Avaliação institucional como instrumento do processo de ensino-aprendizagem de qualidade
AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL COMO INSTRUMENTO DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE QUALIDADE
Daniel Neves dos Santos Neto.
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo discutir acerca do processo avaliativo presente no ambiente escolar. Dentro desse contexto, foca-se na avaliação institucional – instrumento avaliativo necessário para que se conheça a realidade escolar e se estabeleça ações em prol de mudanças. Sabe-se, contudo, que o ato de avaliar não é bem aceito e gera inúmeros equívocos construídos historicamente através do processo seleção/exclusão a que esteve acometida a instituição escolar. Assim, esse trabalho analisa os discursos avaliativos presente na escola e a partir de uma pesquisa de campo com entrevista com a comunidade escolar depreendeu-se a forma como a avaliação institucional é percebida pelas pessoas desse ambiente – alunos, professores, pais e equipe gestora. Desta forma, embora na contemporaneidade as avaliações tenham servido como meio de estabelecer rankings educacionais e legitimado as práticas que favorecem a elite e desmerecem as camadas populares, pensa-se neste trabalho que as práticas avaliativas – sobretudo a avaliação institucional – poderão colaborar com o processo de ensino-aprendizagem de qualidade e servir de impulso para grandes transformações no ambiente educacional.
Palavras-chave: Avaliação Institucional. Educação. Aprendizagem.
1. INTRODUÇÃO
A avaliação é conhecida como vilã do processo educativo. Vista como algo realmente não almejado, é amiúde criticada por educandos, pais, docentes e outros envolvidos. Buscando mudar esse panorama contemporâneo, muito se tem ponderado e estudado sobre a Avaliação Institucional nas modalidades interna e externa. Contudo, a prática avaliativa da instituição escolar ainda persiste sendo realizada como um fim em si mesma, apresentado-se como classificatória, excludente, centrada em notas, voltada a uma pedagogia do exame (LUCKESI, 1996).
Além disso, concordando com Souza (1999), é possível destacar que a avaliação institucional dentro do ambiente escolar sempre ocorreu de maneira informal, pois não é incomum ouvir os pares que freqüentam esse ambiente tecerem suas considerações acerca do espaço da escola, sobre os professores, sobre as relações que se estabelecem e em relação a todo e qualquer elemento material e imaterial presente no fazer pedagógico e administrativo da escola. Contudo, quando se sistematiza essa mesma avaliação, transformando-a num processo formalizado, com objetivos, métodos, etapas e critérios, esta passa a ser vista não mais como fazendo parte da cultura escolar, mas como algo alheio e estranho a ela, que incomoda, ameaça e que está ali mais para prejudicar do que para favorecer o pedagógico e ser usada com o fim de se elaborar estratégias que beneficiem os pares presentes na escola.
A avaliação, portanto, tem cumprido função punitiva e sentenciativa, com vistas apenas à aprovação ou reprovação do aluno, como se este fosse o único responsável pelo sucesso ou pelo fracasso escolar. Deixa-se de lado a avaliação dos professores, da gestão escolar, do pessoal administrativo, das disciplinas, do currículo, das metodologias e a avaliação da própria avaliação.
No caso da avaliação externa, esta vem com o objetivo de medir e quantificar os sistemas de ensino, buscando verificar a aprendizagem dos alunos e usadas para estabelecer rankings educacionais com vistas à efetivação de políticas públicas de cunho sócio-educacional. É praticada em momentos recortados do processo de ensino e aprendizagem, ou seja, em intervalos estabelecidos e exigidos burocraticamente. Esse ritual de avaliação praticado no ambiente escolar parte da idéia de homogeneização da aprendizagem, onde todos são iguais, aprendem de forma igual, passam pelo mesmo processo de assimilação das informações e trabalham seu cognitivo de forma igual e padronizada.
