Semear



 

       Há quase dois mil anos atrás, em uma terra distante, onde durante o dia, o sol causticante, impera magnificamente e onde à noite, debaixo do tapete estrelado confeitado por Deus, essa mesma terra esfriava, tanto que doía até os ossos. Lá eu vivia, dentro desse mesmo ciclo, noite e dia, cuidando de uma família numerosa e de minhas ovelhas. Éramos, meu pai e minha mãe, mais seis irmãos homens e uma irmã, a mais novinha, a caçulinha.

       Conhecia ”YHHW”, o Todo Poderoso Criador de tudo. Nunca fui letrado, mais sabia as artes do comércio, o que garantia uma vida com abundância para nós.

       Em um desses dias, perto do alto do sol, conduzi as ovelhas para perto do poço de água daquelas terras. Naquele lugar a água se escondia debaixo das rochas, embaixo da terra. E quem tinha um poço cavado tinha a vida nas mãos. Nós, Graças a Deus, fomos abençoados com a água, o que garantia a sobrevivência de muitas famílias de nossa tribo.

       Então, nesse dia um homem estranho a mim, aproximou-se e me pediu água. Mesmo sem o conhecer, entreguei-lhe um balde com água fresca que acabara de retirar do poço. O viajante, depois de agradecer aos céus pela água, bebeu, lavou-se e dirigiu o seu olhar para mim. Dentro dos seus olhos, havia estrelas que brilhavam e irradiavam uma luz em minha direção. Esse olhar deu-me uma paz e alegria como nunca havia sentido, e naquele momento tudo em volta de nós era harmonia.

       Com tranqüilidade e simpatia o homem se colocou a conversar comigo. Falou de terras distantes e de pessoas que eu nunca imaginei existir. Mostrou-me através de suas palavras porque Deus me criou e qual o sentido de seu estar ali, vivendo daquela maneira. Maneira que para mim era a única que existia, pois nunca havia conhecido outra.

       Contou-me sobre o céu, falou-me do paraíso e do inferno. Explicou-me sobre as maldades do mundo e sobre as misérias de muitas pessoas.

       E a tarde passou. Convidei-o para passar a noite em nossa casa. Ele aceitou. Nós fomos para casa, reconduzindo as ovelhas de volta ao cercado para dormirem.

       Ao entrar na minha pequena casa, todos já estavam sentados no chão ao redor da mesa, aguardando a minha chegada para a ceia. Quando entramos, apresentei aquele homem a todos. Que ceia abençoada! Todos nós, alegres, conversamos a respeito de muitos assuntos. Mas o estranho tinha palavras novas, que enchiam os nossos corações de amor, e de paz. A minha irmãzinha ficou no colo dele o tempo todo e adormeceu em seus braços. A tantas horas da madrugada fomos deitar.

       O dia raiou belo como sempre, com os pássaros a cantar alegremente reverenciando a criação.

       Percebi que o estranho havia partido, como tinha avisado. Mas deixou algo como presente para nós que nunca mais vou esquecer. Que o amor que podemos passar aos outros, mesmos estranhos, não tem fim e não se pode pagar com nenhuma moeda. Aquele homem, com o seu olhar, suas palavras, seus gestos e seu carinho para com todos trouxe mais do que poderíamos merecer. Trouxe-nos harmonia, gentileza, confiança e muito amor que nos contagiou.

       Nunca mais fui o mesmo. E procuro passar esse mesmo carinho e amor, que o forasteiro ensinou-me a ter, para todos que encontro. E é esse carinho, essa harmonia, esse amor incondicional que eu dou a você.

       Obrigado por você existir!

       Paz, Amor e Bem!                                                             Vito Antonio Fazzani


Autor: Vito Antonio Fazzani


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