A Educação E O Ensino Da Geografia



A Educação e o Ensino da Geografia

Vive-se no auge da globalização da economia e das comunicações, numa época marcada pelas contradições, individualismo e mudanças. Dentro desse cenário pós-moderno, as escolas devem atuar impondo novos desafios para os educadores. Diante dessa modernidade, como deve ser o ensino da geografia?
Antigamente a geografia fazia parte apenas dos livros didáticos, como se fosse feita para ficar no papel, tendo somente uma utilidade: servir a interesses militares, ou seja, ir à guerra. Hoje ela continua indo a guerra, mas por uma vida melhor que não se reduz as forças armadas, mas a população, principalmente as pessoas que a vêem de uma maneira crítica. De acordo com Lucci (1998, p. 15): "ciência que estuda a produção do espaço e suas transformações pela sociedade".
Nesse contexto, o trabalho da educação geográfica não é mais de memorização, consiste em levar as pessoas em geral, os cidadãos, a uma consciência crítica e espacial com raciocínio de localizar e estender determinados fatos. Para Callai (1998, p. 56):
A geografia é a ciência que estuda, analisa e tenta explicar o espaço produzido pelo homem e, enquanto matéria de ensino, ela permite que o se perceba como participante do espaço que estuda, onde os fenômenos que ali ocorrem são resultados da vida e do trabalho dos homens e estão inseridos num processo de desenvolvimento. Sendo assim, o objeto de estudo da geografia na escola, é o espaço geográfico, entendido como o espaço social, concreto, em movimento dinâmico e possível de sucessivas mudanças, na medida em que a sociedade também se modifica, porém, cada novo tempo não apaga de todo espaço anterior, de maneira que o passado deixa marcas no presente. Segundo Milton Santos (1996, p. 114): "O espaço é tempo acumulado, é história geografizada". Sendo, portanto, produto histórico, a geografia ensinada não deve descuidar da historizacição dos fatos, já que o aluno é um ser histórico que traz consigo e em si uma história, e um conhecimento adquirido na sua própria vivência. Para Geroux (1986, p. 263):
Em termos mais concretos, os estudantes deveriam aprender a não apenas a avaliar a sociedade de acordo com suas próprias pretensões, mas devem também ser ensinadas a pensar e agir de forma que tenham a ver com diferentes possibilidades da sociedade e diferentes modos de vida. Embora não se vislumbre condições concretas de mudança, cabe a escola desenvolver no aluno a capacidade de perceber que as coisas, as formas de desenvolvimentos e organização da sociedade são construções históricas dos homens, e portanto, possíveis de questionamentos. Já que o grande desafio é tornar as coisas mais concretas e mais reais. Um ensino conseqüentemente deve estar ligado com a vida, ter presente a historicidade das vidas individuais e dos grupos. A geografia na atualidade se preocupa com o meio ambiente, com o aumento populacional, com o fenômeno da urbanização, com a pobreza, a marginalização e com todo o espaço mundial.

O Papel do Professor de Geografia na Era da Imagem

O mundo temmudado rapidamente e com ele devem mudar também o ensino que nela se faz. O contexto cultural do mundo audiovisual na era da informática, da eletrônica e dos meios de comunicação, leva a uma profunda reflexão educacional.
A globalização onde a tecnologia impera, a geografia conquistou seu lugar, tornando-se a ciência das ciências, é a mistura e o ingrediente principal destas. A modernização exige pessoas críticas, ativas, capazes de construírem seus próprios conhecimentos, utilizando a imagem da informação como forma de desenvolvimento do espírito crítico e da capacidade de raciocinar. Para Geroux (1986, p. 263): "o saber deve ser visto como um engajamento crítico que visa distinguir entre essência e aparência, entre verdade e falsidade".
Nessa perspectiva, os alunos devem adotar uma postura cívica, encarar, analisar, pensar e agir como se vivessem de fato em uma sociedade democrática que lhes desse oportunidade do exercício político de sua condição de cidadão. Já que a média de massa gera atratividades numa linguagem crítica de aparência que se vale do poder da sedução, dos mitos ideológicos, provocando desejos, crenças e atitudes que habitam no mundo do indivíduo, com demandas do mercado capitalista. Ao professor de geografia, cabe a tarefa de desenvolver uma prática que seja aberta a possibilidade de questionar o que se faz, de incorporar de fato os interesses dos alunos, e de ser capaz de produzir a capacidade de pensar, agindo com criatividade e autoria do seu pensamento.
Enquanto isso, os educandos navegam num planeta imaginário da imagem, desprezando o hábito da leitura e da escrita. Esse fraco contato com o mundo das palavras, deixa o ser humano perdido na era da imagem, da informação, cercado de desafios e missões, onde são atribuídos pela sociedade vigente. Callai (1988, p. 56) afirma:
A geografia é a ciência social que estuda o espaço construído pelo homem, a partir das relações que estes mantêm entre si e com a natureza, as questões da sociedade, com uma visão espacial, formativa, capaz de instrumentalizar o aluno para que exerça de fato a sua cidadania.
Nesse sentido, as aulas de geografia, através de conteúdos que nada têm a ver com a vida dos alunos que não trazem em si nenhum interesse, e muito pouco significado educativo, são vistos como "naturais". Mas essa disciplina, nas mãos de quem a conhece profundamente, é uma arma poderosa que induz a reflexão, com uma visão geopolítica e crítica, dando oportunidade ao professor de criar alternativas pedagógicas que favoreçam o aparecimento de um novo tipo de pessoas, preocupadas não só com a imagem, mas com um novo projeto social e político, visando a construção de uma sociedade mais justa, mais igualitária.

Migração: Solução ou Problema?

