Saberes culturais e educação na Amazônia



SABERES CULTURAIS E EDUCAÇÃO NA AMAZÔNIA

 

Autores:

Dorival Pereira Tangerino Neto – [email protected] – Mestrando da Universidade da Amazônia

Rosinele Oliveira – [email protected] – Mestranda da Universidade da Amazônia

 

Resumo: Este trabalho investiga temas educacionais relacionados ao contexto brasileiro e amazônico, como saberes, representações, imaginários, conhecimento e poder inerentes às práticas socioculturais e educativas. Tem como objetivo contribuir para a construção de práticas sócio-educacionais, ética, epistemológica e politicamente comprometidas com os saberes dos grupos socialmente excluídos e fortalecer a identidade cultural amazônica. Para tanto, pelo fato de a cultural amazônica ser multicultural sabe-se que os saberes culturais e a educação na Amazônia estão dotados de diversas perspectivas, tendo que os saberes culturais repassam vários aspectos no que diz respeito ao conhecimento que possui o ser humano, e a educação na Amazônia, passa a ser colocado de diversas maneiras, partindo dos próprios saberes culturais das pessoas.

Palavras-chave: práticas sócio-educacionais, grupos socialmente excluídos e identidade cultural.

INTRODUÇÃO

Os saberes que envolvem a arte, a religiosidade, os costumes e os valores na cultura amazônica estão no centro do debate sobre a formação e a prática de educação popular. E o seu estudo possibilita entender novas diretrizes e práticas educativas, cujo ponto de partida é a reflexão sobre a práxis dos educadores e dos educandos contextualizada na cultura local. “Educar é criar cenários, cenas e situações em que, entre eles e elas, pessoas e comunidades possam ser criadas e recriadas” (BRANDÃO, 2002, p. 26).

Os Mitos, as lendas e as histórias orais são formas discursivas de revelar as diferentes culturas. Ao levantarmos essa questão, temos sempre em mente à diversidade da condição humana em sua existência, a partir dos sentidos que uma realidade cultural constrói para aqueles que a vivem. Tem como objetivo contribuir para a construção de práticas sócio-educacionais ética, epistemológica e politicamente comprometidas com os saberes dos grupos socialmente excluídos e fortalecer a identidade cultural amazônica.

A cultura está repleta de símbolos e significados, voltado para o meio ambiente e social de cada ser humano sob o domínio de uma estética que permanece na memória de um grupo social que determina sua vida. Para Mello (2000), a cultura apresenta acepções próprias, logo se pode analisar um grupo enfocando sua cultura subjetiva que seria seus conjuntos de valores, conhecimentos e crenças, ou sua cultura objetiva os hábitos, comportamentos, objetos de arte, todo o conjunto da obra humana.

            Loureiro (1995, p. 27) entende por “cultura amazônica aquela que tem sua origem ou está influenciada em primeira instância, pela cultura do caboclo.” Observa-se que a Cultura Amazônica esta repleta de símbolos preservados na memória coletiva de homens, mulheres e crianças diante do olhar para a natureza que os cerca.

            Na cultura amazônica predomina o imaginário presente na identidade presente na cultura cabocla “como produto da acumulação de experiências sociais e da criatividade dos seus habitantes”. (LOUREIRO, 1995, p.55). Assim, através de sua história de vida, o seu modo, a forma como convive permite o relato de experiência de vida trazida por esses alunos – trabalhadores que desde muito cedo ajudam suas famílias através de atividades como pesca, agricultura e trabalho na roça.

            Loureiro (1995, p.56) entende que:

A Cultura Amazônica onde predomina a motivação de origem rural é aquela na qual melhor se expressam, mais vivas se mantêm as manifestações decorrentes de um imaginário unificador refletido nos mitos, na expressão artística propriamente dita e na visualidade que caracteriza suas produções de caráter utilitário – casas, barcos.

            O mito é um elemento fundamental para compreender o processo da cultura Amazônica uma vez que decorre de um imaginário que materializa e dá vida própria a natureza diante do mundo físico que já encontrou construído. Assim, a vida social identifica-se numa linguagem poética presente no meio ambiente em que vivemos, anteriores aos tempos históricos, que flui como a água.

            As crianças são alunos que passam a viver com mais intensidade a expressão da cultura local, pois reproduzem as narrativas orais contadas pessoas da comunidade. As narrativas míticas se fazem presentes no imaginário da criança refletindo o contexto com o meio em que vive através da linguagem. Deste modo, é a linguagem que caracteriza enquanto sujeito social. Nela, a criança interage com a língua, cresce no seu aprendizado e penetra na escrita viva e real, feita na história (KRAMER, 1993).

            Na proposta de Adorno (2000) se estabelece uma educação voltada para emancipação, que é sempre simultaneamente vivenciada na educação dos valores culturais, políticos e econômicos para que ocorra a aprendizagem na Escola. Sendo assim, a escola exige do educador uma postura que esteja aberta para o desenvolvimento educacional através da cultura inerente na comunidade escolar.  É, pois, interessante relacionar o saber, nessa perspectiva de instrumento de relação professor – aluno, à tarefa do educador para que ocorra a aprendizagem através da cultura que o cerca.  O caráter emancipatório presente na educação necessita de ter um caráter consciente na proposta de formação de educadores e educandos na Escola.

