Walt Whitman e a sua Influência na Beat Generation



WALT WHITMAN E A SUA INFLUÊNCIA NA BEAT GENERATION

Walt Whitman

QUEM FOI WALT WHITMAN?

Walt Whitman foi um dos maiores poetas dos EUA. Nasceu 1819 na cidade de Huntington, no estado de Nova York e ainda jovem, se mudou para o Brooklyn. Whitman exerceu várias profissões: foi tipógrafo, professor, jornalista, operário agrícola, enfermeiro, empregado de escritório e até trabalhou na Guerra de Secessão. Começou a escrever aos quatorze anos de idade, e tinha aversão ao trabalho. Ainda jovem teve suas poesias publicadas no jornal The Long Island Patriot e pouco tempo depois também no jornal Mirror. Esse gosto pela poesia, o acompanhou durante toda sua vida.

Whitman foi criado sob orientação da seita dos Quakers (um termo derivado do inglês “Quake” que significa “tremer” “ou estremecer” e que tem certa semelhança com seitas oriundas do movimento protestante, diferenciando na importância que se dá ao espírito divino). Esta seita foi fundada por George Fox em 1647 na Inglaterra. A formação religiosa fez com que Whitman não combatesse ao lado da União na guerra civil, mesmo assim trabalhou como enfermeiro cuidando de feridos nas prisões do Brooklyn e em hospitais de Nova York. Frequentou a boémia literária e teve breves e fogosos amores. Em 1854, definiu num longo permanentemente e inacabado poema, aquilo que pretendia vir a ser a bandeira de um novo espírito. Sentindo-se na posse de novas verdades que queria comunicar ao mundo, em 1855 publicou, pagando a edição do seu próprio bolso, a primeira versão de Leaves of Grass.

Walt Whitman fora um militante do Partido Democrata Americano. Sua fé na política começou a desfazer-se à medida que a luta em torno da escravidão se aprofundou nos Estados Unidos. Descrente da política, Whitman decidiu que a cura para o país estava na poesia.  Ele forjou, com sobreposições, imagens em que o presidente aparece ao lado da prostituta, e o branco ao lado do negro, uma espécie de "democracia na linguagem" – um evangelho literário da igualdade, destinado a inspirar e reconciliar.

 LEAVES OF GRASS E SUAS EDIÇÕES

 A primeira edição de Leaves of Grass não mencionava o nome do autor e continha apenas 12 poemas e um prefácio. A segunda edição (1856) já ostentava na capa o nome do seu autor e foi recebida com entusiasmo por poucos críticos, a grande maioria continuaria a repudiar a obra, o que, contudo, não impediu Whitman de continuar a trabalhar em novos poemas para aquela coletânea. Isso se dava pelo fato de Whitman ser extremamente obsceno. Ele provavelmente foi um homossexual recatado, mas também pode ter se relacionado com mulheres. Na edição 1934 da Revista Veja, Carlos Graieb, em comentário sobre uma nova tradução de Leaves of Grass diz que, o Walt Whitman dos poemas, é considerado um ser "omnissexual", por se deixar erotizar por tudo: pela natureza, por homens e mulheres e por sua própria alma. Pode-se observar isso nos seguintes trechos:

“Dá-me, ó Deus, que eu cante aquele pensamento,

Dá-me, dá àquele ou àquela que amo esta fé inextinguível [...]” (Song of the Universal)

 “A atmosfera não é um perfume, mas tem o gosto da essência, não tem odor,

Existe para a minha boca, eternamente; estou por ela apaixonado

Irei até a colina próxima da floresta, despir-me-ei de meu disfarce e ficarei nu,

Estou louco para que ela entre em contato comigo. [...]”

 ...........................................................................................

 “Estou satisfeito – vejo, danço, rio, canto;

Quando o companheiro amoroso dorme abraçado a mim a noite inteira e depois vai embora ao raiar do dia com passos silenciosos”.

(Song of Myself)

 [...] Quanto a mim e a você,

separa-nos o mar irresistível

levando-nos algum tempo afastados,

embora não possa afastar-nos sempre:

não fique impaciente - um breve espaço

e fique certa de que eu saúdo o ar,

a terra e o oceano,

Todos os dias ao pôr-do-sol

Por sua amada causa, meu amor [...].

(Do Inquieto Oceano da Multidão)

Leaves of Grass é um dos livros mais ousados já escritos, entre seus muitos atrevimentos encontram-se o casamento da gíria e da linguagem elevada, e o uso de um tom que só pode ser descrito como messiânico: Whitman pretendia ter escrito a "nova Bíblia" de um mundo governado pela democracia, e não pelas tradições e pela religião. Por utilizar essa linguagem “messiânica” Whitman passou a ser considerado uma espécie de “profeta”.

O estilo profético de escrever suas poesias foi adquirido através da leitura da Bíblia:

Whitman tinha assimilado o estilo profético, a linguagem desataviada, livre, agressiva, frases trabalhadas com um vocabulário vivo, tudo colocado no porvir, quando as circunstancias em que bailavam as ideias estavam nos anos futuros, num amanha muito distante e em que o presente seria a causa, e o futuro, o efeito.(MONTEIRO, 1984, p. 67, grifo nosso)

A linguagem utilizada por Whitman em seus escritos era despida de preocupações com figuras de estilo. Segundo Monteiro (1984, p.67-68), ele preferia introduzir em suas frases aquilo que era chamado de “rude”, de “agressivo”, de “monturo”, “uma impertinência para a língua inglesa”, “uma afronta para a moral” . Pouco adiantava as terríveis criticas que eram feitas a ele, pois por detrás de Leaves of Grass estava um profeta.

