O Último Armênio Em Bangladesh



Os armênios são um povo milenar, de origem indo-européia e que, historicamente, sempre ocupou o Cáucaso, região da Europa oriental e da Ásia ocidental, entre o mar Negro e o mar Cáspio. Os primeiros imigrantes armênios chegaram ao Brasil em 1880, mas a época conhecida como “grande imigração” ocorreu entre 1918 e 1926, depois de um grande massacre promovido pelo governo Turco Otomano.

Mesmo antes da chegada dos primeiros imigrantes armênios no Brasil, correntes migratórias levaram armênios a muitas partes do mundo. Um exemplo inusitado é o que levou um grupo de armênios a se fixar em Bangladesh no século 12. Os armênios, como os bengalis, são famosos por seu amor pela negociação.

Após ter formado uma próspera comunidade no Sul da Ásia, o número de armênios diminuiu a tal ponto que em Bangladesh, na capital Daca, vive apenas um descendente dos armênios que lá haviam se instalado ao longo dos séculos. Ele é conhecido pelo nome, modificado pelo anglicismo, Michael Joseph Martin. Quando ele, que tem 73 anos, morrer não só vai marcar o fim de uma era – já que ele não tem descendentes – como deixará em dúvida a sobrevivência de uma das mais belas igrejas de Daca.

Aninhada em uma das partes mais antigas da capital, a Rua Armênia costumava ser uma área de negócios florescentes, mas a comunidade Armênia que lá estava presente desapareceu. Poucos indícios de sua presença ainda permanecem, apesar de os armênios terem sido, durante séculos, importantes comerciantes de juta e artigos de couro.

Apesar de tudo, um proeminente marco armênio permanece intacto. É uma igreja do século 18, descrito pelos visitantes que vêm explora-la como um refúgio em meio ao caos e tráfego congestionado das ruas. Mas seu futuro agora é incerto.

O zelador da igreja, cujo nome armênio é Mikel Housep Martirossian, amorosamente preserva o edifício contra os reveses das condições climáticas e da poluição. Ele mantém séculos de registros de nascimentos, casamentos e mortes, verdadeira crônica da presença armênia em Bengala. Mas quando o zelador Martin morrer, não haverá mais armênios para cuidar da igreja.

Segundo ele, apesar de ser o último armênio residente em Bangladesh, fará tudo o que estiver ao seu alcance para assegurar que um armênio do estrangeiro assuma o trabalho que ele vinha fazendo. Se isso não acontecer, séculos de tradição desaparecerão.

O interior da igreja está desgastada após inúmeros assaltos, mas as atrações centrais - retratos da Crucificação e da Última Ceia - permanecem. O zelador armênio acredita que os trabalhos tenham sido feitos por um proeminente artista europeu.

A igreja pode estar enraizada na história, mas está localizada numa parte de difícil acesso da cidade. As estradas próximas são tão lotadas que os serviços religiosos não podem ser realizados durante a semana, porque a congregação de expatriados de múltiplas regiões nunca iria chegar a tempo.

Mesmo que não seja possível continuar a realizar serviços religiosos periódicos, o zelador Martin quer assegurar o futuro desse valioso pedaço da história. Ele diz que continuará sendo o zelador da igreja até encontrar, na comunidade Armênia no estrangeiro, alguém que possa dar continuidade ao seu trabalho.

E vale a pena terminar com as palavras de Mikel Housep Martirossian: “embora a maioria dos armênios tenha deixado Bangladesh, eu, como último a permanecer, tenho como missão de vida me certificar que essa relíquia de uma idade passada não venha a desaparecer”.

Autor: Paulo Pandjiarjian


Artigos Relacionados


PolÍtica ComunitÁria

Venalidade Venal

Olha Só

Vc E Sua Família Correm Perigo!

Resumo Histórico Sobre Os Médicos Sem Fronteiras

Células-tronco

AnimÁlia Urbana