Um grito na noite



UM GRITO NA NOITE

Nem tudo é o que parece ser.

Época em que se passa a estória: Atual.

Local: algum lugar do Brasil.

Personagens:

DOUGLAS: 40 anos, corretor de imóveis.

RAQUEL: 38 anos, médica, esposa de Douglas.

RITTER: 65 anos, militar aposentado, vizinho de Raquel.

HEITOR: 27 anos, filho de Ritter.

SUZANA: 35 anos, irmã de Raquel.

ADILSON: 39 anos, arquiteto, marido de Suzana.

SILVIO: 41 anos, carpinteiro, ex-namorado de Raquel.

AFONSO: 45 anos, investigador de policia.

JUNQUEIRA: 61 anos, delegado de polícia civil.

LUCIANO: 30 anos, criminoso, assaltante e assassino.

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DOUGLAS PARA RAQUEL, DURANTE O CAFÉ DA MANHÃ: - A casa tem dois pavimentos, mas é bem menor, fica numa rua sossegada, sem muito movimento e não está muito longe do centro. É o que você deseja, não é?

RAQUEL RESPONDE FAZENDO UM GESTO: - Pois é, isso mesmo. Esta aqui é muito grande, não precisamos de cinco quartos!...

DOUGLAS: - Se você quiser, eu te levo lá para ver!

RAQUEL, OLHANDO PARA AS FOTOGRAFIAS SOBRE A MESA: - Não precisa, estou vendo que é uma boa moradia.

DOUGLAS: - Tem dois quartos, cozinha, sala de estar e um gabinete onde você pode escrever e organizar suas coisas. O pátio é grande, tem um belo jardim e a rua não tem esse movimento de carros que tem aqui e que te incomoda...

RAQUEL, SORRINDO: - Tá bem, amor, pode comprar.

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Na segunda feira, ao meio dia, Douglas chegou do trabalho com sua inseparável maleta preta.

RAQUEL, NA COZINHA PREPARANDO UM LANCHE: - Você não avisou que vinha almoçar! Eu teria preparado algo melhor, querido!

DOUGLAS, ABRINDO A MALETA SOBRE A MESA: - Não se preocupe, nem estou com fome. Eu trouxe os papéis da compra da casa para você assinar.

RAQUEL: - Eu tenho que assinar também?

DOUGLAS: - Claro, meu amor, somos casados!

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Sentada diante do computador, Raquel tentava dar continuidade ao projeto que estava desenvolvendo, mas aquele grito em algum lugar lá fora a deixou inquieta. Fazia três semanas que eles estavam morando na nova casa. Estava satisfeita com a moradia, casa era pequena e eles não precisavam de empregada, por enquanto não, ela mesma cuidava dos afazeres domésticos e ainda tinha tempo para trabalhar à tarde na clínica.

Eles resolveram mudar de bairro depois de uma discussão alguns dias antes, com esperança de que novos ares e longe da família, o relacionamento deles ganharia novas forças.

Ela estava no gabinete pesquisando na internet material sobre doenças degenerativas, quando ouviu uma voz em tom alto, exprimindo o que parecia ser um chamado urgente. O som tinha partido da casa vizinha.

O relógio marcava 18h10min. Douglas ainda não havia chegado. Raquel ergueu-se e foi até a janela olhando para fora, para a moradia ao lado. A casa, cercada por um muro coberto de musgo, ficava a 30 metros de distancia. Era uma casa antiga de madeira, com um alpendre e uma paineira na frente. Ali morava o senhor Walter Ritter, militar aposentado, viúvo, que ela veio conhecer alguns dias atrás quando estava plantando algumas flores no jardim. Douglas tinha comprado a casa dele.

Com uma vassoura, o senhor Ritter varria as folhas mortas que caiam das árvores naquele início de outono. Ao vê-la, aproximou-se do muro e cumprimentou-a.

RITTER, DEBRUÇANDO-SE SOBRE O MURO: - Bom dia, vizinha! Seja bem-vinda ao nosso bairro!

Ela deixou o que estava fazendo e aproximou-se.

RAQUEL: - Bom dia! Como vai o senhor?

RITTER, SORRINDO: - Tudo bem! Então, está gostando da nova moradia?

RAQUEL: - Sim, senhor. É uma boa casa e o lugar é bem sossegado. Nós morávamos no centro, onde tem muito barulho, muita agitação. Aqui é sossegado e não fica muito longe de nosso trabalho.

