Anorexia E Bulimia Na Adolescência



I – TRANTORNOS ALIMENTARES NA ADOLESCENCIA

Atualmente já se descreve o que poderia ser chamado de comportamento de risco para desenvolver um distúrbio alimentar. Em geral, os pacientes bulêmicos ou anoréticos, muito antes da doença estabelecida, já apresentavam alguma alteração emocional e do comportamento.
Emocionalmente esses pacientes de risco apresentavam alguma crítica constante a alguma parte do corpo, insatisfação com o peso, enfim, alguma alteração na percepção corporal (Dismorfia) com diminuição gradativa de suas atividades sociais.
Comportamentalmente apresentavam hábito de fazer dieta mesmo quando o peso estava proporcional à estatura e, mesmo ao perderem peso, continuavam com a dieta (Fisher, 1995).
É importante lembrar que todas essas modalidades de comportamento são de avaliação muito difícil quando se trata de adolescente, visto que nessa faixa etária, o isolamento, os problemas de relacionamento, a preocupação e vergonha com o corpo, a distorção da auto-imagem, aumento do apetite, modismos alimentares, etc., são característicos e esperados, fazendo parte da chamada Síndrome da Adolescência Normal.
Ainda a melhor alternativa para estes casos é uma conversa franca com o adolescente, para que este entenda que o seu transtorno merece cuidado especial e que deve ser encaminhado para tratamento. A energia que o adolescente gasta com a manutenção do transtorno poderá ser usada para que ele se divirta e seja feliz.
(M. de Fátima Hiss Olivares Psicóloga).

II – ANOREXIA NERVOSA

2.1 – Conceito

Anorexia nervosa é um transtorno alimentar no qual a busca implacável por magreza leva a pessoa a recorrer a estratégias para perda de peso, ocasionando importante emagrecimento. As pessoas anoréxicas apresentam um medo intenso de engordar mesmo estando extremamente magras. Acomete mulheres adolescentes e adultas jovens, na faixa de 12 a 18 anos. Os riscos clínicos podem levar à morte por desnutrição.

2.2 – Sinais clínicos

- Baixo peso corporal;
- Prática constante de dietas e exagero nas atividades físicas;
- O paciente não considera errado seu comportamento;
- Ausência de pelo menos duas menstruações.

2.3 – Complicações

- Desgaste emocional;
- Lesões no aparelho digestivo;
- Queda na pressão arterial;
- Pode chegar à infecção generalizada devido à debilidade do sistema imunológico;
- Osteoporose (devido ao baixo nível de cálcio, ou à deficiência do intestino em absovê-lo).


2.4 – Comportamento Clínico do Adolescente

A pessoa acabando por se tornar escrava das calorias e de rituais em relação à comida. Isola-se da família e dos amigos, ficando cada vez mais triste, irritada e ansiosa. Dificilmente, a pessoa admite ter problemas e não aceita ajuda de forma alguma. A família às vezes demora a perceber que algo está errado. Assim, as pessoas com anorexia nervosa procuram tratamento quando se tornam perigosamente magras e desnutridas.

O adolescente imagina – se gordo mesmo estando excessivamente magro. Cria um interesse exagerado por alimentos, come em segredo e mente a respeito da comida, tornando obsessivo pelo peso corporal e a alimentação.

2.5 – Formas de tratamento

O adolescente deve na maioria das vezes ser acompanhada por uma equipe multidisciplinar. Quando for diagnosticada a anorexia nervosa, deve se avaliar o paciente está em risco iminente de vida, requerendo, portanto, hospitalização. Não há medicação específica indicada. O uso de antidepressivos pode ser eficaz se houver persistência de sintomas de depressão após a recuperação do peso corporal.
O tratamento da anorexia nervosa costuma ser demorado e difícil. O paciente deve permanecer em acompanhamento após melhora dos sintomas para prevenir recaídas.
2.6 – Meios de Prevenção.

Uma diminuição da pressão cultural e familiar com relação à valorização de aspectos físicos, forma corporal e beleza pode eventualmente reduzir a incidência desses quadros. É fundamental fornecer informações a respeito dos riscos dos regimes rigorosos para obtenção de uma silhueta "ideal", pois eles têm um papel decisivo no desencadeamento dos transtornos alimentares.

