Relações interpessoais



RELAÇÕES INTERPESSOAIS[1]

 

Angela Cristina Pereira Feitosa da Silva

Socióloga da Fundação Santo André em São Paulo

Docência Universitária pelo UNASP – Campus de Engenheiro Coelho.

Â[email protected]

 

Resumo: O presente trabalho objetiva ressaltar a importância, dentro do contexto educacional, tanto do educador quanto do educando. Sob uma ótica filosófica e ao mesmo tempo sociológica, busca o resgate de valores dos quais andam esquecidos na sociedade atual. Como tal cita-se o ser humano e suas relações interpessoais.

 

Palavras chave: relações interpessoais, ser humano, educador e educando.

 

Abstract: This paper aims to highlight the importance, within the educational context, both the educator and the learner. From a philosophical perspective while sociological, seeks to recover the values of which go overlooked in today's society. As such we can refer to human beings and their interpersonal relationships.

 

Key words: interpersonal relationships, human being, educator and student.

 

Introdução

 

Diante da complexidade das relações sociais, num mundo onde o que importa muitas vezes é o ter e não o ser, cria-se barreiras difíceis de serem transpassadas pelo ser humano na construção de uma sociedade melhor, mais humana e menos conflituosa.

Nascemos, crescemos e morremos compromissados uns com os outros. Necessitamos da interação para buscarmos nossas realizações pessoais, o que acaba também influenciando o outro tanto de forma positiva quanto de forma negativa, pois somos seres sociais.

Os dilemas e paradigmas da sociedade atual, envolvendo comportamento humano, veículos de comunicação, ética e tecnologia são abordados neste artigo de forma a refletirmos sobre a necessidade de aproveitarmos com sabedoria os recursos oferecidos pelo mundo, principalmente nas questões tecnológicas, para mantermos nossas relações  sociais saudáveis e dignas de serem vividas.

Num segundo momento, este trabalho aborda as relações interpessoais e a aprendizagem.

Por se tratar de um assunto que não se esgotará com essa reflexão, o artigo analisa sobre a urgência, cada vez maior, de uma mudança no olhar sobre o processo educacional.

Os atores principais: professor e aluno, juntos numa relação baseada em valores éticos, morais e sobretudo responsável, nos permite acreditar num mundo melhor.

Esse olhar diferenciado no processo educacional baseado na diversidade, mas sobretudo na proximidade aluno/professor, cria uma ação dinâmica e comunicativa capaz de construir uma sociedade do conhecimento que leve em consideração o ser humano tal como ele é: livre e capaz.

 

 

O ser humano

 

Partindo da idéia de que somos seres sociais e que necessitamos do convívio com outras pessoas para construir a nossa identidade, bem como interagir com o mundo ao nosso, observa-se que esse exercício, de sociabilidade é muito mais dinâmico e complexo do que se pensa. Envolve interação, inter-relações, diálogo, comunicação, sentimentos e comportamentos.

O indivíduo está, desde o nascimento, comprometido com o cotidiano, onde por meio da convivência, interage, cria novas necessidades e meios para superá-las, buscando a sua realização pessoal, o que acaba também levando a realização do outro, ou seja, tudo que fazemos, as nossas ações, estão intimamente ligadas ao outro, apesar de buscarmos nossas individualidades de modo inexorável.

Com isso, fica fácil entender que a vida em grupo é uma exigência da natureza humana, onde o indivíduo não só se relaciona num constante exercício de troca, mas também aprende e ensina de forma natural. Contudo a condição social dos seres humanos demanda da formulação de princípios e padrões de conduta como elementos norteadores desse convívio social, seja em qual esfera for: na família, no trabalho, no grupo de amigos, na vizinhança, na escola, etc.

No mundo atual o grande problema das sociedades se encontra no agir humano. Vivemos num processo de constantes mudanças, seja no aspecto econômico, político ou cultural. No campo ético também observa-se mudanças. Neusi Berbel (2000, p. 06).em suas reflexões nos afirma que “ética, pois parece palavra chave que enceta e exprime dilemas da modernidade.”

