A parábola da figueira e o significado de "não passará esta geração"



Muitos pregadores insistem em dizer que a figueira é uma ilustração de Israel e do judaísmo. Dizem também que Israel voltou a brotar e renovar suas folhas quando voltou a ser uma nação novamente em 14 de maio de 1948. Em conexão a isto surgiram diversas interpretações de que a “geração” que viu Israel se tornar nação novamente não passaria. Por isto, alguns calcularam o tempo de uma geração de quarenta anos e marcaram a vinda de Jesus para 1988. Como Jesus não veio nessa data, outros acrescentaram ao cálculo que uma geração tenha 70 anos. O ano de 1948 mais 70 anos é igual a 2018. Agora os marcadores de datas afirmam que Jesus virá em 2018! 

O problema é que a figueira não tem sido sempre a representante da nação de Israel. Se há uma árvore que representa Israel, é a oliveira (Romanos 11.17, 24). Se a figueira sempre foi à representante de Israel, parece um pouco estranho que Paulo tenha usado uma oliveira para representar a nação israelita. Os versículos usados para tentar provar que a figueira representa Israel são Jeremias 24.1-8; 29.17; Juízes 9.10, 11 e Oséias 9.10. Em Jeremias 24.1-8, figos bons e maus (não árvores) ilustram Israel no cativeiro, e há também menção de figos em Jeremias 29.17. No livro de Juízes 9.10 a referência a figueira não é Israel. O mesmo se dá em Oséias 9.10 que diz: “O SENHOR Deus diz: — Quando encontrei Israel pela primeira vez, fiquei alegre como quem acha uvas no deserto e, ao ver os antepassados de vocês, fiquei contente como quem vê os primeiros figos maduros”. (NTLH)
Observe nesses versículos que a referência sempre é em relação a figos e não às árvores. Também, nem as referências a figueira em Mateus 21.18-20, Marcos 11:12-14 com sua interpretação em Marcos 11:20-26, dá qualquer indicação de que Jesus se referiu a Israel, mais do que a montanha que se refere neste último versículo.
Por último, o texto de Lucas que é paralelo de Mateus 24.32-34 nos esclarece melhor a respeito da parábola da figueira: “Ainda lhes propôs uma parábola, dizendo: Vede a figueira e todas as árvores. Quando começam a brotar, vendo-o, sabeis, por vós mesmos, que o verão está próximo. Assim também, quando virdes acontecerem estas coisas, sabei que está próximo o reino de Deus. Em verdade vos digo que não passará esta geração, sem que tudo isto aconteça”. (Lucas 21.29-32 – o grifo é meu)
Observe que na versão de Lucas, Jesus conta a parábola da figueira e acrescenta “todas as árvores”. Se a figueira ilustra Israel e o que dizer de “todas as árvores”? A verdade é que Jesus usa a parábola da figueira referindo-se a uma simples árvore. A comparação é que da mesma forma que a figueira e todas as outras árvores começam a brotar quando o verão está próximo, os sinais descritos por Jesus também são a prova de que o reino de Deus está bem próximo. Sem uma garantia clara da Escritura, a má interpretação da parábola da figueira realizada por muitos continuará servindo de falsas especulações e marcações de datas sobre a volta de Jesus.

“Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça”.  (Mateus 24.34)

