Tuberculose – é preciso conhecer para prevenir.



TUBERCULOSE – é preciso conhecer para prevenir.

Apesar de todos os avanços conseguidos em seu combate, a tuberculose (TBC) continua sendo a principal causa de morte em adultos por doença infecto-contagiosa em todo o mundo. Um terço da população mundial está infectada pelo Mycobacterium tuberculosis, bacilo causador da doença, fazendo com que 8 milhões de pessoas adoeçam a cada ano e 2,9 milhões morram, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS). Estima-se que a TBC cause 26% de todas as mortes preveníveis no mundo.

Dos 8 milhões de casos anuais, 7,6 milhões (95%) ocorrem em países em desenvolvimento, que concentram 80% dos casos de TBC no mundo, entre eles situa-se o Brasil, onde se estima que ocorram 100.000 novos casos por ano, havendo notificação de apenas 90.000. A mortalidade é de cerca de 6.000 óbitos por ano sendo, portanto, um importante problema de saúde pública no nosso país.

Segundo a OMS, com a expansão da epidemia da AIDS e a persistência da pobreza, observou-se o recrudescimento da doença, principalmente nos países das Américas. Cerca de 25,5% dos casos de AIDS no Brasil, apresentam TBC como doença associada.

O que é?

É uma infecção causada por um microorganismo chamado Mycobacterium tuberculosis, também conhecido por bacilo de Koch.

A doença costuma afetar os pulmões, mas, pode também, ocorrer em outros órgãos do corpo, mesmo sem causar dano pulmonar. Em primeiro lugar, os bacilos multiplicam-se nos alvéolos e um pequeno número entra na circulação sanguínea disseminando-se por todo o corpo.

Como se adquire?

Geralmente, se pega a doença pelo ar contaminado eliminado pelo indivíduo com a tuberculose nos pulmões. A pessoa sadia inala gotículas, dispersas no ar, de secreção respiratória do indivíduo doente. Este, ao tossir, espirrar ou falar, espalha no ambiente as gotículas contaminadas, que podem sobreviver dispersas no ar, por horas, desde que não tenham contato com a luz solar. A pessoa sadia, respirando no ambiente contaminado, acaba inalando esta micobactéria que se implantará num local do pulmão. Em poucas semanas, uma pequena inflamação ocorrerá na zona de implantação. Não é ainda uma doença. É o primeiro contato do germe com o organismo (primoinfecção). Depois disso, esta bactéria pode se espalhar e se alojar em vários locais do corpo.

Se o sistema de defesa do organismo estiver com uma boa vigilância, na maioria dos casos, a bactéria não causará doença, ficará sem atividade (período latente). Se, em algum momento da vida, este sistema de defesa diminuir, a bactéria que estava no período latente poderá entrar em atividade e vir a causar doença. Mas, também há a possibilidade da pessoa adquirir a doença no primeiro contato com o germe.

Órgãos mais freqüentemente acometidos pela doença:

Pulmões, meninges, laringe, gânglios, pleura, rins, cérebro, coluna vertebral e ossos.

Então, após a transmissão do bacilo de Koch pela via inalatória, quatro situações podem ocorrer:

1. O indivíduo, através de suas defesas, elimina o bacilo;

2. Abactéria se desenvolve, mas não causa a doença;

3. Atuberculose se desenvolve, causando a doença – chamada de tuberculose primária;

4. Aativação da doença vários anos depois – chamada de tuberculose pós-primária (por reativação endógena).

Existe também a tuberculose pós-primária a partir de um novo contágio que ocorre, usualmente, por um germe mais virulento (agressivo).

A contagiosidade da doença depende:

Da extensão da doença – por exemplo, pessoas com “cavernas” no pulmão ou nos pulmões, têm maior chance de contaminar outras pessoas. As “cavernas” são lesões como cavidades causadas pelo bacilo da tuberculose no doente. Dentro destas lesões existem muitos bacilos;

Da liberação de secreções respiratórias no ambiente através do ato de tossir, falar, cantar ou espirrar;

Das condições do ambiente – locais com pouca luz e mal ventilados favorecem o contágio;

Do tempo de exposição do indivíduo sadio com o doente.

