A importância dos jogos simbólicos na aquisição da aprendizagem significativa



A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS SIMBÓLICOS NA AQUISIÇÃO DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

                                                 FLÁVIA REGINA LEITE DE ARAUJO

 

 

RESUMO

 

O presente trabalho especifica que através dos jogos e brincadeiras a criança adquire aprendizagem significativa, pois o ato de brincar proporciona para a ela uma relação entre as coisas e pessoas e ao compará-las constrói o seu conhecimento, a sua percepção de mundo e a estruturação de seus aspectos sociais, culturais e familiares, retratando seu contexto e percebendo seus futuros papéis, favorecendo assim seu desenvolvimento cognitivo, social e emocional. Dessa forma, fica claro que as atividades lúdicas são excelentes meios que permitem o diagnóstico, a intervenção e até mesmo a construção cognitiva e psicomotora da criança. Quanto mais conhecimento e apropriação do próprio corpo, maiores serão as possibilidades em perceber, diferenciar e sentir o mundo ao seu redor.  Além disso, promove o resgate a auto-estima, o autoconhecimento, bem como os valores como solidariedade, responsabilidade, disciplina, autoconfiança, auto-aceitação, tolerância, concentração, alegria e muitos outros, necessários à formação infantil. É através do brincar e dos jogos, que as crianças se desenvolvem, criam e se adaptam a novas realidades, tornando-se espontânea, além de adquirir equilíbrio emocional suficiente para evitar no futuro um comprometimento comportamental.

Palavras-chave: Jogos, brincadeiras, conhecimento, desenvolvimento. 

ABSTRACT

This paper specifies that through games and play the child has significant learning, because the act of playing for it provides a relationship between things and people and compare them to build their knowledge, their perception of the world and structuring their social, cultural and family context and portraying his perceived future roles, thus favoring their cognitive, social and emotional. Thus, it is clear that recreational activities are excellent means to diagnosis, intervention and even the construction of cognitive and psychomotor child. The more understanding and ownership of the body, the greater the chances to understand, differentiate and feel the world around them. It also promotes the rescue self-esteem, self-knowledge, as well as values such as solidarity, responsibility, discipline, confidence, self-acceptance, tolerance, concentration, joy, and many others, required for training children. It is through play and games, children develop, create and adapt to new realities, becoming spontaneous, and gain emotional balance enough to avoid an impairment of behavior in the future.

Keywords: Games, games, knowledge development.


SUMÁRIO


RESUMO

ABSTRACT

1 INTRODUÇÃO ......................................................................... 06

2 AS FASES DO DESENVOLVIMENTO HUMANO ......................... 07

3 A MOTRICIDADE, O PENSAMENTO E LINGUAGEM, E A INTELIGÊNCIA NA CONSTRUÇÃO DE SER INFANTIL .................. 10

3.1 A motricidade ................................................................... 10

3.2 O Pensamento e linguagem ............................................. 10

3.3 A inteligência ................................................................... 11

4 CONCEPÇÕES SOBRE O JOGO E A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR ......................... 12

5 A LUDICIDADE E O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM..................................... 13

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................  15

REFERÊNCIAS ......................................................................  15

 

Introdução

A raça humana, em seus diferentes estágios de desenvolvimento, vive sempre em busca de construir conhecimentos para organizar-se de forma ordenada. É em meio a este processo que a criança irá construir, com a possibilidade de transformar, lapidar o objeto, de acordo com a sua experiência pessoal.

Edificar um saber apropriar-se de um conhecimento. É em meio a este processo que o ser infantil irá construir, com a possibilidade de transformar o objeto, de acordo com a sua experiência individual.

No entanto, sem a ludicidade fica desprazeroso esse processo de aprendizagem. É necessário que a construção se dê a partir do jogo, do simbólico, do conhecimento do corpo. Brincar é de suma importância, é vital, primordial e essencial, pois esta é a maneira que o ser humano, gozando de plena saúde, utiliza para se edificar como um sujeito de emoção, razão e de relação.

