Ética corporativa - medo de exposição ou confiança da decisão



O que é mais forte, o medo ou a confiança? Vamos imaginar uma situação: o Controller de um forte grupo empresarial foi preso juntamente com seu colega contador por fraudarem as demonstrações financeiras de empresas, e agora a polícia lhe está oferecendo o seguinte acordo: se o Controller denunciar seu colega, fica livre, e ele pega cinco anos de cadeia. Porém, sem ele saber, o mesmo acordo também é oferecido ao seu colega. Se ambos se denunciarem, eles dividem a culpa e cada um pega três anos de prisão. O Controller sabe que, se nenhum dos dois falarem, só há provas para prender cada um por um ano. O que ele faz? A decisão mais racional, para evitar pegar cinco anos de cadeia, é trair seu colega. Mas, como ele também pensará assim, os dois acabarão pegando três anos de cadeia cada.

Surge, então, para a situação apresentada o conceito de ética, pois ética tem a ver com sustentar compromissos, não trair a confiança dos demais. Ao buscar cada um o melhor para si, todos perdem. Em vez de pegar dois anos de cadeia, cada um no total, você e seu colega ficarão seis anos presos. Um impasse parecido é constantemente vivido na vida corporativa, em várias situações de negociações. A tentação de minimizar a perda individual acaba levando a maior perda coletiva. Esse impasse só é rompido quando se consegue um nível de confiança que supere o medo de arriscar. Quando os mesmos negociadores interagem repetidas vezes, há um “capital reputacional”, acumulado pelo somatório de atitudes anteriores. Ou seja, a ética tem de ser construída coletivamente a cada atitude e rotina.

Se formos a qualquer dicionário e buscarmos o significado da palavra moral, basicamente teremos como resposta algo associado a uma hierarquia de valores, questionamentos do tipo: o que é realmente mais significativo para mim? O que considero positivo e negativo para mim? Qual é a distinção que faço entre o bem e o mal? Logo, concluímos que a moral, sendo uma hierarquia de valores, orienta-nos nas decisões que constantemente somos chamados a tomar, inclusive em nosso ambiente de trabalho, independentemente da nossa posição na escala hierarquia que nos encontramos.

Também no dicionário, se procurarmos o sentido da palavra ética, verificamos que é uma maneira de pôr em prática os valores morais. Mais uma vez então concluímos que a ética é um sistema de balizamento para ser usado na tomada de decisões, é a forma de traduzir a moral em atos, quer na vida pessoal, quer nas corporações. Aliás, itens tais como valorizações da ética e da transparência tornaram-se recorrentes no Brasil, diante da tendência no mercado internacional corporativo de cobrar a tríade “Maior prestação de contas” “eqüidade”, e “transparência”[1], presente com o surgimento da Lei Sarbanes-Oxley[2] pois as questões relacionadas à lei passam por boas práticas de governança e ética corporativa, considerando  código de ética corporativo, Restrição a empréstimos e concessão de crédito para diretores, Comitê de auditoria, Combate às fraudes financeiras ,  Estruturação e monitoramento dos controles internos , Gestão e Gerenciamento de riscos,são alguns exemplos.

Atualmente, as empresas têm a necessidade legal e interesse de expor ao mercado acionário como elemento imprescindível para assegurar a ética da boa prática de governança corporativa os seus resultados e dados contábeis antes sigilosos, tornando públicas informações antes guardadas nas “caixas-pretas” e lacradas com linguajares do tipo “economês, contabelês” contidos nos relatórios de divulgação dos informes contábeis. Confiança assim é a palavra da moda, confiança em ser transparente, confiança na gestão de riscos, confiança em ser ético.

 


[1] Prestação de contas – os agentes da governança corporativa devem prestar contas de sua atuação a quem os elegeu e respondem integralmente por todos os atos que praticarem no exercício de seus mandatos.

Eqüidade – tratamento justo e igualitário de todos os grupos minoritários seja do capital ou demais partes interessadas.

Transparência – conselheiros e executivos devem zelar pela serenidade das organizações e, portanto, devem incorporar considerações de ordem social e ambiental na definição dos negócios e operações

[2] Lei Sarbanes-Oxley, aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos no início de 2002 para reduzir o risco de fraudes nas sociedades anônimas de capital aberto, criou uma série de novas e complexas exigências para as empresas de capital aberto nas áreas contábil, de auditoria, de controle de riscos e de responsabilidade dos administradores, incluindo a existência de um Código de Ética.

 

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Autor: Douglas Bastos Rodrigues


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