A FILOLOGIA E O ENSINO DA LÍNGUA EM TEMPOS DE INTERNET
A FILOLOGIA E O ENSINO DA LÍNGUA EM TEMPOS DE INTERNET[1]
Daniella Leite de Souza[2]
Josilene Nery de Souza
RESUMO: Artigo com viés crítico que tem como foco os estudos filológicos na contemporaneidade, no sentido de explicitar suas relações com a internet como um fator de enriquecimento ou não, para o ensino da língua. Levando em conta que a filologia baseia seus estudos nos textos escritos analisaremos uma nova modalidade textual, denominada aqui Texto Virtual (TV) que vem tomando conta da comunicação veiculada pela internet. Considerando que o mundo globalizado viabiliza o que se entende como uma compactação e fragmentação das palavras, que só tem influenciado (por enquanto) apenas na escrita.
PALAVRAS-CHAVE: Filologia. Ensino da língua. Internet. Contemporaneidade.
Com a chegada da internet nos defrontamos com novas possibilidades, desafios e incertezas sobre o processo de ensino-aprendizagem. (MORAN, 2003)
Ao filólogo interessa a comunicação, o conteúdo significativo e enriquecedor da mensagem. (BASSETTO, 2005, p. 24)
INTRODUÇÃO:
Na contemporaneidade discute-se muito sobre a fragmentação da comunicação escrita, especificamente na internet, e o mundo cada vez mais globalizado viabiliza a disseminação dessa nova linguagem, que é aparentemente mais rápida, o que traduz uma necessidade característica desse nosso tão conturbado momento histórico. Mas o que ocorre, é que essa nova linguagem esta rompendo as barreiras das telas, chegando as escolas, e aos textos produzidos pelos alunos, comprometendo o ensino da língua?
Eis aí, a questão que permeia os nossos pensamentos e justifica a elaboração deste trabalho como forma de compreender esse acontecimento e observar como a filologia se posiciona diante desse acontecimento recorrente na sociedade moderna. Para tanto, faz-se necessário buscar a compreensão do termo filologia e como está inserida no nosso cotidiano, relacionando com o ensino da língua, numa era tão informatizada.
Muitos pais, professores e estudiosos têm se mostrado preocupados com essa nova linguagem que ao ultrapassar as barreiras da comunicação virtual pode dificultar o aprendizado da língua, caso o usuário esteja na fase inicial de aprendizagem. São esses os desafios apresentados por essa era e a missão da filologia é exatamente documentar esse fenômeno, considerando o contexto histórico de seu surgimento e a própria essência da língua essencialmente dinâmica.
Para melhor nos guiarmos neste estudo, optamos por compartimentar este em duas partes, a primeira intitulada A FILOLOGIA E A LÍNGUA, em que discorreremos brevemente sobre o conceito de cada uma, esta primeira seção servirá de suporte para a discussão que será desenvolvida na segunda seção, nomeada, O ENSINO DA LÍNGUA NOS TEMPOS DE INTERNET, em que focalizaremos como o ensino da língua tem sido direcionado, tendo em vista, as novas tipologias advindas da internet, que devido a uma política de inclusão atinge a milhões de pessoas, principalmente crianças, jovens, estudantes.
Tivemos como fundamentação teórica -amiúde- os seguintes textos, A Percepção da Mudança, Carlos Alberto Faraco; As novas técnicas de informação e de comunicação e o universo do escrito, de Etienne Galliand, in- A comunicação na aldeia global, organizado por Cristina Tramonte e Márcio Vieira de Souza; Hipertexto e gêneros digitais
1.A FILOLOGIA E A LÍNGUA
1.1 A FILOLOGIA
O termo filologia surgiu na Grécia, e o significado é "amor ao estudo, à instrução", é a ciência que estuda uma língua sob a perspectiva histórica, a partir de documentos escritos. Trata também de abordar cientificamente o estudo do desenvolvimento de uma língua ou de famílias de línguas, especialmente a pesquisa da história de sua formação morfológica e fonológica, baseando-se na análise dos textos redigidos nas mesmas.