Assim sendo, tendo como referências as discussões que colocam a avaliação institucional em uma visão prospectiva a partir da alusão de alguns teóricos (LUCKESI, 1996, PERRENOUD, 1999, SOUSA, 1999, SOUZA, 2005, MORAES e SILVA, 2007), este trabalho foi desenvolvido com sujeitos de uma escola privada e de uma escola pública da rede municipal de educação do município de Itaberaba do Estado da Bahia, sendo a 1ª atuante no ensino fundamental e médio e a segunda apenas no ensino fundamental. A Unidade Escolar da rede privada está localizada no centro da cidade e seu público alvo é composto em sua maioria por crianças e adolescentes de classe média. Já a Unidade Escolar da rede pública municipal está localizada em uma área suburbana e seu público alvo é composto em sua maioria por crianças e adolescentes dos bairros mais carentes próximos a essa escola.
A pesquisa foi realizada a partir da análise de questionários aplicados com pessoas envolvidas direta ou indiretamente com a avaliação institucional que ocorre dentro de tais escolas. Esse instrumento se mostrou adequado em virtude de que a pesquisa a ser realizada envolvia sujeitos com pouca disponibilidade de tempo para dedicar a esse trabalho. Assim, pensou-se logo em um questionário com perguntas fechadas para colher dados mais objetivos e apenas uma pergunta aberta para se compreender as ações relevantes que são tomadas pela escola após a aplicação de um instrumento de avaliação.
Nessa pesquisa de campo, teve-se a oportunidade de obter pareceres dos principais envolvidos no processo avaliativo de cada ambiente escolar – professor, aluno, responsável por aluno e diretor – totalizando oito sujeitos, o que possibilitou fazer uma comparação entre as teorias da avaliação institucional e a prática que realmente é efetivada, sendo possível então verificar se esta avaliação está realmente ocorrendo.
Neste contexto, também é propósito do estudo fomentar discussões sobre os entraves envolvidos na forma como é concebida a avaliação institucional pelos diversos pares que compõem o espaço escolar e como esta vem ocorrendo neste ambiente. Assim, é notório que o fenômeno avaliativo muitas vezes tem se mostrado inadequado, incoerente e descontextualizado para esses alunos, pais, professores e diretores por colocá-los numa situação de ter que desenvolver tal avaliação apenas por uma obrigação burocrática, sem depois receber nenhum retorno reflexivo, colocando a avaliação no status de medida e no processo de classificação/exclusão.
A partir desses pressupostos, esse trabalho buscou compreender as vozes dos sujeitos pesquisados a partir da relação teoria-prática, procurando perceber qual a concepção de avaliação institucional que está concebida na cultura interna e externa das escolas pesquisadas. Também foi possível destacar nesse estudo alguns olhares acerca das modalidades de avaliação interna e externa na visão dos profissionais da educação e dos sujeitos culturalmente subordinados a eles. Assim, a fim de haver uma melhor compreensão acerca da avaliação institucional que é implementada nas escolas pesquisadas, faz-se necessário entender como esta é entendida pelos teóricos e quais as implicações que se relacionam no processo avaliativo.
2. OS DISCURSOS SOBRE A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL
A avaliação institucional tem como objetivo buscar informações que serão de grande importância para se programar políticas públicas efetivas, o que implicará também em uma efetiva gestão educacional de qualidade. Assim, ao invés de selecionar e excluir, a avaliação institucional deve estar a cargo do aperfeiçoamento das práticas pedagógicas, numa perspectiva democrática e reflexiva, visando sempre o processo de ensino-aprendizagem do aluno.