As atividades lúdicas têm um papel fundamental na estruturação do psiquismo da criança, é no ato de brincar que a criança utiliza elementos da fantasia e a realidade e começa a distinguir o real do imaginário. É através da ludicidade que ela desenvolve não só a imaginação, mas também fundamenta afetos, elabora conflitos e ansiedade, explora habilidades e à medida que assume múltiplos papéis, fecunda competências cognitivas e interativas. (ANTUNES, 2004).

A construção simbólica é fato marcante e de extrema importância para o homem. Ao realizar tal feito, a criança passa a ser inserida em um espaço social e cultural extremamente valorizado nas culturas letradas e tal fato não passa despercebido pelos que cuidam dela.

O célebre Piaget, diz que a atividade lúdica é o princípio obrigatório das atividades intelectuais da criança. Porém, estas não são necessariamente apenas uma forma de entretenimento para gastar energia das crianças, mas meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento cognitivo. Ele afirma:

O jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação da real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil. (PIAGET 1976).

O filósofo Wallon, enumerou diversos comentários evidenciando o caráter emocional acerca dos jogos, como se desenvolvem, e seus aspectos relativos à socialização. Fazendo referência a faixa etária dos sete anos, Wallon transparece seu interesse pelas relações sociais infantis nos momentos de jogo:

A criança concebe o grupo em função das tarefas que o grupo pode realizar, dos jogos a que pode entregar-se com seus camaradas de grupo, e também das contestações, dos conflitos que podem surgir nos jogos onde existem duas equipes antagônicas. (WALLON, 1979).

O desenvolvimento da criança acontece através da ludicidade. Ela precisa brincar para crescer. De acordo com Piaget (1989), a maneira de a criança assimilar (transformar o meio para que este se adapte às suas necessidades) e de acomodar (mudar a si mesmo para adaptar-se ao meio) deverá ser sempre através do lúdico.

No que tange à atividade escolar, a mesma deverá ser uma forma de lazer e de trabalho para as crianças. Sendo assim, os brinquedos transformam-se em recursos didáticos de grande valor e aplicabilidade no processo ensino-aprendizagem.

A criança aprende e apreende melhor brincando, e todos os conteúdos podem ser ministrados através das brincadeiras, ou seja, em atividades predominantemente lúdicas, criteriosamente selecionadas, focadas na absorção da proposta curricular. As atividades com os brinquedos terão sempre objetivos didático-pedagógicos e visarão propiciar o desenvolvimento integral do educando.

 “Os métodos de educação exigem que se forneçam as crianças um material conveniente, a fim de que jogando, elas, cheguem a assimilar as realidades intelectuais, que sem isso, permanecerem exteriores à inteligência infantil”. (PIAGET 1989).

É neste enfoque que o trabalho se figura, destacando a importância da ludicidade no processo ensino-aprendizagem, bem como seu valor simbólico na aquisição cognitiva, intelectual e psíquica da criança nas séries iniciais.

2 As Fases do Desenvolvimento Humano

A psicologia, ciência centrada no estudo do desenvolvimento humano, tem como eixo principal compreender o homem em todos os seus aspectos, englobando fases desde o nascimento até o seu mais completo grau de maturidade e estabilidade. E como resultado, obteve-se a elaboração de várias teorias que procuram reconstituir, a partir de diferentes paradigmas e pontos de vistas, as condições de produção da representação do mundo e de suas vinculações com as visões de mundo e de homem dominantes em cada momento histórico da sociedade.

De acordo com (PIAGET apud MACEDO, 1994) o desenvolvimento humano se faz através de estágios: Sensório-motor, Pré-operacional, Operacional concreto e Operacional formal (ver quadro 1), que se sucedem na mesma ordem em todos os indivíduos. E todas as pessoas, desde que tenham um desenvolvimento normal, passam por estas fases, na mesma ordem, embora possam ocorrer variações na faixa etária.