Segundo BASSETO, o trabalho filológico objetiva a reconstituição de um texto, seja de forma total ou parcial, baseando- se na datação, documentação, autenticidade, daí o seu caráter histórico, que está também relacionado com outras linhas de conhecimento, como lingüística, gramática, arqueologia, epigrafia, pois como já falamos a filologia trata também de datação. E baseando-se nesses estudos é possível fazer um registro da linguagem humana no decorrer do tempo, que está demarcada por uma sucessão de mudanças corroborada nos estudos lingüísticos de FARACO: ”a historia das línguas se vai fazendo num complexo jogo de mutação e permanência”.
Nesse mesmo texto ele ainda acrescenta que a língua escrita servirá de referência, pois, esta tem uma caráter mais permanente do que a língua falada, o que nos faz lembrar do linguísta Marcos Bagno que em uma de suas obras afirma que “ a língua voa e mão se arrasta”.
Mas voltemos para o objetivo da filologia que busca historicisar a língua para tentar entender o seu dinamismo, e registrar a sua passagem, um exemplo da importância dos estudos filológicos neste quesito pode ser observado no Brasil, no que tange às línguas indígenas como o tupi e o guarani, que foram assimiladas pela língua colonizadora, deixando suas marcas apenas em alguns registros (dicionários e estudos filológicos), realizados pelos colonizadores.
1.2 A LINGUA
Sem língua não há nação, não tem pensamento, não tem nada. O país corre risco de virar um quintal que pode ser facilmente colonizado. Quando se fala no desenvolvimento de uma nação tem que se partir do princípio de que se está falando de pessoas que buscam esse desenvolvimento. São pessoas que só conseguirão alguma coisa se estiverem pensando através de uma língua. Nesse sentido, a preservação da língua portuguesa é fundamental ao pensamento brasileiro, para que ele possa se desenvolver e ajudar o país a se desenvolver. (JOÃO RICARDO MODERNO, ano, p.)
Língua ou Langue, semanticamente entendida como um sistema de signos verbais, regidos por uma norma (gramática), e imprescindível para a efetivação da comunicação, segundo o filólogo Leodegário de Azevedo Filho: é através dela “que se estrutura a razão. É com ela que o indivíduo sonha, imagina e raciocina”.
Essa fala vem destacar a importância de conhecer esse mecanismo, não só de forma funcional, expressa a idéia de que compreender a língua em seu sentido mais amplo é uma forma de ganhar autonomia, considerando que ela propicia um entendimento de mundo capaz de produzir bens culturais que são imprescindíveis para um crescimento ideológico crítico.
Não podemos deixar de falar também que língua está fundamentalmente ligada a idéia de poder, observemos uma consideração feita pelo premio Nobel de Literatura José Saramago, sobre esta abordagem:
O português não é a língua oficial dos negócios do mundo, que, obviamente, é a inglesa. Ela resiste, são centenas de milhões de pessoas a falar a língua. Entretanto, está repleta de anglicismos. Temo pela macdonaldização da língua portuguesa.(SARAMAGO, ano, p.)
Notemos que este autor tece suas observações sobre a atualidade, apontando a língua inglesa como oficial no mundo dos negócios, o que é um fato, observado não apenas neste mundo, pois a linguagem utilizada na novas mídias tecnológicas estão carregadas de anglicismos, o que nos impele, quase que inevitavelmente para a adoção num processo de assimilação, gerado pelo uso frequente destes termos.
Vale ressaltar que os estudos científico das línguas tem mostrado que as principais mudanças ocorridas, tanto no sentido de assimilação de palavras ou variações são feitas em sua maioria pelos jovens ou pelos grupos econômicos intermediários, que abrange a maioria das populações urbanas. Grande parte dessas inovações aparecem primordialmente no nível da fala, como já falamos anteriormente, o que ajuda a preservar o que se entende por língua padrão.
Mas quando as mudanças começam pela escrita...
