A Contribuição Do Profissional Bibliotecário Nos Desafios Da Inclusão Social



INTRODUÇÃO

A informação, o objeto de trabalho do bibliotecário, apresenta uma relevante importância em nossa sociedade, uma vez que nesta sociedade ter acesso à informação pode acarretar em um considerável desenvolvimento cultural, econômico e/ou social, resultando em transformação social.

Partindo desse contexto, esse trabalho se propõe a discutir as habilidades, competências, ferramentas (tecnologias) e ambientes com os quais o profissional pode atuar, levando em consideração seu papel de mediador e as relações de interação com o usuário, destacando seu papel social que pode auxiliar na transformação social.

AS COMPETENCIAS DOS PROFISSIONAIS BIBLIOTECÁRIOS E A INCLUSÂO SOCIAL

No sentido de conhecer/ identificar as competências dos profissionais bibliotecários nos seus papéis, funções e tarefas diante do contexto social, buscou-se na literatura identificar estas questões.

Inicia-se a reflexão a partir do conceito de competência profissional, apresentado por Ohira e Prado (2004, p. 8), “competências profissionais compreende os conhecimentos e habilidades que o profissional da informação deve ter para desempenhar as funções e atribuições específicas da profissão”. Este estudo foi realizado com o objetivo de conhecer a produção científica sobre o profissional da informação publicado no Brasil entre os anos de 1995 a 2002, e segundo os autores, Percebe-se a responsabilidade dos cursos de Biblioteconomia, na capacitação formal dos profissionais da informação, que devem estar constantemente atentos às mudanças que ocorrem no mercado de trabalho e nas áreas de atuação desses profissionais, no sentido de adequar o currículo para atender essas necessidades, como também, no sentido de diagnosticar e levantar novas áreas de atuação. (OHIRA e PRADO, 2004, p. 18)

No relatório anual de 1996 enviado ao Comitê Especial de Competências da SLA - Special Libraries Association, Marshall et al.(1996), apud Santos, (2000), relata as principais competências profissionais e pessoais dos bibliotecários especializados nos seus papéis e tarefas que lhe caberão executar no futuro, As Competências Profissionais estão relacionadas ao conhecimento do bibliotecário especializado nas áreas de recursos de informação, acesso de informação, tecnologia, administração e pesquisa, e a habilidade para o uso destas áreas de conhecimento como base provedora da biblioteca e dos serviços de informação.

Já as competências pessoais segundo Marshall et al. (1996), apud Santos (2000), Englobam um jogo de habilidades, atitudes e valores que permitem aos bibliotecários realizar um trabalho eficaz. Essas competências exigem dos bibliotecários algumas atitudes, como boa comunicação, interesse “especial [na] educação continuada ao longo de suas carreiras; etc. Esses valores - somados a natureza das suas contribuições, são na garantia de sobrevivência dos profissionais da informação no mundo novo de trabalho.

Entre as competências profissionais citadas pela SLA – Special Libraries Association, e que serão necessárias ao bibliotecário especializado, estão:

o ter conhecimento especializado do conteúdo de recursos de informação, inclusive na habilidade de avaliar criticamente e os filtrar;

o especializar-se no conhecimento de assuntos relacionados à informação para negócios propriado para negócios de organização ou do cliente;

o desenvolver e administrar convenientemente, o custo efetivo acessível dos serviços de informação dos quais são alinhados com as direções estratégicas da organização;

o prover instruções por excelência e apoio para biblioteca e serviços de informação aos usuários;

o avaliar a informação precisa e os desígnios de mercados, com valores agregados para o serviço de informação e produtos para satisfazer as necessidades identificadas;

o utilizar a tecnologia de informação apropriada para adquirir, organizar e disseminar a informação;

o utilizar negócios apropriados na administração e divulgar a importância de serviços de informação na administração sênior;

o desenvolver produtos de informação especializados para uso dentro ou fora da organização ou por clientes individuais;

o avaliar os resultados do uso de informação e pesquisa de condutas relacionados à solução de problemas na administração de informação;

o continuamente melhorar os serviços de informação em resposta a organização ou em decorrência das necessidades dos clientes;

o ser um sócio efetivo do time da administração sênior e um consultor de organização em assuntos de informação (SLA, 2005).

Constata-se, portanto, a responsabilidade do profissional da informação, neste momento de transição, em que todas as áreas do conhecimento humano estão passando, que haverá espaço para as pessoas com aptidão para o uso da Internet e demais tecnologias de informação e comunicação e assim sendo o bibliotecário estará também promovendo a inclusão através do incentivo ao conhecimento.

