A escrita literária feminina como propulsora de emancipação e identidade da mulher na contemporaneidade.



UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ-UEVA

PRÓ-REITORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA-PROED

ESPECIALIZAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA

DISCIPLINA- SEMINÁRIO LITERÁRIO 1

Professora: Liciany Rodrigues

 

 

 

A escrita literária feminina como propulsora de emancipação e identidade da mulher na contemporaneidade.

 

 

 

 

Aluno: Wilkemar Freitas Bispo

 

 

 

 

 

 

 

Sobral-Ce

2011

Palavras-Chave: ESCRITA FEMININA. LETERATURA CONTEMPORÂNEA. ESCRITA MASCULINA. EMANCIPAÇÃO FEMININA. IDENTIDADE FEMININA.

 

Justificativa

A busca por criarmos essa pesquisa nasce do desejo de compreender mais o universo feminino. Universo este que será depreendido através da escrita literária feminina mais precisamente no século vinte e um.

A nossa curiosidade aqui se evidencia na produção literária da mulher e os seus mistérios que até então eram poucos explorados, só passando a ser mais divulgados na contemporaneidade, com a mulher agora sendo agente na construção de seu meio. A partir daí expõe-se o seu modo de pensar e as suas angústias, sufocadas com maior frequência em séculos anteriores.

Para essa pesquisa, conta-se com a contribuição de autores como: Cunha (2001), Priore (1997), Prado (1999) entre outros. Esses livros nos proporcionaram conteúdos significativos para a realização dessa pesquisa.

 


Delimitação do problema

Esse projeto é fundamentado a partir da leitura de alguns teóricos, possibilitando a compreensão da identidade feminina por meio da literatura. Como se percebe a dificuldade de se ter uma sociedade mais flexível, e com influencia feminina ativa, mais complexo e difícil vem se tornado a participação da mulher nas atitudes sociais.

Levantamos aqui algumas hipóteses que possam modificar essa cultura masculina que imperou e vem imperando principalmente em sua escrita. São elas: A escrita feminina, as informações que a mulher vem conquistando em uma época contemporânea, a ampliação de mulheres falando de si e do que lhe incomoda, a troca de papéis entre o gênero masculino e feminino na modernidade no tange o próprio trabalho etc.

 


Objetivos

Geral

  • Perceber a escrita literária feminina frente à escrita masculina na contemporaneidade, e a sua contribuição na construção da mulher comosujeito no processo social.

Específicos

  • Entender a mulher no contexto literário atual;

  • Focar a literatura como meio de emancipação da mulher e realizadora de sua própria descoberta;

  • Observar a literatura como promovente da identidade feminina.

 

Metodologia

Essa pesquisa é assistida de fonte bibliográfica. Contamos com a contribuição de autores como: Woof (1996), Yourcenar (1980), Cunha (2001) entre outros para reforçar a temática abordada em tal pesquisa.

A pesquisa de cunho bibliográfico encontrada aqui enriqueceu o estudo em questão. Esse estudo tenta abordar a mulher contemporânea e a influência que pode exercer a escrita literária em sua vida e em sua independência social.

 

Sumário

  • A escrita feminina na contemporaneidade e suas possíveis vitórias;

  • A mulher no contexto literário atual e o os impasses advindos da escrita masculina;

  • A literatura e a sua contribuição para a emancipação feminina;

  • Literatura e identidade no âmbito feminino.

 

Embasamento teórico

Nota-se que as marcas que separam a mulher dos privilégios masculinos ainda é patente. Na literatura, essa ótica não seria diferente. A mulher, até o final do século dezenove era vista como um ser passível. Quando a escrita masculina acometia a mulher, esta era só vista como uma carência e uma possível satisfação do ego masculino. O que tangia os mistérios femininos e às suas angústias eram sufocados.

O homem ao escrever sobre a mulher, permitindo-a protagonista de sua obra, como a romântica Iracema e a realista Capitu no século dezenove, expunha-se a sua vida, seus modos e postura, porém não se permitia a sua voz. Omitindo a possibilidade de sua posição em meio ao social por meio da literatura.

Cunha (1990, p. 121) demonstra bem a percepção que se tem da mulher pelo homem em um trecho de seu conto, o pai:

 

O pai parado na porta entre o quando e agora. Por que você chegou tarde? Onde já se viu moça de família na rua até estas horas? Você sabe que horas são? Pelo amor de Deus, pai, eu tenho quarenta anos, até quando você vai pedir satisfações de minha vida?

