"Flagra da farinha"



Existem histórias na Polícia que são difíceis de se acreditar, mesmo para quem as testemunharam e por isso muitas acabam virando folclore. Como dizia o falecido amigo, o radialista campineiro Wanderley Doná, muitos casos acabaram "na Bacia das Almas". Mas como o povo diz que "todo boato tem fundo de verdade" e quem somos nós para desmentir a sabedoria popular, não é mesmo?, vamos revelar alguns desses "causos" em crônicas. Este teria acontecido perto de importantes Delegacias de Campinas(SP).

Um policial recém incorporado à instituição, um rapaz esforçado, ficou radiante ao receber a dica de um informante sobre possíveis grandes partidas de "farinha"- na gíria policial é como se trata o entorpecente cocaína- que seriam descarregados num estabelecimento comercial daquelas imediações, quase nas barbas dos policiais mais experientes. Como a transação era feita bem cedo, na "madrugadona" mesmo, talvez ninguém tenha se dado conta em conter os audaciosos "traficantes", teria dito o tal informante, certamente para valorizar sua informação.

Certo de que um flagrante de tal porte seria importante para a carreira, o jovem policial não mediu riscos ou consequências. Ele faria a operação sozinho, em total sigilo. Dito e feito, o policial carrega e confere a munição de sua arma, deixa algemas prontas e fica de "campana", ou seja em observação, para esperar o grande momento. A noite passa calma, a madrugada chega gelada e não há nenhuma alteração, até que aparece uma Kombi e estaciona perto do estabelecimento.

O cauteloso policial se certifica de que o "traficante" não trazia escolta e pensa: "a prisão será mais fácil do que eu pensava, o 'mala' está sozinho". O motorista desce da Kombi e se prepara para abrir as portas laterais da mesma e quase morre de susto ao ser abordado pelo policial armado que, aos berros, pergunta: "cadê a farinha, cadê a farinha ?". 

Atordoado e com as pernas tremendo mais do que vara verde, o motorista só consegue responder: "tá tudo aqui, senhor... tá tudo aqui...". Dentro do veículo estão pelo menos dez sacos, daqueles de 60 quilos cada, cheios de pó branco. O policial toca o pó com o dedo indicador e depois o leva para a ponta da língua para constatar a pureza da cocaína. "Que brincadeira é essa ... isso é farinha de trigo ?!", diz o policial. Ainda assustado, o motorista da Kombi diz: " mas eu falei para o senhor que era farinha... sou o fornecedor das padarias dessa região... eu deixo o carro perto da Delegacia com medo de ser roubado...".   

O policial dá uma desculpa qualquer e deixa o local sem a certeza se o informante deu uma grande mancada ou se aquilo foi mais uma brincadeira dos próprios colegas de Polícia. Não há informação se apareceu alguém para tirar um sarrinho da situação, mas dizem que a história corre como sendo verdadeira e alguns dizem que dois Duendes e o Coelho da Páscoa apareceriam como testemunha do flagrante de tráfico (artigo 12). Há!, como está chegando a época de Natal, o Papai Noel também poderia ser testemunha, mas como tem gente que ainda não acredita nele e não sabemos como anda a memória do Bom Velhinho é melhor “incluí-lo fora dessa...”         

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Autor: Edson Terto Da Silva


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