Para Vicentini e Mileck (2000, p. 14), Com ênfase no desenvolvimento de websites, é preciso que os profissionais das unidades de informação estejam capacitados para se tornarem auto-suficientes no uso das tecnologias da informação disponíveis, e mais do que nunca, estarem preparados para trabalharem em equipes multidisciplinares tanto quanto é multidisciplinar a Internet.

O processo de globalização e a rápida difusão das tecnologias de informação e comunicação estão revolucionando as formas de produção, acesso, tratamento e disseminação da informação, colocando a informação como fator primordial de crescimento econômico.

Os recursos da rede Internet são considerados, atualmente, importantes meios de comunicação e estão se transformando em importantes instrumentos para a disseminação de publicações e serviços de informação.

Temos assim, algumas das várias facetas que o bibliotecário deverá assumir diante do mundo virtual, cada vez mais sentimos a importância de estarmos trabalhando no intuito de nos envolvermos com os novos recursos apresentados por conta da automação e digitalização, a capacidade do bibliotecário em se adequar ao novo é realmente indiscutível.

Nesse sentido, a existência de cidadãos emancipados e socialmente incluídos depende da capacidade de todos (coletividade), e de cada um, de desenvolver continuamente a competência em informação, o aprender a aprender e o aprendizado ao longo da vida. Estes três elementos são pré-requisitos para a efetiva participação em uma Sociedade de Conhecimento e formam a base sobre a qual torna-se possível transformar a realidade (HLC, 2006). Diante desse quadro, e considerando a importância da informação, conhecimento e aprendizado, em anos recentes os bibliotecários foram chamados a assumir papel preponderante. Entretanto, o despertar da consciência bibliotecária não é unânime e passa necessariamente por uma mudança no modo como estes profissionais evoluem e constroem sua atuação e seus próprios modelos mentais de inclusão social.

O objetivo deste trabalho é examinar o papel do bibliotecário em uma realidade cada vez mais complexa. De intermediário da informação, passando a gestor de conhecimento, mediador informacional e pedagógico, aos poucos o bibliotecário incorpora uma nova posição, atuando como líder e agente educacional de transformação social.

DISTINTOS BIBLIOTECÁRIOS PARA DISTINTAS CONCEPÇÕES DE COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO

No senso comum a competência é entendida como saber algo, saber fazer ou saber ser alguma coisa bem. Entretanto, mais que um conjunto de atributos, a competência envolve mobilização de habilidades, conhecimentos e atitudes de inclusão. Na realidade, a competência é construída pelo olhar do outro, a percepção que os outros têm sobre nossas ações. A construção da competência nunca termina, pois é um processo dinâmico de autorenovação e transformação pessoal proporcionado pelo aprender a aprender e pelo aprendizado ao longo da vida.

Geralmente descrita como um conjunto de habilidades relacionadas ao domínio do universo informacional, a competência em informação (information literacy) tem assumido distintas formas e não existe, até o momento, um consenso sobre seu significado. Como uma metáfora cheia de conotações, o conceito ainda tem um longo caminho a percorrer até se consolidar como um tópico teórico e praxiológico. Inegavelmente, a competência informacional apareceu no escopo da atividade bibliotecária ligada ao processo de proficiência investigativa, pensamento crítico e aprendizado independente. Permeia qualquer processo de criação, resolução de problemas e tomada de decisão. Observando a literatura, existem diferentes níveis de complexidade do conceito de competência informacional.

Nível da informação:competência na inclusão

Em um nível básico, a competência informacional tem como objetivo formar indivíduos habilidosos no uso das ferramentas informacionais para agir na inclusão dos usuários menos favorecidos. É o caso da chamada alfabetização digital que procura preparar as pessoas para o uso de computadores e da internet. Neste caso, apesar das novidades tecnológicas, a visão da biblioteca ainda é tradicional: o lócus privilegiado de leitura, empréstimo de obras e acesso a computadores. O bibliotecário mantém uma atuação conhecida: o organizador, localizador, e intermediário entre o usuário de biblioteca, o computador e a informação.

Nível do conhecimento: competência como reflexão

Em um nível secundário, a competência informacional é concebida como processo cognitivo, incorporando habilidades e conhecimentos construídos pela reflexão. Ao tomar consciência de suas necessidades informacionais, os aprendizes aprendem além do uso de computadores e da internet, a buscar a informação, localizá-la, organizá-la, e a transformála em um novo conhecimento.

