A revolução dos bichos - George Orwell



ORWELL, George. A Revolução dos Bichos. São Paulo: Editora Companhia da Leitura, 2006.

Eric Arthur Blair, mais conhecido pelo pseudônimo George Orwell foi um escritor e jornalista inglês, nasceu em Motihari – Índia , no dia 25 de junho de 1903, falecendo em Londres - Inglaterra, no dia 21 de janeiro de 1950, foi um libertário, expondo seu horror a qualquer tipo de sistema totalitário.

Sua obra é apontada por uma inteligência sutil e bem humorada, uma consciência profunda as injustiças sociais, uma clara aversão ao totalitarismo e uma idolatria pela nitidez da escrita. Apontado como admirador da sugestão anarquista, o escritor faz uma alegação da autogestão. A sua confiança no socialismo democrático foi estremecido pelo socialismo real que ele apontou em Animal Farm.

É considerado o melhor cronista da cultura inglesa do século XX. Orwell se empenhou em escrever ficção, artigos jornalísticos polêmicos, crítica literária e poesia. É conhecido pelo romance diatópico Nine teen Eighty-Four e pela novela satírica Animal Farm. (1945). Tais obras venderam mais cópias do que os dois livros mais vendidos de qualquer outro combate voluntário no lado republicano da guerra civil espanhola também são altamente aclamados, do mesmo modo como seus ensaios sobre literatura, política, linguagem e cultura.

A abrangência das obras de Orwell na cultura contemporânea, tanto popular quanto política, persiste até os dias atuais. Vários neologismos instituídos por ele, assim como o termo orwelliano, que é usada para definir qualquer fenômeno social draconiano, manipulativo ou um conceito contrário a uma sociedade.

O livro tem mais de 150 páginas, divido em dez capítulos, que conta uma história de ficção, tendo como contexto histórico social a Revolução Russa de 1917, estabelecendo analogias das atitudes, conceitos e regimes políticos de uma sociedade humana com a que descreve no livro, que é uma sociedade formada por bichos.

A Revolução Russa de 1917 foi uma série de revoltas políticas na Rússia, que teve várias guerras e conflitos após a eliminação da autocracia russa. Envolve duas fases distintas: a Revolução de Fevereiro e a de Outubro.

A Revolução de Fevereiro caracterizada pela entrada e permanência da Rússia na guerra, que provocou um pequeno momento de euforia, logo suprido por insatisfações população civil e dos meios militares. Soldados que estavam desnutridos e mal-armados, eram dizimados aos milhares nas frentes de combate.

No plano político, cresceu a oposição na Duma, sobretudo quando Nicolau II tomou o comando do exército e deixou os interesses internos sob o comando da czarina Alexandra. Em fevereiro, surgiram várias manifestações populares, inicialmente em Petrogado e depois tomando conta de toda a Rússia. No dia 2 de março de 1917, o Czar abriu mão do trono. Estabelecendo então o primeiro governo provisório, controlado pela burguesia liberal, sob o comando de Alexandre Kerensky.

Na Revolução de Outubro, os insurretos de fevereiro sabiam perfeitamente o que não queriam que ocorresse a instalação do czarismo, mas não tiveram êxito no projeto alternativo de poder, principalmente porque a revolução saíra vitoriosa em um curto período.

As forças políticas, nesse período, estavam divididas em três correntes, a corrente dos Kadetes, que era um partido formado pela burguesia liberal, defendia seus direitos de propriedade e a permanência do país na guerra. O Partido Bolchevista que defendia a apreensão das grandes propriedades e o controle da indústria pelos operários e não defendiam a permanência da Russa na guerra e por último, o partido dos Menchevistas, que acreditavam numa revolução realizada gradativamente e por medidas reformistas e eram contra a guerra.

As manifestações ocorridas em julho reuniram operários, soldados e marinheiros que gritavam a expressão de ordem mais popular da época que era paz, terra e pão, sob o comando do partido Bolchevista, que acabou sendo derrotado e levado à clandestinidade.

 Entre os operários das fábricas e os camponeses pobres ouvia–se freqüentemente falar de "todas as terras aos camponeses" e "todas as fábricas aos trabalhadores". Se o professor tivesse visitado as trincheiras, verificaria, também, que os soldados só falavam em paz... O homem ficou aturdido, mas não havia razão para tal. Ambas as observações eram corretas. Na Rússia, as classes dominantes tornavam-se cada vez mais conservadoras, e as massas populares, cada vez mais radicais. (REED, 2002, p. 26)

 Kerensky assumiu o poder como primeiro-ministro, formando o segundo governo de coalizão, cuja maioria era menchevista e sociais revolucionários.

O partido Bolchevista crescia. Trotsky elegeu-se presidente do Soviete de Petrogrado, o que acabou com a hegemonia dos menchevistas e dos sociais-revolucionários que na época controlavam a organização.

