Teoria da transposição em teatro



Teoria da transposição em teatro

De: Sidney Guedes – Ator, diretor e dramaturgo.

 

Em minha trajetória de 27 anos de vida dedicada ao teatro, tenho transitado e refletido sobre inúmeras linguagens e perspectivas no que tange ao fazer teatral e suas consequências estéticas e transgressoras. Muito tem me inquietado tal arte. Não sou do tipo que com o tempo, se acomoda num estágio de organização metodológica, permitindo um arrefecimento da chama intensa que deve impulsionar a complexidade do artista. A arte deve ser perturbadora e gerar constantes lacunas e rupturas para que possa mobilizar a intensidade humana num fazer total, único capaz de produzir, em minha opinião, uma poderosa arte.

Em teatro, tenho me debruçado sobre o corpo do ator e a sua complexidade, gerando uma inquietação pesquisadora que me impõe ao inacabamento humano como matéria-prima para tentar gerar um caldo ou quem sabe mesmo um chorume profundamente contagiante e transformador. Um corpo que necessita de potencialidade, de vigor e excitabilidade mas, que no entanto, inacabado como é, carece de transcender os limites musculares para alcançar a plenitude criativa. Um corpo sensorial, a flor da pele tem sido a busca constante de diversos pensadores, atores e encenadores do tecido teatral, no entanto, penso que um aspecto sensorial deve gerar respostas abstratas que novamente corporificadas, impulsionem o processo criativo numa transposição que faz do corpo sem órgãos de Artaud, algo possível para além da mera conceituação filosófica e idealizada. Gordon Craig, grande encenador e cenógrafo inglês, refletindo sobre suas inquietações teatrais no diz:

"Tudo leva a crer que a verdade em breve amanhecerá. Suprimi a árvore 
autêntica que haveis posto sobre a cena, suprimi o tom natural, o gesto 
natural e acabareis igualmente a suprimir o ator. É o que acontecerá um dia 
e gostaria de ver alguns diretores de teatro encarar essa idéia a partir 
deste momento. Suprimi o ator e retirareis a um realismo grosseiro os meios 
de florescer a cena. Não existirá mais nenhuma personagem viva para 
confundir a arte e a realidade em nosso espírito; nenhuma personagem viva em 
que as fraquezas e as comoções da carne sejam visíveis.
O ator desaparecerá e no seu lugar veremos uma personagem inanimada - que 
se poderá chamar, se quereis, a "Super-marionete" - até que tenha 
conquistado m nome mais glorioso."

 

A teoria da transposição é fruto de longa pesquisa que venho desenvolvendo em espaços de formação de atores onde tenho atuado desde os anos noventa do século passado. As inquietações que nasceram de uma profunda reflexão sobre um ator capaz de suprimir a si mesmo, idealizado por Craig, bem como o corpo sem órgãos defendido por Artaud, me impulsionaram a procurar alternativas de transgressão criativa que transcendessem o corpo desse mesmo ator, visando atingi-lo intensamente. O ator, mais do que alguém que precisa ter um corpo educado e um intelecto sistematizado em conceitos e linguagens, carece de ter a capacidade de transpor obstáculos que geram a dualidade mente e corpo, que tanto compromete o teatro, principalmente o ocidental. No estudo da construção e pesquisa cênicas, tenho percebido que há um lugar que somente pode ser alcançado quando realizamos transposições, isto é transformações de informações em estéticas pós-corporais e desconstruções para outras estéticas cênicas que novamente atingirão o corpo pelo caminho do entranhamento cognitivo epidérmico. Um estranhamento que transforma o conceito de super-marionete de Criag, num hiposigno, que depois de macerado transforma-se em refluxo criativo, decantado e transformador

Um conceito, nuance ou característica presente na pesquisa de determinado personagem ou texto pode gerar “alquimias estéticas” que transcendem o fazer teatral e arrombam a totalidade da arte, gerando outras criações, que, novamente decompostas, geram no corpo do ator o contágio que desencadeia um sentido para o seu corpo previamente educado. Um gesto, pode gerar uma sonoridade, que desencadeia uma criação plástica, que se transforma em massa geradora para uma nova construção física, gerando, agora sim, um gesto decantado e livre!