A teoria Piagetiana estuda o desenvolvimento mental ou cognitivo, isto é, o desenvolvimento da forma como os indivíduos conhecem o mundo exterior e com ele se relacionam. No entanto, na perspectiva de Sigmund Freud (1856-1939) a “construção” do sujeito, da sua personalidade, não se processa em termos objetivos (de conhecimento), mas em termos objetais. O objeto é um objeto libidinal, de prazer ou desprazer, “bom ou mau”, gratificante ou não gratificante, positivo ou negativo. E sua formação nos diferentes estádios é determinada, precisamente, por essa relação objetal. Seus estádios assim se distribuem: Oral, Anal, Fálico, Latência, Genital, (ver quadro 1).

Assim como Piaget, Freud, entre outras figuras da época, Erikson (ERIKSON apud RABELLO, 2001) optou por distribuir o desenvolvimento humano em fases, criando alguns estágios, no qual chamou de psicossociais de forma que o crescimento e o desenvolvimento do indivíduo estariam completamente imbricados no seu contexto social, que se definem como Confiança Básica x Desconfiança Básica, Autonomia x Vergonha e Dúvida, Iniciativa x Culpa, Industriosidade x Inferioridade, Identidade x Confusão de Papéis, (ver quadro 1).

No quadro abaixo os principais períodos do desenvolvimento mental, objetal e psicossociais discriminados por Piaget, Freud e Erikson.

 

Cognitivo= Piaget

Afetivo

Social

Período

Características do Período

Principal Mudança do Período

Freud

Erikson

Sensório-motor.

(0-2 anos)

Estágio1(0-1mês)

Estágio 2 (1-4

Estágio 3 (4-8 meses)

Estágio 4 (8-12 meses)

Estágio 5 (12-18 meses)

Estágio 6 (18-24 meses)

Somente atividade reflexa; não faz diferenciação.

Coordenação mão-boca; diferenciação via reflexo de sucção.

Coordenação mão-olhos; repete acontecimentos pouco comuns.

Coordenação de dois esquemas; atinge a permanência dos objetos.

Novos meios através da experimentação – segue deslocamentos seqüenciais.

Representação interna; novos meios através de combinações mentais.

O desenvolvimento ocorre a partir da atividade reflexa para a representação e soluções sensório-motoras dos problemas. Inteligência prática. O ato de aprender se confunde com Ação.

Fase oral

 

Egocentrismo inconsciente e integral (indissociação do eu e o mundo) em pulsos instintos e elementares. Escolha do objeto- a 1° é com a mãe.

- Época das mordidas nos grupos infantis.

Confiança Básica

X

Desconfiança Básica

 

Das primeiras relações, o ser humano levará para as demais um sentimento de confiança ou de desconfiança.

Pré-operacional

(2-7) anos

Estágio simbólico (2-4 anos)

Estágio intuitivo (5-7 anos)

Aparecimento da linguagem. Problemas solucionados através da representação. Desenvolvimento da linguagem (2-4 anos), tanto o pensamento quanto a linguagem são egocêntricos. Não consegue resolver problemas de conservação; os julgamentos são baseados na percepção e não na lógica.

O desenvolvimento ocorre a partir da representação sensório-motora para as soluções de problemas e o pensamento pré-lógico.Monólogo coletivo. Animismo(dá vida às coisas), dublagem da realidade. A inteligência ainda é prática, intuitiva; criança ordena o mundo utilizando a percepção e a representação que ela mesma tem dos objetos (egocentrismo).

 

Função semiótica

Fase anal

 

Sentimentos de que produz coisas(fezes) suas que pode oferta ou negar ao mundo. Sentimentos / interindividuais. É necessário encontrar substitutos simbólicos para suas “fezes”. Precisa brincar com lama, areia, massinha etc.

 

 

Fase fálica

 

Interesse pelas diferenças entre sexos masculino e feminino. O Complexo de Édipo; brincar de casinha (papai- mamãe– filho), possibilidade de identificação com mesmo sexo.

Autonomia

X

Vergonha e dúvida

 

Desenvolvendo o senso de autonomia possivelmente na vida escolar, terão grande interesse na aprendizagem- mais uma conquista na aprendizagem

 

 

Iniciativa X Culpa

 

É necessário um esclarecimento da sua curiosidade sexual para que a criança,adquira iniciativa, sinta-se segura de si, de seus desejos e sentimentos.