Ao tomar o poder, os bolcheviques assinaram a paz com Alemanha. A guerra civil, que irrompeu em 1918, entre os brancos antigos monarquistas e outros setores que haviam sido derrotados na Revolução de Outubro de 1917, contra os bolcheviques, aprofundou ainda mais a revolução. Apesar do subsídio estrangeiro, o governo de Lênin prevaleceu sobre seus inimigos internos e solidificou a revolução do comunista no antigo império dos czares. Lênin concebeu a Nova Política Econômica, definida como um passo atrás para dar dois passos à frente.

Em 1924, a morte de Lênin resultou numa luta pelo poder, onde protagonizavam Tróstski e Stálin no cenário da disputa pelo controle do poder. Com a vitória das teses de consolidação do socialismo interno no Soviet (antiga Duma) o poder foi entregue a Stálin, iniciando assim um período de terror tendo como base a eliminação de possíveis opositores em todas as instâncias da administração, do corpo diplomático, do exército, do partido, da política e das universidades.

Vivendo praticamente isolada do mundo, a URSS, por vontade própria ou pela implantação do Cordão Sanitário, depois da Primeira Guerra Mundial, apresentou-se no final da década de 1930 como o grande mistério para as potências socialistas, construiu não só um regime alternativo ao capitalismo, como ao mesmo tempo insurgiu sob caráter de grande potência, principalmente devido aos planos qüinqüenais que tinham objetivos de delinear a economia.

No livro é descrito uma revolução que acontece na Granja do Solar, posteriormente se tornará a Granja dos Bichos. Um porco de doze anos, chamado Major, tem um ideal de todos os animais livres, que todos poderiam deixar de ser escravos dos humanos, que são seus donos. Com esse intuito, o mesmo propõe uma revolução que possa colocar em prática o Animalismo, tal vocábulo criado para se comparar com o Comunismo. Nesse Animalismo, os animais trabalhariam para si mesmo e não deviam mais nenhum tipo de obediência aos humanos, configurando o ideal libertário. Com a morte de Major, Bola-de-Neve e Napoleão, que são porcos ficam com a missão de cuidar dos ideais cultivados por Major, colocando em prática o Animalismo.

Após os donos deixarem de alimentar os animais da Granja, os mesmos se revoltam, e tentam invadir o armazém que continha os alimentos, mas são impedidos por Jones e seus ajudantes que notam a invasão e chegam ao local chicoteando os animais contendo então a possível invasão. Assim, os animais vão à luta e conseguem expulsar Jones e sua mulher da Granja do Solar, dando início a uma nova vida aos animais. Começa então o Animalismo proposto pelo Major, todos vão aos campos e trabalham onde os frutos do trabalho dos bichos serão divididos de forma igual a todos. Os porcos são únicos da granja que sabem ler e eram tidos como inteligentes por todos da Granja, ficando com eles a missão de organizar a então formada comunidade.

A Granja do Solar tem seu nome mudado para Granja dos Bichos, fabricando uma bandeira como tendo no seu centro o símbolo do Animalismo, que é um chifre e uma ferradura, podendo ser verificado nesse momento a referência do autor com a bandeira do comunismo. Por conta de brigas, Napoleão expulsa Bola-de-Neve da Granja, por esse último não aceitar as idéias de Napoleão.

 Sem perceber, a escravidão vai insurgindo na Granja, mudando apenas a posição de antes trabalharem para humanos, e agora para os porcos, desta forma, os animais que tinham ojeriza dos humanos, vão gradativamente se tornando iguais a eles.  Nesse momento, a desigualdade social brota na Granja, onde cachorros e porcos ficam numa posição privilegiada, comparada a uma nova burguesia e os demais como subordinados, escravos dos primeiros.

Os mandamentos vão sendo modificados conforme vontade de Napoleão. Uma espécie de alienação vai sendo feita nos demais bichos, o que é fácil de ser alcançado já que os demais bichos da Granja não possuem a boa memória como a dos porcos, que inventam até que foi herói, colocando em contrapartida a imagem de Bola-de-Neve como uma pessoa desleal e traidora dos bichos, nesse ponto, há que se fazer uma comparação com os dias atuais, onde os objetivos, as teses de defesa mudam conforme o interesse de quem está no poder, é clara a manipulação do porco Napoleão, que tem o domínio da memória, do conhecimento, sobre os demais bichos, colocando esses com características de humanos, ignorantes e influenciáveis. O controle sob a memória visto no livro é facilmente adequado aos dias de hoje, ao vermos um político sendo acusado de corrupção ser reeleito após algum tempo.

É clara a crítica do livro ao totalitarismo em referência ao que foi praticado por Stálin, tanto que o Major representa a figura de Lênnim, Bola-de-Neve é o Trotsky e Napoleão sendo Stálin. A brilhante intuição e consciência de Ornwel fazem de uma história de ficção tendo como protagonista os animais exatamente o reflexo da revolução feita pelos homens na Rússia.

Por fim o livro mostra que o fato de se tentar mudar a sociedade é inviável, já que o homem não muda, tanto que o compara ao porco, pois vivem em luta pelo poder, por cobiça, retratando as peculiaridades humanas mais perversas como a imoralidade e a corrupção, tanto que os porcos iniciam sua luta contra os humanos, e acabam sendo iguais a eles.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Autor: L. G. M.S.


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