2. O ENSINO DA LÍNGUA NOS TEMPOS DE INTERNET
As novas técnicas de informação e de comunicação provocaram uma profunda modificação nos modos de expressão humana e na relação com o escrito. Elas criaram novos espaços de convivialidade e de relação, abertos especialmente às gerações mais jovens, capazes de apreender melhor a complexidade do mundo e ao mesmo tempo temê-la menos. Mas nem por isso são elas a solução para todos os problemas e a preocupação de preservar o humano deve continuar sendo essencial. (GALLIAND, 2005, p. 221)
A informática e as conquistas das telecomunicações têm produzido transformações consideráveis no modo de ver e apreender a realidade, no que tange a informação, tecnologia e conhecimento. E as consequências dessas inovações podem ter efeitos tão relevantes quanto os ocorridos na Revolução Industrial, na qual, uma nova ordem social se formou e foi necessário uma reflexão profunda sobre o homem e sua relação com sua produção (nesse caso, as inovações tecnológicas).
Youssef & Fernandes (1988) tece algumas considerações, em que afirmam que a informática, por meio de seus recursos, pode propiciar uma democratização, “onde cada cidadão poderá se fazer representar diretamente nas decisões relativas a sua continuidade, utilizando redes teleinformatizadas que permitirão mais eficácia em discussões e assembléias”. E no plano educacional pode propiciar uma gama de benefícios ao professor, no sentido de alargar o seu contingente de ferramentas pedagógicas.
No entanto, quando o assunto é o ensino da língua há controvérsias, pois, algumas de suas ferramentas em que o uso da língua é algo primordial, salas de bate papo, blogs, e-mails, vem surgindo numa velocidade feroz uma nova linguagem, que seria uma variação virtual da língua portuguesa e que tem sido introduzido nos textos produzidos em sala de aula, trazendo um dilema para o professor, que tem a dupla incumbência de ensinar o aluno a língua nacional de forma padronizada, mas, sem deixar de alertá-lo sobre as outras faces da mesma, ou seja as variações. Sobre a importância do ensino da língua nacional Abgar Renault faz a seguinte afirmação:
É a língua nacional disciplina por excelência da educação e da cultura preexiste a todas as demais e todos sobreleva, porque é o seu instrumento único de expressão e comunicação. Só ela, tornando possível criar, transmitir e fixar o pensamento, torna possível a existência das demais na qualidade de conhecimento incorporáveis ao nosso espírito.
Esta afirmação encontra respaldo nos parâmetros curriculares nacional que estipula:
Ao longo dos anos do ensino fundamental, espera-se que os alunos adquiram progressivamente competência com relação a linguagem que lhes possibilite resolver problemas da vida cotidiana, ter acesso aos bens culturais e alcançar a participação plena no mundo letrado.
Frente a este objetivo, o ensino da língua ganha um caráter essencial, e aumenta a responsabilidade do professor de Língua Portuguesa que não pode resumir o ensino da língua a um único modelo em que professores e alunos se confundem na variedade popular (ou coloquial), e faça com que o ensino seja atropelado pelas novas modalidades textuais em expansão (sobretudo o internetês e o informatiquês), perdendo assim a sua meta principal (ensinar o uso padrão) e faz com que o aluno, as vezes, não veja sentido nas aulas de Língua Portuguesa: ou porque se mantém ortodoxas na gramatiquice preconceituosa ou porque repete em sala de aula o que ele aprende com ou sem a escola. Fazendo com que o aluno não crie um conceito crítico ou consciente sobre o papel da língua na sociedade, e a importância de valorizar o próprio idioma.
No que diz respeito às escritas paralelas (o TV), geradas pela comunicação digital, a Internet, pode tornar-se forte aliada na retomada de uma atitude filológica no ensino da língua. Desde que, se saiba aproveitar as suas vantagens, já que seria inútil ignorá-la neste momento de globalização em que vivemos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASSETTO, Bruno Fregni. Conceito de filologia românica. Elementos da Filologia Românica. 2 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, v. 1, 2005, p. 17-40.
YOUSSEF, Antonio Nicolau. FERNANDES, Vicente Paz. “Impactos sociais”, in: - Informática e sociedade. 2 ed. São Paulo: Editora Ática, 1988, p. 31-33.
LÉVY, Pierre. A virtualização do texto, in: - O que é virtual? traduzido por Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 1996, p 35-49.
FARACO, Carlos Alberto.
[1] Artigo apresentado à pedido da docente Tereza Cristina, do componente curricular Constituição das Línguas Românicas, do curso de Letras da Universidade do estado da Bahia – UNEB – campus XXI, como requisito para complementação de nota.
[2] Acadêmicas do V semestre vespertino.