Migrações para Amazônia



Migrações para Amazônia

O desenvolvimento da Amazônia não começou com a chegada dos primeiros europeus que passaram pela região. Esses aventureiros apenas deram notícias deste universo para o restante do mundo: descreveram as maravilhas de nossas riquezas florestais e minerais; falaram dos seres mitológicos que povoavam as lendas locais.

Foi assim que o colonizador conheceu a seiva da seringueira já usada pelos índios e por alguns aventureiros que buscavam minérios e as drogas do sertão. Entretanto o látex só era usada artesanalmente. Ocorreu que no final do século XIX o látex ganhou um novo destino: a indústria automobilística. Assim nasceu a indústria da borracha que necessitava de materiaprima e mão de obra para explorar os seringais.

Para isso o governo federal criou alguns programas com a finalidade de atrair trabalhadores dispostos a domar o oceano de vegetação equatorial, superar as adversidades e insetos a fim de localizar as seringueiras e sangrá-las para que vertessem o sangue lácteo.

Os nordestinos, vítimas da seca e da fome, foram os primeiros convidados para essa aventura – na realidade muitos foram obrigados a migrar, forçados pela força policial, como no caso de famílias em que o homem era arrastado para o norte e a mulher para o sul. Vieram aos milhares no tempo da grande seca de 1877-1879, mobilizados mais pelas necessidades de sobrevivência do que pela expectativa da industria.

A partir desse primeiro “ciclo da borracha” se deu a ocupação da região do atual estado do Acre, originado o conflito que ficou conhecido como a “questão acreana” a qual foi solucionada com o Brasil comprando o território e hoje estado do Acre dando inicio à epopéia da construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré.

Por conta da biopeirataria – praticada desde há muito tempo, ao redor do mundo – milhares de seringueiras foram transplantadas na Malásia. Logo em seguida a borracha nacional perdeu espaço para a produção do Oriente. Nossos preços despencarem, deixando de ser competitivos frente à produção malasiana.

Em 1942 estoura a II Guerra Mundial e a seiva elástica do oriente torna-se inviável para a indústria norteamericana. Novamente os trabalhadores brasileiros foram mobilizados: eram os “soldados da borracha”, atraídos aos milhares para as brenhas amazônicas; era o segundo ciclo da borracha (que também entrou em declínio, pouco depois do fim da guerra). Mas era também a necessidade de convencer os trabalhadores a se dirigirem para a Amazônia localizar, sangrar e coletar o látex.

O convencimento dos trabalhadores ocorreu por meio de propaganda enganosa, pois a Amazônia era descrita como paraíso e a coleta da seiva elástica apresentada como trabalho fácil. Não se mencionava as dificuldades naturais e o isolamento da região.

O fato é que a propaganda falando em “árvores de dinheiro” atraiu milhares de trabalhadores. Novamente o governo federal enganou os trabalhadores, falando de facilidades onde existiam enormes dificuldades e doenças. Na realidade os “soldados da borracha” nunca tiveram condições de fazer seu trabalho nem foram assistidos em sua “guerra”. Com o fim da guerra a demanda pela goma elástica diminuiu, pois o oriente voltou a ser atrativo. Com isso cessou a corrente migratória e os soldados da borracha, já abandonados, permaneceram entregues à própria sorte.

A nova corrente migratória só começou na década de 1960: abertura de vias de acesso (BR 364) incentivo à mineração e distribuição de terras na região de Rondônia. Esse processo deu inicio à atual fase da história amazônica. Ela produziu o atual fluxo de desenvolvimento regional. Desse fluxo migratório e de uma nova fase de propaganda (novamente enganosa) sobre a Amazônia, foi que nos anos 1970-80 se intensificou a ocupação de Rondônia, um território (depois estado) inventado para ser depósito de gente excluída do sul-sudeste e destinada ao norte onde deveriam “amansar” a selvageria da selva...

Neri de Paula Carneiro

Filósofo, teólogo, historiador-Mestre em Educação


Autor: Neri P. Carneiro


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