Por um evangelho com mais cristo, e menos religião



            Neste início de segunda década do século XXI, o que hoje assumimos como sendo a Igreja Evangélica Brasileira está passando por uma crise de identidade que pode culminar no que podemos chamar de NOVA REFORMA PROTESTANTE. Uma reforma dentro do movimento protestante iniciado por Martinho Lutero no início do século XVI. Se formos fazer um paralelo entre tudo o que historicamente ocorreu no período pré-reformatório, do final do século XV e começo do século XVI, e tudo o vem ocorrendo nos últimos quinze anos, e com maior ênfase nos últimos cinco anos, no evangelicalismo brasileiro, eu diria que estamos na iminência de uma nova reforma sim.

            Para que o leitor menos atualizado possa se iterar do que está acontecendo é necessário entender que os moldes que hoje associamos aos evangélicos e, principalmente, às igrejas evangélicas destoam cada vez mais de tudo o que foi proposto por Jesus Cristo, ao qual tivemos acesso através dos quatro evangelhos. O teólogo Ricardo Quadros Gouvêia, professor da Universidade Mackenzie de São Paulo e pastor da Igreja Presbiteriana do Bairro do Limão afirma: “Ninguém tem dúvida de que espiritualidade é uma coisa boa ou que educação é uma coisa boa, mas as instituições que as representam estão sob suspeita.” Ora, chegamos ao novo século tão encharcados de dogmas, tradicionalismos, corrupção e misticismo quanto a igreja católica que Lutero tentou reformar no século XVI. Acabamos nos perdendo no linguajar ‘evangeliquês’, no moralismo, no formalismo, e deixamos de oferecer respostas para a nossa sociedade. Cada vez que eu ligo a televisão aos sábados, ou às madrugadas, fico abismado com tamanho descaso com o genuíno evangelho de Cristo. Com um vocabulário antigo-testamentário ‘pastores’ e ‘apóstolos’ usam palavras triunfalistas e meritocráticas como vitória, vingança, peleja, guerra, maldição etc para manipular e ‘encabrestar’ a grande massa. A teologia da prosperidade tem invadido os corações de pessoas que visam simplesmente o lucro e o bem-estar pessoal, esquecendo-se dos pobres, dos doentes, das viúvas, dos marginalizados. O que assistimos são, literalmente, seções de descarrego, orações super poderosas em busca de curas miraculosas. Os hinos que são entoados nas igrejas possuem letras cada vez menos cristocêntricas e mais antropocêntricas, onde o principal objetivo é massagear o ego dos “fiéis”, prometendo sete vezes mais, bênçãos dobradas, restituições, curas, milagres, mover sobrenatural, “mexer com sua estrutura”. Reuniões onde vemos (ouvimos) muita “zoada”, mas pouco, ou nenhum, mover do Espírito Santo. Sim, pois, sinceramente, não consigo acreditar numa espiritualidade fajuta onde a pessoa passa duas horas gritando, “glorificando”, “falando em línguas estranhas” e depois, ainda na porta da igreja, fica falando da vida alheia e esculachando a regente do conjunto de senhoras que estaria cantando muito mal.

            Alegro-me ao perceber que, aos poucos, algumas pessoas têm deixado de seguir as idéias loucas de líderes e mega-stars do mundo gospel (malafaias, macedos, valdemiros, soares, valadões, terranovas). Já existem pessoas preocupadas em pregar a Cristo, e a como a sua graça nos basta em tudo, e que não há necessidade alguma de buscarmos, esperarmos, nem mesmo pedirmos, aquisições materiais, ou riquezas.

            Não podemos nos esquecer de que o principal lema da Reforma Protestante, de Lutero, era “igreja reformada, sempre reformando”. Mas, infelizmente, podemos dizer que paramos no século XVI. Acho que esquecemos o “...sempre reformando”. Mas, assim como os pré-reformadores do século XV (John Wycliffe, Jan Huss, João Calvino,  Ulrico Zuínglio), temos também hoje homens dispostos a tudo pelo resgate da essência do evangelho de Cristo. Entre eles destacamos Ricardo Gondim (pastor da Igreja Betesda), Ed René Kivitz (pastor da Igreja Batista de Água Branca), Irani Rosique (líder cristão em Rondônia), Miguel Uchoa (pastor da Igreja Anglicana Espírito Santo) entre outros. Estes homens têm em comum a busca pela desinstitucionalização da igreja (a igreja como instituição, como é hoje, nunca foi proposta por Jesus Cristo) e por um evangelho mais humanizador e menos ritualista. Uma pessoa que vai a um culto no domingo em qualquer igreja evangélica verá sempre a mesma liturgia, o mesmo estilo de músicas, o mesmo “mantra gospel”. Transformação de vidas, banquetes, descontração, aspectos inerentes da presença de Jesus Cristo são simplesmente ignorados, pois não dão “ibope”, ou melhor, não trás retorno financeiro, não induz o povo evangélico a contribuir. O que vemos são templos suntuosos, milionários, contrastando com a miséria do povo brasileiro, muitos deles, inclusive, fiéis da própria igreja. Não me apetece um evangelho onde um irmão passa fome enquanto o pastor enriquece, anda de carro novo, com filhos na melhores escolas, às custas do pobre crente.

            Acho que esse modelo de Cristianismo está com os seus dias contados. Não sei se ainda nessa década, mas logo em breve veremos uma sinalização mais forte de mudança, de metanóia, por parte do povo evangélico. Enquanto isso não ocorre, devemos buscar a justiça proveniente do amor de Deus, principalmente lutando contra as injustiças sociais e a miséria, ajudando os pobres, vestindo o nu, amando ao nosso próximo. Esse é o verdadeiro evangelho.     Acho que esse modelo de Cristianismo está com os seus dias contados. Não sei se ainda nessa década, mas logo em breve veremos uma sinalização mais forte de mudança, de metanóia, por parte do povo evangélico. Enquanto isso não ocorre, devemos buscar a justiça proveniente do amor de Deus, principalmente lutando contra as injustiças sociais e a miséria, ajudando os pobres, vestindo o nu, amando ao nosso próximo. Esse é o verdadeiro evangelho.

 


Autor: Elion Souza Da Silva


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