 

 

Embora a escritora vivencie esse dilema, demonstrando a sua indignação com relação à sua inferioridade ao homem, a sua escrita privilegia aquilo que esse considera, deixando clara a submissão feminina por meio da palavra.

A partir do século vinte e vinte e um conseguimos perceber a escrita feminina tomando maiores dimensões. A escrita da mulher até então pouca explorada, passa agora a falar de si para o outro e não do outro e os seus julgamentos sobre ela. O se preocupar com o que o outro pensa, principalmente o outro masculino, foi olvidado pela mulher.

O poema de Adélia Prado, Com Licença poética (1976) faz uma contraposição ao poema de Carlos Drummond de Andrade, denominado Poema de sete faces. Objeto de nossa pesquisa, mostrará um indício de que a mulher passa a transgredir as máculas de uma literatura masculina, apresentando a literatura feminina como fonte de transformação social.



Com licença poética


Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo.  Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

 

Poema de Sete Faces

Carlos Drummond de Andrade

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

 

A autora reconhece as suas limitações, admitindo coisas realizáveis só por homens: “vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie envergonhada.” Contudo, destaca uma crítica quando cita a mulher como uma espécie ainda envergonhada, ou seja, enclausurada por meio de conceitos masculinos que regulam a sociedade, impedindo-a de se colocar como igual.

A escritora ao se remeter à bandeira, ratifica e associa essa expressão ao grande escritor Manuel Bandeira, considerando-o um grande nome no meio literário, assim como o título do texto sugere uma ponte com o poema de Drumond, intitulado Poema de sete faces. Essa conversa entre os escritores mencionados acima e com gêneros diferentes reforça o reconhecimento do eu feminino, uma vez que o ser humano só constrói a sua identidade conhecendo a do outro e assim se tornando distinto.

Apesar da escritora citar escritores em seu poema e dialogar com a obra dos mesmos, fez também proporcionar aquilo que é da mulher e comum à sua literatura “cumpro a sina, inauguro linhagens , fundo reinos’’. Percebe-se a partir dessa passagem do poema a capacidade da mulher em ser autêntica e guerreira, e sujeito na literatura e no meio em que vive, diferente da postura tomada por Drummond, espelhada pelo eu poético em seu poema, que se omite e se acovarda de encarar a vida e as dores que o mundo oferece.

A autora se torna mais natural quando reflete em seu poema a consciência de que as tristezas enfrentadas são fatos e os encara com arrojo. Corroborando a sua força e vontade de viver, desmistifica a ótica masculina de a mulher ser o “sexo frágil”, pois se ver desdobrável “mulher é desdobrável. Eu sou”.

Na luta incessante da mulher em tornar justo e igual os direitos e deveres masculinos e femininos, Priore (1997, p.8) diz o seguinte : “A história das mulheres é relacional, inclui tudo que envolve o ser humano, (...) Nessa perspectiva, a história das mulheres é fundamental para se compreender a história geral: do Brasil, ou mesmo aquela do ocidente cristão.”

Dar à mulher o direito de ser mulher é descaracterizar o que a concederam como característica, isto é, a doméstica, que cuida do lar, que lava roupas e serve ao marido sexualmente quando este assim o quer. Considerando-a um ser relacional, implica dar-lhe importância porque és importante, já que és agente nas opiniões e manifestações sociais e políticas se nos apoiarmos na fala da autora citada acima.

A cultura masculina, responsável por vetar aquilo que advém da mulher, contribui de certa forma para que a literatura feminina não descansasse e não se achasse insignificante. A concepção de que só havia uma literatura, tida como masculina, servia para o homem como um mecanismo repressor da literatura feminina. Há muito tempo a mulher escreve e questiona as irregularidades originadas de um sistema patriarcal. Na tentativa de se eternizar como autor e sinônimo de poder e controle social, o homem se nomeia cânone. Nesse sentido a literatura perde um pouco a sua essência e a identidade de um povo.

Cunha (2001, p.22), a respeito do assunto literatura masculina versos literatura feminina discorre dizendo: “Na arena das discussões e das polêmicas, tantas vezes nervosas e irritadas, avulta a questão da sobrevivência ou da derrubada do cânone literário, que antes servira de baliza e medidor para autorizar a admissão da obra no céu dos eleitos ou seu banimento daquele mundo dos Deuses.”