III – BULIMIA NERVOSA

3.1 – Conceito

O termo bulimia deriva do grego bous (boi) e limos (fome) e dá uma noção exata do tamanho do apetite dessa pessoa. Quem nunca ouviu alguém dizer que “está com tanta fome que comeria um boi?”.
Quem sofre de bulimia realmente é capaz de comer quantidade absurda, rapidamente e de forma indiscriminada, misturando doces, salgados, congelados, refrigerantes e o que encontrar pela frente, até não poder mais.
A Bulimia Nervosa se caracteriza pela conduta de comer grandes quantidades de comida em um breve período de tempo, seguida de comportamentos purgativos como vômitos, uso de laxantes, diuréticos, acompanhados de um grande sentimento de culpa e vergonha.

3.2 – Sinais e Sintomas

- Desequilíbrio no balanço dos eletrólitos do sangue;
- Séria debilidade imunológica;
- Sangramentos esofágicos;
- Complicação do intestino grosso por uso excessivo de laxantes;
- Apresenta retardo do esvaziamento gástrico e constipação intestinal; - Degeneração gordurosa do fígado e necrose hepática focal.
Suas principais complicações clínicas são decorrentes da forma como o paciente elimina o excesso de comida após o episódio de "comer-compulsivo".

3.3 – Complicações Ocasionadas por vômitos repetidos

- Esofagite;
- Gastrite;
- Síndrome de Mallory-Weiss;
- Esôfago de Barret;
- Hipertrofia de Glândulas salivares;
- Desgaste do esmalte dentário;
- Sinal de Russel;
- Pneumotorax, Pneumomediastino e Fratura de costela podem ocorrer por vômitos vigorosos. Rasgadura ou laceração da mucosa na junção esofago-gástrica, com 0.5 a 4 cm de comprimento, devida geralmente ao esforço do vómito, rasgando a mucosa provocando Hematêmese.
Esôfago de Barret É uma condição que atinge a porção inferior do esôfago, alterando seu revestimento interno, cujas células originais são substituídas por células semelhantes às do intestino (metaplasia intestinal especializada ou Esôfago de Barrett). Quando não tratado apresenta um risco de evoluir para câncer em até 10% dos casos.
Sinal de Russel é uma Lesão no dorso da mão pelo trauma repetido dos dentes incisivos na provocação dos vômitos.

3.4 – Comportamento Clínico do Adolescente

- Medo de engordar, depois desse consumo exagerado de calorias;
- Sofrimento cruel, sofrimento, também decorrente do fracasso experimentado dia após dia por ter sucumbido à tentação.
Pois, diferentemente da anoréxica, que consegue manter sua promessa de “nunca comer”, a bulímica não resiste.

IV – Diagnóstico de Enfermagem Segundo Nanda


Revendo o diagnostico de Enfermagem baseado na Taxonomia II de Nanda podemos destacar os principais diagnósticos relacionado à bulimia e anorexia na adolescência.

- Déficit no Auto – Cuidado para alimentação;
- Risco de baixa Auto – Estima situacional relacionado com peso e forma do corpo;
- Disposição para Comunicação Verbal Prejudicada;
- Disposição do conhecimento deficiente em relação a importância dos alimentos;
- Risco de Crescimento Desproporciona ou atraso do desenvolvimento relacionado com a falta de nutrientes;
- Déficit no Auto – Cuidado para alimentação;
- Risco de baixa Auto – Estima situacional relacionado com peso e forma do corpo;
- Disposição para Comunicação Verbal Prejudicada;
- Disposição do conhecimento deficiente em relação a importância dos alimentos;
- Risco de Crescimento Desproporciona ou atraso do desenvolvimento relacionado com a falta de nutrientes;
- Deglutição prejudicada relacionada com indução repetida ao vômito;
- Disposição para Enfrentamento Familiar

Através do diagnostico de Enfermagem podemos programar e desenvolver cuidados de Enfermagem, com objetivo de orientar esse adolescente o tipo de risco e conseqüência eles estão submetidos. Torna – se muitas das vezes necessário a participação da família e tratando se do profissional Enfermeiro que tenha experiência para atuar no quadro em questão.


