A Textualidade Dos Gêneros: A Prática Textual Com O Artigo De Opinião E A Propaganda



A textualidade dos gêneros: A prática textual com o artigo de opinião e a propaganda

Palavras-chave. Letramento; gênero textual; estratégia de leitura.

1. INTRODUÇÃO

A fim de oportunizar ao acadêmico uma desenvoltura na realização de suas atividades tanto acadêmicas quanto profissionais, entende-se ser necessário levar para a aula de leitura textos que são representativos de gêneros que circulam nas diferentes instituições sociais, pois "a diversidade nos usos de escrita do cotidiano deve encontrar eco na escola" (KLEIMAN, 1999, p.96).

Portanto, o objetivo deste artigo é demonstrar uma proposta de trabalho de ensino de leitura de artigo de opinião e de propaganda desenvolvida nas aulas de Produção Textual I e Lingüística I, no I Período do Curso de Letras-Portugues (EAD-Semi-presencial), da Universidade Tiradentes. O nosso referencial teórico vem das teorias de letramento, da concepção bakhtiniana de gênero textual e do modelo que privilegia o ensino de leitura por meio da utilização de estratégias cognitivas e metacognitivas.

Quanto à organização deste artigo, inicialmente apresentam-se, sucintamente, os pontos teóricos que sustentam a prática abordada; na seqüência, a metodologia de trabalho e as considerações finais.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Compreendendo a linguagem como mediadora das ações sobre o mundo, entende-se a importância do trabalho com os diferentes gêneros textuais a fim de que os estudantes possam adquirir práticas de letramento que lhes propiciem efetiva participação na vida social. Para que o aluno possa perceber as condições de produção e de circulação dos gêneros, é preciso que o professor o ajude a desenvolver sua competência comunicativa, a fim de que além dos conhecimentos lingüísticos referentes ao léxico e à estrutura da língua, o estudante também seja levado a possuir conhecimentos específicos sobre os gêneros (LOPES-ROSSI, 2002).

A função da instituição de ensino é preparar os estudantes para que tenham autonomia suficiente a fim de guiarem seus processos de aprendizagem e, para isso, é certo que esse estudante precisa compreender o que lê e que a escrita tem função comunicativa: "a concepção social da escrita implica desenvolver sujeitos plenamente letrados, que têm familiaridade com diversas práticas discursivas letradas de diversas instituições" (KLEIMAN, 2002, p.34). Assim, este trabalho com a leitura em sala de aula visa desenvolver práticas de letramento que sejam efetivamente úteis para a atuação acadêmica e profissional dos estudantes. Para tanto, o objetivo primordial é propiciar ao aluno o conhecimento de estratégias diversificadas de abordagem do texto.

Privilegiou-se, assim, o modelo interativo de leitura que aponta a importância do conhecimento, por parte do educador, das estratégias cognitivas e metacognitivas no ensino de leitura (KLEIMAN, 1993). As estratégias cognitivas não podem ser modeladas, pois não estão sob nosso controle consciente, mas o professor pode promover condições para que o aluno desenvolva as habilidades em que elas estão apoiadas. Dentre as estratégias metacognitivas possíveis de serem trabalhadas estão a formulação de objetivos prévios à leitura e o estabelecimento de predições sobe o texto.

3- PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Por meio de atividades aplicadas logo no início do período, a fim de diagnosticar os níveis de letramento dos alunos, se percebeu que a maioria deles apresentava dificuldades de ler diferentes gêneros textuais e desconheciam as características específicas desses gêneros. Levamos em consideração que "as práticas de letramento mudam segundo o contexto" (KLEIMAN, 2001, p.39). Assim, para que fosse desenvolvida a competência comunicativa dos educandos, fora elaborado um material que propiciasse a exposição do estudante a diferentes tipos de gêneros para que eles pudessem apreender o que os caracteriza e as suas especificidades. Neste trabalho, optou-se por apresentar uma síntese sobre uma aula de leitura com um artigo de opinião sugerido e com um texto publicitário.

Sabe-se que existe uma questão didática relevante em relação à transposição de um gênero de sua instituição de origem para a sala de aula e que, de acordo com Kleiman (2002), é necessário atentar para o fato de que se se entende a definição de gênero como entidade sócio-histórica e cultural determinada pelo seu contexto de produção, deve-se ter o cuidado de, em uma situação de transposição didática, manter ao máximo os aspectos comunicativos da situação social da qual se originou o gênero trabalhado. É interessante também, sempre que possível, recuperar elementos da situação social e da contextualização do texto. Por isso, houve a preocupação de trabalhar com artigos de opinião e textos publicitários atualizados.

