Filhos-problema ou pais-problema?
A família nasce da sociedade e a sociedade é a aglomeração de todas as famílias. Ela é composta basicamente pela tríade, mãe, pai e filhos, e se apresentada de dois modos distintos: como uma família pública (superficial e feliz, às vezes até invejada por muitos) e como uma família particular (real e problemática).
Inicialmente, nada se exige em matéria de formação para ser pai ou mãe, mas no decorrer do desenvolvimento dos meninos, a inconsciência pedagógica das mães poderá encontrar paralelo na inconsciência reprodutora do homem. Pois bem, é dura a tarefa para os pais, que é gerar e criar os filhos. E é dura a tarefa para os filhos, que é agüentar e carregar as imperfeições, desilusões e ressentimentos dos pais.
Pela teoria da transferência da qual Freud cita em seus estudos, podemos compreender que é muito comum os pais repetirem com seus filhos o que os pais deles fizeram com eles no passado. Algo muito fácil e lógico de entender, mas difícil de ser aprimorado de geração para geração. Por quê? Porque para compreendermos o problema familiar é necessário percebermos que a pessoa não adoece isoladamente, mas em grupo. Não há indivíduo psicótico, há família psicoticamente enferma.
Deveria ser a meta dos pais estabelecer um relacionamento sincero com seus filhos. Mas, muitas vezes, a incapacidade de vê-los como uma pessoa autêntica dificulta o entendimento. Então, tenta-se fazer para eles projetos ou moldes que não correspondem as suas expectativas reais. Em casos mais graves, os pais querem que o filho seja a sua imagem e semelhança e se não forem estão errados e precisam ser corrigidos, se possível pela vida toda. Pergunto, existe reciprocidade nessa relação?
A educação começa sim, de cima para baixo, daí que ela se torna um desafio, pois não podemos confundir com imposição, autoritarismo. Mas é fácil estabelecer as origens infantis da incapacidade de funcionarmos em reciprocidade. Há pais que utilizam o filho (o chamado bode-espiatório) como válvula de escape para suas tensões, frustrações e decepções, em quem as coisas são descontadas e incriminadas por tudo que possa dar errado, tudo o que é ruim para que os outros membros da família saiam como bons. Outros pais acreditam que o filho nada tem a dar, ou é um pobre coitado que não consegue fazer nada direito, sem o auxílio do pai, e, sobretudo, da mãe. É a supermãe em seu extremo com seu filho, quase paralítico, incapaz para o que quer que seja. A mãe passa, então, a ser a sua inteligência, sua atividade, sua iniciativa, para, mais tarde, o filho se tornar o resultado de sua incompetência.
Envelhecer também se tornou um problema na vida dos filhos que têm pais que se sentem incapacitados, pois nossa cultura não nos prepara para pensar em etapas posteriores da vida. E não tendo muito pelo que viver, os pais fazem de seus filhos uma muleta para sua caminhada débil. Mas a velhice poderia ser sinônimo de sapiência a ser utilizada a serviço do próximo se muitos dos mais velhos valorizassem o aprendizado que a própria vida lhes trouxe ao longo de sua jornada e se seguissem o ritmo natural das coisas. No entanto, muitos estão sonhando, ou melhor, delirando! Acostumados com a cultura do imediato, da aparência, creem no sentido consumista da existência. São pais que anestesiam o filho com futilidades que logo se perderam no caminho, sem prepará-lo para ver além, porque a vida não é só matéria. Então, mais tarde, os pais reclamam, ficam aborrecidos, chateados e sem compreender porque o filho se tornou um adulto arrogante, frio e indiferente humanamente.
Por isso, somos os filhos da imperfeição, mas se admitirmos que a humanidade caminha para uma transformação, um aprimoramento constante de sua própria maneira de educar e se relacionar com o outro a fim de se estabelecer um entendimento mútuo e não a superioridade de uma das partes, fica mais fácil de compreender esse processo. O intuito do artigo publicado no Blog [ Visão X Pássaro Azzul ] é mostrar a realidade das coisas que muitas vezes não se quer enxergar, porque pai e mãe são seres humanos tão falíveis quanto os filhos. E os filhos merecem respeito tanto quanto os pais merecem. O artigo não objetiva apontar o dedo para ninguém, muito menos defender um dos lados da balança, mas equilibrá-la porque, de um lado, existe a fantasia da criança e do outro, a do adulto, só que quem tem fantasia delirante são os adultos. Na verdade, os meninos agüentam nossa “sabedoria” e sofrem com ela, pois vivemos neuroticamente tentando modelá-los em função de nossas carências, frustrações e preconceitos.
Portanto, os pais deveriam ser menos “pais” e mais guias para preparar o filho não para si, mas para o mundo, mesmo que tenham de ver os filhos baterem com a cabeça para ir à luta, amadurecer, crescendo autonomamente e não dependente. Para isso, é necessário os pais serem corajosos e humildes o suficientemente para dizer: Experimente! Você agüenta, eu consegui e você fará melhor! Porque se o pai for fazer a experiência dos filhos para que serviriam os filhos? O auxílio é mútuo, tanto dos pais, inicialmente, dando a orientação, não para dizer o que deve ser feito, quanto dos filhos mais tarde, quando estiverem prontos para isso, mas a caminhada e o crescimento é interior e individual, pois é a partir desse ponto que a evolução de fato começa.
Referências Bibliográficas:
Krom, Marilene. Família e mitos: prevenção e terapia: resgatando histórias. São Paulo, Summus, 2000;
Gomes, José Carlos. Manual de psicoterapia familiar. Rio de Janeiro, Vozes, 1987;
Maldonado, Maria Teresa. Comunicação entre pais e filhos: a linguagem do sentir. Petrópolis, Vozes, 1986;
Gaiarsa, José Ângelo. A família de que se fala e a família de que se sofre: o livro negro da família, do amor e do sexo. Ágora, São Paulo, 1986;
Confira a Charge do artigo sobre a família no portal http://www.visaoxpassaroazzul.com.br/filhos-problema-ou-pais-problema-2#ixzz1a46SIsYT
Autor: Anelise (Isis De Anils)
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