Prevalência de microrganismos em secreção traqueal em pacientes da uti de hospital público



Introdução

A infecção nosocomial representa um grave problema para a saúde pública em vários países, pois é uma das maiores causas de internação prolongada e morbimortalidade, em hospitais públicos e particulares. O ambiente hospitalar tem uma profunda relação com as taxas de infecções hospitalares (IH), sendo um lugar propício para o armazenamento de diversos microrganismos patogênicos 1.

A pneumonia é uma infecção provocada por agentes infecciosos que se instalam nos parênquimas pulmonares, sendo mais comum em UTIs (Unidade de Terapia Intensiva), ocorrendo em paciente submetido a procedimentos invasivos 2,3. A pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM) é a segunda maior causa de IH, sendo constatada em pacientes intubados, ventilados mecanicamente, após mais de 48 horas de ventilação mecânica 4,5.

Alguns fatores estão diretamente relacionados com a incidência da PAVM: idade maior que 45 anos, imunodepressão, presença de choque, uso de corticoesteróides, antecedente de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), uso prévio de antibiótico e tempo de ventilação mecânica superior a nove dias 2. A utilização de tubos traqueais é um contribuinte para diminuição dos mecanismos de defesa das vias aéreo superiores e pulmonares, prejudicando o reflexo de tosse e permitindo que microrganismos entrem em contato com o trato respiratório inferior 4.

O tratamento com antibiótico impróprio é um fator que amplia a taxa de mortalidade, causando falha no tratamento e provável seleção de microrganismos resistentes como Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus e Klebsiella pneumoniae. Identificar as bactérias existentes na UTI e o aspecto de sensibilidade aos antimicrobianos pode auxiliar no início da antibioticoterapia adequada 6.

Este estudo teve como objetivo avaliar a prevalência de bactérias isoladas em culturas de secreção traqueal de pacientes internados em UTIs.

Métodos

Trata-se de um estudo retrospectivo por meio de levantamento dos resultados de culturas onde foram realizadas as cartas de identificação (Gram-negativo 105-secreção, Gram-positivo 585 e Fungos-UST), dos microrganismos isolados de culturas quantitativas de secreções traqueais realizadas, no período de março de 2010 a março de 2011, no Laboratório de Análises Clinicas - Setor de microbiologia do Hospital Universitário de Goiânia.

No presente estudo foram utilizados os resultados das amostras de secreção traqueal, para constatação das bactérias com maiores taxas de prevalência. A análise foi feita após a coleta dos dados, tabulada e representada graficamente na planilha do programa do Windows 2011 (Excel).

Resultados

Na presente pesquisa, avaliou-se retrospectivamente no período de março de 2010 a março de 2011, um total de 372 amostras sendo que 108(29,03%) apresentaram microrganismos e 264(70,97%) foram negativas.

Das 108 amostras positivas, totalizou-se um percentual de 48,14% do gênero masculino, 40,74% do gênero feminino e 11,12% de recém nascidos. Em relação ao perfil das amostras coletada 88,88% foram provenientes da UTIs adulto e 11,12% da UTIs neo-natal.

As análises realizadas através das cartas de identificação, mostraram as  seguintes especies: 38,9% Acinetobacter baumannii; 0,9% Candida albicans; 0,9% Citrobacter freundii; 1,9% Escherichia coli; 0,9% Enterobacter aerogenes; 1,9% Enterobacter cloacae; 8,4% Klebsiella pneumoniae; 0,9% Proteus mirabilis; 23,1% Pseudomonas aeruginosa; 0,9% Serratia marcescens; 13,9% Staphylococcus aureus; 1,9% Staphylococcus epidermidis; 0,9% Staphylococcus haemolyticcus; 0,9% Staphylococcus hominis; 0,9% Staphylococcus saprophyticus; 1,9% Stenotrophomonas maltophilia e 0,9% Streptococcus pneumoniae, conforme mostra a tabela 1.

O presente estudo demonstra que 86(79,6%) cepas apresentaram maior prevalência de microrganismos Gram-negativos: Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa, klebsiella pneumoniae, Proteus mirabilis, Serratia marcescens, Stenotrophomonas maltophilia, Citrobacter freundii;  Escherichia coli; Enterobacter aerogenes e Enterobacter cloacae. Cocos Gram positivos representaram 21(19,5%): Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis; Staphylococcus haemolyticcus Staphylococcus hominis; Staphylococcus saprophyticus e Streptococcus pneumoniae. Demonstrou também 1(0,92%) Candida albicans.

Discussão

A pneumonia nosocomial ou hospitalar representa um problema para a saúde pública, pois é uma das causas mais comum de morte entre as infecções adquiridas em ambiente nosocomial, acometendo hospitais públicos e particulares. A pneumonia é provocada por qualquer agente infeccioso, porém as bactérias são as causas principais 7,8.