Tenho provocado atores e atrizes a decantar, pequenas nuances de maneira que a reflexão racional não seja a tônica, desencadeando transposições lúdicas dos mais diversos matizes, que ao final de um percurso “alquímico”, possibilitam entendimentos corporais e estéticos que brotam no fazer teatral por caminhos inusitados, porém sólidos.

A presente teoria, não tem a pretensão de levantar a bandeira de uma nova descoberta, ou de ser A DESCOBERTA em matéria de teatro. Não teria essa ambição por me perceber incapaz de tal intento. Ela é apenas o primeiro esboço de uma tentativa – talvez vã – de organizar os frutos de um trabalho que venho desenvolvendo a partir de minhas inquietações profundas no campo do fazer teatral. Pensar num corpo sem órgãos e num teatro da peste passa pela libertação desse corpo da pretensão de reter nele toda a possibilidade de conter a plenitude do fazer teatral, como sonhava Craig, porém fazendo dessa libertação mais do que uma super-marionete, contemplada e sem poder de contaminação. Expurgar a criação para fora de si, mesmo sendo ela ainda parte de si, me parece um caminho que permite ao processo criador, se expor ao devido contágio, cuja nascente, por ser cristalina demais, não seria capaz de produzir.

 

O ator e o corpo transcendente

O ator é o veículo de si mesmo. Sua arte e possibilidades criativas são tiradas de suas entranhas e, a partir delas, ele é capaz de executar o seu ofício. O corpo do ator tem sido objeto de pesquisa desde que essa atividade existe (não falo da Grécia, mas de toda manifestação teatral que vem de múltiplos lugares), gerando leituras que vão desde um corpo educado e reprodutor de gestos e posições universais até a mais pura transgressão direcionada à um corpo sem órgãos (Artaud) visceral e intenso. De intérprete fiel a performer autônomo o ator vem construindo/ reconstruindo o fazer teatral cujas fontes são múltiplas e para o bem dessa arte, conflitantes e contraditórias. Um corpo transgressor é sempre um corpo que desafia suas possibilidades cognitivas e biológicas, percebendo no cadinho perscrutador de suas vísceras um lugar onde ainda se possa tirar novas camadas de comunicação e renovação (não acredito que tudo já foi dito!).

Neste presente artigo, me debruço sobre uma inquietação que me assola ao longo dos anos em minha caminhada em direção a utopia do reconstruir-se sempre na busca de novas camadas de comunicação e transformação. Em minhas profundas inquietações, tenho refletido muito sobre a possibilidade de um processo criador ter a capacidade de transcender sua matriz geradora criando algo novo, fora de si - porém impregnado si - que seja capaz de gerar estranhamento nessa mesma matriz, proporcionando, pelo embate de tal transposição, algo inquietante que gere nesse mesmo corpo novas possibilidades de entendimento e criação. A transposição tem sido um caminho experimental onde tenho percebido respostas que atingem diretamente o corpo do ator de maneira sensorial/epidérmica sem a ingerência racional que a tudo tenta esquematizar e catalogar. O ator lançado da transcendência, percebe sua criação apartar-se de si, porém, por estar impregnada de si, refaz o caminho da criação, no que chamo de refluxo, transformando o corpo criador em corpo atingido pela autonomia de sua própria criação.

 

A consciência do corpo que transcende

O ator tem que perceber, apreender e trabalhar constantemente esse seu instrumento, cuja atividade depende sua arte e seu ofício. O Corpo do ator tem sido objeto de reflexão, discussão e trabalho constante. Dominar esse corpo, perceber suas possibilidades e limites tem sido algo fundamental na construção de sua função: a função do ator. O ator em nossa proposta, não só busca o conhecimento e o domínio de seu corpo, ele procura transcendê-lo para que, enfim, no estranhamento desse processo, possa enfim, receber o refluxo da criação. Tal refluxo, não é algo abstrato ou idealizado na mente de uma pensador em busca de respostas teatrais, não! O refluxo é algo concreto, cuja resposta nasce de um corpo que epidermicamente reage a um estranhamento produzido por esse mesmo corpo, numa transposição de suas possibilidades criativas. O corpo, a partir de um estímulo inicial, geralmente saído de seu foco de pesquisa, vê esse estímulo ser transposto em outras linguagens e possibilidades artísticas e estéticas e a partir de tal processo de transcendência criativa e corporal, se vê afetado pelo resultado do mesmo, num refluxo que promove o outro criativo.