Mudanças éticas são preocupantes, na medida em que os hábitos, costumes e gostos se padronizam, levando a uma vida moral descartável onde o individualismo fica mais acentuado, valendo mais os interesses pragmáticos e imediatos dos indivíduos, do que princípios, valores, atitudes voltadas para o coletivo, isto é, “(...) a sociedade atualmente procura formar o homem egoísta”. (FRITZEN, 1987, p.18).

A modernidade, a correria do dia-a-dia das grandes cidades faz com que as pessoas mantenham relações mais fragmentadas, caracterizando uma tendência ao individualismo, em que mesmo mantendo uma proximidade física não significa necessariamente proximidade afetiva.

Sob outro ponto de vista, observa-se cada vez mais, os meios de comunicação de massa moldando as idéias e as opiniões dos grupos, ou seja, em nossa sociedade os veículos de comunicação buscam atingir a todos e inculcar suas idéias fabricadas, gerando padrões de comportamento.

Esse processo vem se intensificando cada vez mais graças ao uso de tecnologias e, principalmente, pela internet, transformando o indivíduo em verdadeiros “cidadãos virtuais”.

A questão que se coloca é como o ser humano deve se relacionar com o progresso tecnológico?

A internet criou um novo espaço para o pensamento, para o conhecimento e para a comunicação. Mudou o cotidiano, os relacionamentos, em fim mudou a forma de ver o mundo. A tecnologia tem facilitado em muito a vida das pessoas, e o progresso está em todos os lugares. Portanto, tudo o que é produzido como desenvolvimento da tecnologia não deve ser intitulado como bom ou ruim na sua própria estrutura, mas sim na maneira como é utilizado.

Exposta de forma mais drástica, o uso descontrolado da tecnologia destrói as fontes vitais de nossa essência. Mina relações sociais que tornam a vida  digna de ser vivida.

Além dos benefícios trazidos, a que se considerar uma preocupação com os malefícios trazidos pela informatização, principalmente na questão internet, em que o comportamento humano e seus relacionamentos interpessoais reforça o isolamento, o individualismo e as relações mascaradas por falsas imagens, criando ao mesmo tempo um distanciamento do real e, como nos afirma Pierre Weil (1987, p.123) “barreiras nas comunicações interpessoais.”

Cada vez mais somos enganados por padrões sociais que valoriza o externo, o ter em detrimento do afeto, das relações verdadeiramente humanas.

No tocante comunicação, segundo Weil (1987,p. 123):

 

Opiniões, atitudes, costumes, gostos influenciam de maneira bastante acentuada a nossa percepção das pessoas e, consequentemente, a comunicação entre elas. Esse fato provoca aquilo que costumeiramente chamamos de rótulos, ou seja, criamos uma visão distorcida do outro e um entrave para uma comunicação mais profunda, tanto nas relações afetivas quanto em qualquer outra relação (com familiares, amigos, colegas de trabalho, etc.). Portanto, alguns comportamentos, como exemplo, o preconceito, medo de expressar afetividades, etc., reforçam não só os rótulos mas também dificultam a comunicação e os relacionamentos.

 

Nesse contexto, salienta-se a importância do saber falar e o saber ouvir na construção das relações.

No ouvir, diferentemente de escutar, o indivíduo passa por um processo de desenvolvimento de sua sensibilidade com relação ao outro. Cria-se os diálogos baseado no respeito e no amor ao próximo, determinando as atitudes diante das experiências da vida. Em suma, o diálogo é fundamental nas relações entre os seres humanos.

 

Sala de aula: as relações interpessoais e aprendizagem

 

A educação ocupa um papel importante e ao mesmo tempo determinante nas relações sociais. É entendida como uma possibilidade de ação conjunta entre os pares envolvidos para melhorar a sociedade em que se vive.

Para Kant, “o homem não pode tornar-se um verdadeiro homem senão pela educação. Ele é aquilo que a educação dele faz” (1999, p.15).