Operacional concreto

(7-11 anos)

Atinge a fase da reversibilidade; consegue solucionar os problemas de conservação- operações lógicas desenvolvidas e aplicadas a problemas concretos; não consegue solucionar problemas verbais complexos. A possibilidade da leitura propriamente dita surge com a construção da reversibilidade.

Inclusão de Classe

Usa o raciocínio e a lógica na manipulação de objetos concretos. Jogo de regras. O desenvolvimento ocorre a partir do pensamento pré- lógico para as soluções lógicas de problemas concretos. É capaz de construir através de pensamento.

Latência

 

Diminuição das fantasias e atividades sexuais; a energia é canalizada para atividades socialmente produtivas. Período propício ao ensino formal. Sentimentos de justiça. Organização da vontade.

Industriosidade

X

Inferioridade

 

“Sentir-se” capaz de fazer coisas, de faze-las bem e até perfeitamente. Sua energia está direcionada para desenvolver novas habilidades, sentimento de competência. Educadores têm papel importante.

Operacional formal

(11-15 anos)

Soluciona com lógica todos os tipos de problemas- pensa cientificamente: soluciona problemas verbais complexos; as estruturas cognitivas amadurecem.

O desenvolvimento ocorre a partir de soluções lógicas de todas as classes de problemas. Operação lógica. Pode abstrair refletir, imaginar possibilidades, analisar, formular hipóteses.

Hipóteses-Probabilidades

Fase genital

 

Conquista da personalidade inicia-se na adolescência; é a última fase do desenvolvimento psico-sexual da teoria freudiana; considerada sem fim.

Identidade

X

Confusão de papéis

Finalmente o indivíduo deverá encontrar-se, descobrir quem é; sua identidade ocupacional; sentimento de competência, o indivíduo considera-se uma pessoa coerente, integrada e única.

Quadro 1 - Fonte: Abdelnur, R. notas de aula UVA 2005.

 

Assim sendo, é imprescindível o conhecimento acerca das fases do desenvolvimento infantil para que se possa oferecer um processo educacional eficiente e de qualidade. A escolha por determinadas metodologias didático-pedagógicas deve tomar por base a idade do educando, suas possibilidades e limites.

3 A motricidade, pensamento e linguagem, e a inteligência na construção de ser infantil

 

3.1 A motricidade

A operacionalidade de objetos de diferentes formas e tamanhos possibilita o desenvolvimento motor. A criança vai percebendo o mundo ao seu redor através dos objetos que lhe são oferecidos. Quanto mais vivências ela adquire, mais elaboradas tornam-se suas ações. Nesta interação com os objetos ela tenta encaixá-los, ou empilhá-los, ampliando assim suas possibilidades de agir sobre o mundo que a cerca.

De início o recém-nascido apenas pode diferenciar seu próprio corpo do mundo que o rodeia. Depois toma a si mesmo como referência para perceber o entorno. Ao movimentar o corpo no espaço, recebe informações próprio-perceptivas (cinestésicas, labirínticas) e externo-perceptivas (especialmente visuais) necessárias para interpretar e organizar as relações entre os elementos, formulando uma representação daquele espaço (OLIVEIRA, 2002).

 

O desenvolvimento da motricidade também se dá através da manipulação de objetos de diferentes texturas, formas, cores, volumes, e pesos. A criança adquire a sua motricidade através da sua colocação postural mediante o contato com esses objetos, e na variação de suas superfícies, a mesma trabalha diversos segmentos corporais com contrações musculares de diferentes intensidades.

3.2 Pensamento e linguagem

Em se tratando de pensamento e linguagem, Vygotsky descreve que ambos são dois processos com origens distintas, mas que mantêm uma relação dinâmica, em constante movimento dialético ao longo do desenvolvimento humano:

A relação entre o pensamento e a palavra é um processo vivo (...) uma palavra desprovida de pensamento é uma coisa morta, e um pensamento não expresso por palavras permanece uma sombra. A relação entre eles não é, no entanto, algo já formado e constante; surge ao longo do desenvolvimento e também se modifica. (VYGOTSKY, 1987).