Desta forma, é valido explicitar que a avaliação institucional ocorre de forma planejada e passa por alguns processos. Um dos primeiros passos é a conscientização da comunidade escolar acerca da relevância da avaliação institucional, pois torna-se imprescindível que os sujeitos envolvidos no ambiente educacional se dêem conta de que é por meio da avaliação que se poderá pensar em se efetivar transformações no interior do espaço escolar. Após esse trabalho de conscientização, segue-se a investigação e o levantamento de informações, em seguida o apontamento de avanços e dificuldades, permitindo realizar inferências com o intuito de reorientar as ações pedagógicas. Após essa etapa, é possível então levantar as hipóteses e identificar os possíveis problemas e a partir de então realizar as intervenções, reorganizar e replanejar os trabalhos pedagógicos e administrativos, mostrando assim que é possível controlar a eficácia dos planos, a eficiência dos processos e métodos, e o alcance dos objetivos estabelecidos no Plano de Desenvolvimento Educacional da Instituição Escolar.
Além disso, Moraes e Silva (2007, p. 02) explicam que
A avaliação institucional, por sua vez, destina-se à avaliação de instituições (como a escola e o sistema educacional), políticas e projetos, tendo atenção centralizada em processos, relações, decisões e resultados das ações de uma instituição ou do sistema educacional como um todo. Nesse sentido, para ser completa, a avaliação institucional contempla os resultados da avaliação educacional.
Assim, é possível definir avaliação institucional não como um fim, mas como um procedimento que tem como alvo analisar a instituição de forma integral, considerando as informações que a compõem por meio de instrumentos próprios que possibilitem a revelação das suas particularidades e que mostram os caminhos que a instituição está tomando, o que pode ser melhorado e quais são intervenções que podem e devem ser feitas. Contudo, o fato de levantar dados para entendimento da realidade se não for combinado com a conscientização de todos os envolvidos no ambiente escolar para a participação efetiva em tal processo, a avaliação não culminará no êxito esperado, estando, portanto sujeita ao fracasso ou ao mero arquivamento de informações.
Dentre desse contexto, Moraes e Silva (2007, p. 09) explicam que
o processo de auto-avaliação demonstra força em modelar posicionamentos. (...) A avaliação interna pode lograr êxito em desenvolver o conceito de cidadania – consciência de direitos/deveres e exercício da democracia – na escola, preparando os participantes para exercê-la, ao dar-lhes voz e voto para julgar e decidir, avaliar e serem avaliados.
Portanto, dentre os maiores benefícios de se realizar a avaliação institucional, é possível destacar que, quando os sujeitos envolvidos reconhecem a importância da avaliação e realmente participam deste processo, tem-se então a efetivação de práticas democráticas dentro do ambiente escolar, pois tais sujeitos desenvolverão uma maior autonomia em expressar opiniões relevantes e buscarão se envolver cada vez mais no ambiente educacional que estão inseridos.
Assim, uma vez compreendido os discursos que caminham junto com a avaliação, é possível então fazer uma relação destes com as práticas avaliativas implementadas no contexto das escolas que foram objeto deste estudo e como os sujeitos desse ambiente educacional percebem a avaliação institucional e a relacionam com o processo de ensino e aprendizagem.
3. A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL – PRÁTICAS NO AMBIENTE ESCOLAR
A fase inicial da pesquisa previu contato realizado com as escolas, explicando os objetivos e procedimentos deste trabalho e apresentando os motivos da solicitação de responder aos questionários que compunham a sua fase inicial. Evidentemente, houve um estranhamento inicial quanto a proposta do trabalho, pois isto implicaria em dedicar um tempo para responder ao questionário e também porque levaria à reflexão das ações escolares acerca dos processos avaliativos, o que certamente não demonstrou ser muito confortável. Contudo, foi-se possível colher alguns dados relevantes, conforme explicitado a seguir.
3.1 A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL NA ESCOLA PRIVADA
Ao receber de volta os questionários respondidos, foi possível perceber que a avaliação institucional na escola privada pesquisada ainda ocorre de forma tímida e visando sempre uma possível intervenção nas metodologias utilizadas para garantir o aproveitamento de aprendizagem do maior número possível de alunos. Por exemplo, quando foi perguntado se a “sua escola realiza a Avaliação Institucional: Auto - avaliação e com qual freqüência?”, houve discrepância nas respostas obtidas, pois, 50% dos entrevistados (pai e aluno) responderam que a avaliação institucional era realizada anualmente e os 50% restantes (diretor e professor) disseram que avaliação institucional era realizada semestralmente.