A escola ainda é uma instituição necessária para a sociedade, apesar, de hoje, existir uma gama imensa de aparatos ferramentais que facilitam e impulsionam a disseminação do conhecimento. Além disso, é na escola que as pessoas desenvolvem diferentes modelos relacionais, constroem conhecimento, desenvolvem habilidades e pensam em coisas muito além do âmbito doméstico.

Atualmente, levanta-se discussões sobre os desafios do educador frente ao conjunto de diferenças e peculiaridades individuais da qual se caracteriza a demanda nas escolas, seja em qual nível for. Por isso, devemos considerar a sala de aula como um ambiente vivo, que necessita acolher toda e qualquer forma de expressão, aliando teoria a uma prática pedagógica eficiente e ética que atenda a essa diversidade.

Nesse contexto, a educação vista como meio para desenvolver a sociedade, enquadra a sala de aula como um lugar não só de transmissão de conhecimentos teóricos, mas, sobretudo como lugar de construção e aquisição de valores; lugar de troca de experiências, de relações com o saber, como o outro e consigo mesmo.

Na dinâmica da relação professor-aluno, observa-se primeiramente que é preciso estabelecer um nível de comunicação autêntica, que leve a um processo de reflexão e de busca por resultados e juntos administrar as vivências, atitudes e expectativas dentro da sala de aula.

A figura do professor sempre terá um peso maior nessa relação, visto que o aluno o apontará como referência, muitas vezes além do profissional, servindo como ponto de partida, não só para o seu processo de aprendizagem como também para o seu crescimento pessoal.

Deixar marcas positivas ou negativas, faz desse momento algo que requer uma atenção maior e constante por parte do educador, para que haja uma reavaliação de posturas, conceitos e práticas pedagógicas na busca do melhor.

Segundo Perrenoud (1993) a profissão docente é uma “profissão impossível”, na medida em que trabalham com pessoas e assim sendo sujeita a conflitos, ambigüidades e defesas.

Por isso que “ensinar exige risco, aceitação e rejeição a qualquer forma de discriminação” (FREIRE,1996, p. 35). É sem dúvida o grande desafio que marca o processo educacional no mundo atual.

Diante da complexidade da relação professor – aluno é importante salientar que existe um descaso e desrespeito com a figura do professor, sendo ele, visto por muitos alunos como seu funcionário. Em contrapartida, vemos professores ansiosos e inseguros que através da ignorância e arrogância mantém um afastamento de seus alunos. O que também não é uma situação produtiva.

Num mundo globalizado, em que as mudanças tecnológicas ocorrem em uma velocidade crescente, o educador deve se atualizar sempre. Visto que ele hoje é um facilitador, alguém que tem o papel de colaborar para que o aluno desperte para o conhecimento, para a cidadania e consequentemente, para um mundo melhor.

Relações pedagógicas, portanto, baseadas no respeito, na serenidade favorecem as situações de aprendizagens eficientes, onde num clima de maior liberdade, atingem o sucesso.

Carl Rogers, em seu livro Liberdade para Aprender (1978) nos mostra através de relatos de profissionais da área da educação, inclusive dele próprio, experiências em que os alunos puderam estabelecer suas metas e desenvolver seu próprio aprendizado. O professor se tornou um facilitador da aprendizagem dos alunos, mantendo o respeito às individualidades e a instituição escolar.

O que importa, segundo o autor (1978), é que o educador perceba que o ser humano, quando tem maior liberdade, expande suas possibilidades não de aprender, mas também de interagir com esse aprendizado.

“Todo educador eficiente tem o seu próprio estilo de facilitar a aprendizagem dos alunos” (ROGERS, 1978, p. 69). Isso demonstra que se faz necessário o educador estar próximo de seu aluno, ou seja, procurar conhecê-lo, buscar meios de despertá-lo para a busca do conhecimento. “Educar é um processo interativo e dinâmico” (WERNECK, 1997, p.55), por essa razão, entende-se a sala de aula como um lugar de interação social, em que a diversidade nos enriquece, atuando como estímulos para o desafio de construirmos como pessoa.