A PAVM é constatada em pacientes intubados, após mais de 48 horas de ventilação mecânica, sendo um modo de tratamento artificial utilizado em UTIs 9. Segundo Haringer 8, 2009 o risco de adquirir pneumonia aumenta três a dez vezes em pacientes sob ventilação mecânica.

Segundo Carneiro e Saridakis10, 2008 o Acinetobacter baumanni é considerado um agente infeccioso de grande importância, pois é capaz de persistir em ambientes hopitalares por longo tempo, pelo alto nível de resistência e por ser oportunista, pois sobrevivem em diversos tipos de ambientes. Em estudo realizado em um hospital do Rio de Janeiro, o microrganismo mais prevalente foi o Acinetobacter baumannii, o que condiz com a presente pesquisa, que verificou a presença deste micorganismo em 42(38,9%) amostras 3.

Alguns estudos11,6 evidenciam que a Pseudomonas aeruginosa é um microrganismos frequentemente envolvido em infecções hospitalares e sua resistência é preocupante. Machado, Guilande e Marcondes6, 2007 realizaram um estudo em um hospital universitário do oeste do Paraná, onde a prevalência desta bactéria foi de 17,6%, valor inferior ao encontrado neste estudo 23,1%.

O Staphylococcus aureus é encontrado geralmente nas mucosas e pele dos homens e animais. Este agente está frequentemente relacionado a enfermidades humanas, como pneumonias, bacteremias, infecções de pele e tecidos moles. Apresenta alta capacidade de desenvolvimento e resistência devido maior adaptação ao uso intenso de antimicrobianos 12. No presente estudo, pôde-se observar que o Staphylococcus aureus esteve presente em 15(13,9%) amostras, porém esse resultado foi contrário ao relatado em um hospital de Belém, que verificou a prevalência de 30,7% desse microrganismo 13.

Em um estudo realizado por Oliveira, Vieira e Sadoyama14, 2010 no Hospital das Clínicas de Goiânia, onde avaliou-se a prevalência e o perfil de sucetiblidade do Staphylococcus aureus demonstrou que ele, tem uma alta taxa de prevalência nas UTIs, e é um dos patógenos que mais aparece nos resultados das ánalises do Laboratório Clínico de Microbiologia do HC/UFG, encontrado em todas as alas de internação do hospital, presentes em diversos éspecimes clínicos como sangue, srecreções de feridas operatória, com maior indicie nas análises de secreções.

O Programa de Vigilância Epidemiológica e Resistência Antimicrobiana (SENTRY) analisando hospitais da América Latina e do Brasil, relata que o Staphylococcus aureus em relação as infecções hospitalares, é fator de extrema relevância, pois é considerado um dos microrganismos de maior prevalência em hospitais 14.

A bactéria gram-negativa, Klebsiella pneumoniae, tem forma de bastonete e é anaeróbica facultativa. Nos seres humanos frequentemente colonizam a nasofaringe e trato gastrointestinal. Tornou-se importante devido seu aumento em hospitais, sendo responsável por várias infecções 15.

Moura et al16., 2008 relata que a Klebsiella pneumoniae é um importante agente causador de infecções hospitalares, principalmente em UTIs. A presença da K. pneumoniae em 9(8,4%) amostras desta pesquisa, não corroboram com os resultados encontrados em estudo realizado no hospital público de Teresina que mostrou a alta prevalência desta bactéria 35,46%.

Conclusão

Neste estudo observou-se a prevalência de microrganismos em secreção traqueal, onde encontramos os seguintes dados: maior prevalência de bactérias gram-negativas perfazendo um total de 79,62%, dentre estas houve um predomínio de gram-negativo não fermentador o A. baumanni, em seguido P. aeruginosa e por último a enterobacteria K. pneumoniae. Foram detectados também 19,44% de bactérias gram-positivas, dentre estes houve predomínio do S. aureus com 13,9%.

Com relação às amostras, houve uma demanda maior em UTIs de adultos perfazendo um total de 88,88% das amostras enviadas, com isso podemos enfatizar um maior controle de infecção em instituições relacionadas à saúde IRAS (Insuficiência Respiratória Aguda), pois onde existe um controle eficaz à redução das internações, liberando o leito mais rapidamente para a comunidade que precisa; e o controle eficaz de antimicrobiano pode reduzir a incidência dos germes multirresistentes. Com isso observamos a real necessidade de um controle contínuo, a fim de avaliar a prevalência desses germes multirresistentes. Programas de controle de infecção hospitalar devem ser frequêntemente realizados, para que assim possam melhorar a qualidade de assistência a sáude para a população, beneficiando as intervenções de precaução e controle .

