Concepções dos educadores no município de esperança acerca do direito de brincar na educação infantil.



CONCEPÇÕES DOS EDUCADORES NO MUNICÍPIO DE ESPERANÇA ACERCA DO DIREITO DE BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL.

 

 

Valdely Dias de Araújo Barbosa (UFCG)

[email protected]

 

 

Resumo:

 

O presente artigo busca refletir a acerca do direito de brincar na Educação Infantil, bem como analisar como os educadores das instituições infantis no município de Esperança PB, concebem esse direito garantido por Lei às crianças. Para realizar este estudo, foram feitas algumas leituras norteadoras de alguns autores, a saber: Bomtempo (2005), Cunha (1998), Kishimoto (2003). Uma pesquisa documental, em que foram analisados documentos oficiais que regem a educação infantil: a Constituição da República Federativa do Brasil (1988), a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional – LBD – n° 9394/1996 e o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998). E uma pesquisa de campo em que foram aplicados questionários a quatro educadores do referido município, além da observação participante. Através deste estudo e da pesquisa realizada com os sujeitos educadores percebe-se que o brincar é algo que vai além de uma simples prática educativa realizadas nos pátios das Instituições Infantis deste município, é uma relação que vem desde o nascimento do bebê até chegar em todas as fases do seu desenvolvimento.

 

 Palavras-chave: Educação Infantil. Brincar. Direito da criança.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

O presente estudo intitulado "Concepções de educadores sobre o direito de brincar na Educação Infantil", tem como foco principal observar como os educadores do município de Esperança estão promovendo o brincar como processo de desenvolvimento infantil com as crianças de Creches e Pré-escolas.

Percebemos que este tema ainda precisa ser discutido entre pais, educadores e o âmbito escolar. Visto que o papel que exerce essas instituições, segundo a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) define que, a educação infantil não está querendo antecipar a vida escolar da criança, mas sim, desenvolver seus aspectos educativos.

Então, pode-se perceber nesse artigo que a finalidade da inserção da criança nas creches e Pré-escolas será para desenvolver infinitos aspectos sócio-cognitivos, visto que, estarão inseridas num ambiente propiciador de interação com outras crianças.

Segundo Cunha (2001, p. 27) a pré-escola está sendo transformada em escola e as crianças de três anos de idade já estão sentadas fazendo exercícios preparatórios para à alfabetização. Dessa forma, podemos perceber que a necessidade de brincar está sendo substituída pela necessidade de aprender a ler e a escrever.

Nessa perspectiva, o presente estudo tem por objetivo refletir as ações e estratégias realizadas pela escola e pelo educador acerca do brincar, como também a observação das crianças enquanto brincam dentro da sala de aula e durante o recreio livre. Observando também os subsídios que lhes são oferecidos durante as brincadeiras, verificando o planejamento do espaço físico no qual brincam crianças, como também, analisar os dados obtidos através das respostas do questionário aplicados aos educadores sobre o direito do brincar.

O desenvolvimento do texto está organizado da seguinte forma:

O primeiro tópico abrangerá a Concepção de criança, como sujeito de direito e o porque do brincar ser tão importante para o desenvolvimento infantil.

O segundo tópico implicará em um breve histórico do que vem a ser o jogo e a brincadeira e a importância de cada um para a criança.

No terceiro tópico, fizemos um resgate acerca do direito de brincar, numa abordagem sociológica, abordando os direitos que a criança tem por lei bem como o papel que o professor deve exercer diante do brincar.

No quarto tópico fizemos a análise das falas das entrevistas, tendo como base as concepções dos educadores sobre o direito de brincar.

1. CONCEPÇÃO DE CRIANÇA COMO SUJEITO DE DIREITO E A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR PARA O DESENVOLVIMENTO INFANTIL:

 

Desde meados do século XVI já se tinham indícios da importância de atividades relacionadas às brincadeiras infantis. Filósofos como Platão, Aristóteles, Rousseau e outros já destacavam o papel do jogo na educação infantil. Mas, foi através dos fundamentos de Friedrich Froebel (1782-1852) que surgiu o jogo na Educação Infantil. A partir de seus ideais, a criança passa a ser inserida no jardim-de-infância, estabelecimento educacional, onde se valorizava os brinquedos e brincadeiras e as crianças por meio deles expressariam suas atividades de percepção sensorial e de linguagem.