V – Cuidados de Enfermagem na Anorexia e Bulimia na Adolescência


Considerando que a adolescência é um período de flutuações no estado emocional a caminho do amadurecimento, o adolescente pode apresentar sintomas como a anorexia nervosa e a bulimia. É nesse sentido, então, que a Enfermagem Psiquiátrica atua, paralelamente, à terapia de família, não apenas porque a maior parte dos transtornos está ligada a ela, mas, sobretudo, porque, sendo dependentes dos adultos, as adolescentes têm de submeter-se às exigências familiares.
A enfermagem psiquiátrica deve levar em conta que a adolescente tem dificuldade em dizer o que está sentindo ou pensando, portanto, será importante a comunicação extraverbal. Ela precisa de explicações simples, de respostas às suas perguntas, formuladas verbal ou extraverbalmente, a partir de desenhos por exemplos.
Essencialmente os pacientes com respostas, que apontam desvio de regulagem alimentar, sejam submetidos a uma avaliação de enfermagem completa, incluindo:
Exames biológicos, psicológicos e socioculturais completos. (Stuart e Laraia)
Um exame físico completo deve ser feito, sempre avaliando:
- Sinais vitais;
- Peso para a altura;
- Pele;
- Sistema cardiovascular;
- Evidência de abuso de laxantes ou diuréticos e vômitos;
- A história de uso de alguma substância e uma avaliação familiar, também, deve ser considerada.
Herscovici e Bay relatam que o enfermeiro deve atuar na prevenção da anorexia nervosa junto aos membros da família.
Nesse contexto, é importante que o profissional auxilie os familiares a criar habilidades para assistir o paciente, dar apoio e impor limites ao mesmo, quando necessário.
No caso, é imprescindível que o profissional tenha a convicção de que o ser humano está intrinsecamente ligado à sua família e ao seu meio social e que esses são a fonte primordial, não apenas das pressões, mas também de recursos de apoio.
Registra-se que a maioria dos autores enfatiza a necessidade da inclusão da família no tratamento do paciente anoréxico.
Assim, no que se refere ao plano de tratamento de enfermagem, é importante incluir:
- Familiares na avaliação e no processo de planejamento do tratamento;
- Avaliar a família como sistema e o impacto do transtorno alimentar;
- Iniciar terapia de grupo para mobilizar o apoio social e reforçar respostas adaptadas.
- Esses pacientes beneficiam-se do envolvimento dos familiares e do trabalho com um grupo que ofereça apoio. A proposta da intervenção familiar é a de poder avaliar esse sistema, educá-lo quanto à doença e tratá-lo caso a avaliação de sua dinâmica indique um funcionamento que promova a manutenção do sintoma. Com exceção da baixa estatura quando o comprometimento é na fase pré-puberal, todas essas alterações são reversíveis com a realimentação adequada e recuperação da massa corpórea.

VI – CONCLUSÃO

A imagem perfeita e inatingível do belo representado pela magreza, cada vez mais veiculado pela mídia, bem como a profusão de publicações leigas sobre dietas para os mais variados fins, contribui para o aumento da incidência desses distúrbios, especialmente nos países desenvolvidos e entre as classes sociais mais favorecidas.
Nenhuma proposta terapêutica será efetiva sem o acompanhamento psicológico, seja psicanálise, terapia comportamental, Enfermagem Psiquiátrica; terapia familiar ou a associação de dois ou mais métodos. Fica clara, então, a necessidade de uma equipe multidisciplinar integrada para o atendimento e apoio a esses pacientes, cujo período longo de seguimento às vezes apresenta-se como um desafio e às vezes como verdadeiro pesadelo.


VII – REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA


Abreu C, Cangelli Filho R. Anorexia nervosa e bulimia nervosa: abordagem
cognitivo-construtivista de psicoterapia. Revista de Psiquiatria Clínica 2004;31(4):177-183.

Herscovici CL, Bay L. Anorexia nervosa e bulimia: ameaças à autonomia. Porto Alegre: Artes Médicas; 1997.

NORTH AMERICAN NURSING ASSOCIATION. Diagnósticos de Enfermagem da NANDA: Definições e classificação, Porto Alegre, Artmed, 2001-2002.

Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica. Anorexia e Bulimia, set. 2006.
Disponível em: . Acesso em
02 set. 2007

Varella D. Anorexia nervosa, 2007. Disponível em: . Acesso em 02 set. 2007.

Autor: Hoverney Quaresma Soares


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