3.1- ARTIGO DE OPINIÃO

O artigo de opinião utilizado na aula foi retirado da Revista Língua Portuguesa, Editora Segmento – fevereiro de 2007, cujo título é "O anuncio que ri de si mesmo", de Luiz Costa Pereira Júnior. É um artigo cuja forma de abordagem da questão discutida proporciona ampla discussão, e, por ser uma temática aberta que discute as "nuances" de se produzir textos publicitários dentro de uma visão autônoma e criativa, mas que não deixa de lado a textualidade dos gêneros, atende ao interesse de alunos dos diversos cursos da graduação.

A opção de trabalhar um artigo de opinião se deu, por ser um gênero da esfera jornalística que exerce grande influência política-ideológica na sociedade. Assim, de acordo com Rodrigues (2000, p.214), conhecer os mecanismos "lingüístico-discursivos requeridos para a compreensão e produção desse gênero é essencial para o efetivo exercício da cidadania, que passa pelo posicionamento crítico diante dos discursos".

No preparo da orientação didática, advogou-se parcialmente o roteiro proposto por Kleiman (1993, 1995, 1999), assim, procurou-se organizar o trabalho seguindo as seguintes etapas. Primeiro fora ativado o conhecimento prévio dos alunos fornecendo inicialmente somente o nome do título do texto e, em seguida, uma cópia da imagem que acompanha o artigo, a fim de que eles tentassem elaborar as primeiras hipóteses. Logo após, deu-se início a um trabalho de contextualização do texto, por meio de questões que levassem os estudantes a uma leitura global/exploratória e que dessem continuidade à ativação do conhecimento prévio. Por exemplo, uma questão em relação ao texto citado levava-os a relacionar a figura de um padre beijando uma freira a eventos importantes ocorridos no país ou no mundo próximos à data de publicação da revista.

Na seqüência, os textos foram distribuídos, mas os alunos foram orientados a não iniciarem ainda a leitura completa. Estabeleceu-se um objetivo de leitura para os alunos, que passaram, então, a leitura completa do texto, cujo objetivo deveria possibilitar ao aluno/leitor o reconhecimento da questão em debate e da posição defendida pelo autor do texto. Por fim, foram feitas perguntas que propiciassem ao educando uma leitura detalhada, a fim de que ele observasse as características que são específicas do estudo desse gênero: a localização das prováveis intenções do autor, provável público-alvo, recursos argumentativos utilizados, entre outras abordagens inferidas do texto.

3.2- PROPAGANDA

Levar a propaganda para a aula de leitura é essencial por quatro motivos: é de grande interesse dos alunos; contribui para compor o universo habitual dos educandos, em face ao enorme número de propagandas a que são expostos cotidianamente; colabora para que compreendam, interpretem e analisem os caminhos sutis que a propaganda percorre no sentido de nos induzir a incorporar determinados padrões de necessidade; coopera para formar leitores proficientes e críticos em relação à leitura, para poderem autonomamente agir.

A orientação didática da leitura da propaganda segue roteiro similar ao utilizado na leitura do artigo de opinião. Foi feita a ativação do conhecimento prévio dos estudantes; a contextualização da propaganda; o desenvolvimento de uma leitura global, por meio de questões gerais; e, em seguida, a elaboração de um rol de questões que proporcionassem aos alunos uma leitura com riqueza de detalhes. Desta forma, para a ativação do conhecimento prévio, construiu-se uma abordagem sobre as características relativas a esse gênero textual: os suportes nos quais ele geralmente circula, características de sua apresentação com o emprego de linguagem verbal e não-verbal e o seu papel na sociedade moderna. Em relação à leitura global, solicitamos aos alunos que respondessem: qual era a fonte, o público-alvo, a autoria, o provável objetivo do autor, entre outras questões.

Para a realização da leitura completa e detalhada verificou-se a parte constituída por uma linguagem não-verbal, primeiramente fora discutido um objetivo para a leitura o qual consistia em depreensão do tema central do texto; após, analisou-se a importância da linguagem verbal constitutiva da propaganda, cada aluno contribuía com suas visões de mundo para que de forma coletiva todos obtivessem o maior grau possível de informatividade e pudessem apreender o conjunto da mensagem, numa relação recíproca; em seguida, enfatizando a compreensão dos pontos principais fora elaborado um roteiro embasado em Citelli (1985) contendo questões como: Qual a temática da propaganda? Como a propaganda persuade? Onde está registrada a maior parte da propaganda? Qual o slogan da propaganda? Qual o silogismo do slogan? Etc. (Vide anexo 3).