A DIVERSIDADE CULTURAL

A diversidade cultural da Amazônia é constituída por suas lendas, músicas, saberes imaginários, entre outros aspectos, é tratada pelos educadores com respeito. É percebida como algo inerente ao modo como o ser humano vive e percebe o seu mundo cotidiano, delineando a organização dos grupos sociais. Conforme Oliveira e Santos, (2007) os saberes que envolvem a arte, a religiosidade, os costumes e os valores na cultura amazônica estão no centro dos debates sobre a formação e a prática de educação popular e o seu estudo possibilita à construção de novas diretrizes e práticas educativas, cujo ponto de partida é a reflexão sobre a práxis dos educadores e dos educandos contextualizada na cultura local. Portanto, esta diversidade cultural é vista de forma benéfica para aqueles que estão no caminho do aprendizado, a cada dia aprendem mais com os outros, devido esta larga diversidade de culturas e saberes, todos de certa forma tem algo a ser repassado, sendo de forma escrita, oral ou gestual.

 AS PRÁTICAS SOCIOEDUCATIVAS

Nas práticas educativas os educadores afirmam trabalhar com a cultura amazônica. Alguns explicam que trabalham a cultura amazônica em sala de aula, por meio das narrativas orais efetivadas pelos educandos, outros destacam que alguns temas possibilitam o debate da cultura como a fé, que relaciona-se com o Círio, a alimentação saudável com base nas frutas regionais, bem como determinados costumes sociais.

Oliveira e Santos (2007, p.9) entendem que:

Alguns educadores no seu trabalho educativo alfabetizador tratam do tema gerador cultura ou cultura amazônica, quando os educandos trazem o assunto nas conversas de classe, na exploração das datas comemorativas e por meio de outros temas como a higiene e determinados hábitos sociais.  O tema cultura amazônica emerge no contexto de outros temas como o da religiosidade em que o Círio de Nazaré aparece tanto como manifestação religiosa quanto cultural.  Outros trabalham, ainda, a cultura como tema gerador, que emerge das falas e das representações escritas dos educandos como os desenhos.

Para Oliveira e Santos (2007) os educadores têm consciência que a cultura amazônica é híbrida, multicultural, formada por populações e culturas diferentes e por isso, trabalham pedagogicamente a autonomia dos sujeitos e a originalidade de sua cultura, que são as vozes, os saberes, os costumes, os imaginários e representações das populações locais. Eles trabalham dialogicamente o conjunto de saberes culturais da Amazônia na sua pluralidade e complexidade, concretizando o princípio freireano de solidariedade e de respeito à diversidade cultural dos educandos, que perpassa pelo respeito às diferentes manifestações religiosas.

MITO E LENDA

O mito e a lenda são saberes culturais que nós adquirimos de nossos antepassados, e levamos adiante para as futuras gerações. O mito é uma história tradicional que não se baseia em algo que realmente aconteceu e, normalmente, fala de seres sobrenaturais, não reais. Os mitos são inventados, ajudam sempre a explicar os costumes locais ou os fenômenos naturais. A lenda se assemelha muito ao mito. A diferença está no fato de que a lenda pode se basear em um acontecimento real (que de fato ocorreu) ou em uma pessoa que realmente existiu. O que não significa que a história não tenha mudado ao longo dos anos.

Segundo Coelho (2003), tanto o mito quanto a lenda podem ser classificados como narrativas míticas que se propõem a explicar a origem ou a razão de um fenômeno. Neste caso, mito e lenda tendem a confundir-se o que denota a dificuldade de traçar com nitidez as fronteiras entre eles. Inclusive a Amazônia é dotada de vários mitos e lendas que compõem este saber cultural, que são levados a todos pro meio da cultura popular, enriquecendo assim a educação amazônica, são eles os mais famosos: a Iara (é uma moça jovem loira de corpo deslumbrante e de beleza irresistível. Sua voz é melodiosa e seu canto, tal como no original grego, é capaz de enfeitiçar a todos que o ouvem, arrastando-os em sua direção, até o fundo do rio, lagos, igarapés); o Curupira (um menino de aproximadamente sete anos, com o corpo coberto de longos pêlos e tendo os pés virados para trás); o Boto (é o grande encantado dos rios, que transformando-se num rapaz, todo vestido de branco e portando um chapéu - que é para esconder o furo no alto da cabeça, por onde respira - percorre as vilas e povoados ribeirinhos, freqüenta as festas e seduz as moças, quase sempre engravidando-as); a Matintaperera (surge como uma assombração ou visagem que assusta as pessoas e pode até provocar-lhes a morte, também falam que é uma mulher que vira passarinho assobiador, ou ainda, um duende, a matintaperera vem em busca de tabaco) e a Cobra grande (é uma cobra gigante que se enrola nas pessoas até matar, é um dos mitos mais antigos).