A partir de então, vários foram os estudiosos, identificando o brincar como sendo uma atividade importante na Educação Infantil.

O termo brincar, segundo LIMA (1991, p. 35) serve para designar o conjunto de atividades que se assemelham entre si por seu caráter lúdico, as definições para o jogo e ou brincadeira variam de uma área de conhecimento a outra, ademais em cada período histórico, são transformados continuamente pe1a própria ação do individuo e por suas produções culturais e tecnológicas, mas sempre mantendo o caráter lúdico.

O brincar está presente em todas as fases do desenvolvimento infantil. Desde que nasce, o bebê já realiza os jogos funcionais. E capaz de reali7~r brincadeiras: brincam com as mãos, com os pés, com os dedos, emitem balbucios, agarram, mordem, visualizam e manipulam objetos que estão a sua volta.

De acordo com Chateau (1987, p. 16):

 

As atividades da criança durante o primeiro ano caracterizam-se por sua independência de material, isto é, a criança faz os mesmos movimen­tos característicos de seu nível independente [...] durante um período a criança sacode todo o objeto, três semanas mais tarde, bate os ob­jetos uns contra os outros, os atira fora. E um período que a criança exerce as funções que se desenvolvem, qualquer que seja o material que manipula.

 

 

Podemos entender que é através desses jogos e brincadeiras, que os bebês começam a perceber as formas, texturas, tamanhos e pesos variados que os objetos podem ter, movimentando os objetos, iniciando assim, seu processo de desenvolvimento.

À medida que o bebê se desenvolve, vai descobrindo e se descobrindo. O andar para a criança tem como conseqüência marcante a sua autonomia. Isto é, na sua capacidade de buscar e escolher as coisas que lhe interessa, como: pegar os brinquedos que quer. escolha de amiguinhos, de  desenvolver os movimentos, quando adquire equilíbrio e agilidade para pular, correr, subir, descer etc. Quando reproduz as ações que percebem em seu convívio, de objetes que vê e quando são inseridas no ambiente escolar, pois é nesse ambiente que a criança desenvolverá a sua fala, como também compreende e insere em um grupo.

A instituição educacional tem como objetivo possibilitar ao educando a aquisição do conhecimento formal e o desenvolvimento dos processos do pensamento. E nela que a criança aprende a forma de se relacionar com o próprio conhecimento e com a própria vivência, como também, com os conhecimentos em grupos através das brincadeiras.

E essa é uma das dificuldades enfrentadas nas salas de Educação Infantil Alguns pais, educadores e diretores, ainda apresentam um conceito distorcido do que vem a ser a Creche e a Pré-­escola vêm a Creche como uma instituição que serve só para dar banhos, alimentação, descanso e lugar para deixar as crianças enquanto trabalham, e a Pré-escola. Para aprender o quanto antes a ler e escrever. O brincar fica para depois, desconhecem que durante as brincadeiras, a criança aprende a viver socialmente, respeitando regras, cumprindo normas e interagindo de uma forma organizada com outras crianças e com outros adultos.

A socialização surge quando a criança sente necessidade de brincar para conhecer-se a si própria e aos outros, para aprender as normas sociais de comportamento, da cultura em que está inserida, para conhecer os objetos e, principalmente para desenvolver a sua linguagem.

Então, o brincar tomar-se um elemento norteador entre aprendizagem e o desenvolvimento da criança e o educador junto à escola, será o elo para nortear as ações, dando condições à mesma para descobrir o gosto do brincar, ajudando, então, a estruturar o campo das brincadeiras.

Kishimoto (2003, p 43) citando Vygotsky, evidencia que a brincadeira é uma atividade predominante nos primeiros anos de vida da criança, constituindo fonte de desenvolvimento ao criar zonas de desenvolvimento proximal.

A criança ao brincar, constrói significados de representação do real. Então o significado atribuído a um objeto na qual está brincando não é exatamente o que representa realmente, ou seja, ela pode brincar com uma pedra assimilando que é um carro. A criança não vê o objeto como ele é, mas lhe confere um novo significado que para ela é a representação do real.

