Pensando Sobre As Afirmações Do Professor De Filosofia Da UERJ



UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DISCIPLINA: FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

PROFESSOR: ANTONIO JARDIM

ALUNA: DANIELE VIÉGAS DE LIMA E SILVA ( NA PAUTA: DANIELE DE LIMA SILVA)

A LINGUAGEM E A LITERATURA

 

Pensando sobre as afirmações do Professor de Filosofia, Antônio Jardim, de que o Instituto de Letras é o que menos questiona a linguagem, resolvi investigar. Após a leitura de O caminho da linguagem, de Heidegger, e com todos os ensinamentos do curso, de que o poeta foi desapropriado de seu saber, desde a origem, na Grécia, percebo que a Ciência Literária, como outra qualquer, só fez foi classificar, ordenar, com fins práticos, didáticos, digamos,tudo isso na esteira pandectista que vai o nosso saber. Somos assim ou melhor, nos tornamos assim.

Em meados dos anos 50, um grupo de literários brasileiros ousou questionar a rainha das coisas: a linguagem. Através do movimento vanguardista denominado concretista (mais epítetos), a linguagem retomou um pouco de seu brilho de "presentar" as coisas, vertendo ao conceito de matéria prima do poeta e não mero instrumento de trabalho. O que parecia plano de fundo foi trazido ao primeiro plano. O ideal era o questionamento de um sistema, de modo intencional, até levar esse questionamento às últimas conseqüências.

Primeiramente o grupo se apresentava coeso, na mesma linha de pensamento que propunha diversas experiências poéticas que trabalhavam com o espaço em branco do papel e as possibilidades de diagramação da palavra em poesia, questionando a dicotomia significado-significante, tão explorada por Saussure, afinando-se com as propostas de Mallarmé, James Joyce, Erza Pound, E.E. Cummings e outros futuristas e dadaístas.

A busca pelo mínimo da linguagem, talvez um m.m.c. do universo traduzível em sinais estava presente na arte dessa década, pois alguns artistas, como o pintor Piet Mondrian (outro inspirador desse grupo) buscavam um paralelo na matemática para descrever a harmonia do universo[i].

Interessante perceber que a linguagem, ao perder seus ideogramas, como as linguagens com hieróglifos do antigo Egito ou japonesa / chinesa, deixou de trazer à presença, de evocar a própria coisa, nas lições de Heidegger.

Talvez fosse isso que os concretistas queriam resgatar, porém entre eles logo se formou uma dissidência entre o grupo paulista, que pugnava pelo cerebrismo, pelo cálculo e pelo agregacionismo, representados por Augusto/Haroldo de Campos, Décio Pignatari e o grupo carioca, liderado por Ferreira Gullar, que defendia, em suas próprias palavras: "A palavra que forma o poema sempre foi, no meu entender, uma entidade viva, nascida do corpo, suja sabe-se lá de que insondáveis significados"[ii]. Gullar discordava também da busca matemática da linguagem: "Não há nem pode haver uma relação causal entre o número matemático e a palavra, que pertencem a universos simbólicos distintos." Relata, ainda, outro fato curioso:

No dia em que a exposição se inaugurou no Rio, houve à noite, na sede da antiga UNE, um debate sobre poesia concreta. Décio Pignatari era o porta-voz do grupo.Afirmou, entre outras coisas, que a poesia concreta acabava com o símbolo. Oswaldino Marques, poeta, crítico e tradutor de poesia, levanta-se e pede uma explicação: qual era o conceito de símbolo do expositor? Décio empaca, empalidece, não sabe o que responder. Mas Oliveira Bastos vem em seu socorro e dá como definição de símbolo uma frase minha acerca da relação entre formas naturais e artísticas, de um ensaio que escrevera sobre a Bienal de São Paulo. Agora quem entontece é Oswaldino e, mal se refaz do susto, os irmãos Campos estão de pé (eles eram na época quase iguais: óculos, bigode, paletó e gravata) e dedo em riste: " E você que é um poeta medíocre! E você que é um péssimo tradutor!" Pobre Oswaldino que fora ali na ilusão de debater a poesia concreta quando, na verdade, os teóricos paulistas queriam apenas aplausos.

Realmente, há diversos teóricos[iii] que apontam o exagero do grupo de paulistas, porém temos de convir que a iniciativa é louvável. O principal erro foi novamente se autoclassificarem como vanguardistas e desconsiderarem o que já haviam feito Rosa e João Cabral de Melo Neto. Talvez eles tenham tentado atrofiar o símbolo e tenham acabado por hipertrofiá-lo...