RITTER: - Eu sei, seu marido me falou. Fico satisfeito que tenha gostado. Eu moro aqui há uns vinte anos. Sou viúvo há cinco anos e moro sozinho. E a senhora não tem filhos?

RAQUEL: - Não. Por enquanto não.

Raquel interrompeu os pensamentos sobre o vizinho, ao lembrar-se da irmã quando lhe fez uma visita num domingo, duas semanas atrás. Elas estavam na cozinha conversando enquanto preparavam o almoço. Douglas e Adilson tinham saído para comprar cerveja.

SUZANA, CORTANDO TOMATES NUM PRATO: - Por que você não tem um filho? Um filho vai te trazer muitas alegrias, é o sonho de toda mulher.

RAQUEL, COLOCANDO ARROZ NUMA PANELA: - Até agora não engravidei e não quero nem saber por quê.

SUZANA, SURPREENDIDA: - Como, não quer saber?! Um dos dois tem algum problema! Vocês têm que fazer exames, talvez um tratamento!

RAQUEL, SACUDINDO A CABEÇA: - Não quero! Prefiro deixar assim...

SUZANA: - Você não gosta mais do Douglas? É isso? Acha que o casamento não deu certo? Fala minha irmã!

RAQUEL: - Eu gosto dele, sim!

SUZANA: - Às vezes gostar não é o suficiente. Douglas e Silvio gostavam de você. Douglas é bonito, é arquiteto, Silvio não é nenhum Apolo, mas é simpático e era um simples carpinteiro, mas você escolheu Douglas por que era bonito e tinha uma boa profissão. Hoje Douglas ainda tem o mesmo emprego, mas não progrediu, ao contrario, Silvio tem hoje a seu próprio negócio, uma fábrica de móveis. Eu fico pensando, será que você não se arrependeu por ter se casado com Douglas?

RAQUEL: - É claro que não, não me casei por dinheiro!

SUZANA: - Sei que o Silvio ainda gosta de você. Ele não perde as esperanças....

RAQUEL, PEGANDO UMA TIJELA NO ARMÁRIO: - Você tem alguma coisa contra o Douglas?

SUZANA: - Não, mas fiquei com um mal estar desde aquela vez que ele ameaçou te bater...

RAQUEL, NUM TOM DEFENSIVO: - Ele estava bêbado, perdeu a razão! Aquilo nunca mais se repetiu.

Raquel voltou a pensar naquele grito, ao olhar para a casa de Walter Ritter. Havia luz numa das janelas, provavelmente no quarto dele. Ela esperou algum tempo observando o lugar e como não viu nenhum movimento e nenhum outro som, voltou ao computador. Nuvens negras começaram a cobrir o céu e a noite chegou mais cedo.

Um relâmpago clareou o exterior seguido de um trovão. As luzes se apagaram de repente. Raquel se assustou. A casa estava às escuras e ela tinha medo do escuro.

Uma voz em tom alto soou novamente na casa de Walter. Perturbada, ela vestiu uma blusa, desceu, saiu para a varanda e ficou por um momento olhando para a moradia ao lado. Alguma coisa estava acontecendo lá. Walter morava sozinho, talvez tivesse sofrido um acidente! A chuva começou a cair. A energia elétrica voltou. Agora havia luz no interior da casa de Walter. Decidindo-se a investigar, dirigiu-se para lá. Encontrando a porta da frente apenas encostada, empurrou-a e entrou numa sala pequena, com um sofá, mesa de centro e uma estante contendo alguns livros, um aparelho de televisão e um toca-discos.

RAQUEL: - Senhor Ritter! Sou Raquel, a sua vizinha!

Silencio.

RAQUEL, ELEVANDO O TOM DE VOZ: - Senhor Ritter, o senhor está em casa?