 

1.2 BREVE HISTÓRICO DO QUE VEM A SER JOGO E A BRINCADEIRA E A IMPORTÂNCIA DE CADA UM PARA A CRIANÇA

 

Os Jogos e as brincadeiras sempre foram atividades significativas de homens em diferentes lugares e épocas. Na idade média já se tinham indícios de pessoas brincarem de jogar bola e de corridas. Na Grécia, de amarelinha, empinar pipa e os jogos atribuídos à preparação física dos homens destinados a participarem de jogos, hoje tidos como os jogos olímpicos.

Kishimoto (2003, p. 15), enfatiza que doceiras de Roma faziam pequenas guloseimas com formato de letras destinados ao aprendizado das letras.

Os jogos destinados ao conhecimento das crianças eram chamados de jogos educativos. Jogos estes, criados nos jardins de Infância, fundado por Froebel (1782-1852) que idealizou os jogos de construções: blocos, esferas, cubos feitos de madeira e confeccionados em fabricas pertencentes a ele mesmo e vendidosem lojas. Para Froebel, a criança manipulando e brincando.com esses materiais, montando e desmontando, estabeleceria relações com o mundo.

As crianças inseridas nessas escolas trabalhavam com vários materiais didáticos: dobraduras, argila e outros, onde serviam para as atividades criadoras e os jogos' de construção para as atividades livres.

Froebel foi o primeiro educador a enfatizar o brinquedo como atividade lúdica, a criança na sua educação inicial tem o brinquedo como processo essencial.

As brincadeiras também permaneceram significativas ao longo do tempo, como ressalta Lima (1991, p. 35), dizendo que o brincar é uma atividade universal, encontrada nos vários grupos humanos, em diferentes períodos históricos e estágios de desenvolvimento econômico. Então, pode-se observar que independente do lugar, época e cultura ou os brinquedos que possui, a criança pode realizar uma brincadeira, brincando sozinha ou acompanhada por outras crianças.

Piaget (1978) ressaltado por Kishimoto (2003), observa ao longo do período três sucessivos sistemas de jogos: O de exercício que aparece durante os primeiros 18 meses de vida da criança. O jogo simbólico, aparecendo durante o 2° ano de vida da criança, com o aparecimento da representação e da linguagem e o jogo de regras, predominante entre os 7 aos 11 anos de idade, havendo a transição da atividade individual para a socialização.

Os jogos de exercícios, caracterizados como jogos funcionais, são as atividades motoras realizadas pelo bebê ao mover os braços, pernas, movimentar a cabeça, levar a mão à boca etc. Quando a criança manipula os objetos que estão ao seu redor, não deixando de ser brincadeiras. É importante nesse estágio, o bebê ter contato com pequenos objetos de diferentes tamanhos e cores, então os chocalhos, móbiles, brinquedos para a criança morder, pegar, ouvir, contribui para seu desenvolvimento.

Para completar Chateau (1987, p. 16), diz que, as atividades dos jogos funcionais permitem a cada função explorar sua área e se expandir para dar surgimento a novos resultados.

Resultados estes, onde a criança consegue passar os brinquedos de uma mão a outra, virar-se para alcançar um objeto que lhe chamou a atenção, como também mexer, encaixar e tirar os objetos que estão ao alcance. E, ao anda, começa a explorar o espaço onde ela está inserida. Então, brinquedos de encaixar, empilhar, juntar são necessários a essa idade, independente de serem industrializados ou de sucatas, valendo apenas a segurança e prazer obtido.

O segundo sistema de jogo enfatizado por Piaget, são os jogos simbólicos, conhecidos como os jogos de faz- de- conta, que segundo Cunha (2001, p. 25), funcionam como elementos introdutórios e de apoio á fantasia. O estágio do brincar de faz-de-conta é muito sério, ela internaliza papéis e objetos a 'sua imaginação tornando-as reais.

Segundo Bontempo (2005 P 59) citando Piaget, jogo simbólico implica a representação de um objeto por outro: a atribuição de novos significados a vários objetos.

Então, a criança pode simplesmente pegar um cabo de vassoura e brincar de cavalinho, dando ordens para andar mais rápido, ou pegar um pedaço de madeira empurrando igual a um carro.