Em conexão a parábola da figueira temos a expressão “não passará esta geração”. A compreensão de como “esta geração” é usada por Jesus é importante e não pode ser evitada. Essa expressão é a chave para saber quando serão ou quando foram ocorridos os acontecimentos proféticos descritos em Mateus 24. O que Jesus quis dizer com essas palavras é muito simples! Nos versículos anteriores de Mateus 24.34 começando a partir do versículo um Jesus fala dos sinais de sua “Vinda” tais como: a destruição do Templo de Jerusalém, guerras, rumores de guerras, pestes, fomes, grande tribulação, o escurecimento do sol e da lua e a sua vinda com poder e muita glória. O que Ele quis dizer é que a “geração” que visse todos esses sinais não passaria ou morreria sem que todos eles fossem cumpridos.
Qual geração seria esta? A que estava viva no tempo de Jesus? Alguma outra futura mais de dois mil anos depois? A nossa geração? A resposta correta é que a tal “geração” era aquela que estava viva nos dias de Jesus.
Para se referir à “geração” que veria aqueles sinais, Jesus usou o pronome demonstrativo “ESTA” e não o pronome demonstrativo “ESSA”. Os pronomes demonstrativos são de dois tipos: próximo e distante. O pronome demonstrativo “ESTA” refere-se a algo ou objeto que esteja próximo de quem fala (no caso Jesus). Com relação a tempo, retrata um período relacionado ao tempo presente ou que ainda não terminou. Se Jesus quisesse dizer a respeito de outra geração teríamos em nossas traduções os pronomes demonstrativos “ESSA” ou “AQUELA”. O pronome demonstrativo “ESSA” relaciona-se à pessoa ou objeto que esteja um pouco afastado de quem fala (no caso Jesus). Com relação a tempo retrata um período de tempo passado ou futuro próximo. Já o pronome demonstrativo “AQUELA” relaciona-se à pessoa ou objeto afastado de quem fala (no caso Jesus). Retrata também um passado distante.
Portanto, caso a referência fosse a qualquer outra geração menos a dos dias de Jesus, a frase poderia ser assim:

“Em verdade vos digo que não passará [ESSA] geração sem que tudo isto aconteça”.

“Em verdade vos digo que não passará [AQUELA] geração sem que tudo isto aconteça”.

Caso o leitor não aceite esta explicação, com toda certeza terá problemas com outras passagens do evangelho que também se referem aquela geração dos dias de Jesus. A seguir vou comparar Escritura com Escritura para provar que “esta geração” era uma referência a geração daqueles dias de Jesus na terra:

Mateus 11.16: “Mas a quem hei de comparar ESTA GERAÇÃO? É semelhante a meninos que, sentados nas praças, gritam aos companheiros...”.

Mateus 12.41, 42: “Ninivitas se levantarão, no Juízo, com ESTA GERAÇÃO e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas. A rainha do Sul se levantará, no Juízo, com ESTA GERAÇÃO e a condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis aqui está quem é maior do que Salomão”.

Mateus 23.36: “Em verdade vos digo que todas estas coisas hão de vir sobre a presente geração [ou ESTA GERAÇÃO]”.

Marcos 8.12: “Jesus, porém, arrancou do íntimo do seu espírito um gemido e disse: Por que pede ESTA GERAÇÃO um sinal? Em verdade vos digo que a esta geração não se lhe dará sinal algum”.

Lucas 7.31: “A que, pois, compararei os homens da presente geração [ou ESTA GERAÇÃO], e a que são eles semelhantes?”

Lucas 11.30, 31, 32: “Porque, assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, o Filho do Homem o será para ESTA GERAÇÃO. A rainha do Sul se levantará, no Juízo, com os homens DESTA GERAÇÃO e os condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis aqui está quem é maior do que Salomão. Ninivitas se levantarão, no Juízo, com ESTA GERAÇÃO e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas”.

Lucas 11.50, 51: “...para que DESTA GERAÇÃO se peçam contas do sangue dos profetas, derramado desde a fundação do mundo; desde o sangue de Abel até ao de Zacarias, que foi assassinado entre o altar e a casa de Deus. Sim, eu vos afirmo, contas serão pedidas a ESTA GERAÇÃO”.

Lucas 17.25: “Mas importa que primeiro ele padeça muitas coisas e seja rejeitado por ESTA GERAÇÃO”.

