Prática pedagógica da avaliação como aprendizagem



PRÁTICA PEDAGÓGICA DA AVALIAÇÃO COMO APRENDIZAGEM

Pensar e querer uma escola inserida no nosso tempo e que aponte para além dele é pensar e querer uma escola cidadã formadora de alunos capazes de viver o exercício da cidadania. Portanto precisamos pensar e fazer uma escola conectada com a sociedade, consciente de seus desafios, com clareza das noções de direito, dever, liberdade e igualdade. Uma escola que repense sempre o conceito de educação e compreenda que educar é uma ação cúmplice de um tempo determinado, mas sempre apontada para a sua superação. A cidadania é fruto de uma construção permanente, que se faz a partir da capacidade do cidadão de pensar a vida social coletivamente tomando parte dela, formando-se para isso, construindo-se todo dia. Essa aprendizagem, filha do movimento, exige a assimilação de um principio que se funda na capacidade de avaliar, o que simplifica comunicar, dialogar, estabelecer relações, buscar o entendimento.

Nesta perspectiva avaliar, antes de ser análise de uma questão pontual, é uma síntese e assim precisa ser pensada. Como totalidade que abarca do início ao fim uma etapa determinada; avaliar não é uma mera tarefa analítica de um momento que pergunta pelos momentos anteriores e, quer uma resposta pronta, imediata. Avaliar é uma questão do cotidiano, aquela que se faz todos os dias, que na escola se traduz na interação professor/aluno no acompanhamento individual e coletivo, no conhecimento dos avanços e limites. Para que na escola e na vida ele se analise e se autoavalie sempre e se construa dessa maneira.

Acreditamos que avaliando todos os momentos da aprendizagem escolar, o aluno e o professor estarão aprendendo também a avaliar todos os momentos de suas vidas na sociedade, aprendendo a descobrir-se, a pensar-se em si mesmo como parte do corpo social, com isso, aprende também que o erro faz parte da vida humana e especialmente da escola, que é lugar de aprendizagem. Não se aprende sem errar, refazer, testar. É preciso que a avaliação escolar assuma o erro como um rico momento de aprendizagem, pois assim acontece a compreensão, tomada de consciência. Como diria Gandim:“Antes de tudo é preciso tomar consciência do fato de que a experiência nova diz não a experiência antiga; se isso não acontecer não se trata evidentemente de uma experiência nova”.

Para adotar um projeto de avaliação que garanta a aprendizagem e elimine a seleção e a exclusão dos alunos, precisamos rever a nossa própria formação que nos instrumentalizou para favorecer o processo seletivo e excludente; precisamos rever a nossa prática avaliativa alicerçada em instrumentos legais que legítima a seleção prevendo o uso de provas, testes e notas.

Enfim, é preciso uma análise do que tem sido, para quê e a quem tem servido essa avaliação. A partir daí, é que começamos a apontar os novos caminhos, o que a avaliação ainda não é, mas que coletivamente vamos conseguir.

Entendemos como Cury e Demo que:“Como toda prática social, a avaliação não é algo exterior a nós como existência própria, mas sim, tem um significado intersubjetivo que é conseqüência de uma construção histórica e social determinada”

Porém a avaliação é usada como instrumento de coerção e controle social muitas vezes justificando-se naturalmente a seleção social, a discriminação e até a punição de determinados grupos.

Vale ressaltar que a avaliação deve propor uma ruptura com essas visões tradicionais, fundamentais que permeiam a educação e conseqüentemente as práticas pedagógicas decorrentes delas, assumindo uma visão contra hegemônica que contempla o desenvolvimento do sujeito e de todos os sujeitos do ato educativo.

O caráter de avaliação tem, portanto, outra lógica diferente: é ato político. Sendo assim, propicia e vivência mudança, avanço, transformação, enfim, a aprendizagem e não mais simples atribuição de notas/conceitos para a aprovação ou reprovação. Consideramos também o erro construtivo, como ponto de reflexão, busca de alternativas e desafio para novas construções: inclui a medida, mas não se esgota nela: a observação, o respeito e a flexão constante são alguns múltiplos instrumentos para levantamento de dados e ver a realidade. Nesse sentido a avaliação é dimensão intrínseca do ato de conhecer e, portanto fundamentalmente compromissada com o diagnostico do avanço do conhecimento quer na perspectiva de sistematização, quer na produção do novo conhecimento.