Esse falta de consenso nas respostas leva-nos a concluir que existe alguma modalidade de avaliação institucional que ocorre a participação apenas do diretor e dos professores e sem a participação dos pais e alunos. Contudo, faz-se necessário afirmar que é necessário a participação de todos os envolvidos no processo avaliativos, pois, conforme afirma Luckesi (1996, p. 14) “seja pontual ou contínua, a avaliação só faz sentido quando provoca o desenvolvimento do educando”, e está só será possível com a presença dos educandos e seus pais para melhor orientá-los na devolutiva da avaliação.
Em seguida, quando foi questionado quais os tópicos abordados na auto-avaliação, 100% dos entrevistados disseram que o principal tópico abordado é a avaliação do aluno, 25% (aluno) respondeu que também é abordada a avaliação das séries, 25% (professor) disse que é abordada também a avaliação do pessoal técnico administrativo, 25% (diretor) disse que é abordada a avaliação das condições físicas e materiais, 50% (diretor e professor) disse que é discutida a avaliação do desempenho docente, 50% (pai e aluno) disse que existe a avaliação das disciplinas e 50% (professor e pai) disse que há avaliação da gestão escolar.
Com essas respostas foi possível perceber que a principal preocupação da avaliação institucional dentro dessa escola privada ainda é a aprendizagem dos alunos, e de forma secundária o desempenho dos professores, a avaliação das disciplinas e a avaliação gestão escolar. Entretanto, mostrando que é necessário a avaliação da instituição como um todo e não apenas de alguns elementos segregados, Souza (2005, p. 33) explica que
a avaliação institucional dá um grande suporte à gestão da escola; na realidade ela é parte do processo de gestão da escola, mas não apenas com uma ferramenta a serviço de levantar dados para o planejamento e monitoramento das ações escolares. (...) Quando a escola se dispõe a pensar sobre si mesma, avaliando o conjunto dos elementos e ações que a constituem (grifo nosso), levantando e socializando informações sobre si, ela “se expõe” à sociedade, isto é, ela permite que a sociedade, destinatária final do trabalho escolar e sua mantenedora maior, acompanhe, controle e também avalie o seu desempenho.
Na continuação, quando foi perguntado se “sua escola realiza a sensibilização para promover o acolhimento, a construção e a participação de todos no processo avaliativo?”, 75% dos entrevistados (professor, diretor e aluno) disseram que isso acontece sempre, e 25% (pai) disse que isso ocorria às vezes. Assim, isso nos mostra que a escola precisa convidar mais os responsáveis dos alunos para participar das avaliações que ocorrem dentro dela, pois assim tais também compartilharão seus desejos e também aumentarão seu compromisso em participar ativamente das ações escolares.
Em seguida, quando houve o questionamento sobre as “ações que antecedem as etapas de preparação e desenvolvimento da auto-avaliação na sua escola”, tivemos os seguintes percentuais de respostas: 75% (professor, diretor e pai) - Realização de reuniões com todos os segmentos da Instituição; 50% (professor e diretor) - Construção coletiva dos indicadores e instrumentos de coleta de dados; 25% (aluno) - Aplicação dos instrumentos de avaliação; 25% (diretor) - Análise e interpretação dos dados – Relatórios Parciais; 50% (professor e aluno) - Discussão dos resultados com a comunidade interna; 100% - Divulgação do resultado da Avaliação Interna para a comunidade escolar, inclusive aos responsáveis pelos alunos; 75% (professor, diretor e pai) - Reflexão sobre o processo avaliativo.