No caso em tela, a importância da fotografia anexa à agenda, dos desenhos no papel e da figura da agenda dentro de uma mensagem publicitária. Algumas questões elaboradas nesta parte foram: A combinação de texto verbal e texto não-verbal se torna cada vez mais comum em nossa sociedade. O que representa o espaço físico, da página direita, desenhado na propaganda? Por que a perna e a chuteira desenhadas com a bola estão do lado oposto ao gol? Por que a bola, na fotografia, está acima da cabeça do menino e não nos pés, como no desenho ao lado? A posição dos braços do menino, na fotografia, pode representar um gesto mundialmente conhecido. Qual?

Na seqüência, verificamos a importância que cada palavra assume para compor as estratégias de persuasão dos anúncios publicitários, uma vez que um cliente em potencial, ao ler uma revista ou jornal, não o faz por causa dos anúncios, mas para conhecer os materiais de redação, as notícias veiculadas por este meio de comunicação. De acordo com Vestergaard e Schroder (2000), a primeira função da propaganda é chamar a atenção, ou seja, fazer com que as pessoas pratiquem a ação de ser voluntário, que corresponde ao tema central da propaganda. Algumas questões dessa parte foram: Qual é a parte lingüística destacada na propaganda? Que inferência você pode fazer orientado por esses dizeres? No texto, existem quatro palavras no grau diminutivo. Quais são elas e por que foram assim empregadas? Nessa série de interpretações que você realizou com este exercício, qual o possível sentido atribuído à palavra "campo"?

 

 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi o de propiciar ao aluno leituras críticas e questionadoras que procuram ir além de uma análise de texto para a obtenção de um sentido único. Para tanto, desenvolveu-se, no contexto de sala de aula, atividades de leitura com textos autênticos que circulam nas diversas esferas sociais. Buscamos associar o texto verbal, o texto não-verbal e o conhecimento de mundo numa relação de ancoragem a fim de que múltiplas leituras, análises e interpretações pudessem emergir, convergindo para uma idéia central e que houvesse a construção e reconstrução continuamente das hipóteses de leitura, numa tentativa de reconstituição do percurso utilizado pelo autor, de suas intenções argumentativas e dos recursos de linguagem empregados que almejam nos convencer. Espera-se que este trabalho possa contribuir para a formação de um profissional letrado que tenha proficiência tanto na leitura como na escrita.

Deste modo, pode-se  concluir que é de extrema importância à utilização em sala de aula, independente da disciplina de estudo, de diferentes gêneros textuais. O professor /orientador deve chamar a atenção do aluno/produtor para o plano composicional, o conteúdo temático e o estilo pertencentes a determinado texto que se pretenda  produzir e/ou que se está em interação. Com isto, certamente, ele estará contribuindo para a construção do(s) sentido(s) do texto, e observando a textualidade presente nos gêneros textuais, o que confirma a imbricação entre produção e compreensão. De acordo com KOCH (2002: 53):

O contato com os textos da vida cotidiana, como anúncios, avisos de toda a ordem, artigos de jornais, catálogos, receitas médicas, prospectos, guias turísticos, literatura de apoio à manipulação de máquinas, etc., exercita a nossa capacidade metatextual para a construção e intelecção de textos.

 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuasão. São Paulo: Ática: 1985.

KLEIMAN, Ângela B. Oficina de Leitura: teoria e prática. Campinas: Pontes, 1993.

______ . Contribuições teóricas para o desenvolvimento do leitor: teorias de leitura e ensino. In: RÖSING, Tânia M.K., BECKER, Paulo (Org). Leitura e animação cultural: repensando a escola e a biblioteca. Passo Fundo: UFP, 2002.

______ . Introdução: o que é letramento?. In: _____. (Org.). Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 1995.

KLEIMAN, Ângela B.; MORAES, Silvia E. Leitura e interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos da escola. Campinas: Mercado de Letras, 1999.

KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os segredos do texto, São Paulo: Cortez, 2002.

LOPES-ROSSI, Maria Aparecida G. O desenvolvimento de habilidades de leitura e de produção de textos a partir de gêneros discursivos. In_____. (Org.).Gêneros Discursivos no Ensino de Leitura e Produção de Textos. Taubaté: Cabral Editora e Livraria Universitária, 2002.

RODRIGUES, Rosângela H. O Artigo Jornalístico e o Ensino da Produção Escrita. In: ROJO, Roxane (Org.). A Prática de linguagem em Sala de Aula: praticando os PCNs. Campinas: Mercado de letras, 2000. (Coleção as Faces da Lingüística Aplicada)

VESTERGAARD, Torben. A linguagem da propaganda. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. (Coleção Idéias sobre Linguagem).


Autor: Paula Patrícia Santos Oliveira


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