Com base na abordagem genética do desenvolvimento da linguagem, (VYGOTSKY apud SOUZA, 2001) observa que o pensamento da criança pequena inicialmente evolui sem a linguagem; assim como os seus primeiros balbucios são uma forma de comunicação sem pensamento. Porém, já nos primeiros meses, na fase pré-intelectual, a função social da fala já é aparente: a criança tenta atrair a atenção do adulto por meio de sons variados. Até por volta dos dois anos, a criança possui um pensamento pré-lingüístico e uma linguagem pré-intelectual, mas a partir daí, eles se encontram e se unem, iniciando um novo tipo de organização do pensamento e da linguagem. Nesse momento, surge o pensamento verbal e a fala racional. A criança descobre que cada objeto tem seu nome e a fala começa a servir ao intelecto e os pensamentos começam a ser verbalizados. Por tanto, o desenvolvimento do pensamento é determinado pela linguagem, pelos instrumentos lingüísticos do pensamento e pela experiência sócio-cultural da criança.

3.3 A inteligência

O desenvolvimento do indivíduo inicia-se no período intra-uterino e vai até aos 15 ou 16 anos. Piaget (1982) diz que a embriologia humana evolui também após o nascimento, criando estruturas cada vez mais complexas. A construção da inteligência dá-se, portanto em etapas sucessivas, com complexidades crescentes, encadeadas umas às outras. A isto Piaget chamou de “construtivismo sequencial”.

a) Período Sensório-Motor - do nascimento aos 2 anos, aproximadamente. A ausência da função semiótica é a principal característica deste período. A inteligência trabalha através das percepções (simbólico) e das ações (motor) através dos deslocamentos do próprio corpo. É uma inteligência iminentemente prática;

b) Período Simbólico - dos 2 anos aos 4 anos, aproximadamente. Criar imagens mentais na ausência do objeto ou da ação é o período da fantasia, do faz de conta, do jogo simbólico;

c) Período Intuitivo ou Pré-Operatório - dos 4 anos aos 7 anos, aproximadamente. Existe um desejo de explicação dos fenômenos. É a “idade dos porquês”. Distingue a fantasia do real, podendo dramatizar a fantasia sem que acredite nela;

d) Período Operatório Concreto - dos 7 anos aos 11 anos, aproximadamente. É o período em que o indivíduo consolida as conservações de número, substância, volume e peso. Já é capaz de ordenar elementos por seu tamanho (grandeza), incluindo conjuntos, organizando então o mundo de forma lógica ou operatória;

e) Período Operatório Abstrato - dos 11 anos em diante. É o ápice do desenvolvimento da inteligência e corresponde ao nível de pensamento hipotético-dedutivo ou lógico-matemático. É quando o indivíduo está apto para calcular uma probabilidade, libertando-se do concreto em proveito de interesses orientados para o futuro. É, finalmente, a “abertura para todos os possíveis”.

Ainda de acordo com Piaget (1982) o comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado de condicionamentos. Segundo ele o comportamento é construído numa interação entre o meio e o indivíduo. Esta teoria epistemológica (epistemo = conhecimento; e logia = estudo) é classificada como interacionista. A inteligência do indivíduo, como adaptação a situações novas, portanto, está relacionada com a complexidade desta interação do indivíduo com o meio. Por tanto, quanto mais complexa e intensa for esta interação, mais dotado de “inteligencia” será o indivíduo.

4 Concepções sobre o jogo e a importância do brincar

Inúmeras são as concepções acerca das pesquisas em relação à importância do jogo na infância, mas, para Wallon, as concepções “se confundem enquanto essa atividade se mantém espontânea e não recebe o seu objeto das disciplinas educativas”(WALLON, 1981).

De acordo com (HUIZINGA apud ANTUNES, 1998) o jogo não é uma tarefa imposta, não se liga a interesses materiais imediatos, mas absorve a criança, estabelece limites próprios de tempo e de espaço, cria a ordem e equilibra ritmo com harmonia.

