Um pouco de nonsense



 Nós todos -- as pessoas que nos cercam e as pessoas em que nos tornamos aos poucos, meio anestasiados pelo hábito, pela busca da paz no dia-a-dia -- nós todos estamos envolvidos pela cultura, no sentido antropológico da palavra cultura. Somos, ao mesmo tempo, autores e produtos dessa cultura. Não interessa saber se alguém disse isso, porque agora a questão chega até nós e temos de pegar o assunto nas mãos, sem literatura nem filosofia. Queremos que nossos filhos e netos sejam felizes mas não sabemos exatamente o que é ser feliz, se é que existe esse estado além das palavras dos poetas e dos religiosos. E ocupamos nossas vidas e a dos nossos dependentes com uma intensa atividade. Para que serve esse fullfilment, essa ocupação feita de tarefas, programas, projetos -- e truques para vencer na vida. Isso não é culpa de ninguém, todos nós fizemos, fazemos e faremos isso. Porque não sabemos o que mais fazer para...fazer felizes os que amamos (segundo cremos). Ao fim de algum tempo, verificamos os resultados e ficamos chocados com a falta deles, e aí acusamos alguém, alguma instituição, a vida moderna, a preguiça dos jovens, o vazio em que eles vivem de fato.
Mas eu, homem mediano e comum, continuo na minha rotina, apegado aos truques de segurança, no fundo certo de que eles me darão paz uma vez mais, ou me deixarão respirar até amanhã com maiores preocupações. Com a sensação do "dever cumprido". Precisamos nos aquietar intimamente, e conseguimos pensando que da nossa parte fizemos o possível, fizemos o melhor. É o mundo que está estragado, é a religião, o capitalismo, a cobiça, é a política.
Mas é o hábito, é a minha preguiça (medo) de rever o que faz (meu e portanto nosso) mundo assim. Falar sobre isso, como estou falando agora por escrito, não resolve o problema de entender o que está acontecendo. Nem ler e pensar "eu sei disso há muito tempo, e daí?".
Isolar-se um pouco (mas sempre) da trepidação usual da vida de todos os tempos (tv, internet, tudo está saturado da cultura) é preciso, ainda que seja aconselhado sem que se saiba porque recomendamos e porque aceitam essa recomendação. Não estou dando uma de profeta ou de monge, porque isso seria um brincadeira a mais numa vida banal. Isolar-se em casa, não no deserto nem no mosteiro. Afastar-se da cultura não é forçar nada, senão seria uma ginástica, apenas, uma ioga mal feita e para efeito externo. Ensinar nossas crianças a entender os hábitos mentais que as envolvem é só deixar que elas vejam. Mostrando o que não é, nunca mostrando qualquer coisa. Em vez de "um elefante é um animal assim e assado", perguntar se aquela folha no chão é um elefante, e porquê não é.
Mas antes que eu me perca em palavras (que só atraem sono ou aborrecimento, como a gente sabe), vou ficar por aqui.

Sérgio Luis Almeida Lisboa

Advogado na empresa Nilton Fragoso Advogaos Associados


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