O processo de canonização na literatura parece está associado à cultura vigente, mediante a ótica da autora acima citada. Nesse aspecto só era assistido ao homem essa condição, já que o poder centralizava-se em suas mãos, dispersando a sua literatura e limitando a palavra de autoria feminina, que por conseguinte se localizava à margem de tudo(cultura, sociedade, política).

Em com licença poética espera-se que haja uma mudança na visão que se tem da mulher na sociedade. Sociedade esta que ainda conserva a hegemonia do homem. Contudo, a voz feminina já começa a ser divulgada e desacorrentada das amarras que a prendiam. A censura masculina que tenta calar a voz feminina parece está sendo desfeita. Paliativamente, mas já é uma evolução.

De acordo com Yourcenar (1980, p. 22) é dito:



Como toda gente, só disponho de três meios para avaliar a existência humana: o estudo de nós próprios, o mais difícil e o mais perigoso, mas também o mais fecundo dos métodos: a observação dos homens, que na maior parte de casos fazem tudo para nos esconder os seus segredos e de nos convencer que os têm; os livros, com erros particulares de perspectiva que nascem entre as linhas.





A alternância de papéis pode já representar um avanço na emancipação feminina. Antes, a mulher só era revelada como alguém de quem se fala perante a literatura e tratada assim na sociedade. Hoje se posiciona e fala do homem dando-lhe lugar de objeto e não somente o de sujeito.

Algumas escritoras de séculos passados como Florbela Espanca, Marguerite Duras e Safo já despertavam para esse descontentamento feminino que se materializava na inibição de sua voz praticada pela imposição do homem. Esse descontentamento instigou a mulher a produzir textos literários com mais freqüência, com foco em seus mistérios e na sua necessidade de expor na sociedade a sua dignidade e a sua importância, intuindo se desfazer de séculos de censura que as estigmatizaram e as estigmatizam.

Sobre as dificuldades enfrentadas pela mulher, Woof (1996, p.49) salienta: “Na verdade creio que ainda passará um longo tempo antes que uma mulher possa sentar para escrever um livro sem encontrar um fantasma para ser assassinado, uma rocha para ser golpeada.” Essa assertiva exemplifica uma sociedade machista e propagadora de uma oligarquia. Nessa condição, o homem parece está fadado a mandar e à mulher cabe obedecer e seguir aos quereres masculino.

Adélia Prado deixa claro essa cultura criada pelo homem no início de seu poema aqui abordado “quando nasci um anjo esbelto, desses que toca trombeta, anunciou: vai carregar bandeira.” A simbologia do sofrimento e empecilho femininos parecem estar presentes no perfil do anjo, que por ser esbelto, parece ser frágil. Aparenta ser fado a peregrinação sofrível da mulher aqui na terra. Há de se reportar nesse contexto, o mito do pecado original, ou seja, quando Adão e Eva são expulsos do paraíso, atribuindo-se à mulher como pagamento de seu pecado a submissão ao homem e a ampliação de sua dor no parto, assim como é assistido à Eva ser a protagonista de todo esse pecado em razão de ter comido o fruto proibido e não à Adão.

A condição para que a mulher consiga ser lembrada como um ser útil e agradável é a sua permanência na prática da escrita, expulsando os pesadelos e as correntes que visam contê-la.

Deixamos à disposição o projeto elaborado, com as expectativas de que possa ser alterado se for preciso, bem como aprofundado se for útil. Ressaltamos que aqui apenas se esboça uma tentativa de conhecer mais o universo feminino, as suas conquistas e os obstáculos que a mulher se ver incluída em uma sociedade que ainda cultiva o pensamento dominante do gênero masculino.







Indicação bibliográfica

Autores

http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/b/ bagagem

Acessado em 27/10/11



Geral

CUNHA, Helena Parente. Introduzindo novos, mas antigos desafios In:__(org) Desafiando o Cânone (2)- Ecos de vozes femininas na literatura brasileira do século dezenove/coletânea de trabalhos de alunos de pós graduação em teoria literária. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras da UFRJ,2001. Série coletâneas. 2v.

CUNHA,Helena Parente. As Doze Cores do Vermelho. 2 ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1988.

PRIORE, Mary Del (org). História das Mulheres no Brasil. 2 ed., São Paulo: contexto, 1997.

YOURCENAR, Marguerite. Memórias de Adriano, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

WOOF, Virgínia. Profissão para Mulheres. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

 

 

 

 


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