Da moralidade: o quinto mandamento a partir do pensamento agostiniano: homicídio e suicídio.



DA MORALIDADE:

O QUINTO MANDAMENTO A PARTIR DO PENSAMENTO AGOSTINIANO:

HOMICÍDIO E SUICÍDIO.

           

Com a modernidade o homem influenciado, primeiramente, pelo pensamento dos iluministas, caiu numa tendência egocentrista e racionalista. Desse modo, distanciou-se de Deus, de seus mandamentos e preceitos, ignorando sua Onisciência, Onipresença e Onipotência. E, falando de mandamentos e preceitos e em relação aos mesmos, percebemos que o ser humano, a cada década que passa, vai envenenando sua moral com uma falsa liberdade (libertinagem), que o leva a executar ações que proporcionam prazeres momentâneos puramente carnais e que causam, num primeiro momento, conforto e satisfação, porém fere a Deus e a si mesmo, pois cai no pecado e na desobediência. Por causa dessa liberdade ilusória o ser humano, muitas vezes, chega ao extremo de querer matar o seu próximo e mesmo tirar sua própria vida para que se justifique algo que ultrapassou da racionalidade humana e suas normas e, no caso dos cristãos, algo que manchou sua moral diante de Deus. Entretanto, essa não é a forma coerente de se justificar dos nossos pecados e dos pecados que fomos forçados a cometer contra a nossa vontade. Para entendermos melhor sobre esse assunto vamos nos orientar por um dos maiores doutores da Igreja: Aurélio Agostinho, ou seja, Santo Agostinho. Ele que nos fará entender o presente tema: DA MORALIDADE: O QUINTO MANDAMENTO A PARTIR DO PENSAMENTO AGOSTINIANO: HOMICÍDIO E SUICÍDIO!

            Deus criou o ser humano por vontade e por vontade enviou o seu próprio Filho, para que morresse numa cruz, para a remissão dos pecados de toda a humanidade. Por essas duas certezas podemos perceber a imensa misericórdia e amor que o Criador tem pelos homens. Cabe salientar também que, por Ele ser esse Deus de infinita misericórdia e amor, Ele nos dar de livre vontade o dom da liberdade, ou seja, o livre arbítrio, o direito de escolha entre o bem e o mal. Porém, nos indica o caminho certo e a verdadeira liberdade, mas não nos obriga a segui-los. Uns dos caminhos que nos foram dados por graça divina são os dez mandamentos da Lei de Deus. Pois o homem (precisava) e precisa de regras que lhe ajude a não vacilar frente às tentações oriundas do mal. Aqui, todavia, iremos enfatizar precisamente o quinto mandamento que nos diz: “Não matarás!”

            O ser humano muitas vezes para justificar erros cometidos por outro recorre à ação de fazer justiça com as próprias mãos, ou seja, de matar seu semelhante e, até mesmo, de matar-se. Entretanto, um erro não justifica a pratica de outro, pois só estaríamos alimentando a vontade do pecado e do mal. E mesmo, ao chegarmos a este ponto de cometer um homicídio ou suicídio estaríamos falhando duplamente contra Deus, primeiro porque estaríamos infligindo o mandamento de não matar e segundo porque cairíamos numa tendência de não acreditar na misericórdia divina. Pois, com a vinda, morte e ressurreição de Jesus Cristo ficou bem mais firmada a imensidão da misericórdia de Deus. De modo que, mesmo que o homem erre (pecado), mas se ele reconhece que pecou, arrepende-se, pede perdão a Deus e promete não cometer mais tal erro com certeza o Pai limpará toda a sua culpa e lhe dará a chance de ser um homem novo. No entanto o homem, não em sua totalidade, prefere desobedecer ao quinto mandamento e pecar contra a vida do que acolher a vontade de Deus e os Seus julgamentos que são justos e misericordiosos. E Agostinho deixa bem claro que quem faz isso contra o semelhante ou a si, mesmo que para justificar o erro, é considerado culpado: “[...] quem mata o irmão ou a si mesmo é réu do crime de homicídio”. (AGOSTINHO, 1961, p.84)

