A importância do pedagogo frente a orientação sexual na escola



1   Introdução

    A sexualidade infantil ganha cada vez mais espaço nas discussões e estudos científicos. Sendo fundamental na formação da personalidade, pois é uma necessidade do ser humano que esta relacionada à pensamentos e ações. Nesse sentido, o presente estudo buscou analisar através de referenciais bibliográficos, se o exercício de orientação sexual, ocorre na educação infantil, concedendo aos alunos possibilidades de desenvolvimento, no que se refere, a uma consciência crítica e tomada de decisões responsáveis a respeito de sua sexualidade. Na intenção de levantar questionamentos, ampliando conhecimentos acerca de como as séries iniciais do ensino fundamental se relacionam com o tema sexualidade, se a mesma, é trabalhada neste espaço escolar, e de que maneira, identificar os motivos apontados pelas professoras que justificam suas ações, bem como, refletir de que maneira o pedagogo pode intervir nessa realidade.

    Orientação Sexual é um dos temas transversais² proposto nos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, do MEC, visando à compreensão e reflexão da realidade social, construindo assim a cidadania. A orientação sexual implica num mecanismo mais elaborado, do que, simplesmente informar, baseando-se em sua experiência e em seus conhecimentos, o orientador ajuda a analisar as diferentes opções disponíveis, possibilitando a descoberta de novos caminhos. Orientar significa educar, formar na intenção de possibilitar ao educando condições de crescimento interior. Permitindo que a criança viva sua sexualidade de forma natural, saudável, prazerosa e consciente, sabendo tomar decisões, se posicionar e reconhecer até onde vai sua liberdade e também limites.

 

1.1       A Orientação Sexual na Escola

Por que tratar da sexualidade no espaço escolar? Qual a relação entre sexualidade e educação? Não seria a Orientação Sexual algo inerente à família? Esses são apenas alguns, dos muitos questionamentos levantados ao discutir-se a temática da orientação sexual nas instituições de ensino.

 Questionamentos, levantados até mesmo, por educadores, como artifícios e desculpas para a não abordagem do tema em sala de aula, silenciando-se.

Estudos realizadas em municípios brasileiros, em escolas públicas e privadas, apontam que, mesmo ciente da responsabilidade que tem no processo de desenvolvimento da sexualidade das crianças, bem como em outras [1]categorias, nas escolas não há envolvimento com o tema na intensidade necessária, e, muitas vezes, quando o faz, atende somente às questões biológicas da reprodução.

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) n° 9.394, garante o desenvolvimento integral da criança. Se a lei que rege a educação escolar brasileira tem por finalidade o desenvolvimento integral do educando, a escola, para assegurar o alcance desse objetivo, há de educar sexualmente as crianças. Devendo ser entendida como uma necessidade básica do ser humano que não pode ser desvinculada de sua vida.  Envolvendo pensamentos, sentimentos e ações. Portanto, não só no mundo adulto, como também no infantil, o tema sexualidade tem relevante importância para o desenvolvimento integral de cada indivíduo. Se a escola não cumpre seu papel, ao educar e capacitar a criança a lidar com sua própria sexualidade, não está proporcionando a ela seu desenvolvimento integral.

O trabalho de orientação sexual na escola pode contribuir para a eficácia do processo ensino-aprendizagem. Pois a sexualidade esta diretamente relacionada à aspectos emocionais, que está intimamente relacionado aos desenvolvimentos intelectual e social. Interferindo diretamente no desempenho escolar.

Quando a criança possui curiosidades e angústias a respeito da sexualidade, o aspecto emocional da mesma fica abalado. Suas emoções manifestam-se em suas atitudes. Emoções negativas podem resultar em comportamentos hostilizados, indiferentes e depressivos, presenciados no espaço escolar, o que dificulta a aprendizagem.

Em contrapartida, alunos que tem suas dúvidas esclarecidas com informações corretas, diminuem a agitação ocasionada por essa situação de ansiedade.

A escola é um lugar privilegiado para discutir o tema, sexualidade, sendo uma instituição social, atende as mais diversas crianças, passando um razoável período de seu tempo diário. Constituindo a escola uma grande parceira da família na educação sexual das crianças. A Orientação Sexual nas séries iniciais do Ensino Fundamental, poderá contribuir em uma ação preventiva de graves problemas, como, uma possível gravidez indesejada na adolescência, o abuso sexual ou até mesmo doenças sexualmente transmissíveis. Quando se aprende a lidar com a sexualidade de maneira saudável e natural, desde a infância, quando se tornam adolescentes, terão condições de tomar atitudes fundamentadas em uma reflexão consciente.

Finalmente, pode-se afirmar que a implantação de Orientação Sexual nas escolas contribui para o bem-estar das crianças e dos jovens na vivência de sua sexualidade atual e futura.

1.2       O pedagogo e a Orientação Sexual na Escola

É possível perceber que grande parte dos profissionais da educação incumbidos de realizar a orientação sexual dos alunos, estão despreparados e apresentam dificuldades em cumprir essa tarefa, tanto por questões pessoais, quanto pela falta de informações sobre o tema.

Neste sentido, o pedagogo muito contribui com a escola, pois é um profissional que tem formação que lhe permite compreender o desenvolvimento humano e o desenvolvimento da sexualidade, que é uma parte do desenvolvimento individual do ser humano. Além de conhecimentos teóricos sobre como facilitar para que as crianças e jovens adquiram conhecimentos sobre este tema, com bases teóricas, para que a orientação sexual seja realizada de forma adequada, conforme cada fase do desenvolvimento da sexualidade humana.

