Dependência do mundo virtual



 

Dependência do mundo virtual

 

                                                                                                          Arnaldo Nogaro[1]

 

            A leitura recente de dois artigos (“Os riscos do excesso de exposição ao mundo virtual”- Revista Pátio, ago/out, 2009 e “A internet transforma o seu cérebro” – Revista Veja, 12 de agosto de 2009) fizeram-me refletir e escrever sobre o assunto. Mesmo sendo um fenômeno novo, tenho lido muito sobre ele por interesse pessoal e acadêmico e confesso que fico um tanto apreensivo com o que tenho constatado.

            O ser humano desenvolveu o conhecimento em diferentes frentes, aprimorou a ciência e a tecnologia, acreditando que isto tudo lhe traria maior benefício e qualidade de vida, além de economizar trabalho e diminuir seu esforço físico. Mas o que estamos percebendo é que aquilo que, em princípio, seria um ganho fantástico em prol do homem e da sociedade começa a apresentar sua face mais perversa.

            Quem experimentou e utilizou os artefatos tecnológicos existentes não quer mais retornar aos instrumentos e práticas anteriores. Estou socializando minhas angústias em relação ao assunto, não para assustar alguém ou como forma de querer barrar, pregar um afastamento do mundo virtual, até porque isto não seria possível em razão de como nossas vidas estão atreladas a ele, mas com a intenção de levar pais e educadores a prestarem atenção aos comportamentos de nossas crianças e jovens que passam longo tempo expostos à internet, games e outros espaços virtuais. 

            Nos artigos citados são ressaltados pontos positivos das novas tecnologias da informação e comunicação, bem como elas facilitam e nos auxiliam no dia a dia: quantidade de informação disponível, novas formas de fazer pesquisa, reforço nos circuitos cerebrais que controlam as habilidades tecnológicas explorando outras regiões de nosso cérebro, novas modalidades de relacionamentos pessoais, armazenamento e disponibilidade de dados com rapidez etc. No entanto, o que parece ser um alerta e objeto de nossas preocupações, e a descrição de comportamentos adotados pelos navegantes do mundo virtual e as consequências que começam aparecer depois de uma década e meia de convívio dos usuários, especialmente aqueles que já manifestam dependência: depressão, fobia social, dificuldades na relações interpessoais, baixa tolerância à frustração, baixa capacidade de enfrentamento, ansiedade social e baixa autoestima, perda do ciclo de sono, prejuízos escolares, problemas de atenção etc.

            Os relatos apontados por pesquisadores e estudiosos mostram que há casos em que a dependência é tão intensa, frequente e duradoura que prende crianças, adolescentes e jovens por horas seguidas fazendo com que os mesmos nem sequer saiam para se alimentar ou fazer suas necessidades básicas. Este tipo de conduta está despertando o interesse de psiquiatras, psicólogos, médicos, pesquisadores e educadores, em diferentes locais do mundo, que se mostram preocupados com o que têm observado.

            Como em outras áreas e descobertas humanas, o problema não está no instrumento, no objeto inventado, mas na capacidade do ser humano em definir até que ponto algo lhe pode ser útil ou prejudicial. O bom senso recomenda que é preciso pensar naqueles que ainda não têm poder ou discernimento suficiente para saber fazer a escolha. É possível deixar para a criança e o adolescente, a decisão do uso e do tempo de permanência no ambiente virtual? A quem cabe seu acompanhamento? Embora o uso das ferramentas tecnológicas seja uma decisão do livre arbítrio das pessoas, a análise não pode ser superficial, pois assuntos complexos não têm soluções simplistas. Ele perpassa o indivíduo, a família, o meio social, a cultura, as instituições que devem estar vigilantes e agir com prudência para que aquilo que foi criado para contribuir com o ser humano não se transforme em terreno fértil para manifestação de outras e novas patologias.


[1] Doutor em Educação – UFRGS. Professor da URI-Campus de Erechim.


Autor: Arnaldo Nogaro


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