Justiça A Hanry – Pela Beleza Do Rio De Janeiro



O Rio de Janeiro é lindo. Apesar dos altos índices de violência. Apesar das deficiências no setor da na saúde, do caos do trânsito, da miséria que contrasta com a vasta prosperidade de algumas regiões. O Rio de Janeiro é lindo por suas belezas naturais. Pelo clima sempre agradável. Pelo sorriso caloroso e pela incansável boa vontade de seus habitantes. Mas, principalmente, o Rio de Janeiro é lindo pela coragem, determinação e perseverança estampadas no rosto e gestos destes indivíduos, heróis anônimos ou alçados à popularidade indesejada, integrante incondicional das tragédias que infelizmente fazem parte da crônica carioca. Indivíduos que, mesmo dilacerados pelo sofrimento, pela dor da injustiça e da perda de seus entes queridos, encontram forças para lutar, e ânimo para incutir em nós – cidadãos acuados – a chama da esperança.

Ontem, num dos quadros da 23ª edição do Criança Esperança, foram chamados ao palco parentes de vítimas da violência nos estados, entre eles os pais do menino João Roberto Amorim Soares, morto a tiros por policiais do 6º BPM, na Tijuca, em desastrada operação policial. Mais uma vez, emocionado, o taxista Paulo Roberto Soares afirmou que, a despeito da mágoa, é possível ir em frente, e levar felicidade a outrosque sofrem (referindo-se às crianças a quem foram doadas as córneas do filho).Também estavam presentes as mães de Acari e da Providência, entre outras. Foi o momento mais tocante do programa.

O esforço de seguir adiante, no entanto, não é eternamente laureado pelo apoio, carinho e incentivo da população, que depende dos meios de comunicação para se inteirar dos fatos. Depois que o espetáculo se finda, que as luzes se apagam e é recolhido todo o material, aos protagonistas resta a saudade, e a opção de trilhar o destino, levando ou não, aos outros e a si mesmos, um pouco de consolo. Muitos sustentam a luta, que se torna um dos objetivos da vida – o que não é fácil, dada a falta de recursos do anonimato, uma vez que ser pauta em geral é privilégio do presente. Como exemplo de falta de espaço na mídia, o caso abaixo:

Em 21 de novembro de 2002, Hanry Silva Gomes de Siqueira, de 16 anos, foi assassinado no Morro do Gambá, Complexo do Lins e Vasconcelos, com um tiro no peito. Seria só mais um bandido encontrado morto por policias depois de confronto, com arma e trouxinha de maconha, segundo versão oficial. Seria. Se não fosse a luta de sua mãe, Márcia de Oliveira Jacintho, que tinha certeza de que o filho não era criminoso. A princípio sozinha, depois com ajuda de vizinhos, da imprensa e de mães e familiares de outras vítimas, enfrentou a burocracia e a má vontade do judiciário – tão comum quando se trata de jovem pobre, negro, morador de favela. Venceu a resistência, e seu empenho trouxe à tona as circunstâncias: no dia do ocorrido, não houve tiroteio, conforme alegação dos policiais, que foi desmentida por diversas testemunhas. Um dos laudos periciais comprovou que Hanry foi morto de perto, com tiro disparado de cima para baixo. As provas encontradas contra o rapaz, nada mais que o chamado "kit bandido", implantado para justificar a execução. Diante do novo cenário, o Ministério Público apresentou denúncia contra os policiais Paulo Roberto Paschuini e Marcos Alves da Silva (apenas dois dos nove envolvidos no crime), que, ainda assim, continuaram a exercer suas funções.

Márcia não esmoreceu. Procurou ajuda financeira para pagar advogado criminalista como assistente de acusação junto ao MP. E conseguiu contratar o conceituado Maurício Neville. Mas os gastos são diversos. E são bem vindas doações para a sua conta poupança, Agência 6171 e Conta 06913-8 / 500, do banco Itaú. Podemos encontrar o nº. desta conta no site da Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência (diga-se de passagem, única que encontrei, até agora, que noticiou a data do julgamento). Através de contato anunciado na rede, tive a oportunidade de conversar com ela por telefone, e posso dizer que é uma mulher extraordinária. Firme, corajosa, e, sobretudo, ciosa de que prevaleça a verdade. No processo – nº. 2006.001.144501-4, contra Marcos Alves da Silva – consta seu próprio nome como assistente de acusação. Natural, haja vista sua atuação ativa na elucidação do caso.

O julgamento de Marcos Alves da Silva está marcado para o dia 12 de agosto, às 13h, no 3º Tribunal do Júri – fórum do Rio, na Rua Erasmo Braga 115, corredor C, sala 210. Haverá manifestações no local. Presença da população, em apoio, é bem vinda. Espera-se que seja feita justiça. Para conforto da consciência de uma mãe sofredora, mais uma heroína, até o último instante batalhadora. Para desagravo de uma população amedrontada. Para a perpetuação da esperança em nossos corações, e principalmente, para que possamos continuar cantando, sem remorsos, as belezas do nosso Rio de Janeiro.


Autor: Daniele Barizon


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