Filosofia: a admiração em busca do saber



 

 

 

FILOSOFIA: a admiração em busca do saber

 

*Leandro Maciel de Lira

 

MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 5. Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.

 

            Neste texto de Aristóteles, vemos que a tentativa de resposta mediante a admiração e o espanto é algo inerente ao ser humano, e que, este mesmo ser humano desde os primórdios tem buscado não somente satisfazer as suas necessidades fisiológicas, mas também sua sede de saber, que, em último se torna a sua maior necessidade. É bem verdade que o ser humano carece de conhecimento e é bem verdade também que ele nunca se acomodou em simples respostas, pois, sabia em sua intuição que as respostas com o passar do tempo não atenderam aquilo que eles mais aspiravam: o conhecimento!

            É, pois, sobre este conhecimento que o primeiro parágrafo trata. O conhecimento não reside no saber tudo, mas, se instala naquele que tem a capacidade de se aproximar do saber (Philosophos). Ainda no decorrer deste trecho, o autor tratará de enaltecer a sabedoria, tornando-a superior àqueles que a procuram e afirma que, os que estão mais próximos da mesma se tornam superiores, pois, intelectualmente não são nivelados aos demais. É verdade que é bem plausível as descobertas mais intelectuais e que merecem relevância e elogio, mas, o homem não pode dizer-se superior, somente por entender alguns “mistérios” mais afundo que os demais, pois, em potencia todos são passíveis de conhecer, tornando-se assim possível, que qualquer um que tenha sede de conhecimento e se aproxime do saber, chegue à mesma capacidade cognoscitiva que os demais filósofos ou até superior, ao menos em tese e esclarecimento. Sócrates entendia bem isso, pois, fazia com sua ironia, com que os demais pudessem aperceber-se da complexidade das causas e dos fins de todas as coisas, porém, a maioria não se interessava por estas questões, restringindo-se, assim, o saber especulativo aos filósofos,

aos quais, como já disse devemos todo aplauso, porém, não necessariamente curvar-nos em submissão, pois, a capacidade cognoscitiva nos atinge a todos, embora a preguiça da busca também fira a muitos.

            A continuidade da discussão no segundo parágrafo se dá pelo entendimento que o autor tem, de que nenhuma fonte de conhecimento se inicia pela compreensão das coisas particulares, mas, ao contrário, deve-se apreender o conhecimento daquilo que é mais universal possível, para que enxergando além, possam as idéias ir se organizando e afunilando-se. Neste parágrafo, Aristóteles ainda mostra que a busca do homem não pode parar em meras respostas, mas, deve sempre fazer com que estas respostas, sejam cada vez mais concisas e possam estar em constante estado de aperfeiçoamento. Neste ponto concordo com a opinião do autor, porque em si o homem tende a buscar o perfeito, embora, ele não seja perfeito, e com a busca da perfeição quanto às respostas o tornará mais perfeito; quanto à dinâmica desta busca que os impulsiona a caminhar, não segundo suas convicções, mas, segundo a sua capacidade cognoscitiva que por sinal é indizível e inimaginável. Em suma, é necessário deixar-se apreender pelo (logos), a razão que não nos estatiza, mas, propõe-nos uma dinâmica eficaz.

            Embora curto, o terceiro parágrafo, comporta grande parte da idéia central do texto, pois, o autor dialoga o princípio da filosofia como sendo algo que buscasse respostas, mais especificamente: quais seriam o primeiro princípio, a causa de existência e o fim último de todas as coisas?

Este processo de indagação inquietante e infreável se estende ao longo do quarto parágrafo, ratificando assim, o princípio filosófico como ‘questionamento curioso’. Rompendo o pensamento utilitarista que sempre acompanha o homem no decorrer dos séculos, Aristóteles lembra que filosofia em si é amor ao conhecimento e que esse conhecimento não se absorve ou se apreende de forma mágica, mas sim, gradativamente, dependendo do desempenho e da curiosidade que faz o homem buscar e ter sede de saber mais, acerca do desconhecido. Ele ainda dá importância à visão mitológica, argumentando que os mitos já são como que um sair da ignorância e engatinhar rumo do saber, que por sua vez não aprisiona o homem por ser algo externo, mas, por ser algo intrínseco, algo que o ser humano tenta de toda forma se aproximar. Do quarto parágrafo, vale ainda ressaltar que a compreensão de existência é exclusividade do gênero humano, daí independência do saber e, por conseguinte do homem e da filosofia. A filosofia girava em torno de si e mesmo assim tem em si um ego misterioso que atrai a atenção de todos. Muitos podem dizer que não gostam dos mais variados campos que a ciência atua, mas nunca se ouviu dizer que alguém, não gostasse de pensar, refletir, perguntar, isso é sim o que de fato deu origem a filosofia.

            Neste quinto parágrafo, vemos Aristóteles especificando ou esmiuçando o campo do conhecimento, remetendo às indagações filosóficas a respeito das divindades. Ele ainda consegue explanar a figura divina como uma das causas gerais, um princípio norteador do inicio de tudo e consegue enfim por seu discurso elevar a metafísica à dignidade de ciência (ciência no sentido de saber) mais excelsa que as outras.

Nos dois últimos parágrafos o autor consegue encaixar o conhecimento como melhor caminho para vencer a ignorância causada pela preguiça referente à busca do saber e encerra seu discurso dizendo que ainda hoje e até os séculos dos séculos, o princípio do saber será sempre o espanto, a indagação ou a inquietação diante das respostas simplistas e rápidas que costumamos dar as coisas e aos mistérios que nos tangem. É de se concordar com o autor neste ponto, pois, sabemos que toda forma exatidão que conhecemos se instaurou porque de início tínhamos uma indagação norteadora. Por isso o filósofo mais do que o homem do conhecimento é em si o homem que gera conhecimento através das indagações próprias e compartilhadas.

            Por fim entendemos que a beleza do texto se dá pela capacidade de reconhecimento endereçada à indagação, pois, a mesma é princípio da solidez do conhecimento. É ainda reconhecida neste texto a importância do perguntar-se sobre tudo e que o conhecimento em si, gera certezas, mas, também gera mais dúvidas e gera enfim a dinâmica do caminho. Caminho esse que se dá nas trilhas do saber e que todo homem tem profunda necessidade de trilhá-lo.

           

            


Autor: Leandro Maciel De Lira


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