Paulo Freire em suas reflexões afirma que “ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo; os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo” (1996, p. 156) sendo fundamental entender que o processo ensino-aprendizagem é favorecido quando se tem clareza que não se faz educação sozinho; que não se constrói conhecimento sozinho e que diante da complexidade que envolve o ser humano, no que se refere ao ato de ensinar e aprender, deve-se levar em conta as implicações sociais, culturais, orgânicas cognitivas e também emocionais.

É importante salientar de que somos seres únicos e, portanto, o nosso processo de aprendizagem também é único. Encontrar um ponto de equilíbrio entre os nossos objetivos e a expectativa do outro, respeitando o seu momento cria um diferencial na qualidade dos resultados educacionais.

Muitas vezes, parece utopia pensar que o educador pode fazer a diferença na vida dos alunos. Contudo, temos exemplos de experiências realizadas entre educadores e alunos que demonstraram, claramente que uma relação mais próxima que permita o professor conhecer, acompanhar e orientar os seus alunos, cria chances reais de sucesso, tanto na vida escolar quanto na vida pessoal. Fazer a diferença é apenas um detalhe, e captar um detalhe é fazer dele o ponto de partida para a construção de relações mais completas, pautadas no respeito e no comprometimento, da qual resultem ações criativas, inovadoras e competentes. É o que a sociedade necessita com urgência: pessoas melhores num mundo melhor.

Lembrar que apesar das falhas humanas em seus relacionamentos, sejam eles profissionais ou não, o ser humano tem condições de retomar a esteira da vida.

Weil (1987, p.23) nos fala que “o homem é capaz de fabricar uma máquina, mas nunca se viu a máquina fabricar um homem”

 

Metodologia

 

Esta pesquisa está classificada nos critérios de pesquisa bibliográfica para o embasamento teórico.

Partindo da pesquisa realizada, os dados foram analisados a partir de leitura crítica e redação dialógica a partir dos autores apresentados.

 

Considerações finais

 

Na correria do dia-a-dia, no mundo estressante e carente de afetividade e valores positivos, os seres humanos ficam cada vez mais distantes uns dos outros na busca pela sobrevivência material.

Esse fato choca-se com a sua própria natureza, pois somos seres sociais, necessitamos não só do contato mas sobretudo da interação com o outro para evoluirmos.

Num mundo globalizado e exigente e imprescindível reavaliarmos nossas posturas, conceitos e necessidades.

Enquanto educadora, a análise que faço focaliza as relações interpessoais no processo educacional com sendo a chave para o desenvolvimento de uma sociedade melhor, inovadora e competente. Apesar das dificuldades, acredito na educação como alternativa e na escola como instrumento de mobilidade social e diferenciação para o futuro.

 

 

Referências bibliográficas

 

 

BERBEL, Neusi. Reflexões sobre questões de ensino na universidade: as conversas continuam. Londrina PR: Ed.Uel, 2000.

 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 6ª ed. São Paulo: Paz e Terra,1996.

 

KANT, Immanuel. Sobre a Pedagogia (1784). Tradução de Francisco Cock Fontanella: Ed. Unimep, São Paulo,1999.

 

PERRENOUD, Fhilippe. A prática reflexiva no ofício do professor: profissionalização e razão pedagógica. Porto Alegre: Ed. Artmed, 1993.

 

ROGERS, Carl Ransom. Liberdade para Aprender. Tradução de Edgard Godói da Mata Machado e Márcio Paulo de Andrade. 4ªed. Belo Horizonte; Ed. Interlagos de Minas Gerais,1978.

 

SILVINO, José Fritzen. Relações humanas interpessoais nas convivências grupais e comunitárias. Petrópolis: Ed. Vozes, 1987.

 

WEIL, Pierre. Relações Humanas na Família e no Trabalho. Petrópolis: Ed. Vozes. 1987.

 

WERNECK, Claudia. Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva. 2ª edição. Rio de Janeiro: Ed. WVA, 1997.

 

 


[1] Artigo redigido para Conclusão de Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Docência Universitária: métodos e técnicas – Centro Universitário Adventista de São Paulo- Campus 2, na cidade de Engenheiro Coelho, 2011, sob a orientação da Profa. Dra. Marinalva Imaculada Cuzin.


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