 

Transposição

Acredito que, mais do que ser livre, o processo criador precisa ser transcendente, isto é, ir além da linguagem matriz que o proporcionou. Ele deve se macerado e conduzido para outras formas potência de re-transfomação e transposição. O ator, quando transgride o seu corpo levando a criação para fora de si, sem deixar de estar impregnado de si, resignifica essa criação, potencializando a mesma e gerando múltiplas possibilidades construtivas que não se limitam ao entendimento racional do gesto ou da ação. O entendimento o atinge por outras camadas, por lugares alquímicos que existem em si e para além de si. O seu processo criador é decantado por outras linguagens, por outros caminhos proporcionando uma força contaminadora e poderosa. Tal transposição ocasiona um entendimento sensorial/epidérmico, algo indizível porém, de forte poder comunicador. Transpondo-se, o ator macera-se, regurgita e reconstrói-se numa realização intensa, contagiante e pós-corporal que novamente atinge o corpo, só que agora como peste purificadora. É como se a Super-marionete golpeasse o ator, fazendo-o despertar de uma contemplação idealizada para uma contaminação concreta e epidérmica.

 

Estranhamento cognitivo epidérmico

Da transposição e maceração do hiposigno, surge a nuance potência com grande capacidade de refluxo. Tal nuance, atinge intensamente o âmago do ator, gerando um estranhamento cognitivo epidérmico, isto é, algo que chega por contágio, para além da ação reflexiva que costuma nortear o trabalho do ator. O ator, por contaminação inter-externa, mobiliza suas forças criativas para além da idealização e esquematização racional. É um entendimento medular e sensorial, fruto de uma peste avassaladora.

 

Estética pós-corporal

A estética pós- corporal é a transgressão dos limites do corpo como elemento pleno de construção do ator. Mesmo partindo de si, o processo criador quando passa pela transposição, transcende esse mesmo corpo a partir do estranhamento do mesmo no ato de criar. São estéticas que se transformam em lugar de inquietação/construção/desconstrução. Na transposição surge um hiposigno (em minha opinião a super-marionete é um exemplo de hiposigno) que precisa ser macerado e decantado na perspectiva de surgir uma nuance potência.

 

Alquimia estética

A alquimia estética nasce da transposição do processo criador. É a transformação de uma nuance em ouro cênico, forjado no conflito das transposições. Transformando e resignificando linguagens e experiências, o ator liberta-se de conceitos pré-organizados por sua experiência acumulada, transformando essa potência em combustível e não em conceituação sistematizada. Como combustível, tal potência atinge a centelha criativa gerando uma chama/combustão que dou o nome de refluxo, conceito fundamental na teoria que agora desenvolvo.

 

Decantação

Decantar é transformar o suco criativo em chorume, isto é purificar o processo criativo, pela sua capacidade de contaminar e se desprender do lixo da criação. Na decantação, a nuance é lançada para além do esquema corpo disciplinado para proporcionar um além/inter/corpo que refaz o caminho no cadinho da transposição. Quando um ator, faz e refaz o percurso de um gesto, transforma um gesto em música e tal música em potência que mobiliza as forças corporais para um gesto novo, porém de mesma matriz, ele lança o processo criador para fora de si certo de que será atingido pelo seu refluxo. O gesto, mesmo desencadeado por um eixo, se permite a ter vazamentos que fazem desse mesmo eixo, algo desencadeante, porém, com forte poder criativo.