Um grunhido soou em algum lugar nos fundos e ela decidiu avançar por um corredor iluminado por um abajur sobre uma cômoda. Passou por uma porta aberta que revelava a entrada de um porão imerso na escuridão e após dar dois passos, parou e retrocedeu ao ouvir um rangido. Voltou a olhar para a entrada do porão. Da escuridão lá em baixo surgiu um ser disforme, corcunda, com um dos olhos semifechado por uma membrana enrugada, o olho vermelho, a boca úmida retorcida para um lado, alguma coisa escura escorrendo da testa pela face de pele áspera, o braço esquerdo pendendo ao lado do corpo, a mão com os dedos dobrados como se fosse uma garra ameaçadora. Raquel gritou de pavor, recuou esbarrando na cômoda e fazendo o abajur tombar no assoalho. Como o monstro obstruía a saída, ela correu para o interior da casa, procurando a saída dos fundos. Chegando à cozinha, encontrou Walter caído no assoalho junto ao fogão. Ela não se deteve, tentou abrir a porta dos fundos, mas não conseguiu.

RITTER, ERGUENDO O TRONCO: - Calma! Não tenha medo!

RAQUEL, DESCONTROLADA: - Quero sair! Deixe-me sair!

RITTER, PROCURANDO ACALMA-LA: - Dona Raquel, olhe para mim! Heitor é inofensivo, não te fará mal algum. Heitor sente-se, tenha modos!

O monstro puxou uma cadeira e sentou-se com um gemido. Um filete de sangue escorria de um pequeno ferimento na testa. Encostada na porta, Raquel permaneceu indecisa.

RITTER: - Heitor é meu filho. Nasceu assim. Fisicamente tem 27 anos, mas a idade mental é de uma criança.

Raquel procurou não olhar para o rapaz e agachou-se junto a Walter.

RAQUEL, RECUPERANDO-SE AOS POUCOS DO SUSTO: - O que aconteceu com o senhor?

RITTER: - Me senti mal, com uma dor no peito. Acho que desmaiei.

RAQUEL, AJEITANDO OS CABELOS: - Vou chamar uma ambulância!

Naquele momento as luzes se apagaram novamente. Raquel soltou um grito involuntário. Heitor acendeu uma lanterna.

RITTER, PARA O RAPAZ: - Fique onde está, Heitor. Espere até as luzes voltarem.

RITTER PARA RAQUEL: - Me ajude a sentar. Não tenha medo. Não há nada o que temer da escuridão, não existem monstros, ninguém e nada vai te atacar. Vamos esperar pelas luzes. Heitor foi procurar uma lanterna no porão, e no escuro deve ter batido a cabeça em alguma coisa...

Ritter sentou-se numa cadeira de balaço. Raquel pegou o pulso dele para medir as pulsações. Parecia normal, mas se ele teve um princípio de infarto precisava ir para o hospital.

As luzes voltaram a se acender.

RAQUEL: - O senhor precisa ir para um hospital!

RITTER: - Não! Estou bem. Acho que Heitor é quem precisa de um curativo.

Raquel olhou para o ferimento na testa do rapaz. Era no supercílio esquerdo, um ferimento superficial, mas que podia infeccionar.

RITTER: - No banheiro têm curativos.

Raquel estremeceu com a idéia de chegar perto de aquele ser feio asqueroso!

RITTER, APÓS UMA PAUSA: - Pode cuidar dele? A senhora é médica. Estamos em boas mãos...

Raquel lembrou-se de seu juramento hipocrático, não podia se negar a ajudar aquele ser disforme. Ela foi até ao banheiro e voltou com um estojo de primeiros socorros. Com mãos tremulas e evitando olhar aquele rosto horrível, limpou o ferimento e fez um curativo. Heitor permaneceu quieto, soltando um risinho infantil, como se tudo fosse uma brincadeira. Aos poucos Raquel percebeu que podia olhar aquela face disforme e constatar que o rapaz nada tinha de monstruoso. Era apenas um ser humano com um defeito congênito.

RITTER: - Desculpe por ter mentido, dizendo que vivia sozinho...

RAQUEL: - Eu entendo. Tem certeza de que não quer ir para o hospital?

RITTER: - Não! Estou bem. Vou tomar uma sopa e me deitar. Se precisar de ajuda eu mando Heitor procurar à senhora. Combinado?

RAQUEL: - Está bem, qualquer coisa mande me chamar. Preciso ir agora, até logo. Eu encontro a saída.

Raquel saiu rápida e voltou para casa. O telefone tocava. Ela achou que era Douglas.

RAQUEL: - Alô?

DO OUTRO LADO DA LINHA SOOU UMA VOZ DE MULHER: - Teu marido te engana, ele tem outra!

Raquel ficou surpresa com a revelação. Não podia acreditar em tal coisa. Só pode ser trote. Pensando assim, ela desligou.