AÇÃO DE LINGUAGEM, TEXTO E CONTEXTO

Seguindo o posicionamento Vygotskiano, o interacionismo sócio-discursivo considera que a atividade de linguagem é uma atividade social, podendo a ação de linguagem ser tomada como parte dessa atividade. Por sua vez, a noção de texto não pode ser confundida com a noção de texto apenas como uma estrutura sem relação com o contexto.  Vygotsky constrói uma teoria por volta do início do século XX a partir das questões que a nova ciência, a Psicologia, ainda não conseguia explicar, como por exemplo, a consciência, e o que diferencia o homem do animal. Sua obra se localiza entre os sociointeracionistas partindo do principio de que a interação com o meio social, com a cultura vai proporcionar o desenvolvimento e a aprendizagem do sujeito. Faz da escrita não somente uma grafia, um gesto que marca, representando um som da fala, mas, além disso, uma linguagem particular, diversa da fala e capaz de significar.

Segundo Aguiar e Camargo (2004) para conhecer uma cultura é necessário entre outras coisas, como conhecer seus símbolos, signos e significados, seus modos de organização e de expressão. A linguagem escrita, considerada uma das construções grandiosas da humanidade, tornou-se um recurso de expressão elaborado a partir do ensino escolar, mas que é utilizado amplamente, em diferentes circunstâncias, também por aqueles que não a freqüentaram ou por tantos outros que passaram  pela escola sem quase nada aprender.

METODOLOGIA   

Foi utilizado o método exploratório, a pesquisa foi realizada através de levantamento bibliográfico em livros, e artigos científicos publicados na internet. Para Santos (2006) a pesquisa exploratória é tipicamente fazer a primeira aproximação de um tema que visa criar a maior familiaridade em relação a um fato, fenômeno ou processo. Santos (2006) afirma ainda que na maioria das vezes busca atingir essa familiaridade pela prospecção de materiais que possam informar ao pesquisador a real importância do problema, o estágio em que se encontram as informações já disponíveis a respeito do assunto, e até mesmo revelar ao pesquisador novas fontes de informação, por isso a pesquisa exploratória é quase sempre feita na forma de levantamento bibliográfico. Em outras palavras, muitas das vezes as pesquisas exploratórias trazem ao final como resultado do processo, um problema mais esclarecido possível de investigação mediante procedimentos mais sistematizados. Segundo Santos (2006) a bibliografia é o conjunto de materiais escritos (podendo ser graficamente ou eletronicamente) a respeito de um assunto, constitui-se numa preciosa fonte de informações, com dados já organizados e analisados como informações e ideias prontas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os educadores compreendem a educação amazônica relacionada às práticas sociais no cotidiano social, que se dimensiona pela diversidade étnica e cultural e pela pluralidade das falas, crenças e especificidades de cada lugar. A cultura amazônica está presente na vida dos sujeitos que nela vivem repassadas pela cultura da conversa, nos ambiente familiares, cujo aprendizado também está presente nas atividades educativas.    

A cultura amazônica é multicultural. É formada por populações e culturas diferentes. Daí a importância de se utilizar de práticas pedagógicas distintas para que não se perca a originalidade da cultura. Para tanto pela cultural amazônica ser multicultural sabe-se que os saberes culturais e a educação na Amazônia estão dotados de diversas perspectivas, tendo que os saberes culturais repassam vários aspectos no que diz respeito ao conhecimento que possui o ser humano, e a educação na Amazônia, passa a ser colocada diversas maneiras, partindo dos próprios saberes culturais das pessoas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUIAR, C. M. ; CAMARGO, M. R. R. M. de . Registros Alternativos de Saberes Culturais: contribuição para a formação de professores. In: Raquel Lazzari Leite Barbosa. (Org.). (Org.). Trajetórias e Perspectivas de Formação de Educadores. 1 ed. São Paulo: Editora da Unesp, 2004, v. 1, p. 525-536. Disponível em: http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe2/pdfs/Tema7/0733.pdf. acesso em: 10.09.2011.

ANDRÉ, Marli e LUDKE, Menga. A pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A pergunta a várias mãos: a experiência da pesquisa no trabalho do educador. São Paulo: Cortez, 2003.

CATTELAN, João Carlos. Mattrix. In. GREGOLIN, Maria do Rosário e BARONAS, Roberto (org). A análise do discurso: as materialidades do sentido. 2Ed. São Carlos: SP: Claraluz, 2003.

MACLAREN, Peter. Rituais na escola: em direção a uma economia política de símbolos e gestos na educação. Petrópolis. RJ: Vozes. 1991.

OLIVEIRA, I. A. SANTOS, T. R. L. A cultura amazônica em práticas pedagógicas de educadores populares. EDUEPA, 2007. Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT06-3039--Int.pdf. Acesso em: 10.09.11

SANTOS, A.R. Metodologia científica: a construção do conhecido. Ed. 6. Revisada. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

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Autor: Dorival Pereira Tangerino Neto


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