honestamente, eu ainda buscava o arkhé da mentira. Caro leitor, a mentira existe a tanto tempo: Lúcifer só traiu a Deus porquanto certamente mentiu. Todavia, a religiosidade não é a resposta a questão. Pois eu, que tão descrente tenho andado, menti! Deveras não foi por nenhum deus. Também não pelo Diabo. Enfim, o certo é que a mentira é errada e, por conseguinte, nada justifica o nascimento deste deslize da consciência pelas mãos de quem sabe o certo. Onde a causa?

Honestamente? Você deve estar tentando já dar o móbil da mentira. Antecipo-lhe o raciocínio: Não coloque a culpa no hábito. Também não nas circunstâncias. Poderia você pensar acerca da natureza do homem e tudo pareceria resolvido, não fosse o fato de que todo homem se revela no hábito e na circunstância; mas nem todo hábito ou circunstância evoca a mentira, pois, posso eu ter o hábito de não mentir; e a circunstância mais vexatória pode ainda não me ser motivo suficiente para, enfim, agir de má fé ao proferi-la aos ouvidos dos homens.

Mentir parece definitivamente não ter causa. É um soluço, talvez. Qualquer barulho que me sai da garganta. Alguma fantasia advinda do ímpeto e que, passeando sobre a superfície da mente, escapole pela língua e adorna a realidade sem motivo dos nossos dias. Talvez não seja a mentira o único efeito sem causa. Que tanto ainda me adentra pelos olhos e, honestamente, mesmo agora é sem motivo.

A realidade parece, em seu todo, uma mentira. Por que não a verdade seja a nossa maior hipocrisia? A vida traiu-nos no berço. E mais uma família reduziu-se à foto monocromática por sobre o túmulo. O corpo ainda nos mente a existência e todo nosso esforço, em arrastar-nos ao longo das gerações, fez-nos acreditar em tíbias causas impossíveis. Quem acorda para a vida… canta ou compõe mentiras. O poeta sorriu seus traumas, o filósofo mais amou seus delírios que a lógica. A fé, que tanto prometeu vida em abundância, consumou-se na morte dos seus fiéis. Desgosto.

Tudo é efeito… e nada é causa. O que somos? Honestamente… não sei. O móbil da minha mentira é esta obra; A obra fez-se perjúrio. A existência sem motivo é, como a tantos, meu fascínio. É desumano o quanto inspira esta mentira...

 

Autor: David Guarniery

Idade: 23 Anos

Início: 22:30

Término: 22:49

Tempo Gasto: 19 minutos

Dia: Sábado

Data: 25 de julho de 2009

Classificação: Crônica Lírica

Obra: 001

In Memoriam:

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Brasil/ Paraná/ Cambé


Autor: David Guarniery


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