Pensando nisso, deve-se ter um olhar diferenciado na execução dos jogos em crianças não alfabetizadas, pois eles devem ser vistos como leituras da realidade e como ferramenta de compreensão de relações entre elementos significantes (palavras, fotos, desenhos, cores, entre outros) e seus significados (objetos). Nesse contexto, (PIAGET apud ANTUNES, 1998, p. 67) destaca quatro etapas que, em todos os jogos, podem ser claramente delineadas: os índices, relações significantes estreitamente ligadas aos significados (é o caso de uma pegada de um animal indicando sua passagem pelo local); os sinais, relações indicadoras de etapas e marcações dos jogos (como é o caso do apito ou dos sinais de início, término ou etapas), os símbolos, relações já mais distantes entre os significante e o significado (fotos, desenhos, esquemas) e, finalmente, os signos, elementos significantes inteiramente independentes dos objetos (como as palavras e os números). Utilizando essas etapas, a seleção dos jogos que eventualmente se empregará deverá evoluir  de jogos estimuladores de índices aos estimuladores de signos,e, desta forma, jogos que estimulam o tato, a audição, o paladar (índices) devem preceder aos que estimulam ou se apóiam em sinalizações e após estes tornam-se inteiramente válidos os que levam à descoberta de símbolos (pesquisar revistas, recortar, colar, desenhar, dramatizar) e após, os que exploram símbolos e que já pressupõem a compreensão de letras e desenhos de objetos correspondentes às palavras.

A brincadeira para a criança não representa o mesmo que o jogo e o divertimento para o adulto, recreação, ocupação do tempo livre, afastamento da realidade. Brincar não é ficar sem fazer nada, como pensam alguns adultos, é necessário estar atento a esse caráter sério do ato de brincar, pois, esse é o seu trabalho, atividade através da qual ela desenvolve potencialidades, descobre papéis sociais, limites, experimenta novas habilidades, forma um novo conceito de si mesma, aprende a viver e avança para novas etapas de domínio do mundo que a cerca.

Brincando a criança pode agir cognitivamente, pode enfim ser livre para determinar suas próprias ações, ser dona de seu próprio destino e tomar decisões, comunicar-se. "O saber se constrói, fazendo próprio o conhecimento do outro." (FERNANDEZ, 1990).

Brincar é um espaço privilegiado, proporciona à criança, como sujeito, a oportunidade de viver entre o princípio do prazer e o princípio da realidade... Brincando a criança vai, lentamente, estabelecendo vínculos, brinca com os objetos externos e internos num processo de trocas intensas com a realidade e com a fantasia. O brincar proporciona ao sujeito liberar o medo do novo, do desconhecido. A criança brinca com o desconhecido para torná-lo conhecido, brinca com o medo para que possa dominá-lo. (LIMA, 2006).

Segundo Winnicott (1975 “o brincar facilita o crescimento” e, em conseqüência, promove o desenvolvimento. A criança que não brinca não se desenvolve saudável, Há uma ruptura em seu desenvolvimento motor e sócio/afetivo. Evidentemente demonstrará apatia diante de situações que lhe exijam o raciocínio lógico, a interação, a atenção.

Brincar é parte integrante da vida social e é um processo interpretativo com uma textura complexa, onde fazer realidade requer negociações do significado, conduzidas pelo corpo e pela linguagem. (FERREIRA, 2003).

A teoria Walloniana ressalta que é através da imitação que a criança vive o processo de desenvolvimento e que este é seguido por fases distintas, porém, a quantidade de atividades lúdicas realizadas proporcionarão o seu progresso. Não existe na criança um jogo natural, portanto: “[...] a brincadeira pressupõe uma aprendizagem social. Aprende-se a brincar.” (BROUGÉRE, 1989, p.39 apud WAJSKOP, 1999, p. 29).

5 A ludicidade e o processo ensino-aprendizagem        

A origem do lúdico se dá a partir da palavra latina "ludus" que quer dizer "jogo”. Se confinado a sua origem, o termo lúdico estaria imbricado apenas ao jogar, ao brincar, ao movimento espontâneo. O lúdico passou a ser reconhecido como traço essencial de psicofisiologia do comportamento humano. De modo que a definição deixou de ser o simples sinônimo de jogo. (ALMEIDA, s/d).