Quando os brinquedos simbólicos forem miniatura de objetos reais, devem possibilitar a utilização semelhante a eles; por exemplo, um carrinho deve rodar, um barquinho deve flutuar e um bule deve conter um pouco de líquido, as ferramentas, também devem ser utilizadas, caso contrário perderão a finalidade de provocar a vontade de brincar com eles, como se fossem "de verdade" CUNHA (19-98, p 13).

Essas brincadeiras tornam-se tão serias para a criança que ela chega a entrar no mundo da fantasia; tão intensamente acreditando ser realidade aquilo que está fazendo, Chateau (1987, p 20), falando de uma criança brincando de ser limpador de chaminés, enquanto sua mãe dirige-se a ela para pentear-lhe os cabelos, ela se afasta e grita, "oh! Não, mamãe, o cabelo do limpador está tão sujo que vai sujar seus dedos". A criança realiza a brincadeira tão sério, que chega a achar estar suja de poeira vinda da chaminé, a ponto de sujar sua mãe. E importante nesse estágio, que o adulto não interrompa o brincar da criança, para evitar possíveis desestruturações.

As brincadeiras de faz-de-conta, forma também o conceito da realidade onde a criança está inserida. Ao brincar de casinha, interpreta o papel da mãe da mesma forma que vê na sua realidade.

O terceiro sistema de jogo, Piaget (1978), enfatiza como jogos de regras, aparecendo na criança durante os 7 aos 11 anos de idade. Os jogos de regras aparecem para socializar grupos, desenvolver comunicação e para cumprir a existência de regras, estabelecidas dentro dos jogos, entre outros.

Nessa fase, as crianças estão fazendo novas descobertas, necessitan então de socialização entre grupos. Jogos de tabuleiros, jogos didáticos e jogos corporais aproximam as crianças, através das interações entre eles, desenvolvendo, então o fator social de se comportar diante da comunidade.

 

1.3 RECONHECIMENTO DOS DIREITOS DE BRINCAR DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

O reconhecimento dos direitos da criança e da Educação Infantil tem gerado muitos discursos ao longo do tempo.

Escolas maternais, Kindergarten e Creches, foram criadas para assegurar, proteger e instruir ás crianças pequenas. Instituições estas que durante muito tempo, foram vistas como um favor, que, com progressivos avanços foram concebidas como um direito da população.

Os primeiros Kindergarten eram instituições consideradas fora do alcance das classes populares, visto que, eram raros esses estabelecimentos nos países, e o pouco que tinha, eram para atender as classes mais abartadas.

As creches e sala de aula atendiam crianças provindas de classes mais pobres. Essas instituições infantis atuavam para suprir as supostas faltas e carências das crianças. O cuidado com as crianças pequenas, tradicionalmente atribuídas às mães, ficou a cargo das instituições que pretendiam, por meio desse atendimento educar as famílias pobres, ensinando-lhes cuidar de seus filhos (NASCIMENTO, 2006).

Dessa forma, podemos observar que o olhar das instituições para as famílias das crianças pobres era de total desprezo, visto que, eram tidas como desorganizadas e desestruturadas, sem condições de assumirem sozinhas as cuidadas da criança, precisando, então de alguém que lhes educasse os seus filhos.

As Instituições em geral, não possuíam estrutura física e humana para atender as crianças visto que, eram mantidas por meio filantrópico e a postura do poder público apresentava um descompromisso em atender essas crianças, pela condição de pobreza, caracterizando o atendimento em Creches, como política de favor.

No Brasil, logo após a promulgação da Constituição Federal de 1988, surge a Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), regulamentado em 1990. Constitui-se nos direitos e garantias que a criança e o adolescente possuem, garantindo a esses sujeitos o brincar, ao afeto, ao querer, a ser tratados como criança, dentre outros. Além disso, é papel do ECA, fiscalizar se esses direitos estão sendo respeitados como também, fiscalizar os possíveis desvios de verbas e violações aos direitos da criança e do adolescente.

Contudo, muitos passos foram dados, a Constituição Federal de 1988, contribuiu muito para mudar tal realidade. A primeira garantia estabelecida está no Artigo 208, onde enfatiza que, as instituições infantis passaram a ser de responsabilidade do governo e um direito para as crianças.