Devemos lembrar que a intensidade do contato é importante. A pessoa de baixa renda que vive no mesmo quarto de uma casa pequena e mal ventilada com uma pessoa com tuberculose pulmonar, está mais propensa a adquirir a doença do que outra que tem contato eventual ou ao ar livre com um doente.

Por outro lado, os bacilos que são depositados pelo doente em toalhas, roupas, copos, pratos e outros não representam um risco para transmissão da doença.

Que fatores facilitam o surgimento da doença?

 

  • Morar em região de grande prevalência da doença;
  • Ser profissional da área da saúde;
  • Confinamento em asilos, presídios, manicômios ou quartéis;
  • Ser negro – a raça negra parece ser mais suscetível à infecção pelo bacilo da tuberculose;
  • Predisposição genética;
  • Idade avançada;
  • Desnutrição;
  • Alcoolismo;
  • Uso de drogas ilícitas;
  • Uso crônico de medicações como os que transplantados de órgãos usam, como corticóides ou outras que também diminuam a defesa do organismo;
  • Doenças como SIDA, diabete, insuficiência crônica dos rins, silicose (doença crônica pulmonar) ou tumores.

Tuberculose e AIDS

Desde o seu surgimento no início da década de 80, o vírus da Síndrome da Imunodeficiência Humana (HIV) tornou-se um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento da tuberculose nas pessoas infectadas (“portadoras”) pelo Mycobacterium tuberculosis. A chance do indivíduo infectado pelo HIV adoecer de tuberculose é de aproximadamente 10% ao ano, enquanto que no indivíduo imunocompetente é de 10% ao longo de toda a sua vida.

A maior proporção de óbitos entre pacientes com tuberculose, considerando todas as causas, esteve na faixa etária de 30 a39 anos. Nos países desenvolvidos, é maior entre os idosos, mas alguns autores observam que esse perfil típico está sendo alterado pela elevada prevalência de soro positividade para o HIV, com óbitos predominando na faixa etária de 21 a40 anos. No presente estudo, verificou-se situação semelhante, com maior mortalidade em adulto jovem entre os doentes de tuberculose com AIDS como causa básica e das faixas acima de 50 anos quando a tuberculose foi a causa básica. (OLIVEIRA et al, 2004)

No Brasil, conforme a faixa etária, a co-infecção tuberculose - HIV pode chegar até em torno de 25%.

Quais são os sinais e sintomas?

  • Tosse persistente que pode estar associada à produção de escarro;
  • Pode ter sangue no escarro ou tosse com sangue puro;
  • Febre vespertina;
  • Dispnéia;
  • Suor excessivo à noite;
  • Perda de peso;
  • Perda do apetite;
  • Fraqueza.

Diagnóstico

O diagnóstico presuntivo é feito baseado nos sinais e sintomas relatados pelo paciente, associados a uma radiografia do tórax que mostre alterações compatíveis com tuberculose pulmonar. O exame físico pode ser de pouco auxílio para o médico.

Já o diagnóstico de certeza é feito através da coleta de secreção do pulmão. O escarro (catarro) pode ser coletado (de preferência, pela manhã) ao tossir. Devem ser avaliadas, inicialmente, duas amostras colhidas em dias consecutivos. Podem ser necessárias amostras adicionais para obtenção do diagnóstico. Encontrando o Mycobacterium tuberculosis está confirmada a doença.

Uma boa amostra de escarro é a que provém da arvore brônquica, obtida após esforço de tosse, e não a que se obtém da faringe ou por aspiração de secreções nasais, nem tampouco a que contem somente saliva. O volume ideal esta compreendido entre5 a10 ml.

