Confessando os pecadilhos



Voltamos ao Job Pimentel da minha epoca. Nao sei por que a gente ia pra escola para aprender e nao gostavamos de estudar. Por isso acabavamos cometendo alguns pecadilhos para evitar a aula. Uma vez decidimos que nao teria aula na nossa sala. A ideia foi desenroscar todas as lampadas, colocar dentro do bocal uma buchinha de papel e recolocar a lampada. Era evidente que cortada a corrente eletrica a lampada nao daria a luz e no escuro ninguem poderia estudar. O sr. Joao Reco, porteiro e guarda da escola, fica inconformado. Eu chequei estas lampadas hoje mesmo! Torce e torce e nada. Troca a lampada e nada. Fomos dispensados. Outro dia alguem teve a infeliz ideia de juntar todo o po de giz e colocar sobre as eleces dos ventiladores. Quando o professor chega e tenta refrescar a sala...voces imaginem como ficou o ambiente. De novo nao pode haver o compartilhamento do saber entre o professor e os alunos. Ja no ultimo ano do segundo grau a coisa piorou. Instituimos uma comissao de festa e era necessario a promocao de diversos eventos para a captacao de fundos para a festa final. O Daniel Cardoso era o presidente; eu o tesoureiro; tinha a secretaria e os outros membros da comissao. Sempre depois do recreio a turma combinava de pedir ao professor um tempinho para discutirmos sobre o proximo evento a ser realizado. O negocio e que nos previamente combinavamos de que cada um daria uma ideia e de que a discussao tinha que durar ate a aula acabar, portanto, nao poderia ter acordo. Entrava o professor da aula seguinte e a peleja tava longe de terminar. Coisa feia feita por mim foi quando o meu pai, que era professor, recebeu varios livros destinados "ao professor". Aqueles exercicios todos resolvidinhos, com as lacunas das respostas preenchidas com letras cursivas e em vermelho. Passei a mao no livro de portugues e levei na bolsa junto com o livro do aluno, que tinha aquelas lacunas das respostas tao em branco. A professora mandava abrir na pagina tal e fazer o exercicio. La estava o creumir com suas tarefas feitas, com respostas perfeitas. Um dia a professora mandou fazer a tarefa em grupos e foi ela para a sala do professor. A turma nao acreditou quando eu exibi aquela maravilha de livro com respostas. O livro passeou a sala toda e com dez minutos as quetoes estavam resolvidas. A bagunca comecou e a professora teve que regressar do seu merecido descanso na sala dos mestres. A mulher voltou igual a uma cobra caninana. Eu quero saber se o trabalho em grupo esta pronto. Cada equipe depositou a sua folha resposta na mesa da professora. Ela olhou e achou incrivel. Como pode esta turma de lesados tirar dez. Nenhuma pergunta sem resposta. Nao se via um errinho sequer. Quando a esmola e demais o santo desconfia. Tem alguem com o livro "do professor" aqui. Faca o favor de dizer quem e que tem o livro. Reinou um silencio. Nenhum "dedo duro". A mulher encasquetou que a Renilda Baia e que estava com o material proibido. No momento em que a mestre estava para revistar a bolsa da inocente eu confessei: sou eu. O livro e meu. Me entrega o livro. Por que? E o livro do professor. Mas nao e o seu livro de professor. E o livro do aluno que tem um igual ao do professor. E propriedade minha e eu nao tenho obrigacao de entregar. So tem uma solucao. A senhora adota outro livro de portugues. Eu nao vou fazer todos os alunos comprar outro livro por sua causa. Voce vai se arrepender. A professora esta me ameacando? Olha mestra, a media cinco e muito baixa. Eu ja tenho 16 pontos. Faltam dois bimestres e eu preciso so de quatro pontos para passar de ano. Se nos dois primeiros a minha media foi oito, nos dois ultimos nao pode ser menos que dois. Ok. Voce venceu, mas nao traga este livro para a sala de novo. Eu vou contar para o seu pai. Que livro? Meu pai nao sabe de livro. Ele tem os livros dele: EMC, mecanografia, economia e a biblia. Ele nunca teve livro de portugues. Ele teve que comprar o meu. Gente! Eu sempre fui um bom aluno, mas nunca copiei materia. Tinha so um caderno para fingir que estava escrevendo. Nunca dei cola. Perdao queridos professores. Eu prometo que nao vou mais fazer isso. E ainda trago uma maca pra senhora na proxima aula.-sem acentos- teclado de tablet.
Autor: Creumir Guerra


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