Então, podemos conceber que essa concepção de instituição representa um direito garantido a população, dedicadas a educar e cuidar das crianças, completando que o papel da creche, como ressalta a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB/96) de 1988, não é de substituir a educação familiar, como era antes, mas de complementar a ação da família da criança, para promover o desenvolvimento integral da criança.

Quando fala em educação, a LDB/96, não está querendo antecipar a vida escolar da criança, mas desenvolver os aspectos educativos e de cuidados que toda criança precisa e tem o direito de receber como cidadã, conforme ressalta o Artigo 29 (LDB, 1988) alegando que a educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem por finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, o complementado a ação da família e da comunidade. Ficando, então claro, a importância que a LDB/96 retrata a criança, como sendo uma cidadã de direitos garantidos, direitos estes, que deverão ser cumpridos e não omissos.

Para desenvolver-se a identidade cultural das crianças, é necessário que estas instituições promovam uma educação baseada no brincar. A brincadeira e o jogo são processos que envolvem o individuo e sua cultura, adquirindo especificidades de acordo com cada grupo; é o que enfatiza (LIMA, 1981, p. 35).

Então, o brincar tomar-se um elemento norteador entre esse desenvolvimento de construção. Pois, através das brincadeiras a criança conhece a si mesma, conhece os outros e conhece o ambiente onde está inserida. Fica evidente, que o brincar é importante para o seu desenvolvimento.

Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998), o brincar é uma forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil e ajuda na socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma.

Dessa forma, podemos entender que o brincar é muito importante para o desenvolvimento da socialização infantil, através do brincar, a criança desenvolverá oportunidades de se expressar, de gostar ou não, escolher, perguntar etc. Então as Creches e Pré-escolas têm a função de promover essas construções de oportunidades, podendo também desenvolver, através das brincadeiras as diferentes linguagens na criança: corporal, musical, plástica, oral e escrita, entre outras.

 

1.4 CONCEPÇÕES SOBRE O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Para a obtenção dos resultados da pesquisa, fizemos uso da pesquisa bibliográfica e a pesquisaem campo. Apesquisa em campo foi realizada numa Creche e em uma escola pública da cidade de Esperança/PB. Utilizamos um questionário composto por duas partes: a primeira abordando os aspectos sócio-demo gráficos do educador e a segunda, com questões relativas aos conhecimentos dos educadores acerca dos direitos de brincar na Educação Infantil.

Participaram da pesquisa 4 (quatro) educadores, sendo que 3 (três) atuam na Creche e l (um) na Pré-escola. Em relação à formação das participantes, 3 (três) apresentaram nível superior completo (graduação em Pedagogia), sendo que um possui o magistério, e outro está concluindo Pós Graduação Lato Sensuem Supervisão Escolar. Otempo de formação das educadoras é entre (1 a8 anos) e o tempo que trabalha na Educação Infantil é (6 meses a 8 anos).

A maioria das crianças inserida nessas Instituições é carente, onde os pais precisam trabalhar e encontram a Creche como lugar mais adequado para cuidar e educar dos seus filhos. A faixa etária das crianças é (2 a6 anos de idade) Na Creche ficam em média 15 alunos regulamente matriculados por educador, na Pré-escola, o número de crianças é bem maior (25 a30 alunos) por educador.

O brincar, conforme dito é um direito na Educação Infantil, garantido na ECA (Lei 8.069/90), estabelece o desenvolvimento integral das crianças, bem como o RCNEI (BRASIL, 1998), que enfatiza o brincar como uma forma particular de expressão, pensamento e comunicação infantil, ajudando na socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma. Podemos afirmar que os educadores estão percebendo o brincar como direito das crianças de educação infantil, quando as mesmas relatam:

 

              “O direito de brincar na educação infantil é muito importante, pois ajuda na sua interação com os demais colegas, estimula sua participação e desenvolvimento, através da relação afetiva [...] toda criança gosta de brincar, brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento e autonomia”.

 

Segundo os depoimentos, as educadoras avaliaram como positivo, o brincar na Educação Infantil. Enfatizaram a importância dos resultados que a brincadeira traz para o desenvolvimento da criança, como: afetividade, socialização, desenvolvimento de identidade, compreensão do mundo, entre outros.

