Malpaso productions



Malpaso Productions

Clinton Eastwood Jr. nasceu em 31 de maio de 1930, em São Francisco, Califórnia.

Malpaso Productions estréia em 1970, com o filme “Two Mules For Sister Sara”.

Nos últimos 40 anos, Clint Eastwood construiu um celeiro repleto de variedades, que atendem todas as preferências da escala. As medidas da escala partem do marco “popular” e vão ao marco “aclamação da crítica”. Sua própria produtora, Malpaso Productions, foi o tiro certeiro de um ator cuja presença reverberou 57 filmes, 39 na Malpaso.

Em meados de 1970, depois de alguns anos à serviço do cineasta Sergio Leone, Clint trocaria a certeza de uns dólares a mais por uma ferramenta que pudesse instrumentalizar o estereótipo do “lacônico abandonado”, naquilo que ele viria a se tornar, ao longo da estrada. Instrumentos sempre são necessários. Uma idéia na cabeça e uma câmera na mão, para uns, são um fim em si próprios, para outros, prelúdio. O tempo, somado ao aproveitamento das oportunidades, funciona como a câmera escura, onde se revelam os primeiros e por que não, todos os negativos. Tem de ficar ali, manuseando o tempo e rodando a lâmpada, até conquistar a posição de ser um dos mais respeitados diretores de cinema da América. Não acontece num estalar de dedos.

A Malpaso ajudou na tarefa. Criada em 1968, possibilitou ao fundador separar as funções de ator, produtor e diretor, controlando, ou antes, administrando, os aspectos criativos dos filmes em que esteve envolvido, desde a seleção e ou desenvolvimento de roteiros à seleção de elenco, fosse de apoio ou principal, até a escolha do diretor, quando por ventura ele declinasse dessa opção. Não aconteceu da noite para o dia.

Clint ficou ciscando seu destino de três vertentes distintas – ator/diretor/produtor, por toda a década de 50, aparecendo como o último dos coadjuvantes em seriados de TV, até chegar num bom papel, e, durante as férias de verão, já nos 60, a oportunidade sempre aparece para quem persiste: “A Fistful of Dollars”, versão não autorizada de “Yojimbo” (Akira Kurosawa), nas mãos de um diretor que iria carimbar a imagem do caubói para sempre: Sergio Leone.

“Play Misty for Me” (1971), primeiro filme dirigido por Clint, tendo no elenco o diretor Don Sigel. Gesto de amizade e da profícua parceria, que começara em 68, com “Meu nome é Coogan” (“Coogan's Bluff”), dirigido por Don Sigel. Em “Play Misty....”, Clint também atua. Terceiro passo da Malpaso Company, como era então denominada. Senso de humor de artista tece boas elegias. Vários diretores tem suas próprias produtoras: Spielberg, George Lucas, Spike Lee, etc.
A deste último chama-se, “Two Acres and a Mule”, citação do instigante Spike sobre uma lei que contemplava os ex-escravos, depois da Guerra da Secessão, dado-lhes dois acres de terra, na Flórida, e uma mula. Spike Lee nunca brincou em serviço. Eastwood idem. Malpaso, do espanhol, significa mau passo, ou, se preferir, uma roubada, tendo sido esta a premonição do agente de Eastwood, sobre o filme “Man with No Name”. Lábios de ouro do agente... “Man with...” foi o trampolim para Eastwood fazer a trilogia do Leone e se tornar uma “marca” em solo americano. Daí para o mundo. Malpaso também é o nome de um riacho em Carmel, região bem conhecida do diretor. Assim, dois fatores contribuíram para a criação do nome. Clint achou graça na ironia. Seu agente havia lhe dito: não faça esse filme, será um “bad step” (malpaso) em sua carreira.

Ninguém pode afirmar se a Malpaso será uma empreita capaz de sobreviver ao seu criador. As maiores empresas do mundo, (o mundo de ontem), tiveram por longo tempo as feições do fundador.
O sorriso presbiteriano de Clint (Merryl Streep sorri igual, no filme recente que ela interpreta uma freira), deve esconder um temperamento. Mal ele havia estreado na direção/produção, teve a capacidade de colocar para fora do set Philip Kaufman, contratado para dirigir “The Outlaw Josey Wales” (1976).

