A Literatura Dos Anos 50 E A Figura Feminina



A Literatura dos anos 50 e a figura feminina

Contexto Histórico

Com o final da Segunda Guerra Mundial, inicia-se uma situação de instabilidade do governo Vargas, notadamente de inspiração fasci-nazista, para a abertura da política que ocasionou a convocação de eleições diretas, nas quais acabou sendo deposto pelas forças conservadoras que o haviam eleito. Eurico Gaspar Dutra, seu ex-ministro de Guerra, é eleito em 1945 e, em 18 de setembro de 1946 promulga a quinta constituição do país.[1]

Vargas consegue retornar ao poder em 1951, através de eleições democráticas.

Havia um foco de descontentamento em seu governo gerada pela grave crise econômica, com inflação altíssima, queda do preço do café no mercado internacional, dentre outras desorganizações que levavam ao descontentamento de segmentos do país, como o Exército, que, através de 27 generais assina um documento declarando vago o cargo de Presidente. Getúlio, em 24 de agosto de 1954, suicida-se, como uma grande arma política[2], segundo a versão oficial da história, deixando a célebre frase: ""Deixo a vida para entrar na História.".

Após o contexto em que se deu o suicídio de Vargas, em 1954, houve um agravamento da crise política, com o governo provisório de Café Filho.

Em 1956, após uma série de pressões partidárias e teses e conspirações, Juscelino é eleito, e sua posse garantida por um "golpe preventivo"[3]iniciando o período desenvolvimentista, marcado pela forte industrialização, obtida através dos investimentos em transporte e energia.

Iniciam-se os denominados "anos dourados", "anos de confiança"[4]. A classe média ascende aos céus. Com o capital estrangeiro à disposição a aquisição de bens de consumo leves aumenta, tornando a classe média uma classe no paraíso do consumo. Há um paralelismo de estilos: de um lado a obsolescência norte americana, que estimula a voracidade do consumo e de outro o estilo europeu do bauhaus, como estilo moderno e durável ao mesmo tempo.

Nesse avanço a figura feminina alcança o apogeu, pois a dona de casa, mesmo sem direito algum perante a sua vida e perante seus bens, seguindo a sorte de seu consorte e sendo entregue por seu pai a seu marido como umatradição romana (observm-se os ritos matrimoniais em que ambos os patriarcas se cumprimentam), alça vôos nunca antes imaginados com o ingresso de eletrodomésticos em suas casas que geravam um tempo útil que agora precisava ser explorado...Seguem-se aos eletrodomésticos a invenção da pílula anticoncepcional, a qual afeta de modo substancial a moral patriarcal e, principalmente cristã, pois pela primeira vez na história a mulher pode decidir quando e se quer dedicar-se à procriação, mesmo que, nesse momento da história, ainda de forma incipiente.

A febre desenvolmentista ataca também as artes. Foi um período fértil em termos de estréias que marcaram o dito cânone literário do modernismo tardio ou até pós-modernismo, ou outros epítetos classificatórios para a Literatura dos anos 50[5].

Juscelino com a corporificação de Brasília pode ser visto com uma metáfora do processo de interiorização feito por dois escritores do cânone, como Clarice e Rosa. O Presidente elege um totem para a modernidade e o corporifica pela confiança em um arquiteto brasileiro como Oscar Niemeyer e num urbanista igualmente famoso como Lúcio Costa. Guimarães elege o sertão como desencadeador do autoconhecimento e do reflexo da natureza humana através de seus personagens, seja em Sagarana, seja em Grande Sertão Veredas, olha para uma passado, como uma outra face de Juscelino...Clarice, na mesma esteira, também se utiliza do ambiente como modo de autoconhecimento, como na Paixão segundo G.H. e também fala da temática nordestina em A hora da estrela, mas isso não serve para classificar a obra. Aliás esses escritores viveram sob o signo da ausência de classificação, não são facilmente enquadráveis num estilo, como uma boa obra de arte.

A pungência do ambiente histórico-político da época se manifesta na Literatura marcada pelo caráter da multiplicidade, pois se, de um lado temos figuras alcandoradas como Guimarães Rosa, construindo personagens que vivenciam a epifania do sertão, temos também uma autora como Carolina Maria de Jesus, nascida do jornalismo-denúncia, marginalizada da industrialização, catadora de lixo, descoberta pela mídia parte das massas para depois para elas retornar. Ela é a ant(i)í-tese do que pugnava Virginia Wolf, em um Teto todo seu, segundo a qual a ausência de grandes mulheres na Literatura se deveu aos deveres domésticos e à estrutura das casas nas quais a mulher não possui um altar para o intelecto, como para a beleza, por exemplo, bem como pela falta de renda que a torne independente, tudo nesse contexto. Na espiral dos estilos retorna-se ao século XXI, com Cidade de Deus, de Paulo Lins, na qual a sociedade marginal emerge realiza a própria função metalingüística da sociedade: é agora consumida como algo insólito, caminho antes trilhado também um pouco antes pelo Cortiço e por Casa de Pensão, que podem ser considerados como precursores do testemunho.

È instigante a diversos teóricos ver a força da natureza Clarice Lispector, ou o paradoxo feminino Clarice, criando e re-criando livremente suas obras, porém, ainda referente aos estigmas femininos em Correio Feminino, ao declarar a preocupação feminina com fazer as unhas, ou "minar o marido", por exemplo, estigmas que permanecem até hoje, talvez sob uma nova roupagem, a da mulher gostosa, das formas musculosas, das divas sensuais... Há talvez uma luz no fim do túnel com Jabour, para quem " a bunda hoje é um ativo"[6] ou até Rita Lee...Mas quem as tem tira partido dela, não é mesmo?


[1]Para alguns a constituiçãode 1946"marcou o retorno do país ao regime democrático", porém deve ressaltar-se que foi com base no seu art. 141, §13º que o partido comunista é é cassado: "§ 13 - É vedada a organização, o registro ou o funcionamento de qualquer Partido Político ou associação, cujo programa ou ação contrarie o regime democrático, baseado na pluralidade dos Partidos e na garantia dos direitos fundamentais do homem." V. site da Presidência: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao46.htm

[2] Veja o site http://www.opiniaoenoticia.com.br/interna.php?mat=895

[3] SKIDMORE, Thomas ( 1969) p. 203

[4] Idem, ibidem

[5] MORICONI, Ítalo. A PROBLEMÁTICA DO PÓS-MODERNISMO NA LITERATURA BRASILEIRA

[6]JABOUR, http://www.paralerepensar.com.br/a_jabor_juliana.htm


Autor: Daniele Viégas de Lima e Silva


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