Um outro ponto relatado pelas educadoras acerca do brincar foi à importância do contato com o material concreto. A criança, manipulando esses materiais terão melhores condições de analisar o mundo que a rodeia, construindo seus primeiros conceitos.

 

              “Joga para construir conceitos ao seu redor [...] brincadeiras para montar, encaixar e pegar, as crianças aprendem muito mais”.

 

Podemos relatar nesse ponto, a experiência de Froebel (1782-1852), em suas escolas maternais, ressaltando que a criança manipulando e brincando com os materiais concretos estabelecera relações com o mundo.

Outra questão destacada pela pesquisa foi à parceria real do adulto com a criança, durante as brincadeiras, relataram que:

 

             “O adulto deve integrar questionando, orientando, sendo mediador, possibilitando a criança a transformação do seu agir durante o seu desenvolvimento [...] ajuda a estruturar o campo das brincadeiras na vida da criança”.

 

De acordo com a opinião das educadoras acima citado, o adulto no papel do professor, será a ponte para estruturar os conhecimentos adquiridos pela criança, durante sua inserção no ambiente escolar. E para ocorrer a estruturação no campo das brincadeiras, é necessário que a criança tenha subsídios para brincar, como ressalta uma das educadoras.

 

“O professor organiza sua base estrutural por meio de oferta de objetos, brinquedos ou jogos [...]”.

 

Implicando destacar a importância do professor incorporar objetivos ás brincadeiras, não as colocando para brincar sem nenhum fundamento ou questionamento. De acordo com as respostas obtidas, podemos observar que as educadoras precisam se questionar acerca desse aspecto, visto que não é só oferecer o brinquedo ou a brincadeira a criança, mas sim, estabelecer antes o porque e para que está brincando.

Outro questionamento relatado foi a concepção de uma prática cotidiana da vida e da realidade da criança durante ás brincadeiras. De acordo com os estudos realizados, pode -se observar que a criança representa seu contexto de vida durante~ brincadeiras. Quando as mesmas transformam os conhecimentos que possuem em conceitos vivenciados por elas, do tipo: imitação de alguém. Ou algo conhecido, relato de algum colega ou adulto, de cenas na televisão, entre outros.

 

“A criança retrata através das brincadeiras a violência, isolação, a falta de respeito e amor que tem na família [...] Inicialmente a violência”.

 

Através desses relatos, percebe-se que a violência no ambiente familiar está bem presente, visto que, de acordo com as educadoras, o que a criança vê em casa ou em outros contextos, como a, televisão, fazem com os colegas no ato da brincadeira. Para isso, é realizado pelas educadoras, trabalho voltado para despertar valores de solidariedade e companheirismo entre as crianças em tomo da violência.

De acordo com as concepções das educadoras acerca .dos valores e hábitos, vivenciados p,elas crianças nas brincadeiras, pode-se ressaltar que através das brincadeiras a criança traz em si certas regras de comportamento inerentes as situações representadas, ou seja, na representação de papéis definido por elas.

 

            “A menina embala, amamenta e banha o seu bebê, ela tenta ser como uma mãe de verdade [...] muitas vezes a criança leva o que verdadeiramente está sentido nas brincadeiras que elas fazem [...] a criança traz consigo experiências pessoais”.

Segundo Cunha (2001, p 25), essas brincadeiras de faz-de-conta, funcionam como elementos introdutórios e de apoio á fantasia. O estágio do brincar de faz-de-conta é muito sério para a criança, pois a mesma internaliza papéis e objetos a sua imaginação tomando-as reais. As brincadeiras de faz-de-conta, foram também o conceito de realidade onde a criança está inserida. Ao brincar de boneca, como enfatizou a educadora, a criança cuida da boneca, da mesma forma que é cuidada por sua mãe.

Referindo-se as brincadeiras realizadas pelas educadoras, as mesmas procuram resgatar as brincadeiras antigas: amarelinha, passe o anel, cantigas de roda, bola, corda entre outras, realizam também brincadeiras pedagógicas: tabuada divertida, bingos, jogo da quantidade no boliche, entre outros.