Com esses dados expostos no parágrafo acima, pode-se depreender as seguintes conclusões: os alunos não participam das reuniões que antecedem a auto-avaliação; os alunos não participam da construção dos indicadores e instrumentos; apenas o diretor analisa e interpreta os dados coletados e todos os segmentos – pais, alunos, professores e equipe de gestão – recebem a divulgação dos resultados apurados, embora aos alunos não caiba a tarefa de refletir sobre esse processo. Isso nos mostra que a avaliação ainda precisa chegar a um auge de amadurecimento, onde todos, incluindo os alunos, possam participar de sua construção, analise dos indicadores e reflexão crítica acerca do processo.
Com relação à avaliação institucional externa, 100% dos entrevistados disseram que a escola em questão participa apenas do ENEM. Com relação a essa participação, ao dizer sobre “as ações que a escola faz após o resultado da avaliação externa”, apenas o diretor entrevistado deu uma resposta relevante. Ele disse:
Como se trata de uma instituição privada os dados são analisados de acordo com a quantidade de alunos que conseguem uma boa qualificação e desta forma é feita uma análise sobre o trabalho que os docentes da instituição desenvolvem, revendo sua metodologia para que mais alunos possam alcançar uma melhor qualificação nas provas de Enem e até mesmo no vestibular.
Assim, é possível perceber que, por se tratar de uma instituição de caráter privado, esta escola faz todo o seu trabalho pedagógico voltado para que seus jovens estudantes continuem seus estudos em uma instituição de ensino superior. Assim, busca-se um conceito satisfatório nos vestibulares e no ENEM, o que indicará se tal discente realmente teve uma aprendizagem significativa e claro, refletirá na boa imagem da instituição.
Por fim, como ultima pergunta do questionário, foi questionado se “sua escola participa de algum dos planos de metas do governo”, e 100% dos entrevistados disseram que não participa por que se trata de uma instituição privada. Desta forma, fica claro que a escola de caráter particular está mais voltada para as ideologias de mercado, ficando os planos de meta do governo para ser aplicados em escolas públicas.
3.2 A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL NA ESCOLA PÚBLICA
No que concerne à avaliação institucional, foi possível perceber neste trabalho que esta está presente na escola pública pesquisada da rede municipal de educação na modalidade externa de forma mais explícita do que na escola privada, pois esta ultima faz mais referência à avaliação institucional interna. Mas, conforme mostrado nas respostas dos questionários, a escola pública também percebe a importância da avaliação institucional interna e a usa como meio para analisar e intervir nas ações pedagógicas que são julgadas dignas de serem revistas.
Por exemplo, quando foi perguntado se a “sua escola realiza a Avaliação Institucional: Auto - avaliação e com qual freqüência?”, 50% dos entrevistados (professor e diretor) disseram que esta avaliação é realizada semestralmente, 25% (aluno) falou que era realizada anualmente e 25% (pai) disse que nunca era realizada. Isso nos trás a idéia de que o pai não tem conhecimento e não participa da auto-avaliação da escola e o aluno só participa de uma modalidade avaliação interna. Contudo, essa pratica não favorece o pedagógico, pois é de fundamental importância que os pais e os alunos participem das avaliações que ocorrem dentro da escola.
Quando perguntamos quais “os tópicos que são abordados na auto-avaliação”, 25% dos entrevistados (aluno) disse que ocorre apenas a avaliação dos alunos, 25% (diretora) disse que há a avaliação das séries, 25% (diretora) colocou que existe a avaliação do pessoal técnico administrativo, 25% (professora) falou que há a avaliação do corpo docente, 25% (diretora) disse que há a avaliação das disciplinas e 75% (aluno, diretor, professor) foram unânimes em dizer que há a avaliação da gestão escolar.