            No livro Cidade de Deus, Santo Agostinho vai contar-nos a história de Lucrécia, que se matou porque a estupraram e, paralelamente, citará as virgens cristãs, que sofrendo provações como tais não se puseram a cometer o mesmo erro de Lucrécia. Mas, de fato, qual foi o crime de Lucrécia, se ela somente queria salvar-guardar sua castidade? Então, nada mais justo que ela tirar a própria vida, ou seja, exterminar aquele corpo que se tornara impuro pelas mãos do seu agressor, e cultivar limpo o seu espírito por toda a eternidade? Poderíamos afirmar que sim, se refletíssemos de forma egocêntrica, contudo não se define correta a ação dessa mulher. Pois, como se percebe na obra, se Lucrécia impõe-se a executar tal ato seja porque no momento da agressão ela teria sido preenchida da vontade, do sentir prazer nessa ação contra ela e atormentada decide matar-se para não passar pela vergonha de descobrirem isso? Mesmo assim não seria sensato e moral. Temos o exemplo das virgens cristãs que sofreram crime da mesma natureza do de Lucrécia, no entanto não cometeram o mesmo erro. Porque no caso das virgens apenas um cometeu adultério, ou seja, a carne foi forçada a fazê-lo, porém, o espírito continuava na sua integridade e castidade diante de Deus! Não é cometendo um crime contra si mesmo por causa de crime alheio que iremos ter mais conforto, ao contrário, estaremos cometendo outro crime e, crime grave contra a vida humana, desobedecendo nosso Deus que é tão rico em misericórdia. E Ele não nos orienta em nenhuma hipótese praticar o homicídio ou o suicídio.

“[...] Ninguém deve matar-se, nem para fugir das aflições temporais, para não cair nos abismos eternos, nem por causa de pecados alheios, porquanto a fuga a crime alheio que nos deixa puros vai arrastar-nos a crime pessoal, nem por causa de pecados antigos, pois a penitência, ao contrário, tem necessidade da vida para curá-los, nem pelo desejo de vida melhor, cuja esperança está depois do falecimento, porque o porto de vida melhor no além-túmulo não se abre para os suicidas” (AGOSTINHO, 1961, p. 89 – 90). Nesse trecho Agostinho é bem claro em relação ao suicídio. Por mais que seja justificável, aos olhos humanos, a contingência de tal ato, nenhuma pessoa tem o direito de tirar a própria vida, ainda que possa praticar tal crime (a questão da liberdade para escolher o bem ou o mal), pois seria está em desacordo à vontade de Deus que quer “que todos tenham vida”. Tal ato não pode ser visto nem como penitência, sendo que, para que se curem os pecados ela necessita da vida. Deus Pai que está nos Céus jamais vai querer que seus filhos tirem suas próprias vidas por causa de crime algum e não se faz necessário agirmos desse modo, pois o Seu Filho Unigênito já se doou na cruz para que nossas vidas fossem poupadas da morte e principalmente da morte eterna. Desse modo, praticar o suicídio seria não crer nas promessas de Jesus Cristo e duvidar da bondade e misericórdia divina. Santo Agostinho questiona ainda: “Fugirem, matando-se, à injúria das suspeitas humanas, não seria declinar da autoridade da lei divina?” (AGOSTINHO, 1961, p. 82). Logo, a lei divina que recebemos, e está escrita no Decálogo, é de que “não devemos matar” a vida humana. E ele continua: “[...] já não temos de entender senão do homem a palavra da lei: “não matarás” pessoa alguma, nem mesmo a ti. Com efeito, quem se mata não é matador do homem?” (AGOSTINHO, 1961, p. 83).

Na hipótese que uma pessoa queira submeter-se a morte voluntária para se livrar das impurezas desse mundo e/ou para evitar as provações e, por conseguinte, não cair em tentação e não pecar, já que pelo batismo somos lavados de todas as nossas impurezas, poderíamos concordar que essa seria uma boa alternativa, ao ponto que somos livros para fazê-la, mas não devemos, pois, não condiz com o amor infinito de Deus que defende a vida e a faz existir. Desse modo, agindo conforme essa hipótese, o ser humano, estaria pecando contra a vontade de Deus e cometendo um crime abominável. E isso Santo Agostinho nos ajuda a compreender melhor afirmando: “[...] é impossível dizer sem abominação: “Morre, aproveita a recente absolvição, para evitares terríveis recaídas, vivendo neste mundo, que não passa de volúpias impuras, crueldades inauditas, erros, terrores, sedução, furor e ameaça eterna”. Sim, é crime falar desse modo; portanto, matar-se é crime. Se houve alguma vez razão legítima para a morte voluntária... Mas nem mesmo nesse caso há; logo, não há nunca.” (AGOSTINHO, 1961, p. 91)

Portanto, o quinto mandamento quando se refere a não matar engloba a vida humana em si. Não importa se foi homicídio ou suicídio a partir do momento em que a pessoa humana tira a vida humana, seja de um feto até um idoso, e mesmo a sua própria vida está praticando um crime; está violando o mandamento do amor; está violando o quinto mandamento: “NÃO MATARÁS”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFEREÊNCIA

 

AGOSTINHO, Aurélio. De Civitate Dei. Tradução de Oscar Paes Leme. São Paulo: Editora das Américas, 1961.


Autor: Enderson Pereira


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