A linguagem profética de Whitman, impulsionada pela presença marcante de profetas da Bíblia como Isaías, Ezequiel, Daniel, Amós e as mensagens que por eles foram deixadas, traziam ao seu espírito grande inspiração. As poesias de Walt Whitman traziam uma linguagem de fácil acesso ao povo americano, e que de certo modo poderia assemelhar-se com a versão bíblica feita por Martinho Lutero, que procurava facilitar o entendimento do povo alemão.

Leaves of Grass se fez uma verdadeira experiência lingüística, que tornou-se um brado de libertação da poesia dos modelos oficiais, do formalismo tradicional e estagnado. Uma poesia inovadora e viva, cheia de vibrações proféticas, e como o próprio Whitman pretendeu “baseando-se em alicerces amplos e baixos, aderidos ao solo”, ou seja poesias feitas para que pessoas comuns tivessem acesso.

Na poesia “Anos de Modernidade” (Years of the Modern), Whitman registra suas visões do futuro:

Vejo homens marchando e contramarchando rapidamente, aos milhões,

Vejo as fronteiras e limites das velhas aristocracias fragmentadas,

Vejo marcos dos reis europeus removidos,

Vejo neste dia o Povo começando a fincar seus marcos, (todos os demais fragmentam-se);

Nunca foram formuladas questões tão aguçadas como hoje,

Nunca foi o homem comum, com a sua alma,

 tanto enérgico, mais semelhante um Deus,

Vede como ele incita e incita, não permitindo que as massas repousem!

Em fins de 1891, após várias versões, Whitman publicou a última edição de Leaves of Grass e morreu poucos meses depois (em 26 de Março de 1892). Cinco anos depois foi publicada a décima edição do livro, onde se juntaram os poemas póstumos "Old Age Echoes".

A INFLUÊNCIA DE WALT WHITMAN NA BEAT GENERATION

"Movimento beat" é um termo usado para descrever um grupo de artistas norte-americanos, principalmente escritores e poetas, que vieram a se tornar conhecidos no final da década de 1950 e no começo da década de 1960. A expressão Beat Generation foi inventada por Jack Kerouack em 1948, mas foi o seu amigo John Clellon Holmes escreveu anos mais tarde, um artigo no New York Times Magazine com o título "This is a beat generation".

Walt Whitman teve forte influência sobre a literatura desse período e por influenciar de tal forma, foi considerado um dos pais espirituais dessa geração. O estilo de vida nômade que Whitman levava foi adotado pelo movimento Beat e pelos seus principais escritores, Allen Ginsberg, Jack Kerouac e William S. Burroughs, autores dos respectivos romances “Howl”, “On the Road” e “Naked Lunch”. O caráter libertário e a obscenidade encontrada nessas obras também tiveram inspiração nas poesias de Walt Whitman.

Os membros da Beat Generation desenvolveram uma reputação como os novos boêmios hedonistas que celebravam a não-conformidade e a criatividade espontânea, outra característica de Whitman. É interessante observar que a Beat Generation representou a única voz nos EUA a levantar-se contra o macarthismo, política de intolerância que promoveu a chamada "caça às bruxas", resultando em um período de intensa patrulha anticomunista, perseguição política e desrespeito aos direitos civis nos Estados Unidos, o qual durou do fim da década de 1940 até meados da década de 1950.Vale observar que muitos dos chamados "beats" eram comunistas ou de esquerda, sendo, no geral, de tendência anarquista, analisando-os de um ponto de vista político.

Os escritores Beat davam intensa ênfase em experiências com as palavras combinadas, buscando um entendimento espiritual mais profundo. Muitos escritores se interessaram pelo Budismo, acreditando que poderiam alcançar um "grau maior de elevação da consciência" através do desregramento dos sentidos, e por isso não dispensavam o uso das drogas, em seus primórdios.

Ecos da Geração beat podem ser vistos em muitas outras subculturas além da cultura hippie,como na dos punks, etc. O termo “beat” que significa “cansado” pode conter varias conotações quando se trata dessa geração termos como “upbeat”, “beatific” ou até mesmo o caráter musical da palavra que tem haver com “batida”. Assumindo uma atitude social de contravenção, repudiando qualquer intelectualismo ao mesmo tempo em que negavam os valores sociais das classes médias, os escritores desta geração foram buscar a sua inspiração no jazz, no budismo Zen e em certos cultos índios, daí as associações com os Hippies.

 CONCLUSÃO

 De fato, não há como negar que os escritos de Whitman tiveram forte influencia na Beat Generation. A sua liberdade na escrita, o casamento da gíria e da linguagem elevada, a linguagem espiritual características que de fato fazem conexões entre Whitman e a Beat Generation. Tanto Whitman, quanto os artistas da geração beat , bocavam escrever para um mundo governado pela democracia, liberdade, pela tolerância e não pelas tradições e pela religião.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

DICIONÁRIO de Termos Literários. Beat Generation. Disponível em: .  Acesso em: 19 fev. 2011.

ESPAÇO Acadêmico. Walt Whitman. Disponível em: .  Acesso em: 15 fev. 2011.

MONTEIRO, Irineu. Walt Whitman: o profeta da liberdade. São Paulo: Martin Claret, 1984. 253 p.   

VEJA On line. O poeta da democracia. Disponível em: .  Acesso em: 15 fev. 2011.

WIKIPÉDIA a enciclopédia livre. Geração Beat. Disponível em: . Acesso em: 19 fev. 2011.

WIKIPÉDIA a enciclopédia livre. Walt Whitman. Disponível em: . Acesso em: 19 fev. 2011.

Imagem extraída do site: http://apaulasiewerdt.wordpress.com/2010/08/17/696/


Autor: Tatiane Da Silva Bispo


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