Outro teste utilizado é o teste de Mantoux, que pode auxiliar no diagnóstico da doença. É feito injetando-se tuberculina (uma substância extraída da bactéria) debaixo da pele. No Brasil a tuberculina usada é o PPD RT23, aplicado por via intradérmica no terço médio da face anterior do antebraço esquerdo, na dose de 0,1 ml, equivalente a 2UT (unidade de tuberculina). Se, após 72-96h, houver uma grande reação de pele, significa que pode haver uma infecção ativa ou uma hipersensibilidade pela vacinação prévia com BCG feita na infância. Então, este exame não confirma o diagnóstico, mas pode auxiliar o médico.

Leitura do teste, classificado em milímetros:

  • 0 a4 mm– não reator: individuo não infectado pelo M. tuberculosis ou com hipersensibilidade reduzida;
  • 5 a9 mm– reator fraco: individuo vacinado com BCG ou infectado pelo M. turculosis ou por outras micobactérias;
  • 10 mmou mais – reator forte: individuo infectado pelo M. tuberculosis, que pode estar doente ou não, e indivíduos vacinados com BCG nos últimos dois anos.

Existem outros recursos para a confirmação da doença. Dentre eles está o aspirado gástrico – é aspirado conteúdo do estômago à procura do bacilo contido no escarro deglutido. É mais usadoem crianças. Jáa fibrobroncoscopia é muito utilizada nos casos em que não há expectoração. Neste exame, um aparelho flexível entra no pulmão e coleta material que deve ser encaminhado para a pesquisa do bacilo da tuberculose. Em poucos casos, a biópsia pulmonar, através de cirurgia, pode ser necessária. Existem ainda outros métodos diagnósticos para auxiliar o médico.

Notificação do caso de Tuberculose

O caso deverá ser notificado através do preenchimento da ficha de notificação do SINAN, pelo profissional de saúde (enfermeiro ou médico) da UBS que atendeu o paciente. Essa ficha deverá ser encaminhada ao 1º nível informatizado para digitação de Agravos de Notificação (SINAN).

Tratamento

Geralmente, o tratamento dura seis meses, mas, em casos especiais, pode ser mais longo. Nos primeiros dois meses, são utilizadas as três medicações juntas. Já nos últimos quatro meses, são utilizadas a rifampicina associada à isoniazida. O motivo da utilização de mais de uma medicação contra o mesmo germe é que a taxa de resistência do microorganismo a este esquema tríplice é baixa. Os medicamentos agem em lugares diferentes, de maneira sinérgica. No caso de gestação, o tratamento não deve ser alterado. Deve ser realizado o esquema RHZ com duração de seis meses.

Dentre os efeitos indesejáveis mais freqüentes causados pelas medicações contra tuberculose estão à náusea, vômitos e dor abdominal. Nestes casos, o paciente deverá comunicar seu médico.

Além do esquema de tratamento RHZ, existem outros esquemas (com outras combinações de medicações) que podem ser utilizados em situações especiais ou nos casos de falência com o tratamento de primeira linha (preferencial).

Como se previne?

Para uma boa prevenção, o mais importante é detectar e tratar todos os pacientes bacilíferos, ou seja, todos aqueles com o bacilo de Koch nos pulmões (doentes).

Para isso, é muito importante um bom sistema público de controle da doença, para identificar precocemente os doentes, evitando que novos casos apareçam.

O doente durante as duas primeiras semanas de tratamento pode contagiar ainda outros indivíduos. Portanto, deve proteger a boca com a mão ao tossir ou espirrar. Também deverá procurar não ficar próximo, principalmente em lugares fechados, às pessoas sadias. Estes são cuidados simples para que a doença não contamine outros indivíduos.

Outra conduta importante é o controle dos comunicantes. Comunicantes são aquelas pessoas que têm contato íntimo com o doente (vivem na mesma casa, por exemplo). Estes devem ser investigados pelo médico assistente através de exames solicitados na consulta médica.

