Dualista



 

                                            Dualista

 

Se eu fosse você...

Se eu fosse você sua vida não seria assim...

E se você fosse eu...

Se você fosse eu... A minha vida...Como seria...

 

 

Ele você aí! Que mora debaixo do viaduto e sequer me pediu... Não me consultou... A mim, cidadã que quer ver sua cidade bonita, livre de bandidos, assaltos, crimes, corrupções, greves, filas imensas em prontos socorros, onde muitos morrem sem sequer terem sido atendidos... De mendicância, crianças nos faróis, de gente morando como você... Enfeando a cidade.

Saia daí e venha ficar onde estou e olhe daqui para ver o quão deprimente é o lugar onde você mora. Mora?Não... Onde você fica com sua imundice, seu corpo sujo, cachorro ao lado, para que você se sinta dono de algo ou alguém, numa relação oprimido/opressor, que faz de você um ser vivente, participante da vida tão sua, tão nada e ao mesmo tempo tão plena do pouco que lhe basta. Do tudo no nada que você possui. Você não se dá conta de que está se esquecendo de viver... Subproduto da vida, paralisado pela impotência de ser alguém.

Vem, vem ficar do lado de cá comigo e veja o que a vida fez com você.

Tirou sua dignidade, seu amor próprio, seu orgulho, sua vaidade, o desejo de vivenciar suas possibilidades... Fez de você um estranho para você mesmo, um joão ninguém, transformou-o em coisa nenhuma, em qualquer coisa... Paralisado pela impotência de se modificar, de ser alguém, deixando que o curso de sua vida ao léu? O que você pensa disso, se é que pensa?  

-É a mim que você chama mulher? Você quer que eu saia daqui e fique a seu lado? Do outro lado? Por quê? Pra que? Quem é você, quem você pensa que é criatura?Por que você deseja que eu aja de acordo com o que você quer? A soberba? Para Santo Agostinho, a soberba não é grandeza é inchaço. E o que está inchado não é saudável. Por que é que eu a incomodo? O que é que a mim sobra e a você falta?Será talvez a minha liberdade de ir e vir a meu bel prazer, a qualquer hora?Vamos, fale. O que foi? Você emudeceu? Pensou que eu não soubesse me expressar? Que não soubesse o porquê das palavras existirem? Pensou que as palavras uma vez proferidas continuariam suas?Não... Elas agora a mim pertencem, como as minhas são suas. Faça delas o que melhor lhe aprouver. Você pode ouvi-las e jogá-las ao vento. Ou ouvi-las e tentar encontrar o significado que a elas dei. Você me critica e ao me criticar me agride. Você sequer percebe que se esconde ao falar mal de mim. Sente medo que descubram suas frustrações, sua infelicidade. Será que esse é o meio que você encontrou para passar despercebida pela vida? Você tem medo de buscar auxílio e a mim quer auxiliar?  Por que se arvora em juiz, mulher? Por que se arvora em ser tão grande, em nosso mundo tão pequeno? E aí... O que você quer fazer comigo? Diminuir-me? Pra que, se você já me considera tão pequeno tão insignificante? Será que quando você começou a pensar e falar, quase se esqueceu de sentir? O seu olhar está voltado para mim, julgando que devo mudar, enquanto deveria estar voltado para si mesma, que vive num mundo à parte sem perceber, formado por fantasias, ilusões, desejos. Estranha a si mesma, frustrada talvez por não ser o que quer, não ser sua própria dona, cuja vida quer viver e não consegue. E então tenta mudar a minha. Pobre mulher...

Como diria o filósofo André Comte-Sponville, “como eu seria feliz,se fosse feliz”.

Heloisa

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Autor: Heloisa Pereira De Paula Dos Reis


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