Mas, a mulher insistiu e ligou novamente.

A MESMA VOZ DE ANTES: - Eu era amante do Douglas e deixei-o porquê me bateu por pouca coisa. Odeio homens violentos. Ele falou que vai receber uma grana grande quando ficar viúvo. Entendeu? Acho que teu marido vai te matar para receber o seguro. Fique esperta....

O telefone foi desligado. Raquel ficou surpresa, desconcertada com aquelas revelações. Douglas batendo em mulher? Ela estava casada com ele há cinco anos e parecia que não o conhecia verdadeiramente. Ele nunca bateu nela, porem uma vez esteve a ponto de bater, certa noite quando chegou bêbado em casa. Ela esteve a ponto de deixá-lo.

Estaria a mulher falando a verdade? Um seguro de vida sendo Douglas o beneficiário? Ela não se lembrava de ter feito seguro de vida! Talvez o documento estivesse entre os papeis da compra da casa que Douglas trouxe para ela assinar. Ela tinha assinado os documentos sem ler! Nunca lhe passou pela cabeça que seu marido pudesse enganá-la de alguma forma...

Raquel vasculhou todos os lugares em que o marido guardava documentos e não encontrou nenhuma apólice de seguros. O documento poderia estar no escritório dele, onde ficaria longe das vistas dela. Raquel ficou pensativa, raciocinando. Precisava de provas para incriminá-lo, caso ele pretendesse mesmo matá-la. As luzes voltaram a apagar-se. Raquel dirigiu-se para a cozinha, com a ajuda da luz dos relâmpagos que atravessavam as vidraças das janelas. Pegou uma lanterna, ligou-a e voltou a subir para o gabinete. Postou-se diante da janela para correr as cortinas, quando percebeu um vulto atravessando o jardim. Não deu para ver quem era. Talvez fosse Douglas. Logo depois, na entrada, soou um ruído de vidro se quebrando. Ela decidiu descer. Estava no meio da escada quando o facho da lanterna iluminou o homem parado lá em baixo, olhando para ela numa atitude ameaçadora. O sujeito vestia um traje preto de malha e uma touca ninja, os braços retesados caídos ao longo do corpo, a mão direita empunhando uma faca de lâmina comprida. Raquel sentiu o estômago contrair-se, a lanterna escapou de sua mão. Imediatamente deu meia volta e voltou a entrar no gabinete, trancando a porta. Pegou o telefone fixo para ligar para a polícia, mas a linha estava sem sinal e ela estava sem o celular, o aparelho tinha desaparecido. Logo depois o sujeito começou a forçar a porta, atirando-se contra ela. O trinco de má qualidade não resistiu e a porta abriu-se com violência. Quando o homem entrou, Raquel, que estava encostada a parede, com a lanterna desligada, passou por ele aproveitando-se da pouca visibilidade e do fator surpresa, mas

no corredor, onde havia alguma claridade que vinha da rua através das vidraças, o homem alcançou-a e segurou-a pelos cabelos. Raquel gritou, dobrando-se para trás, caiu de costas e começou a ser arrastada. O sujeito largou a faca, pegou a lanterna que havia caído e dirigiu-se para a escada, puxando Raquel atrás de si. Estacou de repente ao ver uma figura horrenda surgir no térreo. Seus dedos se afrouxaram e a lanterna escorregou para o chão, rodando por um momento, com o facho de luz cortando as sombras. Raquel gritou por socorro e o monstro subiu o mais rápido que pode com seu andar bamboleante. O bandido se apavorou, largou a sua vitima e recuou, pensando desesperadamente num meio de fuga. Quando aquele ser disforme se deteve junto de Raquel, o homem projetou-se correndo em direção da escada, porém, o corcunda esticou o braço e conseguiu segura-lo pela malha. Mas, não por muito tempo, a malha rasgou e o bandido gritou, perdeu o equilíbrio, caindo pela escada, rolando pelos degraus como um boneco de pano até chegar ao assoalho do primeiro piso e ali ficar inerte, com a cabeça torcida para um lado.

Por um instante ouviu-se apenas o ruído da chuva lá fora.

RAQUEL, RECUPERANDO-SE E PEGANDO A MÃO DE HEITOR: - Agora está tudo bem. Vamos descer.