Caso “esta geração” pudesse ter outro significado em Mateus 24.34, porque nas passagens anteriores não poderiam também? Mas por que, exatamente em Mateus 24.34, “geração” ganha esse significado especial da parte de alguns, sendo que essa palavra é usada no seu sentido comum nas demais vezes que aparece no Novo Testamento?
E para endossar mais ainda, veja como Mateus 24.34 foi traduzido na Nova Tradução na Linguagem de Hoje: “Eu afirmo a vocês que isto é verdade: essas coisas vão acontecer antes de morrerem todos os que AGORA estão vivos”. (o grifo é meu)

Outra coisa que devemos levar em consideração é a audiência que estava ouvindo Jesus naquele momento do sermão profético, ou seja, seu público alvo. O Senhor Jesus faz uso da segunda pessoa do plural mostrando assim que os discípulos veriam aqueles acontecimentos proféticos dentro daquela geração. A segunda pessoa do plural (vós) pode ser rastreada desde o início do capítulo 24 de Mateus:

Verso 2: “Ele, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada”.

Verso 4: “E ele lhes respondeu: Vede que ninguém vos engane”.

Verso 9: “Então, sereis atribulados, e vos matarão. Sereis odiados de todas as nações, por causa do meu nome”.

Verso 33: “Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas”. (Mateus 24.33 – o grifo é meu)

Observe que até o versículo 33 o público alvo de Jesus não muda. Eram os discípulos e sua geração que veriam todos aqueles sinais proféticos. Se Jesus tivesse uma futura geração em vista, muito provavelmente Ele teria pulado o início da frase “assim também vós” e começado de “quando virdes todas estas coisas”. Veja também que no versículo 33 além do uso da palavra vós, aparece o pronome demonstrativo “ESTA” no plural (todas estas coisas) indicando mais uma vez que aqueles sinais seriam próximos dos discípulos.
Alguns insistem em dizer que a palavra grega genea (geração) em Mateus 24.34 pode ter também o sentido de família, raça ou nação, ou seja, “geração” significaria a “raça judaica”. Neste caso, os defensores de tal posição têm um problema ainda maior. Jesus disse que aquela “geração” não passaria sem que tudo fosse cumprido. Logo, quando tudo for cumprido a “geração” ou “raça” terá que passar ou deixar de existir e isto vai contra aqueles que acreditam que há promessas de Deus concernentes a nação de Israel após a segunda vinda de Cristo.
Termino com as sábias palavras do escritor Gary DeMar:

“Geração não significa “raça” no inglês [nem no português!], como Scofield insiste. O American Dictionary of the English Language de 1828, de Noah Webster, define “geração” como “uma simples sucessão na descendência natural, como os filhos dos mesmos pais; por conseguinte, uma era. Assim, dizemos a terceira, a quarta, a décima geração. [...] As pessoas do mesmo período, ou vivendo ao mesmo tempo: 'Ó geração incrédula e perversa.' [...]” Noah Webster lista “raça” como o sexto significado possível. O The Shorter Oxford English Dictionary (edição de 1968) lista “raça” como o último significado possível. O uso contemporâneo também milita contra usar “geração” como um sinônimo para raça. Quando falamos de um “generation gap”, não queremos dizer um hiato entre raças. Uma “generation gap” é um intervalo de tempo que existe entre dois grupos de pessoas que viveram em eras diferentes. A palavra grega genea, em seu “significado natural não forçado”, quando se comparando Escritura com Escritura, significa “geração”. E no caso de Mateus 24:34, a geração a quem Jesus estava falando. Isso significa que a profecia entregue por Jesus sobre o Monte das Oliveiras é agora história”.**

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Referências:

* César Francisco Raymundo é Editor da Revista Cristã Última Chamada. Site: www.revistacrista.org

** Artigo: Esta Geração ou Esta Raça? Autor: Gary DeMar. Fonte: Last Day Madness, Gary DeMar, p. 183-188. Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto. Site: www.monergismo.com

 


Autor: Cesar Francisco


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