Entretanto, com relação a esse item da entrevista, o pai entrevistado colocou que “se acontece a auto-avaliação, esta é interna, apenas com professores e direção. Quando os pais participam fala-se de cada aluno específico, não dá um panorama geral desta avaliação institucional, como uma reflexão ao ato de avaliar”. Assim, mas uma vez é possível fazer menção ao parágrafo anterior, onde já foi colocado da importância da participação de todos os segmentos da escola, incluindo os pais, nos processos de avaliação institucional.
Na seqüência, quando foi perguntado se a “sua escola realiza a sensibilização para promover o acolhimento, a construção e a participação de todos no processo avaliativo?”, 50% dos entrevistados (aluno e professor) disseram que isso ocorre às vezes, 25% (diretor) colocou que isso acontece sempre e 25% (pai) falou que isso nunca acontece. Com isso, percebemos mais uma vez percebemos que, embora seja necessário a presença dos pais no processo de avaliação institucional, isso não ocorre de fato como deveria.
Em seguida, quando questionamos quais ações que acontecem para preparar e desenvolver a auto-avaliação na escola, 75% dos sujeitos pesquisados (professor, diretor e aluno) disseram que existe realização de reuniões com todos os segmentos da Instituição, 50% (professor e diretor) explicou que há construção coletiva dos indicadores e instrumentos de coleta de dados, 75% (professor, diretor e aluno) colocaram que todos participam da definição da metodologia de aplicação, análise e interpretação de dados, 25% (diretor) disse que há a análise e interpretação dos dados – Relatórios Parciais, apenas 25% (professor) deixou claro que existe discussão dos resultados com a comunidade interna, 75% (professor, professor e aluno) disse que há divulgação do resultado da avaliação interna para a comunidade escolar, inclusive aos responsáveis pelos alunos e por fim, apenas 25% (professor) disse que após todo processo de auto-avaliação é feita uma reflexão acerca do processo avaliativo.
Assim, com esses dados expostos acima, é possível entender que os pais não participam do processo de auto-avaliação da escola, pois apenas os professores e diretor participam de forma mais efetiva do processo de elaboração da auto-avaliação, ficando ao encargo do diretor fazer a analise dos dados coletados e divulgar as informações para a comunidade escolar.
No que concerne a avaliação institucional externa, 100% dos entrevistados disseram que na escola em questão é aplicada a Prova Brasil e que após essa avaliação, na visão do aluno e do pai não são tomadas nenhuma medida e que fica apenas na questão do conceito. Já na percepção do professor e do diretor, são tomadas algumas ações relevantes para o processo de ensino-aprendizagem, conforme mostram as suas falas:
Os assuntos apresentados na Prova Brasil são trabalhados posteriormente com o corpo discente, apresentando sempre seus erros e acertos. Desta forma, procura-se trabalhar em cima das deficiências de aprendizagem encontradas, para que assim seja possível sanar o problema e desenvolver um bom trabalho. (PROFESSOR)
Após a aplicação da Prova Brasil, é feita uma reunião com professores para abrir uma discussão e reflexão sobre os resultados, mas não há interação com os pais sobre a especificidade deste exame nacional em específico. (DIRETOR)
Percebe-se assim uma visão burocrática e hierárquica da avaliação – o diretor faz suas cobranças e reflexões com o professor e este, por sua vez, discute com seus alunos os equívocos cometidos na prova. Contudo, mais uma vez é perceptível a falta da presença da família do educando neste processo de avaliação, levando-nos a concluir que a maior deficiência que se tem revelado com relação à avaliação institucional é a ausência dos pais no processo, o que a fragiliza por não ter a colaboração e o compromisso dos principais parceiros da escola – a família do aluno.