 

Referências

  1. Neto GTC, Moraes FC, Neto VM, Figueirêdo PMS. Detecção de enterobactéiras em superfícies de uma unidade mista de saúde no município de São Luis, Maranhão, Brasil. Rev Invest Bioméd Uniceuma. 2010; vol.(2):77-84.
  2. Lima FMR, Pace AM, Medeiros VML, Virgínio FB. Pneumonia associada à ventilação: aspectos gerais. Universo on-line, 2007. [Acesso em 20/02/2011]. Disponível em: http://www.wgate.com.br/conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/respiratoria/ventilacao_fabiola.htm
  3. Rodrigues PMA, Neto EC, Santos RC, Knibel MF. Pneumonia associada à ventilação mecânica: epidemiologia e impacto na evolução clínica de pacientes em uma unidade de terapia intensiva. J Bras Pneumol. 2009; 35(11):1084-1091.
  4. Lopes FC, López MF. Impacto do sistema de apiração traqueal aberto e fechado na incidência de pneumonia associada à ventilação mecânica: revisão de literatura. Rev Bras Ter Intensiva. 2009; 21(1):80-88.
  5. Guimaraes MMQ, Rocco JR. Prevalence of ventilator-associated pneumonia in a university hospital and prognosis for the patients affected. J Bras Pneumol. 2006; 32(4):339-346.
  6. Machado LN, Guilande C, Marcondes NR. Perfil de sensibilidade apresentado por bactérias isoladas de cultura de secreção traqueal. In: Encontro Internacional de Produção Científica Cesumar, 2007.
  7. Amaral SM, Cortês AQ, Pires FR. Pneumonia nosocomial: importância do microambiente oral. J Bras Pneumo. 2009; 35(11):1116-1124.
  8. Haringer DMC. Pneumonia associada à ventilação mecânica. Rev Pulmão. 2009; 2(1):37-45.
    1. Fonseca MG, Rocha ALF, Marques BRM, Moreira TS. Pneumonia hospitalar associada à ventilação mecânica: uma revisão literária. Universo on-line, 2011. [Acesso em 20/09/2011]. Disponível em: http://www.fepeg.unimontes.br/index.php/eventos/forum2011/paper/view/1643/1571
  9. Carneiro M, Saridakis HO. Pneumonia associada à ventilação mecânica por Acinetobacter baumannii resistente a carbapenem. Rev Panam Infectol. 2008; 10(2):28-33.
  10. Menezes EA, Sá KM, Cunha FA, Ângelo MRF, Oliveira IRN, Salviano MNC. Freqüência e percentual de suscetibilidade de bactérias isoladas em pacientes atendidos na unidade de terapia intensiva do Hospital Geral de Fortaleza. J Bras Patol Med Lab. 2007; 43(3):149-155.
  11. Kobayashi CCBA, Sadoyama G, Vieira JDG. Determinação da resistência antimicrobiana associada em isolados clínicos de Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa em um hospital público de Goiânia, estado de Goiás. Rev Socied Bras Med tropical. 2009; 42(4):404-410.
  12. Barbosa JCS, Lobato OS, Menezes SAF, Menezes TOA, Pinheiro HHC. Perfil dos pacientes sob terapia intensiva com pneumonia nosocomial: principais agentes etiológicos. Rev Odontol UNESP. 2010; 39(4):201-206.
  13. Oliveira GC, Vieira JDG, Sadoyama G. Prevalência e perfil de suscetibilidade aos antimicobianos de isolados de Staphylococcus aureus.Universo on-line, 2010. [Acesso em 26/08/2011]. http://www.newslab.com.br/newslab/revista_digital/100/artigo-3.pdf
  14. Toro LME, Correa JCC. Klebsiella pneumoniae como patógeno intrahospitalario: epodemiología y resistencia. Rev Cient Amér Latina. 2010; 13(3):240-249.
  15. Moura MEB, Tapety FI, Carvalho CMRS, Oliveira JNP, Matos FTC, Moura LKB. Representações sociais das infecções hospitalares elaboradas pelos profissionais de saúde. Rev Bras de Enferm. 2008; 61(4):418-422.

 

 

 

Tabela 1. Agentes infecciosos detectados com cultura positiva para infecção pneumológica coletadas de indivíduos internados na UTI. Goiânia, mar/2010 a mar/2011

Agentes Infecciosos

(%)

Acinetobacter baumannii

42

38,9

Candida albicans

1

0,9

Citrobacter freundii

1

0,9

Escherichia coli

2

1,9

Enterobacter aerogenes

1

0,9

Enterobacter cloacae

2

1,9

Klebsiella pneumoniae

9

8,4

Proteus mirabilis

1

0,9

Pseudomonas aeruginosa

25

23,1

Serratia marcescens

1

0,9

Staphylococcus aureus

15

13,9

Staphylococcus epidermidis

2

1,9

Staphylococcus haemolyticcus

1

0,9

Staphylococcus hominis

1

0,9

Staphylococcus saprophyticus

1

0,9

Stenotrophomonas maltophilia

2

1,9

Streptococcus pneumoniae

1

0,9

Total

108

100,0

 

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