Através dos jogos e das brincadeiras o educando desenvolve a sua criatividade, melhora o seu desempenho no processo ensino-aprendizagem e eleva sua auto-estima, porém, o educador deve ter cautela na execução dos jogos em seus fins didático-pedagógicos, para que não se transformem em atividade dirigida e manipuladora.

Volpato (2002) nos aponta que o jogo deve ser visto como “possibilidade de ser mediador de aprendizagens e propulsor de desenvolvimento no ensino formal”, porém quando “[...] a atividade se torna utilitária e se subordina como meio a um fim, perde o atrativo e o caráter de jogo”.

O lúdico favorece a relação da criança com o mundo externo, bem como a formação de sua personalidade. Através da atividade lúdica e do jogo, a criança começa a formular conceitos e idéias, estabelece relações lógicas, integra percepções, faz estimativas de acordo com o seu desenvolvimento físico e psíquico, o que torna favorável a sua socialização.

O convívio lúdico e prazeroso com a aprendizagem propiciará a criança o estabelecimento das relações cognitivas às experiências vivenciadas, bem como irá relacioná-la as demais produções culturais e simbólicas de acordo com a metodologia aplicada.

Compreender o jogo, a brincadeira e o brinquedo como manifestações culturais de profunda significação, principalmente para a criança, e reconhecer a necessidade dessas atividades no processo de desenvolvimento infantil, [...], é importante, sobretudo pela necessidade urgente de a escola vir a ser um lugar mais prazeroso. (VOLPATO, 2002).

A mobilização dos esquemas mentais infantis se consolida nas situações lúdicas que lhe são proporcionadas.  Por se tratar de uma atividade mental e física, a ludicidade ativa e aciona as funções psico-neurológicas e as operações mentais, estimulando assim o pensamento.

O jogo é um fator didático altamente importante; mais do que um passatempo, ele é elemento indispensável para o processo de ensino-aprendizagem. Educação pelo jogo deve, portanto, ser a preocupação básica de todos os professores que têm intenção de motivar seus alunos ao aprendizado. (TEIXEIRA, 1995).

Por tanto, o jogo quando aplicado em caráter pedagógico tem a intenção de provocar aprendizagem significativa, estimular a construção de novo conhecimento e principalmente despertar o desenvolvimento de uma aptidão ou capacidade cognitiva que possibilita a compreensão e a intervenção do indivíduo nos fenômenos sociais e culturais.

Considerações Finais

Ao término deste trabalho, constatamos a importância das atividades lúdicas e o seu papel fundamental na estruturação e equilíbrio do psiquismo infantil, pois é no brincar que ela utiliza componentes da fantasia e da realidade e começa a diferenciar o real do imaginário, bem como a utilização dos jogos como atividade prazerosa no desenvolvimento global da criança, por desenvolver a inteligência, a afetividade, a motricidade e a sociabilidade.

Neste prisma, as brincadeiras se consolidam em seu benefício maior, que é aprimorar funções psicomotoras e neurosensoriais. Brincar com o corpo necessita de um estado de atenção, requer controle, percepção corporal e viso- manual. Além disso, ao brincar em conjunto, a criança passa a ter uma experiência de socialização rica, pois em contato com o outro ela aprende a tomar conta de seus impulsos e respeitar o espaço do outro.

A criança constrói sua ralação com o lúdico através do brincar, desde os seus primeiros meses de vida, por meio das interações sociais. Essa experiência acontece em sua participação nas atividades lúdicas, através da observação de outras crianças e pela manipulação de objetos. As brincadeiras são sempre um meio facilitador à transformação do desenvolvimento da aprendizagem na infância. É de extrema importância resgatar o lúdico nas salas de aulas, porém com enfoque e respeito à diversidade cultural para que desperte a vontade de aprender nas crianças. 

Referências

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Autor: Flávia Regina Araujo


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