Nem todo peixe era pescado



Outra vez alguns da família do Miguel Briti e amigos estavam pescando nos Três Tombos, Joaçuba, município de Ecoporanga. Saímos de Mantenópolis e paramos em Mantena-MG para comprar as barras de gelo, recurso que manteria os pescados conservados por até três dias. Na venda do Senhor Norberto, em Barra de São Francisco compramos os anzóis e linhas para as varas de pesca. Em Ecoporanga era certa a parada no Bar do Elias, lugar onde jogávamos umas fichas de sinuca, bebíamos refrigerantes e cervejas, cada um na sua. A estufa do Bar do Elias ficava vazia. O Miguel e o tio Isaías comiam mais ovos cosidos do que gamba no ninho de galinha. Os pedaços de frango e as linguiças fritas também não ficavam nem para contar a história. Os grandes pescadores do grupo eram Natã, Miguel, Isaias, Edinho e Naltim. O vô Miguel já estava velho de guerra, mas sempre foi bom pescador. Eu gostava mesmo era de beber café e ficar dentro d’agua só com o pescocinho do lado de fora. Tinha dado uma chuvarada naqueles dias e os buracos nas pedras estavam cheios e ali dentro ficavam peixes presos, o que facilitava a minha pesca. Armaram-se as barracas e partiram para a pescaria. Eu fiquei por ali e vi um pequeno poço formado sobre uma laje de pedra. Tinha no máximo meio metro de agua de profundidade. Olhei e vi vários peixes: piau, traíra e bagre naquela agua parada. Estavam vivos e nadavam procurando uma saída que não existia. Pensei! É agora que encho o meu embornal. Peguei a o anzol e as iscas e voltei rapidamente ao tal poço de agua represada. Colocava o anzol quase dentro da boca dos peixes e era só fisgar. Catei um punhado de peixes e voltei para a barraca. Decorridos alguns minutos vem lá o tio Isaías com uma mixaria de peixe. O homem era despeitado mesmo. Olhou o meu embornal e não acreditou. Onde você pegou esses peixes? Dei a versão verdadeira e ele foi logo falando que eu deveria jogar os peixes fora por que estavam todos doentes. Inveja pura. Deixa pra lá. Teve um dia em que passou um rapaz com umas fiadas de piau, todos graúdos. Também estava com umas sacolas lotadas de cascudos. Arrematamos os peixes do menino. Eu comprei três quilos de piau e juntei com um quilo e meio que havia pescado e voltei sorridente para casa. A Dalvani quando viu tanto peixe já foi logo reclamando. Vê se pesca e trás limpos, por que eu detesto limpar peixe. Escuta essa: O Miguel parou na porta da casa do Senhor Messias Morais e foi logo catiando marra e mostrando o montão de peixe que ele havia pescado, dentre tantos os cascudos comprados. O Senhor Messias, que não é bobo e nem nada, argumentou que cascudo não se pega no anzol e sim em locas nas beiradas do rio. O Miguel deu uma contornada na situação e disse que ele e o Tuca tinham entrado no rio e acharam a veia dos cascudos e só foram arrancando cascudos dos buracos. O Senhor Messias ainda comentou que eles eram doidos, por que nos buracos também vivem as cobras e eles correram o risco de sair com cobras nas mãos. A mim parece que o Senhor Messias e os demais engoliram a história do Miguel. Hoje a verdade veio à tona. Nem todos os peixes eram pescados por nós, algumas vezes foram reforçados com peixes comprados de outros pescadores.
Autor: Creumir Guerra


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