O estelionatário sem escolaridade



A polícia foi chamada por que houve um furto na Igreja Católica de Santo Antonio. Dentre os pertences da igreja foi levado pelo larapio um talão de cheques. Um cidadão, após fazer varias compras na cidade, é parado no caixa do supermercado com um cheque de cinco mil reais. A moça do caixa, surpresa com o valor do título de crédito, manda chamar o gerente. Por azar do comprador o gerente também fazia parte do conselho fiscal da igreja e foi logo ligando o cheque ao furto na matriz. O portador do cheque foi entregue a policia e não precisou de meias dúzias de perguntas para saber que se tratava ele de um 171. É evidente que eu denunciei o rapaz como autor de crime de estelionato, já que ele usara o talão de cheques da igreja para aplicar golpes na cidade e estava com um caminhão cheio de moveis e eletrodomésticos para levar embora da cidade. Após trinta dias de prisão o falsário foi levado para interrogatório em juízo. A juíza que presidia o ato me perguntou se eu era favorável a soltura do rapaz. Eu disse que dependeria do que o réu iria falar. Se ele falasse a verdade eu seria a favor de sua libertação, caso contrario, minha posição era pela manutenção da prisão. Eu perguntei ao acusado aonde ele tinha obtido aquele cheque de cinco mil reais e ele respondeu que recebera o cheque de um comprador de latinhas de cerveja e refrigerantes. De antemão eu duvidei, uma vez que um quilo de latinha era comprado por R$ 1,50. Logo, era preciso três toneladas de latinhas para alcançar o valor do cheque. O cheque tinha como emitente a Mitra Diocesana de Colatina. Olhei para o réu e falei: Meu amigo, fala sério, de quem você recebeu o cheque? O cara nasceu para estelionatário, porém, lhe faltou escolaridade, isto por que ele, na maior cara de pau, me respondeu: Doutor, eu recebi o cheque da Dona Mitra, em Colatina.


Autor: Creumir Guerra


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