A sexualidade interfere muito na questão da identidade, principalmente da criança e do adolescente, e assim, interfere no processo de aprendizagem. A criança e adolescente que podem ter um pouco mais de conhecimento de si, de sua sexualidade, passam a ter um maior desenvolvimento escolar, um desenvolvimento da aprendizagem melhor, na medida em que a relação entre autoconhecimento, sexualidade e aprendizagem é grande. O não esclarecimento das curiosidades das crianças e jovens pode gerar angústias e tensões, influenciando assim, na aprendizagem.

Desse modo, as principais características do pedagogo facilitador do trabalho de orientação sexual são: disponibilidade em lidar com o assunto e o compromisso de estar atualizado com as informações referentes à sexualidade, bem como sobre os recursos a serem usados pelos alunos, garantindo respeito às diferenças, a ética no trabalho, bom senso, facilidade em dirigir dinâmica de grupo, busca por conhecimento do assunto, bom relacionamento com os alunos e tranquilidade em relação à sexualidade, são algumas das condições necessárias ao pedagogo, para a realização da orientação sexual nas escolas.

2 Considerações Finais

Sob o pensamento de que a escola é um lugar de curiosidades, sonhos, medos, aprendizagem, conquistas, descobertas etc., não se pode excluir as manifestações da sexualidade, e sim, criar um espaço de discussão aberta e franca com a criança, na tentativa de deixar de lado os próprios preconceitos, permitindo que cada um se mostre como é: com suas dúvidas, conflitos, medos e angústias. É através da escola, que se detém os meios pedagógicos necessários para a intervenção sistemática sobre a sexualidade, de modo a proporcionar a formação de uma opinião mais crítica sobre o assunto, permitindo, assim, a satisfação e os anseios dos alunos.

Com frequência os educadores deparam-se com situações ligadas à sexualidade no âmbito escolar. Qualquer atitude por eles tomada, seja silenciar o fato, ignorar, repreender ou esclarecer, repercute na visão da criança a respeito da sexualidade. A criança, em especial no professor, observa o modelo de comportamento em relação a sexualidade.

A orientação sexual, tornando-se, à alguns professores um trabalho árduo, pois falar de assuntos delicados e vistos como íntimos, se ficam constrangidos. Sentem-se despreparados, conhecimentos insuficientes, muitas vezes fragmentados e ao tentarem realizar a orientação sexual, acabam transmitindo conceitos errôneos, mitos, tabus e até mesmo preconceitos, que perpetuam ao longo dos anos por uma sociedade conservadora.

Neste sentido é fundamental que o educador tome consciência de que as manifestações da sexualidade infantil constituem-se aspectos naturais do desenvolvimento humano. O pedagogo, um profissional da escola, é de grande relevância no trabalho de orientação sexual. Com sua formação, que lhe permite compreender o desenvolvimento humano e o desenvolvimento da sexualidade, que é uma parte integrante de cada indivíduo, aliado ao professor, à comunidade escolar e a família, pode-se realizar uma orientação sexual reflexiva e eficaz, possibilitando que esta criança um dia possa ser um adulto bem resolvido em sua sexualidade, livres de traumas e frustações.

Nos dias de hoje, observa-se que a sexualidade é discutida mais explicitamente do há anos atrás e esperamos que isso continue evoluindo de maneira séria, respeitosa e responsável, sem banalidades da temática ou ainda, com conhecimentos fragmentados e insuficientes para lidar com a eficácia da orientação sexual na escola e vida em comunidade. Pois é possível afirmar, que quanto mais cedo forem vencidas as barreiras que impedem a orientação sexual nas instituições escolares, mais cedo teremos a minimização de problemas como a repressão sexual, a gravidez na adolescência, o abuso sexual, os problemas de aprendizagem ocasionados por angústias sexuais, o preconceito sexual, a proliferação de doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids.

O que torna necessário a implantação de programas e projetos de orientação sexual nas séries iniciais do Ensino Fundamental, deixando claro que, orientação sexual, deve ser iniciado desde a Educação Infantil.

Em caminhada a uma educação coerente, a qual ensede a formação de cidadãos, buscou-se demonstrar que a implantação do trabalho de orientação sexual na escola é de suma importância, no sentido de informar e refletir sobre os diferentes preconceitos, crenças e tabus, atitudes existentes na sociedade, buscando, uma isenção total, o que é impossível de se conseguir, uma condição de maior distanciamento pessoal por parte dos profissionais da educação, para empreender essa tarefa. O pedagogo é aliado à escola, para empreender a tarefa de educar sexualmente as crianças e jovens.

Sabe-se que mudar não é algo fácil, os desafios são muitos, porém, toda mudança para melhor, dependem exclusivamente da aplicação do esforço próprio de cada um. É necessário ousar, para mudar, pois como afirma um dos maiores poetas e escritores da língua portuguesa e literatura universal, o português, Fernando Pessoa “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.

 

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2 Os Temas Transversais são propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais e definidos como o conjunto de temas de tratamento transversal de temáticas sociais na escola, como forma de contemplá-las na sua complexidade, sem restringi-las à abordagem de uma única área. São eles: Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde e Orientação Sexual.

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Autor: Marcela Viviany Fujihara


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