Como ator, produtor e regente do espetáculo, mago Eastwood Jr. computa 25 filmes. Nalgumas histórias, tamanho é documento. Basta considerar que nesta conta estão: “Bird”, “White Hunter, Black Heart”, “Unforgiven”, “A Perfect World”, “The Bridges of Madison County”, “Space Cowboys”, “Mystic River”, “Million Dollar Baby”. Nada mal para um cara que estrelou “Tarantula!”, de Jack Arnold, em 1955. Mas essa é a seleção da lista em que ele toca mais de um instrumento. Curiosamente, é onde estão seus melhores desempenhos, já que, analisando a lista onde ele somente atua, o resultado é “Dirty Harry”, “Escape From Alcatraz”, “Pink Cadillac” ,“In The Line of Fire”, entre vários, sendo este último o único digno de nota, se compararmos as listas. Resta a conclusão inequívoca – Clint, decididamente, sabe dirigir a si mesmo.

À medida que a Malpaso Company foi avançando no tempo, e se tornando Malpaso Productions, a vela mestra dizia ao vento: nada de produções caras e estapafúrdias. Vamos fazer com que a Academia se dobre å nossa opção de mesclar austeridade com sucesso de bilheteria. Roteiros transbordantes de efeitos especiais são barrados na porta, e locações ao entre aspas “ar livre”, são preferidas aos trabalhos de estúdio. Todo artífice tem um método. Seu método bateu o martelo na mesa dos jurados, e lhe rendeu estatuetas.

Outro segredo da empresa, ainda que de polichinelo, embora pouca gente tem a fortuna e a boa vontade de fazer com que isso aconteça, está na manutenção da mesma tripulação ao longo do tempo.
Parte da turma que está lá hoje, vem desde o tempo em que ele fazia TV, outra parte vem dos anos 70, dos 80, 90, a colméia Malpaso vem agregando e metamorfoseando, exemplos sortidos não faltam, tem até dublê que virou diretor, e dirigiu o próprio Clint.

Família de sangue e de opção. Família dos dois lados. Quem disse que a vida não é matemática? A menina Alison Eastwood, que em 97 trabalhou no “Midnight in the Garden of Good and Evil”, em 2007 dirigiu “Trilhos do Destino”, com o Kevin Bacon. Os outros filhos do patrão, Kyle e Francesca, cresceram no mesmo playgroud da Alison, brincando de “Honkytonk Man” e “True Crime”.

“Million Dollar Baby”/Menina de Ouro – faturou 4 Oscars - melhor filme, melhor diretor, melhor atriz (Hilary Swank) e melhor ator coadjuvante (Morgan Freeman). Hilary teve 90 dias para ficar em forma e encarar a personagem. “Menina...” foi rodado em 38 dias.

“Unforgiven”/Os Imperdoáveis- faturou 3 Oscars - melhor filme, melhor direção e melhor montagem.

Clint raramente faz filmes com menos de 2 horas. “Bird” tem 161 minutos e “Midnight in the Garden ...” não fica tão atrás.

Os 161 minutos de “Bird” funcionaram como um elevador panorâmico para o artista e colaboradores, tendo no alto um botão escrito: o céu é o limite.

"Não existe segundo ato nas vidas dos americanos." - F. Scott Fitzgerald.

Talvez a conjetura tenha exceção. “Bird” era só o começo de uma nova etapa. Quem ficou na poltrona, passeando com os feitos da Malpaso e seu mentor, foi se perguntando: mas esse sujeito não tem limite?

Os personagens vividos por Clint quase sempre estão desafiando a lógica. Mal amados, errantes, sedentos por justiça, a imagem do caubói solitário revezou o chapéu com a farda do distintivo seguidas vezes, interpretou um jornalista fim de linha que salva a vida de um condenado à morte, tensionou a platéia na pele de um confederado que perde as pernas, etc., criaturas soltas na linha do tempo e atadas pelo estigma do renegado. Na fantasia do cinema, esse tipo já foi perseguido pela marginalidade e pelos donos do poder oficial, por vários atores, mas só um deles ouviu essas palavras: “Eles não querem que o serviço seja feito. Por isso escolheram você. Se você morre, nenhuma alma vai se importar. Você é ninguém. Nada. Só um número desbotado num distintivo enferrujado, e foi traído pelas mesmas pessoas que o mandaram tomar conta de mim. Acorda, homem! Pelo menos, quando as balas te atingirem, vai saber de onde vieram”. Boa fala em 1971, para um sub-produto do Dirty Harry.

Os heróis vividos por Clint contradizem Scott Fitzgerald.
Schuré cunhou a frase: “Não arriscamos mais a vida e sim a reputação”, apropriada para fins do século XIX, hoje descabida visto o aleatório da vida e o vácuo da reputação. Restam heróis de mentira e realizadores de verdade. Clinton Eastwood Jr. atou os pontos.
E mais: “quando eu dirijo um filme, considero que a minha equipe tem de ser grande o suficiente para dar conta do recado, e pequena o suficiente para que todos sintam que estão participando do projeto”. Palavras do patrão.

 


Autor: Bernard Gontier


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