E na conclusão da análise dos questionários aplicados, quando foi perguntado se a “escola participa de algum plano de metas do governo”, tivemos unanimidade das respostas: 100% dos entrevistados disseram que a escola participa dos seguintes planos: FUNDEB, olimpíadas, Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (PNATE), Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e Saúde Escola. Assim, com essas respostas, podemos entender que, diferentemente da escola de caráter privado, as escolas públicas recebem recursos financeiros que favorecem o pedagógico e estes, por sua vez, são de conhecimento de todos os pares envolvidos no ambiente escolar.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estas considerações não têm o objetivo de serem conclusivas, mas de enfatizar aspectos e apreciações já apontadas no texto. Assim, as indicações feitas no decorrer do trabalho sugerem deixar claro que a avaliação institucional compõe um processo de investigação e compreensão da realidade escolar, com o fim de auxiliar a tomada de deliberações quanto ao direcionamento das intervenções, tendo em vista o aperfeiçoamento do trabalho escolar.
Além disso, é perceptível também que os dados da avaliação têm sido considerados para a definição de ações e melhorias para a escola, como demonstraram as respostas explicativas dos professores e diretores das instituições escolares pesquisadas. Do mesmo modo, ficou claro que a avaliação serve como instrumento de orientação e revisão de práticas e planejamentos para a gestão escolar e para o corpo docente, e que esta tem o potencial de se constituir em elemento imprescindível da gestão democrática. Contudo, é fato que as escolas podem aprimorar suas práticas de avaliação e aprofundar o funcionamento de estruturas já existentes, tais como as reuniões com pais e mães, APMs, Conselhos de Escola, apresentações de trabalhos e outras atividades culturais, tudo com o fim de dar um retorno maior à comunidade escolar acerca da construção, análises e reflexões da avaliação Institucional.
Igualmente, se a participação de pais e mães no processo pedagógico e na definição das propostas educacionais, que supõe avaliação, foi durante muito tempo indesejado, um tabu nos meios educacionais, isto começa a mudar nos discursos sobre a avaliação. Isso fica evidente até mesmo na legislação que passou a prever e a normatizar esta prática por meio da criação de Conselhos de Escola e outras modalidades de participação. Sendo assim, para que a avaliação institucional não se finalize e perca em números, além de se dar um retorno aos pais que são responsáveis pela educação dos filhos, é viável também que seja dado um feedback ao professor, que precisa constantemente avaliar a própria prática e garantir a continuidade e coerência no percurso escolar do discente e ao próprio aluno, visto que tem o direito de conhecer o próprio processo de aprendizagem para se empenhar na superação das necessidades, pois, conforme explica Luckesi (1996, p. 25), "enquanto é avaliado, o educando expõe sua capacidade de raciocinar e criar histórias, seu modo de entender e de viver".
Em suma, é possível concluir nesse trabalho que há lugar para a avaliação institucional de aperfeiçoamento tanto na escola pública como na escola privada, embora nesta ultima ocorra de forma menos efetiva. Para tanto, é necessário que se tenha a finalidade de se melhorar as praticas de gestão democrática, o ambiente participativo e a aplicação de avaliações que tenham como objetivo a intervenção nos métodos e a mudança da rotina da comunidade interna e externa da escola, superando assim o preconceito de que avaliação tem de ser sempre descontextualizada, focada no aprendizado dos alunos e utilizada unicamente para punir, excluir, manipular e rotular.
5. REFERÊNCIAS
MORAES, Sandro Coelho e SILVA, Itamar Mendes. Escola Básica e Auto-Avaliação Institucional: Possíveis conquistas, novos desafios. Ed. da PUC-Campinas. 2007.
SOUSA, S.Z. Avaliação Institucional: elementos para discussão. In: O ensino municipal e a educação brasileira. Secretaria Municipal de Educação de São Paulo: SME, 1999.
SOUZA, Ângelo Ricardo de. [et al]. Gestão e avaliação da educação escolar. Universidade Federal do Paraná, Pró-Reitoria de Graduação e Ensino Profissionalizante, Centro Interdisciplinar de Formação Continuada de Professores; Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. Curitiba: Ed. Da UFPR, 2005, pp. 32-38, 42.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo: Cortez, 1996.
PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens – entre duas lógicas. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.