Mundo assaltante



  MUNDO ASSALTANTE

 

         Em uma tranquila tarde de sábado, quando o vento soprava suavemente preguiçoso enquanto o sol se escondia de mansinho por detrás das nuvens. Caminhava descontraído pela Rio Branco enquanto observava as vitrines das lojas com seus artigos de luxo e propostas indecentes de liquidação, prontas para nos assaltar o bolso, quando, uma cena no outro lado da avenida chamou-me a atenção: tratava-se de um assalto de verdade. Daqueles que a gente só costuma ver em filmes ou quando fazemos parte de seu contexto.

         O assaltante, com a arma apontada para a sua vítima (um senhor de cabelos grisalhos, aparentando em média uns 40 anos, com ar de executivo), ordenava que o mesmo “passasse tudo”. O homem, sem muita escolha, primeiro tirou o relógio e o entregou ao bandido, depois, a carteira de documentos, em seguida, um celular que se encontrava no bolso da camisa. O assaltante lhe dirigiu mais algumas palavras enquanto gesticulava nervoso com a arma na mão e o pobre homem mais uma vez foi se desfazendo de seus pertences: mais um celular que se encontrava no bolso do paletó e, de repente, uma arma reluzente apareceu em sua mão, roubando a cena do crime.

         O cidadão disparou a queima-roupa contra o assaltante que, caindo ferido na calçada, gritava de dor. Como se não bastassem tais acontecimentos para uma “tranqüila tarde de sábado”, a vítima recolheu todos os seus pertences, colocou-os em seus devidos lugares e, quando ia guardar a arma, observou o relógio do assaltante que, por sua vez, era mais bonito que o seu. Aproximando-se do mesmo, examinou atentamente o relógio e, como se nada tivesse acontecido, tirou do braço de seu dono, com toda calma para não manchá-lo de sangue. O assaltante gritava, esbravejava e, ao mesmo tempo, implorava para não ser assaltado por sua vítima que, ao invés de ser assaltada passara a assaltar o assaltante que tentou lhe assaltar sem sucesso.

         Em alguns minutos, a vítima assaltante se mandou em direção à Prefeitura, fugindo de possíveis patrulhas policiais já acionadas pelos transeuntes e testemunhas oculares como eu, deixando para trás o assaltante todo ensangüentado na calçada.

         Enquanto isso, observando de longe todas essas tristes e curiosas cenas, comecei a questionar-me: e se a polícia prendesse em flagrante a vítima assaltante? Com certeza, ela teria sido culpada no mínimo por porte ilegal de arma ou por assaltar a mão armada o relógio do assaltante que não conseguiu lhe assaltar. Ou quem sabe ainda, a polícia iria fazer um novo assalto, apreendendo para si as duas armas em cena, os dois celulares e os dois relógios, levando o assaltante para o hospital e mandando a vítima assaltante sumir do mapa.

         Com toda essa confusão, resolvi pegar o ônibus e ir para casa, tomar uma ducha e, em seguida, assaltar a geladeira antes que minha esposa e as crianças voltem. Senão, é bem capaz de ter que passar mais uma tarde com fome, antes da chegada da bendita hora do jantar.


Autor: Henrique Eduardo De Oliveira


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