Análise do discurso do texto “O gigolô das palavras” de Luis Fernando Veríssimo



A análise do discurso é uma extensão lingüística necessária entre i dizer e as suas condições de produção do dizer e a que abordo é a Análise do Discurso Francesa, partindo da definição de Maingeneau (1987), pois é uma reflexão sobre o texto e sua historia e também suas escrituras lingüísticas.

A Análise do Discurso quer chegar a especificidade do seu campo, analisando o quadro do discurso do enunciado, os embates históricos e sociais e o espaço interior do discurso.

Na perspectiva da análise do discurso francesa, a linguagem é um fenômeno que deve ser estudado enquanto formação ideológica.

Para análise utilizo como objeto de estudo o texto do consagrado Luis Fernando Veríssimo “O gigolô das palavras”:

“Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas a exemplar conduta de caftén profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras ”.

Este é um texto irônico e seu gênero é a crônica. O enunciador emite seu discurso liberal, opondo-se ao conservadorismo do ensino da gramática tradicional.

Através do corpus desse texto, analiso que Veríssimo questiona o fato de que ele e não outra pessoa foi entrevistada para falar da língua de acordo com os princípios gramaticais e afirma que “sempre fui péssimoem português. Masa intimidade com a gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras”.

A linguagem é a intercalação comunicativa e a língua é estilística, ou seja, compreende a escolha de formas lingüísticas apresentando desvios, é variável, inesperada e surpreendente.

O escritor faz justamente a abordagem contra o discurso conservador e as marcas lingüísticas implícitas é que demonstram a sua formação discursiva:

“Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada   por   seu   professor   de   Português:   saber   se   eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia   esta   coluna,   se   descabelava   diariamente   com  suas   afrontas   às   leis   da   língua,   e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar”.

A crônica expõe e opõe o discurso conservador e liberal em relação ao ensino da gramática e conseqüentemente responde revelando sua oposição quanto ao ensino tradicionalista:

“Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada   exclusivamente   como  tal.  Respeitadas   algumas   regras  básicas  da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é certo mas é claro, certo ?”

 

            O contexto histórico-social foi em 1982, texto recolhido pelo jornal Zero Hora, de Porto Alegre, crônica que na época foi considerada uma afronta à língua portuguesa.

            Na finalização do terceiro parágrafo, o autor expõe a sua indiferença em relação aos aspectos formais da língua, construindo então um discurso metafórico, pois onde realmente estudam-se as palavras são as Gramáticas Descritivas e Históricas:

            “não me meto na sua vida particular (das palavras). Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que os outros já fizeram com elas”.   Para ele “a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar de minha total inocência com na matéria”.

            As abordagens irônicas são construídas através das representações discursivas de que não vê utilidade no ensino da gramática em sala de aula. Nos  dois  últimos  parágrafos,  o  autor  dá  o  tom  irônico  ao  se   apropriar  do discurso machista que  se  inicia com a  frase:  “Sou um gigolô das  palavras”.  O sujeito locutor constitui seu discurso por analogia à relação do cafetão com a prostituta. Utiliza-se de expressões que revelam sua intimidade e liberdade no  trabalho com a palavra:  “Um escritor  que passasse a  respeitar a  intimidade gramatical  das   suas  palavras   seria  tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse por seu plantel.  Acabaria  tratando-as  com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra  seria a sua patroa.”

            A ironia (cf. Machado 1998), é “um dos meios dos quais dispõe a argumentação para expor as afirmações e teses que deseja sustentar”. No discurso escrito, o escritor faz uso de estratégias para construir a ironia como, por exemplo, utiliza-se de:

            “palavras que não são ‘suas’ ou que toma ‘emprestado’ de    outras vozes,  de  outro discursos   e  de  outras   situações  de comunicação.[...] as palavras do  ‘outro’,  usadas em novos contextos   e   por   outros   locutores,   assumem   uma   caráter duplo,   [...]   e   será   usado   para   subverter   o   significado            primeiro das palavras do ‘outro’.  (Machado, 1995, p.144-5,   apud Machado,1998, p.166).

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

            A análise tem como finalidade, compreender como o texto produz sentidos e na crônica o humorista declara sua insatisfação coma gramaticalidade, revelando seu humor através da ironia para fazer com que o leitor reflita sobre o polemico ensino da gramática brasileira.


Autor: Danielle Rossato


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