 

Massa geradora

Quando transposto, gesto, ação ou nuance, transforma-se numa massa geradora, algo que está localizado entre o texto, o corpo do ator e a sua encenação. Da massa geradora nascem o signos macerados e livres. Livres porque transpõem o corpo e a ele voltam o atingido como algo novo e contagiante. De um hiposigno forjado, surge o signo decantado com grande poder de contaminação.

 

Hiposigno

Hiposigno é o signo exacerbado, nascido do primeiro momento da transposição. É quando a transposição gera outra perspectiva estética, no entanto ainda necessitada de uma maceração. É um um esboço sígnico, cuja intensidade determina um princípio de construção e expansão! O Hipo-sígno é fundamental, por ser o primeiro a lançar-se para além do corpo. Ele desencadeia todo o processo que gerará o refluxo criativo mais à frente. A princípio, parece que o conceito de hiosigno é inadequado, tendo em vista que trato de um signo exacerbado que em tese deveria chamar-se hipersigno. No entanto, o hiposigno, muito embora seja exacerbado, não há nele a riqueza necessária que só acontece após o processo de maceração e decantação. Por ser um signo pobre, resolvi chamá-lo de hiposigno.

 

Nuance potência

A nunce potência é o fluxo necessário ao hiposigno é o que impede de haver solução de continuidade no processo criador. O hiposigno em si, se não macerado no cadinho da transposição estagna o movimento externo pós-corporal, gerano contemplação e não visceralidade como acredito ser o caso da Super-marionete de Craig. Já a nuance potência propõe conflito ao hiposigno desencadeando o refluxo que é algo fundamental para que todo o processo novamente atinga o corpo do ator.

 

Refluxo

O refluxo é o resultado final da transposição. Nele, o ator é atingido pelo processo de decantação, gerando uma criação sensorial/epidérmica, que comunica ao corpo por caminhos outros para além da reflexão racional. No refluxo o ator é invadido de forma potente e vigorosa pelo signo decantado, pelo signo potência, proporcionando um entendimento epidérmico que reflete em sua estrutura senso-corporal. No entanto, isso não se resolve nem se torna estanque. A transposição é sempre ininterrupta e precisa de um constante movimento fluxo/refluxo para continuar atuando e produzindo arte.

 

Transposição e reconstrução do movimento

A transposição também se dá na reconstrução do movimento. O movimento reconstruído milimetricamente proporciona no ator um estranhamento sobre o seu processo criador. Reconstruir o movimento é resignificá-lo, transformá-lo em algo novo numa perspectiva de refluxo e afetação no sensorial do ator. Reconstruir o movimento é é retransformar o criado; é macerar o hiposigno transformando-o em nuance potência. É, de um eixo comum, encontrar poros por onde o processo criativo possa vazar intensamente.

 

Em busca do concreto pós corporal

Todo movimento corporal é concreto, no entanto por estar impregnado de si mesmo, muitas vezes não desencadeia o estranhamento necessário para que o movimento afete a epiderme e a musculatura em si. O movimento geralmente é armazenado e catalogado racionalmente como partitura memorizada para posterior reprodução e execução. É uma execução sem afetação epidérmica e sem o devido estranhamento cognitivo. Quando o movimento corporal é transposto para outras linguagens alquímicas o resultado final é concreto e para além do corpo. Esse resultado concreto e extracorporal, gera no próprio corpo um estranhamento contundente que a ele atinge num refluxo devastador de suas resistências racionais e esquemáticas. Ele é atingido e, como tal, reage com o corpo proporcionando o surgimento do signo decantado, do ouro cênico.

 

O conceito de “poros”

 

