A intervenção do enfermeiro na violência intrafamiliar física contra crianças e adolescentes



INTRODUÇÃO 

Violência é de fato algo difícil de conceituar com precisão especifica. Por isso mesmo ela constitui um fenômeno presente na vida cotidiana, obviamente irregular e extremado, cujas manifestações provocam ou são provocadas por uma forte carga emocional de quem a sofre e de quem a presencia (MINAYO, 2005)

A violência pode adquirir inúmeras formas de manifestação, mas é quase sempre resultante de relações de poder onde o mais forte subjuga o mais fraco.  suas crianças e adolescentes, no interior de suas moradias. O lar que deveria ser um porto seguro para aqueles que nele residem, passa a ser um local de perigo para os que mais precisam de proteção. Apesar da violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes não ser um problema recente, infelizmente continua sendo tão frequente, que pode ser considerado um grave problema de saúde pública. A violência intrafamiliar que atinge crianças e adolescentes há de ser analisada sob vários ângulos, como a origem sócio-econômica dessas crianças; o relacionamento da criança e do adolescente junto à família e/ou ao seu grupo de pertencimento; e o processo de construção de sua identidade.

A falta de parâmetros seguros para iniciar um processo de intervenção na dinâmica da família, e a ausência de indicadores sobre a eficácia dessa intervenção, terminam por justificar que o que for feito em nome do bem estar da criança valida qualquer ação. Tais programas colocam para a família o risco de ser invadida por ações que não se sabe por que começaram, não têm garantias de eficácia e não se sabe como e por que parar. A verdade transitória e a discordância dominante neste terreno não impedem, contudo, que leis continuem a ser promulgadas, que famílias sejam separadas, e que se viva hoje sob a égide de uma intervenção que pode ser tão prejudicial e violenta quanto o próprio ato que a gerou. (GONÇALVES, 2003)        Nesse contexto, os profissionais encontram-se diante do desafio de evitar “as formas traumáticas de intervenção”, além de estar sensibilizados e capacitados para identificar e tratar os pacientes que apresentem sintomas que possam estar relacionados ao abuso e à agressão, possibilitando, dessa forma, um atendimento integral e de qualidade. (GONÇALVES, 2003)

O objetivo desse trabalho é evidenciar os aspectos psicossociais que envolvem a violência intrafamiliar contra criança e adolescentes, na modalidade física, demonstrando a importância das ações do enfermeiro no acolhimento e avaliação, frente a situações de violência.

Bem como sensibilizar os profissionais na identificação e prevenção, e a importância da notificação de suspeita e/ou confirmação de violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes pelo enfermeiro.

Um olhar diferenciado em construção sobre a violência intrafamiliar vem ao encontro da proposta do próprio Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que em prol da garantia de proteção integral, inclui a família, a comunidade e a sociedade em geral no processo de resgate do direito à cidadania para a infância e juventude. Neste sentido, o contexto da pesquisa desenvolvida reafirma a importância da participação da sociedade civil organizada, nas ações propostas no ECA, uma vez que sua atribuição precípua é a de zelar pelos direitos da criança e do adolescente.  

Pode-se seguir arrolando inúmeras variáveis possíveis de serem estudadas, mas o objetivo foi enfocar a violência intrafamiliar, as representações sociais e papel do enfermeiro frente a essas situações. Procurou-se também enfatizar o caráter relacional de produção e construção das relações desenvolvidas no interior das famílias, com a preocupação de não criminalizá-las.

Para que se cumpram os preceitos constitucionais, o enfrentamento à violência é um caminho a ser percorrido pelos profissionais da área de saúde infantil. Dessa forma, o trabalho do enfermeiro, como responsável por uma equipe multiprofissional, tem fundamental importância neste processo, pois é o profissional que garantirá os direitos da criança, fazendo com que as violências por ele atendidas não passem despercebidas.

Os centros formadores destes profissionais devem estar atentos e preparados para as necessidades nesta área, visto a magnitude e complexidade desse problema de saúde pública.

Devido à experiência em saúde coletiva no setor de vigilância epidemiológica houve a oportunidade de fazer parte da Coordenação Regional da Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente em Situação de Risco para a Violência, no município de Curitiba nos anos de 2008/2009, fator este que possibilitou vivenciar junto aos enfermeiros e as suas equipes, as dificuldades em avaliar e dar seguimento nas ações de enfrentamento à violência física intrafamiliar.

É visível a importância do enfermeiro neste processo, pois a demanda crescente de casos de violência física intrafamiliar é evidenciada todos os dias nas unidades de saúde e nos veículos de informação em massa.

Não é incomum enfermeiros e outros profissionais da área da saúde terem dificuldades para identificar e gerir situações desta natureza envolvendo crianças e adolescentes. Os sentimentos de incerteza, raiva, projeção, ansiedade, e de impotência, que surgem diante destas situações, parecem estar relacionados ao mecanismo de defesa do próprio ser humano, como uma maneira de amortizar seus próprios sofrimentos. Pensa-se que o profissional enfermeiro deve ter conhecimento da problemática acerca da violência familiar desde sua formação acadêmica, e manter a equipe multiprofissional atualizada através da educação contínua em serviço...

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