Se for indicado, os comunicantes devem iniciar a quimioprofilaxia, um tratamento feito com isoniazida com o intuito de prevenir a doença nos comunicantes. Ela é realizada durante seis meses. Em alguns casos especiais, podem durar mais tempo.

Além disso, a vacinação com BCG no recém-nascido, protege as crianças e os adultos jovens contra as formas graves de tuberculose primária como a miliar (disseminada nos pulmões e outros órgãos) e a meningite tuberculosa. A eficácia da vacina está entre 75 e 85%.

Observações gerais/IMPORTANTES

  • Pessoas infectadas e que não estão doentes não transmitem o bacilo.
  • Uma vez infectadas, a pessoa pode desenvolver tuberculose doença em qualquer fase da vida.
  • Todos os indivíduos infectados pelo HIV devem ser submetidos ao teste tuberculínico.
  • Poucos dias após o inicio da quimioterapia correta, os bacilos da tuberculose praticamente perdem seu poder infectante.
  • Todos os esquemas, a medicação é de uso diário e deverá ser administrada de preferência em uma única tomada em jejum ou, em caso de intolerância digestiva, junto com uma refeição.
  • Atenção especial deve ser dada ao tratamento de grupos considerados de alto risco de intoxicação, como pessoas com mais de 60 anos, em mau estado geral e alcoolistas.
  • O acompanhamento do tratamento consiste na avaliação periódica da evolução da doença e a utilização correta dos medicamentos, por isso deve ser garantida ao paciente o fornecimento gratuito e ininterrupto da medicação especifica.

CONCLUSÃO

                           Apesar dos grandes avanços da medicina nas últimas décadas, a tuberculose ainda é a doença infecciosa mais prevalente no mundo. Isto se da pelo falta de informação dos pacientes, dos profissionais de saúde e da negligencia do serviço epidemiológico bem como dos gestores de saúde.

Contudo, faz-se necessário que os profissionais de saúde se tornem conhecedores da TBC e sua situação no Brasil/mundo, das medidas que o Ministério da Saúde está tomando para diminuir seu avanço através da implantação do Plano Nacional de Controle da Tuberculose e do seu papel como educadores no processo. Que estejam hábitos a identificar um caso suspeito de tuberculose e consciente da importância da notificação, bem como da necessidade de acompanhar a evolução do tratamento garantindo o tratamento correto do paciente e sua recuperação.

 

BIBLIOGRAFIA

 

Manual Técnico para o Controle da Tuberculose. 6º edição. Série A. Normas e Manuais técnicos, nº148. ed. ver. e ampl. - Brasília - Ministério da saúde, 2002.

 

Ministério da saúde. Tuberculose, campanha setembro de 2008. Disponível em: portal.saúde.gov.br/saude/.

 

OLIVEIRA, Helenice Bosco de; MARIN-LEON, Leticia; CARDOSO, Janaina Corrêa. Perfil de mortalidade de pacientes com tuberculose relacionada à comorbidade tuberculose-Aids. Rev. Saúde Pública ,  São Paulo,  v. 38,  n. 4, 2004 .  Disponível em: .

 

SA, Lenilde Duarte de et al . Tratamento da tuberculose em unidades de saúde da família: histórias de abandono. Texto contexto - enferm. ,  Florianópolis,  v. 16,  n. 4, 2007 .  Disponível em: .

 

 

 

 

Download do artigo
Autor: Clecilene Gomes Carvalho


Artigos Relacionados


O Papel Da Enfermagem Na EstratÉgia Do Tratamento Supervisionado Para O Controle Da Tuberculose

Perfil Dos Pacientes Com Tuberculose Pulmonar No Município De Betim, Mg No Período De 2004 A 2009

Respire Aliviado: Tuberculose Tem Cura!

Inconsequencia

Perfil De Pacientes Idosos Com Tuberculose Atendidos Na Unidade Hospitalar Presidente Vargas

Vento

Ja Ta Na Hora