O ator, em seu ofício, transita entre o ser criativo, inusitado, transformador e aquilo que em sua atuação é determinado (luz, marcas, texto, partituras, etc...). Como manter a criatividade viva e intensa, após a conclusão de um processo, quando determinado espetáculo entra em temporada? A teoria da transposição, em sua pesquisa, busca o que chamo de “poros” ou “brechas”, no processo criativo, mantendo-o vivo, apesar dos possíveis engessamentos que a repetição de um espetáculo possa ocasionar. É uma busca de encontrar no movimento repetitivo, aquilo que ainda é livre e, portanto, criativo e artístico. Um movimento é a soma de vários estímulos corporais que se juntam na construção estética e sígnica e, sendo assim, potencializamos em atividades e exercícios a repetição atenta percebendo, através da ênfase de cada estímulo que compõe o movimento, minuciosamente entendê-lo para fazer dele uma usina criativa para manter o gesto e toda a composição teatral atenta e produtiva. É como desmembrar as diversas potencialidades que são desencadeadas para que com isso, nasçam “poros”, por onde a arte teatral possa externar todo o seu suor criativo, sem no entanto permitir que o movimento perca o seu eixo desencadeador. Quando não há vazamento criativo, acontece o que o Diretor teatral e grande amigo, Gabriel Barros, chama de interpretação precoce, numa clara e divertida ironia sexual. É quando o ator entra em cena e ejacula toda a sua capacidade criativa num só momento, impedindo o prolongamento do prazer cênico que deve durar todo o espetáculo e para além dele.

 

A transposição na formação do ator

Trabalhar e formar o ator na perspectiva da transposição é fazer desse ator um pesquisador de suas possibilidades/nuances e nelas, construir estratégias que possam fazer com que ele seja confrontado com a transcendência de sua criação. Desde que comecei a me inquietar com a transposição, procurei me apartar da mera conceituação filosófica para que pudesse me embrenhar num empirismo onde a prática deveria corroborar minha proposta teórica. Minhas experiências têm gerado resultados significativos, no que tange a um ator atento e transcendente, cujo refluxo criativo, o incomoda profundamente, direcionando-o para uma criação a partir de si mesmo, agora numa ótica de estranhamento gerado pelo refluxo. O ator se percebe desencadeador de um processo que transposto, ganha a devida autonomia, suficientemente complexa e geradora de inquietação e transcendência. Tal autonomia, sinaliza para um processo criador complexo e não racional, cuja força atinge profundamente o ator em seu aspecto sensorial e criativo. A transposição se percebe como potência e, como tal, busca na vivência sua resposta e conceituação. Conceituar a transposição é trilhar num solo nem sempre fértil, no entanto, cheio de percalços potenciadores de crescimento e construção. Conceituar talvez seja impedir que a transcendência desencadeie seu mais potente fluxo, no entanto, conceituando, permitimos ser atingidos pelo refluxo e, aí sim, poder constatar a eficácia de tal teoria. A transposição fere a si mesma, mas não tem seu foco na cicatrização, as secreções inflamadas sim, são o seu objeto de pesquisa.

 

Sulcos cenográficos: por uma cenografia do refluxo

No que tange a uma proposta cenográfica contaminada pela teoria da transposição, penso numa construção que seja fruto da inquietações que atingiram o ator os vários processos de maceração e decantação. Penso em cenários e acessórios cênicos, cuja relação se dê pela transgressão corporal desencadeando construções e ambientes de estéticas provocadas pelo refluxo. O cenário deve tingir o âmago do ator. Deve ser sígnico porém pendular, cujo movimento de idas e vindas, perturbam o ator em cena obrigando a reagir e a desencadear um processo intenso com a plateia. O cenário não mais reflete a história ou conceitos ambientais e sim tudo aquilo que o ator vomitou em sua pesquisa de transposição. Um cenário que se transforme ao logo do espetáculo e viva um processo também ao longo de uma temporada. Um cenário móvel, maleável, mutante e profundamente inquietante para o ator e para o público.Ele deve estar construído sobre sulcos criativos, perturbadores e viscerais.

Conclusão

Um ator para além de si mesmo, que vê o processo criativo transcender os limites técnicos e cognitivos de seu corpo para depois atingi-lo num refluxo devastador, intenso e decantado é o princípio que norteia todo este trabalho, bem como, tem norteado minhas inquietações no campo do teatro já há bastante tempo. Enfim, tais reflexões que agora esboço neste artigo são apenas um primeiro escoadouro, pouco acadêmico, no entanto profundamente convicto de ser uma tentativa de clarear minhas reflexões na busca de um teatro que não me permita ficar em paz.

 

Sidney Guedes


Autor: Sidney Guedes


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