Durante a pesquisa, observamos espaço físico das instituições onde acontece o recreio livre: amplos, com plantas, árvores, areia, mas que.,.deixa a desejar quanto às necessidades das crianças. A Creche é mais aconchegante que a Pré-escola, possui uma caixa com brinquedos, onde as mesmas escolhem com o que brincar, um parque tipo escorrego e balanço, onde as crianças preferem correr, pular e passear pela escola. Na Pré-escola, não possui parque, nenhum brinquedo e as crianças ficam o tempo todo correndo ou passeando ao redor da escola, sem nenhum objetivo programado pelas educadoras.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A infância constitui-se em um momento determinante no desenvolvimento do individuo. Do ponto de vista educacional, é momento preciso em que o contato com as diferentes formas de brincar favoreça as crianças oportunidades de desenvolvimento cognitivo, afetivo e social.

Nem sempre os direitos das crianças foram reconhecidos, pois através das concepções de infância, as crianças eram retratadas como adultos em miniatura, se vestiam e se comportavam como adultos, recebiam conhecimentos administrados pelos adultos, onde os mesmos respondiam por elas, escolhendo até seus gostos e opiniões, o único divertimento que tinham caçar pássaros.

Hoje, muitas coisas mudaram, a concepção de infância que se tem ou que se quer são de sujeitos de direitos, uma infância com um olhar da mesma altura dos olhos da criança. E um dos direitos estabelecidos, foi o brincar, como elemento de desenvolvimento de construção de sua identidade.

Percebemos, através do trabalho desenvolvido q,:e o brincar é algo que vai além da simples prática educativa realizada nos pátios das instituições infantis, é uma relação que vem desde o nascimento do bebê, quando realiza os jogos funcionais até chegar em todas as fases do desenvolvimento humano. Quem não gosta de brincar?

E o ambiente escolar é a instituição que tem como objetivo possibilitar ao educando, a aquisição do conhecimento formal e o desenvolvimento dos processos do pensamento. E nela que a criança aprende a forma de se relacionar com o próprio conhecimento e com a própria vivência, como também, com os conhecimentos em grupos através das brincadeiras com os amiguinhos, desenvolvendo então sua identidade cultural como: valores, hábitos, cidadania, entre outros. Ficando evidente que o brincar é tão importante quanto sua permanência na Instituição escolar.

Dessa forma, entendemos que o papel do educador é de mediar as brincadeiras realizadas pelas crianças, propondo ás mesmas, subsídios para descobrir o gosto do brincar as oferecendo diversos materiais concretos, ajudando a estruturar o campo das brincadeiras.

Ficamos cientes em relação ao olhar das educadoras pesquisadas, diante do brincar na Educação Infantil, dando importância e seriedade ao assunto, ficando claro quando as mesmas relatam: “O direito de brincar na educação infantil é muito importante, pois ajuda na sua interação com os demais colegas, estimula sua participação e desenvolvimento, através da relação afetiva e toda criança gosta de brincar”

Basta agora, não mais aceitar visões distorcidas do tipo de “aquela escola só faz brincar, não ensina ou aquele professor só faz brincar com as crianças” ditas por pessoas que se omitem em saber as leis estabelecidas, aos direitos das crianças, achando que as mesmas só adquirem algum conhecimento em frente a um quadro e a um caderno cheio de tarefas a ser cumpridas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

BRASIL. Ministério da Educação e da Cultura. Secretária de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1988.

 

BOMTEMPO. Edda. A brincadeira de faz-de-conta: lugar de simbolismo, da representação, do imaginário. São Paulo: Cortez, 2005.

 

CHATEAU, Jean. O jogo e a criança. (Tradução Guido de Almeida). São Paulo: SUMMUS, 1987 (Novas Buscas em Educação).

 

CUNHA, Nylse Helena da Silva. Brinquedo, desafio e descoberta. Rio de janeiro: FAE, 1988.

 

CUNHA, Nylse Helena da Silva. Brinquedoteca: Um orgulho no brincar. 3ª Ed. São Paulo: Vetor, 2001.

 

KISHIMOTO, Tizuko Mochida. O jogo e a Educação Infantil. São Paulo: Pioneira Thonson Learning, 2003.

 

LIMA, Cristina de Azevedo Souza. A idealização do jogo na pré-escola. In: CONHALATO, Maria Conceição. O Jogo e a Construção na pré-escola. São Paulo: 1991.

 

 

 


Autor: Valdely Dias De Araújo Barbosa


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