Treinamento do “inputi” em desvios fonológicos: discusão de um caso



AUDREI A. MOTTA

Treinamento do “inputi” em desvios fonológicos:

Discusão de um caso

 

Introdução

         Nos últimos 20 anos ocorreram mudanças no modelo de descrição teórica, avaliação dos desvios e estratégia para o tratamento em muitas patologias da fala. Foi aqui que se começou a estudar os “desvios fonológicos”. 

         Lançou-se o livro de Ingram PHONOLOGICAL DISABILITY IN CHILDREN (1976), e a partir daí que os lingüistas clínicos passaram a conceber que os desvios de fala não eram só no nível articulatório, mas no nível cortical central de representação dos padrões de sons da fala, e o termo “desvio fonológico” entrou no vocabulário.

Descrição e explicação

         GRUNWELL (op. cit), em uma exposição clara da presente discussão, reforça a necessidade de fazer-se distinção entre a análise da linguagem como:

→ “uma descrição sistemática dos padrões de produção observados”

Ou como:

→ “uma explicação psicolingüística dos processos reais envolvidos na produção dos padrões de fala de uma pessoa”.

         As duas análises são descritas como sendo:

  →baseada nos dados, os padrões de fala são descritos como fonologicamente inadequados;

  →baseada no falante- é dada uma explicação de por que os padrões de fala estão em desordem, e desse modo, é especificada a etiologia.

 

Abordagens fonéticas e fonológicas no tratamento

         Uma explicação ou diagnóstico do desvio é um pré-requisito altamente desejável para o tratamento.

         Na teoria, é importante que ambos os fatores, fonológico e fonético/articulatórios, sejam considerados na avaliação do desvio,anteriormente ao tratamento; e a terapia deve ser direcionada. ( cada caso é um caso) ex: criança cuja fala é ininteligível e, contudo, não apresentam nenhum déficit orgânico observável.

 

Uma abordagem tridimensional para o tratamento

 

         Deve existir um equilíbrio entre todos os níveis de processamento da fala agindo interdependentemente. A terapia deve estar voltada para três aspectos: a percepção, fonologia e articulação.

Avaliação inicial

          A paciente M tinha 4 anos e 5 meses, era a caçula da casa. Sua fala era ininteligível. Às vezes se compreendia algo por pistas do ambiente. Ela era retraída, preferindo que a mãe os irmãos falassem por ela.

Avaliação da fala

         Os dados coletados por nomeação foram analisados segundo PACS ( Grunwell 1985b). A fala espontânea foi impossível de ser analisada.

Outras avaliações

         Pouco foi encontrado de falha de processamento em outro nível; a linguagem receptiva, a habilidade auditiva e a discriminação auditiva provaram estar dentro dos limites normais. As estruturas orais estavam normais e os marcos de desenvolvimento atingiram as idades esperadas.  

O que se achou então:

→ M era pequena e frágil;

 → Boa concentração, porém não ficava sentada por um período de tempo mais longo, dificuldades de coordenação óculo-manual fina;

→ Hesitação em alguns movimentos de língua, especialmente na elevação da língua;

­→  Pequena hesitação em seqüências sem significado. Ex: cv,vc, vcv.

Conclusão:

Não tinha nenhum fator etiológico, nem o déficit orgânico ou neurológico que pudesse estar agindo sozinho.

O programa de terapia

         Em casos como esses recomenda-se um enfoque triplo:

 Elementos de facilitação articulatória; Terapia fonológica para expandir o sistema e as estruturas; Reforço através de uma constante referência ao “input” auditivo.

       

 Teve três estágios:

Estágio I:  o terapeuta ou fazia som , por exemplo, / f/ ou a M tinha que olhar para o trato vocal( mesmo para sons não visíveis isso ajudava.)

Estágio II: foram apresentadas palavras reais com o objetivo de remover o foco da “oposição” e concentrar na “articulação” em diferentes ambientes fonéticos. 

         M teve sucesso nos dois estágios enquanto recebia ajuda. Então se passou a interrogá-la para que ele falasse. E a partir daí o sucesso foi aumentando.

Reavaliação

         M teve atendimento por 6 meses. Porém o resultado foi insatisfatório, pois, seu progresso foi muito pequeno.

         Isso a levou para o estágio III: concentrou-se somente no “input” auditivo.

         Após 6 meses foi verificado que o progresso de M havia aumentado.Ela superou os estágios I, II e III.

Discussão

Nenhum diagnóstico foi possível. Um enfoque fonológico direto foi ineficiente. O treinamento do “input” foi superior. Ensino X aquisição como função importante.


Autor: Audrei A. Motta


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