Os sistemas de informação são percebidos e apropriados pelo indivíduo, e suas necessidades são definidas a partir de lacunas no saber. A biblioteca é concebida como organização eficiente e de qualidade, um espaço de informação e conhecimento onde são compartilhadas as melhores práticas e a competitividade é fator de diferenciação. O bibliotecário ora é definido como gestor de conhecimento, ora como mediador na tarefa da pesquisa. Atuando como mediador informacional, incorpora novos níveis de abstração e sua interação com os indivíduos/clientes tende a aumentar os níveis de inclusão destes. Assume novas atividades e procura atualizar-se sempre. Nesse sentido, começa a pensar sistemicamente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em seu nível superior, a competência informacional mais que a soma de atributos é um processo que conduz à inclusão social através da adequada mobilização de conteúdos interrelacionados tais como conhecimento, habilidades e atitudes, direcionados à atuação cidadã, assim como o aprendizado permanente.

É importante que o bibliotecário reflita sobre os desafios apresentados à frente: a necessidade de construir uma sociedade inclusiva, que priorize a justiça, a equidade e o acesso democrático à ciência e à tecnologia, com responsabilidade social .

Para tanto, é necessário preparar as pessoas para que sejam autônomas. Do aumento da autonomia dos indivíduos, vem a emancipação. Em primeiro lugar, é necessário implica em exceder a apreensão espontânea dessa realidade em direção a uma posição crítica (FREIRE, 1976). O papel social e educacional do bibliotecário que promove a competência em informação torna-se a chave ao desenvolvimento sócio-econômico sustentado porque está diretamente ligado à inclusão social. Ao bibliotecário cabe promover a curiosidade e a tolerância, e advogar os direitos dos aprendizes, para serem tocados pela realidade, tendo a convicção de que a mudança é possível.

REFERÊNCIAS

HLC. HIGH-LEVEL COLLOQUIUM IN INFORMATION LITERACY AND LIFELONG LEARNING , Alexandria, 2005. Report of the Meeting. IFLA/UNESCO, 2006. Disponível em: http://www.ifla.org/III/wsis/High-Level-Colloquium.pdf Acesso em: 13 maio 2007.

FEUERSTEIN, R.; FALIK, L.H. Cognitive modifiability: a needed perspective on learning for the 21st century, College of Education Review (in press – and other papers). 2006.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo, Paz e Terra, 1976.

MERTON, R.K. Science and the Social Order. Philosophy of Science, v. 5, p. 321–337, 1938.

MORIN, E.; LE MOIGNE, J.L. A inteligência da complexidade. 2.ed. São Paulo: Peirópolis, 2000.

OHIRA, M. L. B.; PRADO, N. S. Profissional da informação no Brasil: avaliação científica e reflexos nos currículos dos cursos de graduação em Biblioteconomia. In: ENCONTRO NACIONAL DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 5., 2004, Salvador. Anais eletrônicos...Disponível em: http://www.cinform.ufba.br/v_anais/frames.html>. Acesso em: 10 abril 2007.

PROPRIEDADE INTELECTUAL, INFORMAÇÃO e ÉTICA, 2., 2003, Florianópolis. Anais eletrônicos... Disponível em: http://www.ciberetica.org.br>. Acesso em: 11 abril 2007.

ROSETTO, Márcia. Metadados e recuperação da informação: padrões para bibliotecas digitais. In: CIBERETICA: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE SANTOS, G. C.; PASSOS, R. O papel das bibliotecas e dos bibliotecários às portas do século XXI: considerações sobre a convivência da informação impressa, virtual e digital. . In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 11., 2000, Florianópolis. Anais... Florianópolis: UFSC, 2000. 1CD-ROM. SLA – Special Libraries Association. Competências do profissional da informação. Disponível em: http://www.sla.org/. Acesso em: 10 abril 2007.

VICENTINI, Luiz Atílio; MILECK, Luciana S. Desenvolvimento de sites na web em unidades de informação: metodologias, padrões e ferramentas. . In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 11., 2000, Florianópolis. Anais... Florianópolis: UFSC, 2000. 1CD-ROM.

ZAFALON, Zaira Regina. Biblioteca digital x biblioteca virtual: aspectos norteadores para proposta de implantação em um IES. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 13., 2004, Natal. Anais...


Autor: Noeli Viapiana


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