À margem do lixo



À margem do lixo 

Por Fernando Grecco

“...Rádio e televisão... como definidos na Constituição, têm por fundamento filosófico a finalidade educativa e cultural... o respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família, sendo permitida a exploração comercial desses serviços, na medida em que não prejudique esse interesse e aquela finalidade.” (Ministério da Cultura) 

Vivemos em uma sociedade com uma pobreza alarmante. Nossas instituições são corroídas pelas práticas de corrupção, tráfico de influência etc. As crises de natureza econômica são recorrentes, e aquelas de natureza pessoal são ainda mais evidentes quando se analisa os problemas específicos de cada indivíduo. Nossa imprensa de modo geral, e a televisão de modo específico, retratam bem essa nossa realidade. A programação exibida na televisão brasileira é o produto da nossa ignorância, da nossa falta completa de bom senso ou espírito crítico. A empatia surgida entre as escabrosidades que são apresentadas e o telespectador brasileiro é perfeitamente compreensível. E não poderia ser diferente, visto que poucas famílias –

 Bloch, Levy, Nascimento Brito, Mesquita, Civita, Marinho, Frias, Saad, Abravanel, além de Magalhães na Bahia, Sarney no Maranhão, Collor em Alagoas, etc. – exercem total influência nos meios de comunicação no Brasil. São oportunistas, posando de homens públicos respeitáveis, que ludibriam o povo e dele debocham.

Julgamo-nos incapazes de mudar essa realidade, esquecendo que a televisão, especificamente, é concessão pública, devendo, obviamente, estar relacionada a questões de natureza social: analfabetismo, violência, saúde, habitação, prostituição, drogas, informação correta e imparcial etc.   

De modo geral, a televisão brasileira se resume a uma escória. Humor primitivo, exposição exagerada do corpo, novelas maniqueístas simplórias, neopentecostalistas charlatões, entrevistas fúteis, desnecessárias, apologia do ridículo, do supérfluo e da burrice. Isso tem sido a programação da nossa TV aberta. uHumoEla promove diariamente a aculturação, o emburrecimento coletivo da sociedade brasileira, carcomendo nossas capacidades de raciocínio sem possibilidades de reciclagem. A televisão adentra no tecido popular constituindo as piores das opiniões: tendenciosas, parciais, difamadoras, e, sobretudo, falsas. Temos exemplos infinitos da falta de qualidade da televisão brasileira e da moléstia social que isso tem nos causado.

Atualmente, a TV brasileira se especializou em retratar a desgraça alheia. Mas não se trata de uma representação crítica da nossa realidade, expondo de forma empírica nossas enfermidades de natureza política, econômica, social ou cultura. Não. Ela tem praticado o sensacionalismo e o erotismo barato de forma inédita, absurda e inacreditável. Aos domingos, o show de horrores parece alcançar o cume da boçalidade e do mau gosto extremo. Ostentam programas de auditório que recorrem para o exibicionismo vulgar de garotas fisicamente avantajadas que, na maioria das vezes, encontram-se em situações que aludem a práticas concupiscentes. Vemos, constantemente, cenas de lubricidade, de luxúria, em um apelo impetuoso aos desejos mais primitivos dos telespectadores.

Prosseguindo na programação dominical, as emissoras exploram os infortúnios daqueles miseráveis que o sistema produz diariamente. Sorteio de casas a pessoas pobres, carros, reencontro de pai e filho, pessoas em estados terminais, abandonadas em condições totais de exclusão, enfim, um forte estímulo à comiseração do telespectador serve de sustentáculo as altas audiências registradas. Esquece-se que esse sensacionalismo barato em nada contribui para mudar a péssima distribuição de renda no País que ela, a televisão, sendo instrumento das elites dominantes, contribuiu sobremaneira para que isso ocorresse.

Por fim, outro fator que expressa as razões pelas quais somos tão primitivos e inescrupulosos é a exibição constante de vídeos contendo desastres, muitas vezes sérios, que são mostrados de forma intercalada e irônica ao público. Acidentes automobilísticos, quedas, bullying, constrangimentos a idosos, crianças, e uma série de algazarras tolas que são evidenciadas nos sorrisos de prazer pela desgraça alheia. Assim, essa programação tem cooperado para a deformação social, para a ignorância incitada e congregada aos mais depravados exemplos recebidos e, principalmente, tem oferecido à sociedade brasileira a única opção de ser um povo sem o mínimo de senso de realidade. 

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Autor: Fernando Grecco


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