Ela desceu devagar, passou pelo corpo do bandido com Heitor seguindo seus passos. Verificou que o telefone continuava mudo. Heitor começou a fazer sinais, dizendo que ela devia ir à casa de Ritter. Walter a estava chamando.

Chegando a casa de Ritter, Raquel encontrou-o na cama, ainda com dor no peito. Ela telefonou chamando uma ambulância e avisou a policia sobre o homem que havia invadido sua casa.

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Raquel permaneceu no jardim, conversando com o investigador Afonso Telles, enquanto os peritos examinavam o interior da sua casa. Na casa de Walter, os paramédicos o atendiam. Ao ver o carro do marido estacionar no meio fio, ela foi ao encontro dele. Douglas correu pelo gramado até onde estava um policial isolando a área com uma fita. Outro policial barrou-lhe o caminho.

DOUGLAS, NUM TOM DE AFLIÇÃO: - Eu moro aqui! Aconteceu alguma coisa com minha mulher?

Só então ele viu Raquel que se aproximava. Ele ficou surpreso em vê-la e ela olhou-o como se o visse pela primeira vez.

DOUGLAS: - O que aconteceu?

Naquele instante o investigador Afonso dirigiu-se a eles.

AFONSO: - Gostaria que o senhor e a senhora me acompanhasse até a delegacia.

Quase uma hora depois na delegacia, Douglas e Raquel são levados a uma sala reservada onde estão o delegado Olavo Junqueira e o investigador Afonso Telles.

DELEGADO JUNQUEIRA: - O homem que atacou a senhora está morto, quebrou o pescoço ao cair da escada. Chama-se Luciano Lineu. É um assassino procurado pela justiça.

AFONSO, COLOCANDO UM GRAVADOR SOBRE A MESA: - Encontramos um telefone celular no bolso da calça do sujeito. Verificamos que ele tinha ligado para o senhor, senhor Douglas duas vezes, uma de manhã e outra à tarde. Gostaria que o senhor e a senhora dona Raquel, ouvissem isso.

DOUGLAS, PERPLEXO: - Não recebi ligação nenhuma! Não conheço nenhum Luciano!

O policial ligou o gravador:

A voz do gravador era a de DOUGLAS: -: Alô?

ALGUEM DO OUTRO LADO DA LINHA: -: Senhor Douglas? Sou eu, Luciano.

VOZ DE DOUGLAS: - Sim. Terminou o serviço?

VOZ DA PESSOA QUE DIZIA SER LUCIANO: - Sim, senhor. Sua mulher está morta.

VOZ DE DOUGLAS: - Fez como combinamos? Quebrou o pescoço dela e jogou-a escada abaixo? Tem que parecer que foi um acidente.

-: Sim, senhor, como combinamos.

VOZ DE DOUGLAS: - Ótimo! Farei o resto do pagamento no local combinado.

Afonso desligou o aparelho e encarou Douglas que parecia sentir-se mal.

AFONSO: - Foi eu quem fez a ligação fingindo ser Luciano. Aliás, ele é suspeito de matar a esposa, há uns três anos.

DELEGADO PARA DOUGLAS: - O senhor está preso por tentativa de homicídio.

DOUGLAS, TRANSTORNADO: - Não é a minha voz! Não sou eu....

Apesar dos protestos dele o delegado algemou-o.

Raquel ergueu-se e com uma expressão serena, saiu da sala.

Ela só conseguiu chorar quando ficou sozinha em casa. Tinha sofrido uma grande desilusão, mas, aprendeu que nem tudo é o que parece ser. E que a vida segue e sempre há chances de ser feliz novamente algum dia. Como Ritter ficou internado no hospital, ela levou Heitor para a clínica, internando-o como paciente.

Walter Ritter faleceu alguns dias depois. Heitor passou a viver na Clínica de Repouso e Reabilitação, onde Raquel trabalhava como médica e diretora. Douglas permaneceu preso aguardando julgamento. Para Raquel o casamento deles tinha acabado, ela decidiu esquecer tudo, o susto, a desilusão, o sofrimento, porque apesar de tudo, a vida é bela.

Alguns meses depois, quando Silvio telefonou convidando-a para jantar, ela aceitou no mesmo instante, dando a si mesma a oportunidade de ser feliz novamente.

FIM

ANTONIO STEGUES

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Autor: Antonio Stegues Batista


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