A avaliação nesta concepção faz parte do ato educativo do processo de aprendizagem. Avalia-se para diagnosticar avanços e entraves para interferir, agir-problematizando, interferindo e redefinindo os rumos e caminhos a serem percorridos. Nesta perspectiva a avaliação é vista com os objetivos de:

Oferecer um ensino que proporcione aos alunos condições de comunicar-se com os outros e com o mundo, estabelecendo a superação do senso comum ao longo do processo ensino-aprendizagem para a construção da cidadania tendo como base a comunidade.

Proporcionar ao educando o envolvimento consciente no processo educativo, com vistas a seu crescimento como agente do mesmo; estimular e oportunizar a formação crítica para o exercício consciente da cidadania; estimular o conhecimento e a vivência da educação evangélica libertadora para o crescimento da justiça, liberdade e fraternidade; favorecer a integração família/escola, visando a co-responsabilidade no processo educativo; priorizar a educação entre os alunos, e deles com o professor, e fazer com que os conceitos espontâneos desenvolvidos na convivência social evoluam para um nível dos conceitos científicos.

A organização do currículo tem por base assinalar plenamente os conhecimentos acumulados, ensinar o aluno a pensar, ensinar formas de acesso e apropriação do conhecimento elaborado para usá-los como autonomia ao longo de sua vida.

Quanto ao currículo, este não deve ser baseado em uma cultura comum; pois esta não existe, como também não deve ser instrumento de coerção social. Conforme diz Luria: “A comparação da atividade intelectual em diferentes culturas poderia produzir informações importantes acerca da origem e da organização do funcionamento intelectual do Homem”. (Luria, Aprid Silvio Rocha, 1994).

Também as disciplinas curriculares, têm caráter tradicional, torna-se evidente quanto o MEC limita o currículo a: Português, Matemática, Ciências e Estudos Sociais. Não se pensando em qualquer alternativa e inovação. Por esse e outros motivos uma pesquisa na comunicação para verificação da realidade. Assim oferecendo subsídios para a compreensão da sociedade, de forma a intervir na construção histórica através do bem comum, exercendo a sua cidadania. No que diz Sílvio Rocha (1994):

Assim o currículo é expressão da função socializada de uma instituição no conjunto das atividades mediante as quais um grupo assegura que seus membros adquiram a experiência sócio-históricamente acumulada e culturalmente organizada. (Sílvio Rocha, 1994).

A nosso ver muitas escolas vêm lutando por um ensino de qualidade, adequando a linha de trabalho pedagógico de acordo com a realidade, buscando o ensino participativo e uma integração com o coletivo. Ressalta-se que os educadores devem estar constantemente buscando novas metodologias que venham atender as reais necessidades dos educandos. Quanto ao aluno, ele adquire conhecimentos a partir das experiências diretas, vídeos, retroprojetor, filmes, entrevistas. Ao trabalharmos coletivamente assumimos novas posturas, abandonando os discursos vazios frente à realidade enquanto espaço concreto procurando detectar e resolver problemas comuns.

A interdisciplinaridade é apoiada na dialogicidade como referência para a construção do conhecimento, este partindo do senso comum para o conhecimento científico.

Portanto, a política educacional está condizente com o contexto social, pois a sociedade se fundamenta no homem, sujeito do desenvolvimento pessoal e social. “Por este motivo, opta-se por uma sociedade que respeite e defenda os direitos individuais e sociais da pessoa e favoreça o exercício da cidadania, e estimule as relações democráticas e participativas assegurando a liberdade de associação e organização”.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

CURY, C.R.J. Educação e Contradição. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 1995.

 

DEMO, Pedro. Avaliação sob o olhar propedêutico. Campinas, São Paulo: Papirus, 1996

 

------------------. Avaliação qualitativa: um ensaio introdutório. Campinas, São Paulo: Papirus, 1996.

 

 

– entre duas lógicas. Porto Alegre, RS: Artes Médicas Sul, 1999.

 

ROCHA, Sílvio. A escola mudou – Prefeitura Municipal de Porto Alegre. ASSTEPED – Assessoria Técnica Pedagógica, 1994.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Autor: Shirley Terezinha Lino Gama


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