E depois a maluca sou eu



 

E DEPOIS A MALUCA SOU EU

Texto: Daniela Souza

 

O vigia que trabalha na minha rua outro dia deve ter achado que eu  estava com algum problema,  voltei simplesmente três vezes para buscar coisas que havia esquecido, na terceira vez nem eu acreditava que estava fazendo aquilo, uma coisa me lembrava a outra... Ia até a esquina com o carro e retornava de volta para a porta da minha casa. Ele não entendeu nada, mas também não perguntou...

Já estou acostumada com o rótulo de maluca, mas depois de perder quatro cartões de banco, documentos, carteira de motorista e todas as chaves que já tive na vida, inclusive as da minha própria casa, resolvi procurar um médico e pedir socorro, afinal meus esquecimentos não estavam normais.

Marquei com um psiquiatra, cheguei no consultório apreensiva para resolver o problema, enfim ficaria livre de todos esses inconvenientes, passei pela recepcionista e achei que ela falava além da conta, ali na sala de espera  tinha de tudo, uma moça que também não parava de falar, outra que ria de uma forma engraçada, um senhor com um “tic” nervoso muito esquisito e eu. Talvez se eu não estivesse no psiquiatra não repararia em nada disso.

O médico me chamou, sentei em um sofá confortável de frente pra ele e logo foi fazendo as seguintes perguntas:

-Você está triste, sem ânimo ou chora com facilidade?

Respondi que não e ele ficou ali me olhando esperando a explicação para estar ali e durante a conversa ele só me chamava  de Patrícia, (sei lá quem era a Patrícia que ele chamava, mas sei que não era eu!! ). Conclui que o médico estava pior que eu, fui embora decepcionada e depois de outras tentativas e todos os exames feitos, eis o diagnóstico, estou fisiologicamente normal, e tudo isso é resultado do estresse do acúmulo de informação e  dos tempos modernos.... E continuo sem  respostas convincentes  que me definam.

Então resolvi  eu  definir meu estado de  loucura dentro da normalidade aceitável (embora nem sempre) e  como ninguém gosta de receber um diagnostico constatado de loucura, fico aliviada e contente com  a loucura como opção,  postura de vida e quero distancia da  patologia.

A partir disso em  conversas  com alguns amigos comecei a me sentir um pouco mais  normal, por constatar que não sou a única  desenquadrada do conceito.  Aliás, estou me sentindo bem normal ultimamente!

Uma amiga ao sair do seu apartamento, chiquérrima de  “tayer” salto alto e meia calça, observou que as pessoas no elevador mal davam bom dia e  olhavam pra ela  de uma  forma desconfiada, quando chegou no estacionamento do prédio  e  sentou no banco do seu carro  se assustou com algo grudado na sua blusa mais ou menos na altura do pescoço. Era um “soutien” pendurado. Nova moda para o uso de cachecol.

Essa aí pode dar a mão para outra que se vestiu para o trabalho e saiu, no meio do trajeto  a constatação! Tinha esquecido a  calcinha!!! Como não dava tempo de voltar, precisou comprar uma no caminho. Essa desculpa não pegaria bem para o atraso.

Outra amiga ao sair  do shopping dentro do carro começou desesperadamente  a procurar o  Ticket para abrir a cancela de saída do estacionamento e  não achava de jeito nenhum, revirou a bolsa, jogou tudo o que tinha dentro no banco do passageiro, começou a suar frio com todos  aqueles carros impacientes buzinando atrás dela, já  pensando na explicação que daria ao segurança, e aliviada porque ao menos os documentos que comprovavam que o carro era seu estavam lá, chamou o segurança.

O segurança se aproximou do vidro e perguntou se ela estava passando bem, quando ela contou que não achava o bilhete, foi  informada pelo segurança  que ela já havia passado a cancela e que ela mesma tinha acabado de introduzir o bilhete na máquina.  (!!) Eu também não entendi nada! Mas ri bastante com à historia!

Outro amigo diz que  precisa repetir todo dia um ritual antes de sair casa, ele se senta em uma mesa, pega um papel e uma caneta e começa a escrever tudo o que precisa levar e em seguida confere se as coisas estão lá, chaves, carteira, celular, óculos... Ele diz que se sente um pouco estupido fazendo isso todo dia, mas se não fizer sempre acaba esquecendo algo.

E depois a maluca sou eu!! Posso até ser, mas felizmente não estou sozinha.   “Ninguém é tão louco que não possa encontrar outro louco que o entenda”.   Mas verdade mesmo é que os iguais se atraem. E isso ninguém diz que é loucura!


Autor: Daniela Souza


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