Desde o tempo da pré-história, quando o homem não tinha noção de sua inteligência ele já migrava à procura de uma melhor alimentação e adaptação. Com o passar do tempo, esse fator foi se tornando alarmante, assustador e preocupante. De acordo com Branco (1999, p. 46):
O homem é um ser vivo diferente. Consegue viver em quaisquer dos ambientes habitados pelas outras espécies; não dependendo de adaptações inatas, hereditárias, mas é capaz de ajustar-se espontaneamente, usando recursos artificiais, como casas, roupas, instrumentos e materiais sintéticos, podendo mudar-se de um lugar para outro, construindo seu próprio ambiente: frio, quente, seco, úmido.
Nesse sentido, ao longo de toda história, as migrações foram um traço marcante, elas tem haver com as concentrações de renda, da Terra e do poder. O desemprego, o subemprego, a pobreza crescente, a falta de perspectivas, têm produzido uma espécie de dispersão, não são apenas conseqüências, mas pressupostos econômicos e sociais. Uma vez iniciada a industrialização de um lugar, ele tende a atrair populações de outras áreas. O crescimento demográfico, por sua vez, torna esse lugar um mercado cada vez mais importante para serviços e bens de consumo, o que passa a construir um fator de atração de atividades produtivas. Abril (2002, p. 10) afirma:
A Organização das Nações Unidas (ONU) calcula que 2% da população mundial vivem longe do país de origem, entre refugiados, imigrantes legais e ilegais, seriam no total, 125 milhões de pessoas que deixaram a terra natal.
No entanto, o encolhimento das possibilidades de integração digna das pessoas na sociedade tem conduzido a uma crescente degradação, ampliando o mundo do trabalho clandestinizado e informal, mas o desejo de sair, de mudar essa situação é forte no meio do povo, crescendo o preconceito e a rejeição contra o migrante.
No âmbito internacional, a tendência predominante é a circulação de migrantes indocumentadas, devido dificuldades de ingressar legalmente em países mais desenvolvidos levam muitas pessoas a tentarem métodos clandestinos. Uma vez que sem a documentação necessária para sua legalização, são sujeitados a péssimas condições de vida, habitam pequenos cômodos coletivos e são obrigados a trabalharem 16 horas por dia, quando conseguem ultrapassarem as fronteiras, onde muitos morrem nessa passagem. Segundo Adas (2001, p. 140):
Os europeus, africanos e asiáticos que emigraram para o Brasil e mais os indígenas que aqui já vivem são os formadores da nossa população. A imigração para o Brasil se tornou maior depois que foi abolido o tráfico de escravos e quando a cafeicultura passou a necessitar de mão-de-obra.
No entanto, os conflitos políticos e guerras, problemas e discriminações de fundo ético e a busca de estudos qualificados são alguns dos motivos das migrações, onde muitas vezes, aumenta a pobreza crescente, o desemprego e a fome nas grandes cidades, mas por outro lado, é um mundo de oportunidades; o migrante enriquece a cultura, a pluralidade e as diferenças entre nações.

As Migrações Regionais

A história das migrações nasceu, especialmente, porque as pessoas queriam melhorar suas condições de vida, isto é, o que mais tem pendurado como as causas das migrações ou deslocamento da população no espaço, podendo ser de várias maneiras: migrações internacionais, nomadismo, transumância, internas ou inter-regionais, rural-urbanas, pendulares ou diárias.
Nos últimos anos verificou-se grandes mudanças no padrão migratório brasileiro. A população das regiões mais pobres já não é mais atraída para as metrópoles do Sudeste, vistos que, a descentralização econômica, ou industrial, está saindo dessa região para outra. Segundo Moreira (2004, p. 160):
Desde o fim século XIX, o Nordeste tem sido uma região de grande movimento migratório em várias direções: muda da zona rural para urbana, foge das áreas mais secas, procuram as metrópoles regionais, deixam seu estado de origem, sai da região.
O Nordeste é o que mais se destaca nesse processo de transição, principalmente por conta da falta de chuvas, embora sabe-se que a seca não é único fator responsável dessa problematização, o modo de ocupação das terras e as difíceis condições de vida, também são importantes. Outros pequenos agricultores abandonam definitivamente suas terras pela atração exercida nas grandes cidades, onde, nem sempre encontram as facilidades que esperam, como a falta de moradias e altos alugueis, sujeitando-se a morar em barracos improvisados ou em cortiços nos centros urbanos, sendo vítimas de maus-tratos, exclusão e desemprego.
Durante toda história do Brasil, principalmente econômica, que se desenvolveu através de ciclos, como a cana-de-açúcar, o ouro e o café, o migrante se destaca, sem ele, o país não seria o que é hoje, mesmo que alguns ainda enfrentam sérios problemas ao chegar para fixar-se em um determinado local, receptores agem movidos pelo racismo e a discriminação; no entanto ressalta-se que: a cidade de São Paulo cresceu com a ajuda do migrante, hoje, alguns paulistas atribuem a culpa do desemprego e da criminalidade existente aos movimentos populacionais, principalmente nordestinos. Segundo Vesentine (2002, p. 184) "O maior incentivo à vida de migrantes foi a abolição da escravatura que compeliu com o governo a buscar novas forças de trabalhos em outros países".
Nesse sentido, mesmo acontecimentos naturais desastrosos, como terremotos ou secas prolongadas, não constituiem, necessariamente, uma causa de saída de grandes contingentes populacionais de uma área para se fixarem em outra. Já que os negros foram imigrantes forçados, isto é, que saíram da sua terra contra a vontade, os demais foram migrantes livres e espontâneos, em busca de riquezas nas terras descobertas, onde ainda hoje prevalece. O fator migratório tem várias causas, mas um só objetivo: "melhores condições de vida".


Autor: Clenice Paulino


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