Gladiadores



GARRAFONI, Renata Senna. Gladiadores na Roma Antiga: dos combates às paixões cotidianas. São Paulo; Annablume; Fapesp, 2005.

 

Falar do tema Gladiadores na Roma Antiga, sempre nos remete a lutas cruéis, no Coliseo, onde cristãos eram covardemente massacrados por romanos. Ao nos deparamos com este livro veremos que a história é outra, sem tais generalizações.

 

Renata Senna Garrafonni, é graduada, mestre e doutora em História pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é professora magistério superior (adjunto 1) na Universidade Federal do Paraná. Tem experiência em História com ênfaseem história Antigae atua junto ao Centro de Pensamento Antigo (CPA) e o Núcleo de Estudos Estratégicos (NEE), ambos na UNICAMP.

 

Excelente e minucioso trabalho de pesquisa da professora Renata Senna Garrafonni, traz uma luz sobre um tema que é cercado de preconceitos e generalizações. Ao analisar sob todos os aspectos os munera romanos, desfaz literalmente a imagem de violência desmedida, em uma arena só, de romanos contra cristãos que nos é passada através dos anos. Para nós estudantes de história é uma demonstração da importância e do uso devido da iconografia como fonte de pesquisa e da imparcialidade do historiador ante o seu objeto de pesquisa.

 

 

 

 

No primeiro capítulo intitulado A singularidade de um Império: Glória e sangue nos anfiteatros romanos, a autora cita a luta pela tutela e preservação do patrimônio em terras italianas no final do séc. XVIII, início do XIX.

Em seguida, a autora faz uma exposição da violência contida nos gladiadores, através de uma análise do binômio violência/crueldade. Faz também Renata Senna Garraffoni, uma exposição de como era a Império romano e a imagem que temos e nos é passada ao longo dos tempos de tal Império, inserindo os combates nos anfiteatros nesse contexto. Vale ressaltar que os combates são bem anteriores ao Coliseo (Anphiteatrum Phlavium), e que existiam vários anfiteatros em várias regiões e não só o Coliseo.

Neste capítulo é descrita a função social dos combates, combates como a de “acomodar a violência dentro de uma ordem social”, como um controle da população através dos espetáculos nos anfiteatros.

 

No segundo capítulo Arena antiga e olhares modernos: Gladiadores Romanos sob as lentes da História, Garrafonni analisa diferentes fontes escritas e documentos materiais para dar nova luz a conceitos aplicados à época, como “pão e circo” e “plebe ociosa”.

Neste capítulo, a autora discorre acerca da utilização das lutas nas arenas, como uma construção de “romanidade”. Tentando construir e passar uma imagem de “cidadão romano”.

Vários pesquisadores citados pela autora ressaltam a necessidade de “domesticação” do povo através dos combates nas arenas, usando as arenas como controladoras da criminalidade e das manifestações de insatisfação popular. Há também o uso das arenas para exaltar a figura dos governantes, nas arenas há a distribuição de alimentos e uma demonstração visível das hierarquias sociais. Era exposta a figura do Imperador virtuoso em oposição a do gladiador bárbaro.

As arenas, por assim dizer, eram locais de encontro de todas as camadas da sociedade romana, dos nobres à plebe. Uma interação para formalizar uma nova identidade através de símbolos imperiais. Uma exibição da moral e dos bons costumes romanos.

A autora descreve que os combates não eram restritos só as arenas, mas faziam parte da vida romana e que existia toda uma produção, todo um aparato por trás dos combates, que nos leva até a perguntar: Quem participava ativamente da organização dos combates?

Há uma descrição acerca das relações humanas nas arenas de madeira e de pedra.

 

No terceiro capítulo Subindo arquibancadas: Anfiteatros romanos e dinâmica social é mostrada a arquitetura dos anfiteatros, sua construção e o significado de cada espaço nos anfiteatros, o cuidado na estrutura das construções, a dinâmica social contida no interior doa anfiteatros que eram construídos em madeira e depoisem pedra. Durante um bom tempo existiam anfiteatros de madeira e de pedra, depois as arenas de pedra foram dominando as construções. Há os centros de treinamento de gladiadores.

Havia anfiteatros em toda área do império romano como na Hispânia. Há autores que descrevem até anfiteatros com uma estrutura para espetáculos aquáticos. Em todas as construções ficava claro que o desenho das arenas demonstrava uma hierarquia social.

 

No quarto capítulo das arenas às cidades romanas: repensando o cotidiano dos gladiadores, é um relato da figura humana dos gladiadores, e é bom lembrar que não eram só homens, também havia combatentes mulheres.

Através de um excelente estudo feito à partir de imagens iconográficas dos mais diversos tipos, como lápides funerárias, grafites parietais, análise das vestes e armas usadas pelos gladiadores, é dado um valor humano aos combatentes, que não são vistos só como máquinas de produzir violência e crueldade. Há várias interpretações diferentes do sentido dos combate e a utilização das lutas e da figura do gladiador como uma metáfora pra criticar adversários políticos.

Vimos neste capítulo o homem por trás do gladiador, que tinha sua vida comum, alguns eram escravos, outros não; alguns tinham mulher e filhos e até nobres participavam dos combates. A autora foi brilhante não generalizando os guerreiros e seus combates e tentando compreender a particularidade de cada um.

Por fim a autora nos brinda com um catálogo de imagens iconográficas de um valor documental importantíssimo e que fecha com chave de ouro tão brilhante obra.

 

Nós, leitores até certo ponto “leigos”, ficamos maravilhados com as informações contidas neste livro que abre a mente e os corações de quem o lê, para um lado menos estereotipado e mais humano sobre os combates nas arenas romanas.

Queremos assim que outras pessoas, leigos ou não, dispam-se de qualquer juízo de valor e saboreiem tão esclarecedora e cuidadosa obra.

Leiam e vejam que vão caindo por terra um a um conceitos equivocados sobre os munera.

No mais queremos que leiam e passem a leitura adiante, para que esta nova luz seja sentida por um número cada vez maior de pessoas, profissionais da área, estudantes ou simplesmente leitores comuns.

 


Autor: Cláudio Rogério Abrita Gonçalves


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