A reação viria em 1960, com a poesia-práxis, com o poeta líder desse grupo, que em 1962 afirma: " as palavras não são corpos inertes, imobilizados a partir de quem as profere e usa...As palavras são corpos vivos. Não vítimas passivas do contexto"[iv]

Esse autor resgata o sentido original da filosofia como saber do bardo, veja:

Estado - Você tem sempre sustentado a primazia da poesia sobre as outras linguagens e os demais gêneros literários. Se é assim, por que a grande mídia reserva pouco espaço a ela? 

Chamie - Penso que a poesia é a linguagem das linguagens, pois é nela e por ela que o inesperado dizer sobre as coisas se anuncia. Ela é sempre inaugural e desconcertante. Não se domestica com poéticas a palavra imprevisível do poema. Platão rejeitou a presença dos poetas em sua República por desconfiar da força desestabilizadora de suas transgressões. Hoje, a República que tenta descartar a poesia é outra. É uma república de mil faces, sob a regência de um deus único e poderoso: o Mercado. Este tem na mídia o espaço específico para o funcionamento de sua lógica, que privilegia a mercadoria, o consumo ou as falsas objetividades, divididas entre a "auto-ajuda" e o entretenimento massificante. Ora, sem valor mercadológico e longe de ser entretenimento ou auto-ajuda, a poesia não cultiva igualdades apaziguadas. Ao contrário, ela devassa discursos, libera diferenças, não pacifica e traz inquietude. Utopia incessante de si mesma, a poesia sopra sobre as repúblicas estáveis do consenso os ventos do dissenso, com que cada poeta dita a própria singularidade. Baudelaire emblematizou essa singularidade na figura do flaneur ou do apache, ou seja, na figura daquele indivíduo que, mesmo fazendo parte da massa urbana padronizada, reconhecia-se único e solidário, ao mesmo tempo. A lição permanente de Baudelaire é esta: no horizonte da poesia não há lugar para a mesmice multiplicada ou repetida. Que todo poeta seja singular e faça a sua diferença!  [v]

Não pense que o concretismo ficou morto, ficou para trás. Ele é sempre resgatado pela cultura e até pela contracultura que tem que combate-lo. Assim temos um fenômeno de vendas da atualidade em livros como O Segredo que resgatam o poder da palavra e do pensamento positivo embutido nela, bem como está presente no concretista bastante festejado pela mídia, Arnaldo Antunes:

"Todas as coisas do mundo não cabem numa idéia. Mas tudo cabe numa palavra, nesta palavra, tudo."[vi]

Assim, acho que todos estão tentando resgatar o saber do bardo, teria o poeta de hoje de aprender aquela alquimia de Paracelso que trouxe a Rosa de volta, vermelha, diga-se de passagem, das cinzas, para que a linguagem pudesse ter seu sentido revelado novamente...Porém, talvez a evolução do homem moderno seja aquele aprendiz que não estava pronto para aprender a mágica porque não acreditava nela...

[vii]BIBLIOGRAFIA:

  1. GULLAR, Ferreira. Indagações de hoje.  Rio de Janeiro:Jose Olympio, 1989, p. 31.

SITES:



[i] V. site sobre o número de ouro, símbolo da harmonia: http://www.educ.fc.ul.pt/icm/icm2000/icm33/num_ouro.htm#rect_ouro

Sobre Mondrian, v. http://www.educ.fc.ul.pt/icm/icm2000/icm33/Mondrian2.htm

[ii] GULLAR, Ferreira. Indagações de hoje.  Rio de Janeiro:Jose Olympio, 1989, p. 31.

[iii] http://www.jdborges.com.br/autoresnovos/rogeriopereiraepaulopolzonoffjr.htm

[iv] http://www.algumapoesia.com.br/poesia/poesianet075.htm

Para ouvir um pouco de Chamie, por ele mesmo: http://www.cpcumesdiscos.art.br/catalogo/?discoDet=12

[v] http://www.revista.agulha.nom.br/disseram36.html

[vi] http://www.arnaldoantunes.com.br/

[vii]Música-poema de Arnaldo Antunes http://www.youtube.com/watch?v=IaWR3-eCsSM


Autor: Daniele Viégas de Lima e Silva


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